Universidade Federal de Santa Maria Centro de Ciências Sociais e Humanas Departamento de Ciências Sociais PROJETO DE PESQUISA
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- Victor Gabriel di Castro Bentes
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1 Universidade Federal de Santa Maria Centro de Ciências Sociais e Humanas Departamento de Ciências Sociais PROJETO DE PESQUISA PARTIDOS E ESTADOS NO BRASIL: Uma tese revisitada Prof. Dr. Gustavo Muller Santa Maria 2011
2 Introdução Ao longo da história do Brasil, o que é denominado pela ciência política como sistema partidário, sofreu constantes mutações, e, por consequência, em vários momentos houve um realinhamento, com a extinção de siglas partidárias, ou migrações de partidos para o espectro ideológico da direita ou da esquerda. Não obstante, todas estas mutações tiveram como fator determinante a ação do poder executivo, personificado no presidente da República. Dentre as inúmeras teses a respeito do sistema partidário brasileiro, desde as primeiras pesquisas até a produção mais recente, o Estado aparece como o fiel da balança. Contudo, a tese de Maria do Carmo Campello de Souza continua como portadora de um grande valor explicativo, seja para sua confirmação ou refutação. A autora analisa o sistema partidário brasileiro do período de 1945 a 1964, e constata que a ausência de enraizamento social dos partidos brasileiros se deve a busca dos mesmos pelo controle das arenas decisórias (SOUZA, 1980). Em outras palavras, a autora afirma que os partidos políticos brasileiros, do período por ela analisado, não possuíam base social devido à ausência de nitidez ideológica e programática, uma vez que, suas posições e seus compromissos eram sempre adaptados para compor as forças que controlavam o Estado. Embora a análise de Campello de Souza seja circunscrita em um período histórico já superado, o que pode ser visto e compreendido, principalmente a partir de 2003, como uma síndrome do adesismo, continua a desafiar os pesquisadores brasileiros.
3 Objetivos da Pesquisa Esta pesquisa tem como objetivo analisar comparativamente o espectro das coalizões governistas nos governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio da Silva, e as oscilações na identificação dos eleitores com os partidos políticos no período de 1994 a Tal objetivo está inserido em uma agenda de pesquisa da ciência política brasileira que contempla três campos específicos: instituições políticas, partidos e comportamento eleitoral. Os campos instituições políticas e partidos políticos estão interligados uma vez que, é possível dimensionar o impacto da relação executivolegislativo no comportamento destes últimos no interior do legislativo (FIGUEIREDO & LIMONGI, 1999). Já no que diz respeito ao campo do comportamento eleitoral, estudos recentes dão conta da influência das instituições políticas na percepção, por parte do eleitorado, das diversas matrizes ideológicas representadas pelos partidos (DENZAL & NORTH, 2000), bem como, da relação entre sistema presidencialista, sistema eleitoral e composição do legislativo (SHUGART & CAREY, 1992). Fazendo a intersecção entre estes três campos da ciência política, ao final desta pesquisa será possível atingir o objetivo de verificar o quanto a política de coalizões nos dois governos contribuiu para a sedimentação ou volatilidade das identidades partidárias.
4 Justificativa O sistema presidencialista, combinado com a fórmula de eleição proporcional de lista aberta, para a composição da Câmara dos Deputados, impõe, de um lado, a necessidade de acordos para a formação de maiorias governistas, e por outro lado, os vários mecanismos de negociação disponíveis tanto para o executivo como para os deputados, individualmente ou através dos seus partidos. Conforme já foi afirmado neste projeto, ao analisar o sistema partidário do chamado ciclo populista, Maria do Carmo Campello de Souza, tendo como tipo ideal os partidos europeus e suas clivagens sociais, constatou que, os partidos nacionais criados em 1945, são produtos de uma arquitetura política gerada a partir do próprio Estado. Com essa conformação, os partidos conquistaram seus eleitores por meio da distribuição de recursos públicos direcionada para um reduto eleitoral específico. Cabe notar que, pela interpretação da autora, há uma inversão lógica, ou seja, ao invés de termos partidos políticos formados pela mobilização de segmentos sociais, temos partidos que se alojam na máquina pública para, a partir daí, conquistar sua base eleitoral. Analisando o mesmo fenômeno, porém no período pós 1985, Rachel Meneguello constata a existência de um ciclo virtuoso no qual os partidos são eleitoralmente testados com base na política implementada por estes nos ministérios (MENEGUELLO,1988). Com isto, a autora inverte a lógica da análise de Campello de Souza. O que para esta era visto como um fator negativo, para Meneguello exerce um fator positivo, produzindo dessa forma accountability. A visão de Meneguello possui um antecedente que, a partir de um conceito inovador, deu início a uma série de análises institucionais galgadas no conceito de presidencialismo de coalizão (ABRANCHES, 1988), visão essa ratificada na formação dos gabinetes (AMORIM NETO, 1994), e na lógica de delegação de poderes para a implementação de políticas públicas
