AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº ROBERTO DE VICENTE

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1 AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº DA 2ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE PONTA GROSSA AGRAVANTE: JOAQUIM ALVES DE QUADROS AGRAVADOS: INSOL ITERTRADING DO BRASIL INDÚSTRIA E COMÉRCIO S/A, NOVA GS PARTICIPAÇÕES S/A RELATOR: DES. ROBERTO DE VICENTE AGRAVO DE INSTRUMENTO RECUPERAÇÃO JUDICIAL INSURGÊNCIA DO ADMINISTRADOR JUDICIAL QUANTO AO VALOR ARBITRADO PARA SUA REMUNERAÇÃO, DESACOLHIDA DECISÃO FUNDAMENTADA E JUSTIFICADA - VALOR ARBITRADO QUE SE MOSTRA RAZOÁVEL E SUFICIENTE A REMUNERAR ADEQUADAMENTE O ADMINISTRADOR, CONSIDERANDO A CAPACIDADE DE PAGAMENTO DAS EMPRESAS RECUPERANDAS, E A RELATIVA COMPLEXIDADE DOS TRABALHOS A SEREM REALIZADOS. RECURSO DESPROVIDO... A Recuperação Judicial deve ser processada da forma menos onerosa à empresa recuperanda e o juiz, ao fixar a remuneração da empresa auxiliar do administrador bem como a do próprio administrador judicial dever atentar-se para a capacidade de pagamento do devedor e o grau de complexidade dos trabalhos a serem realizados.. (TJPR, Ag Instr , 18ª Ccv, Rel. Des. José Carlos Dalacqua, j. 04/08/2010). VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº , da 2ª Vara Cível da Comarca de Ponta Grossa, em que é Agravante JOAQUIM ALVES DE QUADROS e Agravados INSOL ITERTRADING DO BRASIL INDÚSTRIA E COMÉRCIO S/A. e NOVA GS PARTICIPAÇÕES S/A. Página 1 de 7

2 Trata-se de Agravo de Instrumento interposto contra a r. decisão que, em Recuperação Judicial (autos nº ), proposta por INSOL ITERTRADING DO BRASIL INDÚSTRIA E COMÉRCIO S/A. e NOVA GS PARTICIPAÇÕES S/A, fixou em R$ ,00 (duzentos mil reais) a remuneração do administrador judicial, ressalvando expressamente... sem prejuízo de eventual majoração no curso do processo (fls. 15/16-TJ). Inconformado JOAQUIM ALVES DE QUADROS alega, em síntese: que a remuneração teria sido fixada muito aquém do previsto na lei; que teria ocorrido violação ao artigo 24, 1º da Lei nº /2005; que o valor fixado pelo Juízo corresponderia a apenas 0,2802% do valor total de R$ ,86 da dívida sujeira a recuperação judicial; que a decisão não teria levado em consideração o fato processual de que se trata de recuperação judicial de duas empresas num mesmo processo e nem os efetivos requisitos e créditos previstos no caput do art. 24 e seu 1º, assim como a importância, grau de complexidade do trabalho, o tempo do trabalho, o número efetivo de credores (...) como o percentual e valores que vêm sendo praticados no mercado para a mesma atividade ; que as empresas seriam sediadas em Estados diferentes; que o número de credores que compõem as classes sujeitas à recuperação judicial é de 380 (trezentos e oitenta), sendo que vários deles são credores de moeda estrangeira ; que em processos semelhantes vem sendo fixado pelos Juízes desta e de outras Comarcas do Estado do Paraná e pelos Tribunais do país a remuneração com percentuais entre 3% e 5% sobre o valor total devido aos credores sujeitos à recuperação ; que o Administrador Judicial Agravante tem experiência de profissional advogado/professor da UEPG na área falimentar há mais de 30 anos ; que não bastaria ao Juízo ressalvar que a remuneração fixada poderá ser revista no curso do processo. Ao final, pleiteia, seja majorada a remuneração para um percentual entre 3% e 5%, ou outro que entenderem justo ao caso concreto, do valor devido aos credores submetidos à recuperação judicial, conforme consta Página 2 de 7

