A ENCÍCLICA ECOLÓGICA DO PAPA FRANCISCO
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1 A ENCÍCLICA ECOLÓGICA DO PAPA FRANCISCO GIOVANI MARINOT VEDOATO RESUMO O presente artigo visa, de forma panorâmica, apresentar a Carta Encíclica do Papa Francisco Laudato Si. Uma reflexão sobre o cuidado da casa comum, ou seja, o planeta terra. Palavras-chave: Ecologia. Encíclica. Francisco. Papa. ABSTRACT This article aims to present a panoramic way the Pope's Encyclical Letter Francisco Laudato Si. A reflection on the care of common home, that is, the planet earth. Keywords: Ecology. Encyclical. Francisco. Pope. Publicada em Roma, no dia 24 de Maio de 2015, solenidade de Pentecostes, o terceiro ano de pontificado do Papa Francisco, a Carta Encíclica Laudato Si (LS), ou a Encíclica ecológica como muitos vêm chamando, pode ser entendida como uma continuidade da Exortação Apostólica Envangelii Gaudium, sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. Essa ideia aparece claramente no corpo do documento quando diz: Pe. Dr. Giovani Marinot Vedoato é professor de Filosofia e Ética na Faculdade Castelo Branco, em Colatina ES. LS 3. Castelo Branco Científi ca - Ano I V - Nº 08 - julho/dezembro de ca.com.br 1
2 Na minha exortação Evangelii Gaudium, escrevi aos membros da Igreja, a fim de mobilizá-los para um processo de reforma missionária ainda pendente. Nesta Encíclica, pretendo especialmente entrar em diálogo com todos acerca da casa comum. Essa dinâmica já foi muito utilizada na vida da Igreja por ocasião do Concílio Vaticano II através da Constituição Dogmática Lumen Gentium e da Constituição Pastoral Gaudium et Spes. A primeira constituição sobre a Igreja e a segunda, sobre a Igreja no mundo de hoje, portanto, uma reflexão da práxis da Igreja sobre sua realidade ad intra e ad extra. Na Laudato Si, o convite do Papa centra-se no horizonte de termos um convívio mais harmonioso com o nosso planeta Terra. Dela vem nosso sustento. É nossa irmã e mãe. Portanto, deve ser vista como sacramento de comunhão. Infelizmente nosso estilo de vida e nossas formas de produção e consumo não indicam para essa convivência harmoniosa. Cada vez mais estamos destruindo nossa casa comum, submetendo-a a uma cruel destruição. Crescemos pensando que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la. Para uma devida compreensão da Encíclica, o artigo foi dividido em três grandes trechos. O primeiro versa sobre a responsabilidade da humanidade perante a casa comum como carícia de Deus; o segundo indica a necessidade de se passar de um paradigma antropológico para um paradigma ecológico; o terceiro segue o caminho de sugestionar novos estilos de vida. PRIMEIRO EIXO: A humanidade responsável diante da carícia de Deus Nunca maltratamos e ferimos a nossa casa comum como nos últimos dois séculos. Mas somos chamados a tornar-nos os instrumentos de Deus para que o LS 1. LS 9. LS 2. Castelo Branco Científi ca - Ano I V - Nº 08 - julho/dezembro de ca.com.br 2
3 nosso planeta seja o que Ele sonhou ao criá-lo e corresponda ao seu projeto de paz, beleza e plenitude. As rápidas e profundas mudanças que se impuseram sobre o nosso planeta, nos últimos dois séculos, não podem ser compreendidas sobre um todo harmônico. De um lado está o progresso criativo, motivo de alegria o qual potencializa os dons que Deus nos deu. Somos herdeiros de dois séculos de ondas de enormes mudanças: a máquina a vapor, a ferrovia, o telégrafo, a eletricidade, o automóvel, as indústrias químicas, a medicina moderna, a informática e, mais recentemente, a revolução digital, a robótica, as biotecnologias e as nanotecnologias. Do ponto de vista da técnica são avanços fabulosos. Por outro lado, não se pode negar a criatividade maléfica que coloca o planeta às portas da destrutividade. Exemplo disso é só acompanhar os jornais e observar o quadro alarmante que envolvem as questões climáticas, a questão da água, a perda da biodiversidade, a deterioração da qualidade de vida e a desigualdade planetária. Perante esse alarmante quadro é que surge a convocação do Papa para uma humanidade responsável. O urgente desafio de proteger a nossa casa comum incluiu a preocupação de unir toda família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral, pois sabemos que as coisas podem mudar. O criador não nos abandona, nunca recua no seu projeto de amor, nem se arrepende de nos ter criado. A humanidade possui ainda a capacidade de colaborar na construção de nossa casa comum. A pergunta que se coloca nesse momento é como desenvolver uma humanidade responsável frente ao LS 53. LS 102. LS LS LS LS LS LS 13. Castelo Branco Científi ca - Ano I V - Nº 08 - julho/dezembro de ca.com.br 3
4 planeta como casa comum? Segundo o Papa, a resposta encontra-se em evocar uma nova postura perante a terra. Não somos Deus. A terra existe antes de nós e foi-nos dada (...) