GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE ALGUMAS ESPÉCIES ARBÓREAS NATIVAS DO CERRADO 1. Revista Brasileira de Sementes, vol. 01, nº 2, p.

Transcrição

1 GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE ALGUMAS ESPÉCIES ARBÓREAS NATIVAS DO CERRADO 1 JOSÉ TEODORO DE MELO; JOSÉ FELIPE RIBEIRO 2 VERA LÚCIA G. DE FREITAS LIMA 3 Revista Brasileira de Sementes, vol. 01, nº 2, p.8-12, 1979 RESUMO. Foi estudada a germinação de sementes de oito espécies arbóreas nativas dos cerrados, coletadas no Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados EMBRAPA e em Padre Bernardo, GO. As espécies foram: Astronium urundeuva (Fr. All), Engl., Astronium faxinifolium Schott, Bombax tomentosum St. Hill, Bombax martianum K. Sch., Kielmeyera coriacea (Spr.) Mart, Piptadenia falcata Benth, Pterodon pubescens Benth e Qualea grandiflora Mart. Os testes de germinação foram realizados logo após a coleta e a contagem das sementes germinadas foi feita quatorze dias depois da instalação do experimento. K. coriacea e Q. grandiflora também foram submetidas a um teste de germinação após seis meses de armazenamento, em saco de pano, à temperatura ambiente. Constatou-se que as sementes das espécies estudadas germinaram rapidamente, mas nem todas apresentaram uma alta percentagem de germinação. Termos para indexação: germinação, espécies nativas, cerrado, Astronium urundeuva, Astronium faxinifolium, Bombax tomentosum, Bombax martianum, Kielmeyera coriacea, Piptadenia falcata, Pterodon pubescens e Qualea grandiflora GERMINATION OF VARIOUS NATIVE CERRADO ARBOREAL SPECIES ABSTRACT. The germination of seeds of eight tree-species collected from the Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados and Padre Bernardo areas was evaluated. The species studied were Astronium urundeuva (Fr. All), Engl., Astronium faxinifolium Schott, Bombax tomentosum St. Hill, Bombax martianum K. Sch., Kielmeyera coriacea (Spr.) Mart, Piptadenia falcata Benth, Pterodon pubescens Benth and Qualea grandiflora Mart. The germination test began the day after collection and ended fourteen days later. K. coriacea and Q. grandiflora were also tested after six-month storage period in a cloth bag at room temperature. All species germinated rapidly, although for some of them the germination rate was not high. Index terms: germination, tree species, cerrado, Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados, Padre Bernardo, Goiás INTRODUÇÃO "O nível de qualidade fisiológica da semente é avaliado através de dois parâmetros fundamentais: viabilidade e vigor" (Popinigis, 1977). A viabilidade é medida, principalmente, pelo teste de germinação, onde se procura determinar a máxima 1 Trabalho apresentado no 1 o Congresso Brasileiro de Sementes. Curitiba, PR, 26/11 a 02/12/ Pesquisadores da EMBRAPA/Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados. Km 18, BR 020 Brasília- Fortaleza, Cx. Postal , CEP Planaltina, DF 3 Acadêmica do Curso de Biologia da UnB Brasília, DF