3 da Relação de Credores apresentada pelo Administrador Judicial e calculado na planilha simulada anexa. Às fls. 347/348-TJ o Eminente Juiz Substituto em Segundo Grau Victor Martim Batschke indeferiu o efeito suspensivo pleiteado. Às fls. 370/442-TJ o Agravante peticionou e juntou documentos afirmando que... a fixação dos honorários do administrador pelo Juízo a quo merece reparo porque somente levou em conta a função exercida pelo Agravante até a assembléia geral, desconsiderando as atividades complexas de fiscalização e seu acompanhamento já praticadas e a serem desenvolvidas nos próximos dois anos.... Ainda, que... como se pode verificar do último relatório mensal do mês de abril (doc. junto), as recuperandas demonstram ter capacidade econômico-financeira (...) para pagarem uma condigna e melhor remuneração ao Administrador Judicial.... Às fls. 444-TJ o Juízo a quo informou que manteve a decisão agravada por seus próprios fundamentos, bem como que o Agravante cumpriu o disposto no art. 526 do Código de Processo Civil. Às fls. 451/454-TJ a Procuradoria Geral de Justiça exarou parecer manifestando-se pelo conhecimento e desprovimento do recurso. É, em síntese, o relatório. VOTO Primeiramente, necessário destacar que a irresignação do Agravante limita-se a necessidade de majoração da verba honorária de R$ ,00 (duzentos mil reais) estabelecida a título de remuneração do Administrador Judicial. Contudo, em que pese às alegações do Agravante, entendo que a decisão agravada não merece qualquer reparo, eis que estabelecida em estreita consonância aos dispositivos legais aplicáveis, bem como à situação verificada no caso em comento. Página 3 de 7

4 Com efeito, o artigo 24 da Lei nº /2005 estabelece parâmetros a serem observados pelo Juízo para fixação do valor e forma de pagamento da remuneração do administrador judicial, sendo que no 1º do mesmo artigo é definido o teto máximo que tal remuneração poderá atingir. Art. 24. O juiz fixará o valor e a forma de pagamento da remuneração do administrador judicial, observados a capacidade de pagamento do devedor, o grau de complexidade do trabalho e os valores praticados no mercado para o desempenho de atividades semelhantes. 1 o Em qualquer hipótese, o total pago ao administrador judicial não excederá 5% (cinco por cento) do valor devido aos credores submetidos à recuperação judicial ou do valor de venda dos bens na falência. (...) (grifei). Assim, em que pese à indicação de critérios, observa-se que o valor a ser arbitrado está ao prudente arbítrio do Juízo, contudo, em qualquer hipótese, está o mesmo vinculado ao teto máximo estabelecido no 1 º do artigo 24 da Lei nº /2005. No caso em comento, em decisão devidamente fundamentada, o Juízo a quo arbitrou os honorários do Administrador Judicial em R$ ,00 (duzentos mil reais), conforme trecho destacado a seguir (fls. 15-TJ): Segundo demonstrações contábeis exibidas nos autos em data de 30 de junho de 2010 fls. 2608, observa-se que o ativo e o passivo da empresa recuperanda estão aproximadamente na casa de R$ ,00 (cento e oitenta e cinco milhões de reais). O número de credores existentes não é significativo, porquanto se trata de créditos volumosos, o que de certa forma, torna um pouco mais ameno o trabalho do administrador. Porém, o trabalho que o administrados judicial vem exercendo e que virá a exercer reclama certa complexidade, face a apresentação mensal de relatórios, manifestação em habilitações, presidência da Assembléia Geral, etc. Página 4 de 7

5 Ainda, ao prestar as informações solicitadas pelo Eminente Juiz Substituto em Segundo Grau Victor Martim Batschke, o Juiz a quo consignou (fls. 444-TJ): (...) a manutenção dos honorários do administrador judicial se justifica em razão do trabalho desenvolvido na fase de recuperação, eis que não se trata ainda de processo falimentar; que o trabalho do administrador se resume até a aprovação do plano na apresentação da relação de credores e na condução da Assembléia Geral; que em relação às demais atribuições legais, o administrador as vem desempenhando com o auxilio de outros profissionais (economista e contador), cujos honorários foram arbitrados separadamente por este Juízo; que a maioria da dívida está concentrada nas mãos de poucos credores, o que torna o trabalho do administrador efetivamente mais tranqüilo; que as empresas recuperandas não gozam de boa saúde financeira, sem contar o fato de que há créditos contraídos em valores vultosos que não se sujeitam aos efeitos da recuperação judicial (contratos de adiantamento de câmbio Banco Itaú, Banco BPN, etc...); e que a remuneração arbitrada corresponde a exatamente R$ ,00, o que não é, portanto, incompatível. Inclusive, relevante destacar que o artigo de lei mencionado não definiu um valor mínimo a ser observado pelo Juízo. Ao contrário, estabeleceu critérios e o teto máximo da remuneração. Deste modo, tendo em vista que, no caso em comento, o Juízo a quo aplicou de maneira fundamentada ao caso os critérios definidos no caput do artigo 24 da Lei nº /2005, bem como ressalvou a possibilidade de majoração dos honorários no curso do processo, não merece qualquer reparo a decisão agravada. Nesse sentido: AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. NOMEAÇÃO DE EMPRESSA AUXILIAR. ASSESSORIA CONTÁBIL. POSSIBILIDADE APLICAÇÃO DO ARTIGO 7 DA NOVA LEI DE FALÊNCIAS. REMUNERAÇÃO DOS TRABALHOS DA EMPRESA E VERBA HONORÁRIA DEVIDA AO ADMINISTRADOR JUDICIAL. VALORES EXCESSIVOS. NÃO OBSERVÂNCIA DA CONDIÇÃO DA EMPRESA RECUPERANDA E DO PROCESSO. NÃO OBSERVÂNCIA DO ARTIGO 24 DA NOVA LEI DE FALÊNCIAS. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. 1. O artigo 7 da Nova Lei de Falências admite Página 5 de 7

