APELAÇÃO CÍVEL PEDIDO DE DECRETAÇÃO DE FALÊNCIA JULGADO IMPROCEDENTE

Transcrição

1 APELAÇÃO CÍVEL Nº DA 3ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA, FALÊNCIAS E RECUPERAÇÃO JUDICIAL DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA APELANTE: RENATA CARELLI DOS SANTOS RIBEIRO APELADO: ARCA LTDA. RELATOR: DES. ROBERTO DE VICENTE APELAÇÃO CÍVEL PEDIDO DE DECRETAÇÃO DE FALÊNCIA JULGADO IMPROCEDENTE - DESNECESSIDADE DE INSTRUÇÃO PROBATÓRIA AGRAVO RETIDO REJEITADO ALEGAÇÃO DE QUE A SENTENÇA BASEOU-SE EM ARTIGO EQUIVOCADO DA LEI DE FALÊNCIAS ACOLHIMENTO - PRESENTES OS REQUISITOS PARA DECRETAÇÃO DA QUEBRA COM BASE NO ARTIGO 94, INCISO II, DA LEI /05 - EMPRESA QUE, EXECUTADA POR QUALQUER QUANTIA LÍQUIDA, NÃO PAGA, NÃO DEPOSITA E NÃO NOMEIA À PENHORA BENS SUFICIENTES DENTRO DO PRAZO LEGAL FALÊNCIA DECRETADA, DEVENDO OS AUTOS RETORNAREM À PRIMEIRA INSTÂNCIA A FIM DE CUMPRIR O DISPOSTO NO ARTIGO 99, DA LEI Nº /2005. RECURSO PROVIDO. Página 1 de 6

2 VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº da 3ª Vara da Fazenda Pública, Falências e Recuperação Judicial do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba, em que é apelante RENATA CARELLI DOS SANTOS RIBEIRO e apelado ARCA LTDA. Trata-se de Apelação Cível interposta contra a r. sentença que, em Pedido de decretação de Falência (Autos 22155/2007) proposto por RENATA CARELLI DOS SANTOS RIBEIRO contra ARCA LTDA., julgou improcedente o pedido inicial, levando em conta que inexistente pluralidade de credores na hipótese, além do uso do pleito como meio de coação para recebimento do débito, bem como o fato de que os títulos (cheques) estão prescritos, sem contar que não se tem dívida líquida necessária para o pleito; condenando a autora ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios fixados em R$ 2.000,00, com ônus de sucumbência corrigido pelo INPC a partir do presente provimento até o efetivo desembolso, incidindo ainda juros legais do Código Civil em 1% ao mês a partir do trânsito em julgado até o efetivo pagamento. Inconformada a apelante RENATA CARELLI DOS SANTOS RIBEIRO alega: em agravo retido que na falência requerida com base em Execução frustrada, não há prova a ser produzida, pois que o procedimento falimentar não enseja a rediscussão dos termos colocados na fase executória, tampouco se admite, na falência, a amplitude probatória contida na execução ; no recurso principal que teria requerido a falência com base no inciso II do artigo 94 da Lei de Falências; que a sentença teria incorrido em grave vício procedimental, pois o referido artigo 96 só tem aplicação quando a falência foi requerida com base no inciso I, do artigo 94, o que como se disse, não é o caso dos autos ; que não caberia, portanto, no pedido de falência, a discussão pelo Réu dos débitos no processo, ou sua natureza ou sua causalidade, porque é defeso a rediscussão dos termos presentes na fase executória nestes autos falimentares, pois a preclusão já Página 2 de 6

3 operou seus efeitos ; que a mesma decisão que pautando-se pela estrita legalidade ao não reconhecer a prática de pré-datamento de cambiais revelase contraditória ao exigir um antecipado concurso de credores (...) como supedâneo ao pedido falimentar. Um contra-senso, por evidente, já que este prévio concurso não se encontra previsto em lei ; que o que se tem é uma execução instruída com documento que preenche todos os requisitos do título executivo e onde a apelada, citada, não pagou, não realizou depósito em garantia e nem foram encontrados bens para penhora. Em contrarrazões ARCA LTDA. alega: que a apelante teve oportunidade de rechaçar as alegações contidas na peça contestatória da Apelada, em relação a prescrição dos cheques e aos abatimentos da dívida, mas não o fez, ocorrendo portanto a preclusão. Pautou-se contudo, nas decisões tomadas por outro juiz, em sede de execução, onde não foram analisadas essas questões. Mas já na execução, não foram julgados a prescrição e os abatimentos da dívida, o que aconteceu nesta, originado a improcedência do pedido de falência. Nesta Instância a Douta Procuradoria Geral de Justiça exarou parecer pronunciando-se pelo provimento do agravo retido e do recurso de apelação. É, em síntese, o relatório. VOTO O apelo merece provimento. Inicialmente cabe analisar as alegações trazidas em agravo retido, de que não seria cabível no caso o deferimento de produção probatória. Realmente, estando a pretensão da apelante calcada no inciso II do artigo 94 da Lei de Falências, ou seja, no fato do apelado, em execução, não ter adimplido com dívida líquida, nem depositado ou nomeado Página 3 de 6