2 germinação da semente. A maioria das espécies agro-silvicolas tradicionais dispõe de estudos sobre germinação, o que não ocorre com essências florestais nativas dos cerrados. Trabalhos de campo e de laboratório já forneceram informações interessantes, como os realizados por Labouriau et al. (1963 e 1964), Rizzini (1965, 1971a, 1971b, 1971c e 1973) e Valio & Morais (1966). Com o objetivo de estudar a germinação e o armazenamento de sementes de espécies nativas que ocorrem nessa região, foram selecionadas algumas espécies com base no seu potencial econômico. Astronium urundeuva (aroeira), Astronium faxinifolium (gonçalo-alves), Piptadenia falcata (angico) e Pterodon pubescens (sucupira-branca) fornecem madeira de boa qualidade (madeira de lei), podendo ser usada em carpintaria, construções rurais, dormentes e outros (Fonseca Filho, 1960; Rizzini, 1970, 1972; Ribeiro et al., 1979). No fruto de P. pubescens é encontrado um óleo aromático que detém apreciadas propriedades contra a esquistossomose (Mors, 1966). Kielmeyera coriacea produz, no súber, cortiça utilizada como isolante térmico na refrigeração e, quando jovem, suas folhas servem de alimento para gado (Ribeiro et al., 1979). Bombax tomentosum e Bombax martianum produzem, no fruto, uma fibra (paina) utilizada na confecção de travesseiros e colchões, semelhante ao "kapok" em suas propriedades hidrófogas. Pio Corrêa (1974) acrescenta ainda que a paina de alguns "imbiruçus" ou "paineiras", como são chamadas popularmente, chega a ser superior ao algodão como isolante no emprego cirúrgico e na refrigeração. Esta paina também é usada em blindagem e guarnição das divisões estanques dos navios de guerra. Afirma ainda que as sementes possuem 20 a 25% de óleo semelhante ao do amendoim, podendo ainda ser utilizado na saboaria. Sua madeira é leve, mole e porosa, podendo ser utilizada em aeromodelismo, canoas, bóias, etc., além de fornecer bom material para a indústria de papel (Pio Corrêa, 1969 e 1974). MATERIAIS E MÉTODOS As espécies arbóreas Kielmeyera coriacea (Spr) Mart. pau santo, Pterodon pubescens Benth sucupira branca, Bombax tomentosum St. Hil. paineira, Bombax martianum K. Sch. paineira ou imbiruçu, Piptadenia falcata Benth angico, Astronium urundeuva (Fr. All.) Engl. aroeira, Astronium faxinifolium Schott gonçalo alves e Qualea grandiflora Mart pau terra da folha larga, foram testadas quanto à germinação. As sementes de K. coriacea e Q. grandiflora foram coletadas em outubro de 1978 e as demais espécies em outubro de 1979, na área do Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados EMBRAPA e em Padre Bernardo, GO (Ribeiro et al., 1979). Os testes foram realizados em uma câmara de germinação BIOMATIC, tipo 4002, a uma temperatura de 25 o C, em condições de iluminação natural diurna e de obscuridade no período notumo, tendo como substrato umedecido o papel CREPON ABS. Esse papel é quimicamente neutro (ph = 7). Para cada teste foram tomadas, ao acaso, duzentas (200) sementes com oito repetições de vinte e cinco (25) sementes. Essas sementes foram lavadas cinco (5) vezes em solução aquosa de hipoclorito de sódio a 0,2%. A contagem foi feita quatorze dias após a instalação dos testes e foram consideradas germinadas as sementes que emitiram uma radicula perfeita. O armazenamento de K. coriacea e Q. grandiflora foi de seis meses em saco de pano à temperatura ambiente. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados obtidos são apresentados nas Tabelas 1 e 2 e indicam a média de oito repetições de vinte e cinco (25) sementes.

3 Pelo exame da Tabela 1, nota-se que, após a coleta, B. tomentosum, B. martianum e A. fraxinifolium tiveram uma ótima germinação, acima de 85%. P. pubescens e P. falcata tiveram uma percentagem de germinação regular, de 66 e 55,5%, respectivamente. A. urundeuva teve uma germinação de 35,5%, que foi considerada baixa. Nas sementes de todas as espécies ocorreu intenso ataque de fungos. Esse ataque pode ser reduzido com um aumento na concentração de hipoclorito de sódio, de forma a eliminar o fungo sem causar danos às sementes. Dessa forma, principalmente, em P. pubescens, P. falcata e A. urundeuva, poder-se-ia eliminar um dos fatores que estaria limitando o aumento da percentagem de germinação. A maioria das sementes germináveis emitiu a radícula antes de quatorze dias, tempo razoavelmente equiparado ao da germinação de espécies florestais exóticas cultivadas, como Pinus e Eucaliptus (Moura, 1980). Pela Tabela 2, nota-se que a percentagem de germinação de K. coriacea, logo após a coleta, foi regular, e, após seis meses, foi muito baixa, devido talvez a condições inadequadas de armazenamento. Em Q. grandiflora ocorreu o inverso, provavelmente devido a algum tipo de dormência existente na época de maturação do fruto. CONCLUSÕES As sementes das espécies estudadas germinaram relativamente rápido. Após o armazenamento, a germinação de sementes de Q. grandiflora (pau terra da folha larga) aumentou, sugerindo uma quebra de dormência, e a de K. coriacea diminuiu, sugerindo perda de viabilidade.

