XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

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1 APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS ENTRE CURRÍCULO, POLÍTICAS PÚBLICAS E PROFISSÃO DOCENTE: CAMINHOS TRILHADOS PELA LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO ESPECIAL E O PIBID M. a FERNANDA SOUZA (Professora da UNIDAVI/Doutoranda em Educação pela UNIVALI) Eixo Temático: Didática, Profissão Docente e Políticas Públicas/Subeixo: Didática, Currículo e Avaliação RESUMO Apoiar o processo de iniciação à docência pode mostrar-se essencial para a formação de futuros docentes. Com esta compreensão, em 2012, uma Instituição de Ensino Superior (IES), do Alto Vale do Itajaí - SC, inicia sua participação no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID). Por meio do PIBID, o Ministério da Educação (MEC) em parceria com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), apoiam projetos de Instituições de Ensino Superior (IES) que atendam aos seguintes objetivos: incentivar a formação de docentes em nível superior para a Educação Básica; contribuir para a valorização do magistério; elevar a qualidade da formação inicial de professores nos cursos de licenciatura, promovendo a integração entre a Educação Superior e a Educação Básica; inserir os licenciandos no cotidiano de escolas da rede pública de educação, proporcionando-lhes oportunidades de criação e participação em experiências metodológicas, tecnológicas e práticas docentes de caráter inovador e interdisciplinar que busquem a superação de problemas identificados no processo de ensino-aprendizagem; incentivar escolas públicas de Educação Básica, mobilizando seus professores como coformadores dos futuros docentes e tornando-as protagonistas nos processos de formação inicial para o magistério; contribuir para a articulação entre teoria e prática necessárias à formação dos docentes, elevando a qualidade das ações acadêmicas nos cursos de licenciatura. Conforme estes objetivos, o PIBID da IES aqui apresentada, composto em 2012 pelos cursos de Pedagogia e Educação Física, recebe em 2014 os licenciandos de Educação Especial curso viabilizado pela parceria entre a Secretaria Educação do Estado de Santa Catarina e a referia IES-. Esta pesquisa qualitativa, desenvolvida entre 2014 e 2015, visa compreender o processo de integração dos licenciandos de Educação Especial em uma escola pública municipal do interior de Santa Catarina. Para coleta de dados utilizamos os diários de campo produzidos pelos licenciandos e entrevista semiestruturada. Palavras-chave: Educação Especial. Currículo. Políticas públicas e profissão docente. 1 INTRODUÇÃO Partimos do entendimento de que as trajetórias rumo ao caminho da educação, construídas muitas vezes de forma paralela pela universidade e pela escola pública, precisam encontrar pontos de conexão com potencial para transformarmos este paralelismo em uma via de mão dupla. Desta maneira, entendemos que a universidade e a escola pública podem transformar-se de forma conjunta. Este entendimento foi construído e fundamentado por nós principalmente quando passamos a unir as leituras sobre os estudos de pesquisadores como Nóvoa (2009, p. 30) quando afirma que para ser professor torna-se importante no processo de formação compreender os sentidos da instituição escolar, 9364

2 1 integrar-se numa profissão, aprender com os colegas mais experientes. Ainda neste mesmo sentido, o referido autor na continuidade afirma que é na escola e no diálogo com os outros professores que se aprende a profissão (NÓVOA, 2009, p. 30). Também nos utilizamos dos estudos de pesquisadores que investigam a importância do processo de reflexividade para a formação dos profissionais da área docente, como por exemplo, os trabalhos de Sá-Chaves (2002) e Pimenta & Ghedin (2002), por meio de quem, compreendemos que o licenciando ao entrar em contato com o cotidiano escolar encontra possibilidades de construir seu processo reflexivo conectando seu aporte teórico acadêmico à prática escolar. Durante esse processo de construção do licenciando, a escola - ao abrir-se para a experimentação de diferentes práticas e/ou atividades aventadas pela universidade e elaboradas pelo licenciando -, pode vir a se sentir desafiada a repensar alguns elementos de seus projetos pedagógicos e/ou de seus currículos ocultos (SILVA, 2000, p. 79). Com base nestas discussões, a IES buscou integrar-se ao Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID). Este programa, é viabilizado pela parceria entre o Ministério da Educação (MEC) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), e apoia projetos que integram Instituições de Ensino Superior (IES) e Escolas Públicas de Educação Básica na busca de uma melhor formação para os futuros docentes, matriculados nos mais diversos cursos de licenciatura do país. A participação da IES no PIBID/CAPES iniciou em agosto/2012 por meio da inserção de dez (10) licenciandos (cinco (5) do curso de Pedagogia, e cinco (5) do curso de Educação Física), em duas escolas públicas do estado de Santa Catarina. O subprojeto de Pedagogia tem por objetivo principal minimizar o impacto causado pela distorção idade-série, de alunos das séries iniciais do ensino fundamental, especificamente na área da alfabetização. Já as ações do subprojeto de Educação Física, visam atuar de forma qualitativa no processo de inclusão escolar. Desta maneira, o PIBID da IES tem como algumas de suas ações: a promoção da vivência contínua e acompanhada da vida docente na escola básica pública de licenciandos; incremento da capacidade de produção de conhecimento sobre o ensinar dos professores supervisores por meio de estudos, discussões e da sistematização escrita de suas análises; promoção da melhoria das ações acadêmicas por meio da formação em serviço; melhoria da qualidade da formação dos licenciandos, especialmente quanto à articulação entre teoria e prática e ações de extensão com vistas a formação de 9365