6 que o administrador nomeie empresa especializada para lhe auxiliar no cálculo do montante envolvido na recuperação: "Art. 7 A verificação dos créditos será realizada pelo administrador judicial, com base nos livros contábeis e documentos comerciais e fiscais do devedor e nos documentos que lhe forem apresentados pelos credores, podendo contar com o auxílio de profissionais ou empresas especializadas." 2. A Recuperação Judicial deve ser processada da forma menos onerosa à empresa recuperanda e o juiz, ao fixar a remuneração da empresa auxiliar do administrador bem como a do próprio administrador judicial dever atentar-se para a capacidade de pagamento do devedor e o grau de complexidade dos trabalhos a serem realizados. (grifei). (TJPR, Ag Instr , 18ª Ccv, Rel. Des. José Carlos Dalacqua, j. 04/08/2010). Entendimento equivalente foi adotado pela Procuradoria Geral de Justiça, nos termos do parecer acostado às fls. 451/454-TJ do qual destaco os seguintes pontos, à guisa de fundamentação:... muitos são os fatores a serem ponderados pelo julgador, para se chegar com critério a um importe que de forma condigna remunere o trabalho do profissional. Assim, tendo em conta tratar-se de processo em que duas são as empresas recuperandas, o que traz maior trabalho ao administrador, notadamente por estarem estabelecidas em cidades diferentes, somando ao valor sujeito à recuperação judicial, certo está que o numerário de R$ ,00 foi fixado de forma coerente ao trabalho a ser desenvolvido nos autos. Muito embora seja o crédito recuperado avaliado em pouco mais de 70 milhões de reais, desnecessário arbitrar honorários em percentual entre 3% e 5%, sob pena de estar transformando um processo destinado à recuperação de uma empresa, em meio de deixá-la mais endividada ainda. Mesmo sendo necessário desempenhar a tarefa com zelo, e despender gastos e tempo no acompanhamento do processo, auferir valor vultoso a título de remuneração, pelo desempenho da administração, vai de encontro ao princípio da razoabilidade, até porque iria sobrecarregar as próprias recuperandas, que já não se encontram em situação financeira confortável. (...). Assim, mesmo que haja limite máximo estipulado pela lei falimentar, não se vislumbra um patamar mínimo a que está obrigado o magistrado a observar, de sorte a se mostrar mais coerente arbitrar remuneração segundo critérios da razoabilidade, e considerando, é claro, o trabalho a ser desenvolvido pelo profissional, naqueles casos em que se observam certas particularidades, como o presente, em que a remuneração do administrador atingiria cifra de grande monta se fixada em percentual sobre o crédito recuperado. Destaque-se aqui que não se trata de deixar de reconhecer os grandes préstimos do Administrador nos autos, mas em pouco diminuiria o seu trabalho se o valor da dívida fosse menor, porque nem sempre a dificuldade do processo está relacionada ao valor do Página 6 de 7

7 débito, de modo que não se pode fixar a remuneração somente com base no valor da dívida, mas também em elementos outros que possam embasar e justificar a remuneração percebida. Por isso, em se mantendo os valores atuais, de R$ ,00, estaria sendo recompensado o agravante de maneira satisfatória para desempenhar o seu mister, sendo certo que poderá a remuneração ser majorada no curso do processo, em havendo fundamento para tanto, como mesmo consignou o magistrado, não merecendo assim o decisum qualquer reparo. Desta feita, por todo o exposto, o parecer desta Procuradoria de Justiça é pelo conhecimento e desprovimento do recurso. (grifei). ANTE O EXPOSTO, conheço do recurso, mas voto no sentido de negar-lhe provimento, mantendo inalterada a decisão agravada por seus próprios fundamentos. ACORDAM OS DESEMBARGADORES INTEGRANTES DA DÉCIMA OITAVA CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ, POR UNANIMIDADE DE VOTOS, EM NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO, NOS TERMOS DO VOTO DO RELATOR. Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Desembargador José Sebastião Fagundes Cunha e dele participaram os Desembargadores Ivanise Maria Tratz Martins e Sérgio Roberto N. Rolanski. Curitiba, 17 de Agosto de DES. ROBERTO DE VICENTE Relator Página 7 de 7