5 que gerem dividendos eleitorais (SANTOS, 1999). Todo esse ciclo virtuoso desempenhado pelo presidencialismo de coalizão seria ratificado no legislativo pela elevada disciplina partidária obtida no legislativo por meio de instrumentos regimentais conferidos aos líderes partidários (FIGUEIREDO & LIMONGI, 1999). Não obstante, observadores estrangeiros não demonstram tanto otimismo com relação ao desempenho das instituições políticas brasileiras, seja pelo individualismo gerado pelo sistema eleitoral proporcional de lista aberta (AMES, 2001, MAINWARING, 1999), seja pelas oportunidades de cargos e carreiras produzidas pelo formato federalista do Estado brasileiro (SAMUELS, 2003). Essa breve revisão bibliográfica é suficiente para demonstrar que o estudo das instituições políticas e dos partidos continua sendo um tema relevante na agenda da ciência política brasileira. Cabe ainda notar que existem fenômenos políticos recentes como o advento do governo Lula, e os instrumentos por este utilizados para a composição da base governista no Congresso Nacional, que requerem pesquisas. Sob esse aspecto, a análise comparativa das coalizões nos governos Fernando Henrique e Luiz Inácio da Silva podem trazer à luz contrastes fortes o suficiente, tanto para a sedimentação de clivagens partidárias, como para a dissolução dessas clivagens, a partir de estratégias político-institucionais gestadas no seio do Estado brasileiro.
6 Metodologia A metodologia utilizada nesta pesquisa será baseada na coleta de dados relativos a composição das bases governistas na Câmara dos Deputados, e de dados que demonstrem a oscilação do percentual de eleitores que se declaram identificados com algum partido político. Tal coleta será realizada no site do Datafolha ( Congresso em foco ( ) e demais bancos de dados disponíveis. Uma vez feita a coleta de dados, será decidido o procedimento estatístico a ser adotado. Tal procedimento tanto pode utilizar a estatística descritiva, como utilizar inferências que permitam a correlação entre a abrangência das coalizões governistas e o declínio da identificação partidária dos eleitores.
7 Cronograma de trabalho MES/ETAPAS ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ Levantamento bibliográfico X X X X x Coleta de dados X X X X Análise dos dados X X X Organização do roteiro/partes X Redação do trabalho X X Revisão e redação final X Entrega X
8 Bibliografia ABRANCHES, Sérgio Henrique. Presidencialismo de Coalizão: o dilema institucional brasileiro. Dados - Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, v. 31, n. 1, AMES,Barry. The Deadlock of Democracy in Brazil. Ann Arbor, Michigan: University of Michigan Press, 2001 AMORIM NETO, Octavio. Formação de Gabinetes Presidenciais no Brasil: coalizão versus cooptação. Nova Economia, Belo Horizonte, v. 4, n. 1, p. 9-34, DENZAU, Arthur T. & NORTH, Douglass C. Shared mental model: ideologies and institutions. In LUPIA, Arthur, McCUBBINS, Mathew D. & POPKIN, Samuel L. Elements of reason. Cambridge. Cambridge University Press pp FIGUEIREDO, Argelina; LIMONGI, Fernando. Executivo e Legislativo na Nova Ordem Constitucional. São Paulo: FGV, MAINWARING, Scott. Rethinking Party Systems in the Third Wave of Democratization: the case of Brazil. Stanford, Calif.: Stanford University Press, MENEGUELLO, Rachel. Partidos e Governo no Brasil Contemporâneo: ( ). São Paulo: Paz e Terra, SANTOS, Fabiano. Instituições Eleitorais e Desempenho do Presidencialismo no Brasil. Dados - Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, v. 42, n. 1, SAMUELS, David. Ambition, Federalism and Legislative Politics in Brazil. Cambridge, UK; New York: Cambridge University Press, SHUGART, Matthew Soberg; CAREY, John M. Presidents and Assemblies: constitutional design and electoral dynamics. Cambridge, UK; New York: Cambridge University Press, SOUZA, Maria do Carmo Campello de. Estado e Partidos Políticos no Brasil: ( ). 3. ed. São Paulo: Alfa-Ômega, 1980.
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