UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA FACULDADE DE ECONOMIA E GESTÃO
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- Sônia Câmara Neto
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1 UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA FACULDADE DE ECONOMIA E GESTÃO LICENCIATURAS EM ECONOMIA E GESTÃO MICROECONOMIA Ano Letivo 201/16 2.º Semestre 1.º TESTE 27/02/16 Duração: 1h min. (tolerância) 1) É permitida a CONSULTA LIMITADA a uma folha de apontamentos manuscritos. 2) Procure ser PRECISO E CONCISO nas suas respostas. 3) Responda a cada grupo EM FOLHAS SEPARADAS. 4) Não é permitida a utilização de EQUIPAMENTOS ELETRÓNICOS. I (7 valores) Considere a seguinte notícia: A Horta à Porta, projecto lançado pela Santa Casa da Misericórdia do Porto em parceria com a Lipor, foi considerada a maior horta social da Europa. Esta horta é composta por três hectares nos quais existem 230 talhões (parcelas) de agricultura biológica disponíveis. Estes talhões foram atribuídos a um preço anual de 0. Todos os contemplados com os talhões têm de cumprir uma formação de 12 horas sobre agricultura biológica e haverá um código de regras a seguir se o talhão for deixado ao abandono, o seu arrendatário perde o direito a ele. a) Os terrenos nos quais vai funcionar o projeto Horta à Porta são um bem ou um serviço? Como classifica economicamente esse bem (serviço) quanto à sua apropriabilidade? Justifique a sua resposta. No início deste projecto só existiam dois aderentes: o João e a Rita. Ambos optaram por cultivar dois bens: cenouras e tomates. Os dois arrendatários dedicam 8 horas semanais a cultivar estes dois bens. Sabe-se que o João cultiva, em média, kgs de cenouras e 10kgs de tomates por hora. Por outro lado, a Rita cultiva, em média, 8kgs de cenouras e 4kgs de tomates por hora. Com base nesta informação: b) Analise detalhadamente as vantagens que cada um dos aderentes apresenta na produção dos bens. c) Calcule a produção semanal total de cenouras e tomates, sabendo que cada um dos aderentes se especializa a 0% de acordo com a sua vantagem comparativa. Compare-a com a produção semanal total no caso de ausência de especialização. Justifique devidamente a sua resposta. II (7 valores) O António consome mensalmente queijo (bem X) e fiambre (bem Y), sendo indiferente entre os dois cabazes seguintes: - Cabaz A: 2 kg de queijo e 10 kg de fiambre; 1/8
2 - Cabaz B: kg de queijo e 4 kg de fiambre. Sabe-se ainda que as preferências do António são racionais, monotónicas positivas e convexas e que o António dispõe de 40 euros por mês para o consumo destes dois bens, sendo o preço de cada kg de queijo igual a euros e o preço de cada kg de fiambre igual a 8 euros. Nota: nas representações gráficas represente o consumo de queijo no eixo das abcissas (X) e o consumo de fiambre no eixo das ordenadas (Y). a) (2 valores) Represente graficamente o mapa de curvas de indiferença do António (pelo menos duas curvas de indiferença), identificando os dois cabazes acima e determine a taxa marginal de substituição média de fiambre por queijo do António entre os dois cabazes indicados. Podemos tirar alguma conclusão relativamente a um cabaz C composto por 0% das quantidades dos cabazes A e B? Justifique adequadamente. b) (1, valores) O José, irmão mais novo do António, gosta mais de fiambre do que o António. Utilizando o mesmo gráfico da alínea a), mas a tracejado, represente uma possível curva de indiferença para o José que inclua o cabaz B. Justifique a sua resposta, utilizando o conceito económico apropriado. c) (2 valores) Deduza a expressão analítica do conjunto das possibilidades de consumo do António na situação inicial e represente graficamente o impacto sobre o conjunto das possibilidades de consumo dos seguintes factos que ocorreram em simultâneo: uma quebra do seu orçamento mensal para o consumo destes dois bens para 32 euros, juntamente com uma descida do preço do queijo para 3, euros para quantidades consumidas acima de kg. Nota: no gráfico deve incluir a situação inicial e a situação