3 2 multiplicadores; elaboração de materiais didáticos a serem utilizados nas escolas integrantes do projeto; divulgação das experiências bem sucedidas das metodologias de ensino desenvolvidas nas diferentes licenciaturas. Imersos neste contexto, no ano de 2014, outros quatro cursos de licenciatura passam a fazer parte do PIBID da IES: Artes Visuais, Geografia, História e Educação Especial. Esta é uma pesquisa qualitativa, desenvolvida entre os anos de 2014 e 2015, com o objetivo de compreender o processo de integração dos licenciandos de Educação Especial em uma escola pública e municipal de Santa Catarina, localizada no interior da região Sul do Brasil. Como Sujeitos da pesquisa elencamos as cinco (5) licenciadas selecionadas para o subprojeto de Educação Especial do PIBID da IES. Para coleta de dados usamos os diários de campo produzidos pelas cinco licenciandas nos anos de 2014 e 2015, e entrevista semiestruturada aplicada aos sujeitos da pesquisa em O PIBID E O CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO ESPECIAL A discussão sobre a formação inicial de professores, no que tange ao tema inclusão escolar, perpassa por uma questão dicotômica: o mais adequado seria ofertarmos, nas mais diversas licenciaturas, um número maior de disciplinas voltadas para a inclusão da pessoa com deficiência no ambiente escolar ou um número maior de cursos de Licenciatura em Educação Especial? A partir da reflexão em função desta necessidade de enfrentarmos o debate entre a formação específica ou o oferecimento de um número maior de disciplinas sobre inclusão nos currículos das licenciaturas, no estado de Santa Catarina, um dos profissionais que surge na escola visando contribuir com o processo de inclusão é o segundo professor ou professor II. A partir desta compreensão, no segundo semestre de 2012 a Secretaria Educação do Estado de Santa Catarina e uma IES estabelecem parceria e viabilizam, no início de 2013, por meio do Fundo de Apoio à Manutenção e ao Desenvolvimento da Educação Superior (FUMDES), a criação do curso de Licenciatura em Educação Especial, em dois campi da região do Alto Vale do Itajaí, com o objetivo de atuar na formação do segundo processor. No ano de 2014, cinco (5) licenciandas do curso de Educação Especial, foram selecionadas para participar do subprojeto do PIBID e, passaram por momentos de: observação das atividades rotineiras da escola; discussão de práticas observadas e aporte 9366

4 3 teórico selecionado; desafio de confeccionar materiais pedagógicos, bem como elaborar, adaptar e executar atividades e aulas. Diante da aplicação das atividades, as acadêmicas: perceberam que a metodologia utilizada poderia ser aperfeiçoada por meio da elaboração de projetos; foram convidadas pela direção da escola para participarem de momentos como palestras e reuniões com pais/familiares; prepararam, juntamente com os alunos e professores regentes, de apresentações para os pais e comunidade. Em agosto de 2014 foram apresentados, na terceira edição do Congresso Integrado de Ensino Pesquisa e Extensão da IES, alguns resultados que reforçam a necessidade de imersão e/ou criação de ambientes favoráveis ao processo de aprendizagem dos alunos com deficiência, bem como a importância da inclusão não só para o sujeito que necessita de uma atenção especial no que tange a algum aspecto de limitação física, mas a todos os alunos da escola, suas famílias e a comunidade em geral. Os alunos da escola aguardam ansiosos pelo dia em que as licenciandas executam suas atividades; as acadêmicas planejam e executam as adaptações das aulas e atividades, sempre atentas a adequação das propostas ao contexto de cada turma; as acadêmicas estão evoluindo no aspecto da compreensão da necessidade de observação durante todo o processo, e não apenas se envolvendo na prática pela prática. Como impactos das ações e atividades do projeto na formação de professores, licenciaturas envolvidas, e escolas de educação básica participantes identificamos: 1) Por meio dos relatos dos licenciandos e supervisores escolares em seus diários de bordo/campo e em reuniões de socialização, compreendemos como efeito do processo na formação dos mesmos: a identificação do fato de que nem sempre é possível aplicarmos as atividades exatamente como elaboradoras no momento de planejamento; o interesse pelo aperfeiçoamento da metodologia empregada para o planejamento das atividades, por meio de projetos, cujos conteúdos se aproximem da realidade dos alunos escolares. 2) Quanto aos alunos da escolas de educação básica já identifica-se: algumas melhorias na interação entre as licenciandas e os alunos com deficiência; a percepção e o interesse em participar das propostas de atividades alternativas, não só pelos alunos com deficiência, mas também, pelos demais alunos da turma, o que abre espaço para a compreensão de que a atuação do segundo professor pode ir muito além de uma atividade direcionada apenas ao aluno com deficiência; outros dois pontos interessantes identificados foram que: o trabalho realizado pelos licenciandos no projeto acaba 9367