4 REFERÊNCIAS CORRÊA, M.P.; PENNA, L.A. Dicionário das plantas úteis do Brasil e das exóticas cultivadas. V. 4, Rio de Janeiro: IBDF, p CORRÊA, M.P.; PENNA, L.A. Dicionário das plantas úteis do Brasil e das exóticas cultivadas. V. 5, Rio de Janeiro: IBDF, p FONSECA FILHO, C.A. Contribuição para o estudo da flora florestal brasileira. In: CON- GRESSO BOTÂNICO, 11. Anais... Belo Horizonte, p. LABOURIAU, L.G.; VÁLIO, l.f.m.; LABOURIAU, M.L.S.; HANDRO, W. Nota sobre a germinaçâo de sementes de plantas de cerrado em condições naturais. R. Bras. Biol., 23(3) : , LABOURIAU, L.G.; HERINGER, E.P. Sobre o sistema reprodutivo de plantas dos cerrados. An. Acad. Bras. Ci., 36 (4): , MORS, B.W.; PELLEGRINO, J.; SANTOS FILHO, A.P. Açâo profilática do óleo dos frutos de sucupira-branca (Pterodon pubescens Benth) contra a infecção pelo Schistosoma mansoni. An. Acad. Bras. Ci., 38: , MOURA, V.G.P. Informação pessoal POPINIGIS, P. Avaliação da qualidade fisiológica. In: Fisiologia da semente. Brasília: AGIPLAN, p RIBEIRO, J.F.; IMANA ENCINAS, J.; MARTINS, E.S.; AZEVEDO, L.G.; MELO, J.T.; GUIMARÃES, D.P. Avaliação dos recursos vegetais nativos das fazendas Pau Ferro, Aroeira e Lagoa Santa, Padre Bernardo, GO. Brasília: EMBRAPA/UPAC/UnB, p. (mapas, mimeo...). RIZZINI, C.T. Experimental studies on seedling development of cerrado woods plants. Ann. Missouri Bot. Gard.,52(3): , RIZZI, C.T. Germinação e inibição em cinco espécies de Andira (Leguminosae, Lotoideae). R. Bras. Biol., 31(2): , RIZZI, C.T. Sobre as principais unidades de dispersão do cerrado. In: SIMPÓSIO SOBRE O CERRADO, 3., São Paulo, Anais... São Paulo: Edgard Blücher, Ed. da Universidade de São Paulo, 1971, p RIZZI, C.T. Aspectos ecológicos da regeneração em algumas plantas do cerrado. In: SIMPÓSIO SOBRE O CERRADO, 3., São Paulo Anais... São Paulo: Edgard Blücher, Ed. da Universidade de São Paulo, p RIZZI, C.T. Árvores e madeiras úteis do Brasil; manual de dendrologia brasileira. São Paulo: Edgard Blücher, p.

5 RIZZI, C.T. Dormancy in seeds of Anona crassiftora Mart. J. Exp. Bot. 24(78): , VÁLIO, l.f.m.; MORAES, V. Sobre o sistema reprodutivo de plantas dos cerrados. An. Acad. Bras. Ci., 38 (supl.): , 1966.