final. d) (1, valores) Determine a quantidade de fiambre (em kg) que o António tem que deixar de consumir para consumir mais 1 kg de queijo, na situação inicial e após as alterações descritas na alínea anterior. III (6 valores) 1. (2 valores) De acordo com o que decorre dos princípios orientadores da teoria neo-clássica do consumidor, o cabaz escolhido pelo consumidor tem que ter duas características. Diga quais são. 2. (2 valores) Suponha que as preferências do consumidor não são racionais. Depois de explicar em que consiste este tipo de preferências, usando uma representação gráfica, exponha consequências que isto poderia ter nas decisões do consumidor. 3. (2 valores) Muitas vezes assume-se que as preferências do consumidor são convexas e não côncavas. Usando uma representação gráfica, apresente a consequência das preferências serem estritamente côncavas e use isso para explicar por que é que muitas vezes não se assume este tipo de preferências. 2/8
3 a) (2 valores) Tópicos de Resolução Grupo I Os terrenos nos quais via funcionar o projecto Horta à porta são bens porque têm todas as características que definem este tipo de bens, a saber: têm uma forma feita de matéria e/ou energia; existem num determinado momento do tempo, podendo ser conservados ao longo do tempo); existem num determinado local, podendo ser transportados de um local para o outro; são objectos a que as pessoas dão um ou vários tipos de valor; são objecto de determinado modo de apropriação pelos seres humanos.. Os terrenos são bens de propriedade comum. Estes bens têm exclusão no acesso, uma vez que para ter acesso ao talhão os indivíduos têm de pagar 0 por ano e têm rivalidade no consumo, pois só existem 230 talhões disponíveis, mas isto não implica que quem tem acesso a estes bens seja livre de fazer com eles o que quiser porque o acesso e o uso desses terrenos é regulado por regras de natureza colectiva, comuns para todos os utilizadores. Tal como é referido, os contemplados com os talhões têm de cumprir formação e de seguir essas regras. b) (3 valores) cenouras (kg/hora) tomates (kg/hora) João kg/hora 10 kg/hora Rita 8 kg/hora 4 kg/hora Vantagens Absolutas: A Rita tem vantagem absoluta na produção de cenouras, uma vez que tem maior produtividade do que o João no cultivo deste bem. O João tem vantagem absoluta na produção de tomates, uma vez que tem maior produtivdade do que a Rita no cultivo deste bem. Vantagens Comparativas: Cáculo do custo de oportunidade de cenouras em termos de tomates para o João: 1 hora kg cenouras x horas 1kg cenouras 1 x hora 1 hora 10kg tomates 1 horas y kg tomates y 2kg tomates CO de cenouras em termos de tomates CO de tomates em termos de cenouras João 2 kg de tomates ½ kg de cenouras Rita ½ kg de tomates 2 kg de cenouras Analisando a tabela dos custos de oportunidade verificamos que o custo de oportunidade de cenouras em termos de tomates é menor para a Rita. Logo a Rita tem vantagem comparativa em produzir cenouras. O custo de oportunidade de tomates em termos de cenouras é menor para o João. Então o João tem vantagem comparativa em produzir tomates. 3/8
4 c) (2 valores) 7% das horas são para a vantagem comparativa. No total existem 8h logo, 7% são 6h. Cenouras Tomates João x2=10 kg 10x6=60 kg Rita 8x6=48 kg 4x2=8 kg Produção Total com especialização 8 kg 68 kg Cenouras Tomates João x4=20 kg 10x4=40 kg Rita 8x4=32 kg 4x4=16 kg Produção Total sem especialização 2 kg 6 kg Neste caso, com especialização orientada para as vantagens comparativas nos graus referidos (7% de especialização de ambos os agentes) é possível aumentar as possibilidades de produção globais, tal como se observa pela comparação das tabelas: Produção Total de Cenouras = 8-2 = 6kg Produção Total de Tomates = 68-6 = 12kg 4/8