5 4 refletindo em sala de aula na IES junto aos demais licenciandos que não participam do programa, pois, o amadurecimento proporcionado pela prática é compartilhado com os demais licenciando, por meio de relatos de experiências dos acadêmicos participantes do projeto, e assim, acabam contribuindo com a formação da turma como um todo, ou seja, de uma forma geral, os desafios do projeto propostos aos acadêmicos bolsistas do PIBID acabam por envolver os demais acadêmicos, mesmo que indiretamente; a busca de materiais para o planejamento e leitura para os estudos acabam por dinamizar ainda mais o uso da Biblioteca, já que a prática precisa ser fundamentada. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS No primeiro ano de atividade do subprojeto de Educação Especial no PIBID da IES compreendeu-se, por meio das vivências no chão de escola, relatadas durante as entrevistas semiestruturadas e nos diários de campo que: a) resultados concretos na área da inclusão escolar nem sempre são imediatos; b) as licenciandas sentiram-se muito angustiadas no processo de observação inicial, pois, desejavam partir logo para as atividades práticas. Observamos também, que vínculos afetivos foram criados entre os acadêmicos e os alunos escolares. Estes vínculos influenciaram de forma positiva o processo de aprendizagem de todos os envolvidos. O índice de faltas e/ou evasão nas atividades propostas no subprojeto é praticamente inexistente, o que denota a satisfação dos alunos, bolsistas e familiares com o programa. Consideramos, também, que para Silva (2004) existem relações de saber, poder e identidade que podem fazer com que conhecimentos sejam inseridos ou excluídos nos currículos. Assim, compreendemos que a inserção dos conhecimentos de Inclusão Escolar, por meio do segundo professor, na rede estadual e municipal demonstrou uma tentativa do governo do Estado em estabelecer uma relação de apoio aos licenciados das mais diversas áreas do conhecimento. Entretanto, permanece a dúvida imersa na dicotomia: Curso de Licenciatura em Ed. Especial X Formação nas diversas licenciaturas. Segundo Silva (2001, p. 63) Como local de conhecimento, o currículo é a expressão de nossas concepções do que constitui conhecimento. Desta forma, os dizeres dos entrevistados mostraram-se como indicadores para que se amplie/qualifique a formação inicial dos licenciados das diversas áreas do conhecimento, ao mesmo tempo que se amplie o número de cursos de Licenciatura em Ed. Especial. Pois, Aquilo 9368

6 5 que um grupo tem em comum é resultado de um processo de criação de símbolos, de imagens, de narrativas, de mitos que cimentam a unidade de um grupo, que definem sua identidade. (SILVA, 2001, p. 47). Assim, compreendemos que a constante discussão sobre os fatores que constituem a identidade do grupo de professores (1 0s e 2 0s professores), fundamentada em um aporte teórico voltado para as questões sobre a inclusão escolar, possa auxiliar nos níveis de reflexividade referidos por Sá-chaves (2002), e que podem vir a influenciar as diferentes maneiras dos professores atuarem no ambiente escolar. REFERÊNCIAS Chaves, I. A construção de conhecimento pela análise reflexiva da práxis. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian e Ministério da Ciência e da Tecnologia, Nóvoa, A. Professores: Imagens do futuro presente. Instituto de Educação. Lisboa: Educa, Pimenta, S. G. & Ghedin, E. (Orgs.). Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. 2. ed. São Paulo: Cortez, Silva, T. T. da. Quem escondeu o currículo oculto. In: Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, O currículo como fetiche: a poética e a política do texto curricular. 2. ed. Belo Horizonte : Autêntica, Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. 2. ed. Belo Horizonte : Autêntica,