4 bens probatória. aptos a penhora no prazo legal, dispensável a fase de instrução Isto porque um dos requisitos para o ajuizamento de pedido de decretação de falência com base no inciso II do artigo 94 da Lei /05 é a demonstração da existência de demanda executiva proposta anteriormente contra o apelado, a qual foi infrutífera. Havendo esta prova, as demais são dispensáveis. Nesse sentido: o exeqüente deve, então, solicitar uma certidão atestando a falta do pagamento, depósito ou nomeação de bens à penhora, para em seguida, formular, perante o juiz competente, o pedido de falência instruído com aquele documento (COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, v 03, pag. 254, 5ª edição, Saraiva) Por seu turno, deverá o credor extrair certidão comprobatória da conduta processual do devedor nos autos da ação de execução, que se processa perante outro Juízo, o Juízo Comum da Execução, de modo que possa instruir o pedido de falência (GUERRA, Luiz. Falências e Recuperação de Empresas Crise Econômico-Financeira, Brasília Editora Guerra, 2011 p. 328/329). Rejeita-se, pois, o agravo retido. No mérito, tem razão a apelante quando afirma que no feito não caberia discussão acerca da validade, exigibilidade (incluindo prescrição), vícios ou causas suspensivas do título que embasa o pedido de decretação da falência. Isto porque tais objeções apenas podem ser feitas quando o pedido de decretação se basear no inciso I do artigo 94 da Lei /05, ou seja, em não pagamento de título caracterizador da obrigação com montante superior a 40 salários mínimos, na data do pedido de falência. No caso em comento o pedido de decretação da falência teve como fundamento legal o inciso II do artigo 94 da Lei em comento, que assim dispõe: Página 4 de 6

5 Art. 94. Será decretada a falência do devedor que: II executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal; Conforme já exposto, o inadimplemento do apelado na ação de Execução de Título Extrajudicial (Autos 1347/2005) promovida pela apelante restou comprovado pela certidão de fls. 14. Desta forma tendo em conta que o pedido é decretação de falência baseado em ação executiva infrutífera, impossível o alargamento das matérias de defesa, Neste viés: em oposição, se o fundamento do pedido falimentar é um título executivo judicial, não se define um âmbito tal largo para a defesa, o que implicaria desrespeitar a coisa julgada, repetindo-se indevidamente as discussões já havidas no processo no qual se formou o título judicial (Mamede, Gladson.Direito Empresarial Brasileiro: Falência e Recuperação de Empresas, v. 4 São Paulo: Atlas, 2006 p. 371/372) de Destaca-se ainda que as matérias trazidas em contestação neste feito já foram apresentadas em Exceção de Pré- Executividade, a qual foi desprovida (fls. 161/167). Do parecer de lavra do eminente Procurador de Justiça Luiz Eduardo Canto de Azevedo Bueno, destaco parte do texto, onde a questão foi muito bem exposta, à guisa de fundamentação: Desta forma, como a letra da Lei é expressa ao dispor que a prescrição só pode ser arguida quando a falência for requerida nos termos do art. 94, I, não há como manter a decisão de primeiro grau que pautou sua decisão na suposta prescrição do título, sendo que inexiste motivo plausível para não decretação da falência da ré/apelada, tendo em vista que a empresa ré não pagou nenhuma quantia nem mesmo na ação de execução na qual ela foi executada. Outrossim, meso que fosse admitido a discussão sobre a prescrição do título (cheque), tem-se que o mesmo não encontra-se prescrito, pois os Tribunais têm decidido no sentido de que a contagem do prazo prescricional inicia-se a partir da data combinada para apresentação do cheque e não de sua emissão. (...) Sendo assim, não há como elidir do decreto falencial. Página 5 de 6

6 Além disso, data vênia, deve-se ressaltar que ao contrário do exposto pelo Magistrado a Lei não exige pluralidade de credores para o pedido da falência, de acordo com o que prescreve o art. 97 da Lei /2005. (...) No tocante ao agravo retido, merece ser provido, embora o provimento não traga nenhuma repercussão jurídica na presente lide, pois as provas já foram produzidas, não tendo como tal fato ser modificado, tendo em vista que não há necessidade de provas, pois patente a falta de pagamento e de nomeação de bens a penhora em ação de execução.(fls.352/353). Cumpridos, pois, os requisitos para decretação da falência execução de titulo extrajudicial liquido, que não foi paga, nem depositada, nem oferecidos bens á penhora - não resta opção a não ser decretar a quebra da apelada. ANTE O EXPOSTO, conheço do recurso e voto no sentido de rejeitar o agravo retido e dar provimento à apelação, para o fim de decretar a falência da apelada, com base no inciso II do artigo 94 da Lei de Falências, devendo os autos retornarem à primeira instância a fim de cumprir o disposto no artigo 99, da Lei nº /2005. ACORDAM OS INTEGRANTES DA DÉCIMA OITAVA CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ, POR UNANIMIDADE DE VOTOS EM DAR PROVIMENTO AO RECURSO, NOS TERMOS DO VOTO DO RELATOR. Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Desembargador Sérgio Roberto N. Rolanski (com voto) e dele participou o Desembargador Marcelo Gobbo Dalla Dea. Curitiba, 11 de Abril de DES. ROBERTO DE VICENTE Relator Página 6 de 6