5 Grupo II a) Os dois cabazes terão que pertencer à mesma curva de indiferença, uma vez que o António os considera indiferentes. y 10 A 4 B António José António TMSyx = ΔY 10 = 4 ΔX 2 = 2 O cabaz C é uma combinação linear dos cabazes A e B. Uma vez que nos é dito que as preferências do António são convexas, podemos concluir que o António vai preferir o cabaz C aos cabazes A e B. Nota: só será aceite a resposta a esta parte da pergunta a quem referir o pressuposto da convexidade. b) Se o José gosta mais de fiambre do que o António, estaria disposto a sacrificar menos fiambre para consumir mais 1 kg de queijo, logo a curva de indiferença do José será menos inclinada. Ou seja, a taxa marginal de substituição de fiambre por queijo do José no cabaz B será inferior à do António. Nota: só são aceites respostas que mencionem o conceito de taxa marginal de substituição. c) p x x p y m x 8y 40 y y 8 y 0 2 x x x d) O que está a ser pedido é o custo de oportunidade de queijo em termos de fiambre: p Na situação inicial é igual a 1 ; p 8 2 Na nova situação mantém-se igual a 8 até ao consumo de kg de queijo, passando depois para p ' p 1 2 3, entre e 7 kg de queijo. 8 /8
6 Grupo III 1. (2 valores) (0,0 valores) Entre outros pressupostos da teoria neoclássica os consumidores assumem-se como instrumentalmente racionais (otimizam a utilização dos meios de que dispôem para o efeito em coerência com determinados objetivos de consumo). (0,0) Assim, o cabaz escolhido por esses consumidores tem 2 características: i) é um cabaz possível (pertence ao conjunto das possibilidades de consumo do consumidor, determinado pelo seu rendimento e pelos preços dos bens e serviços) (0,7 valores); ii) é o melhor desses cabazes possíveis para esse consumidor, de acordo com a sua ordenação de preferências (0,7 valores). 2. (2 valores) Assumir a racionalidade (lógica) do consumidor significa assumir que as suas preferências são consistentes com as seguintes propriedades das relações de indiferença e de preferência estrita: - As relações de indiferença são reflexivas (comparação de um cabaz com esse próprio cabaz), simétricas (comparação de cabazes dois a dois) e transitivas (comparação de três ou mais cabazes); (0,0 valores) - As relações de preferência estrita são assimétricas (comparação de cabazes dois a dois) e transitivas (comparação de três ou mais cabazes). (0,0 valores) A implicação para a forma das curvas de indiferença é eles não se intercetarem, pois caso contrário não se verificaria, pelo menos a transitividade da relação de indiferença e relação de preferência estrita em comparações de 3 ou mais cabazes. Demonstração: No gráfico seguinte pela transitividade da relação de indiferença teríamos que q e q, por se situarem em curvas de indiferentes distintas, não seriam indiferentes para o consumidor. No entanto, sendo q indiferente a q, e q também indiferente a q, pela propriedade da transitividade q e q deveriam também ser indiferentes (0,0 valores): (gráfico completo: 0,0 valores) 6/8
7 3. (2 valores) Preferências côncavas levariam um consumidor instrumentalmente racional a ter sempre equilibrios de canto (cabaz ótimo ter composição nula de todos os bens e serviços exceto um). Como a situação mais comum é as escolhas recairem em cabazes (equilíbrios) interiores, ou seja em cabazes com quantidades não nulas da maior parte dos bens e serviços, pois todos são minimamente necessários à sobrevivência do consumidor, daí pressupor-se que os consumidores preferem a diversidade, o que traduz por curvas de indiferênça convexas, e não côncavas. (1 valor): A seguir mostram-se os tipos de equilíbrio associados a preferências convexas e côncavas que demonstram que as primeiras levam a equilíbrios de canto, e as segundas a equilíbrios interiores (cabazes com diversidade): Resposta alternativa considerada igualmente válida: Demonstra-se também que qualquer combinação linear (cabaz mais diverso) de 2 cabazes de igual utilidade para o consumidor tem, para um consumidor com preferências côncavas, utilidade inferior. O contário acontece para um consumidor com preferências convexas, dai dizer-se que um consumidor com preferências convexas tem preferência pela diversidade. (1 valor). 7/8
8 Demonstração com recurso a representações gráficas de um mapa de curvas de indiferença para um consumidor: 8/8
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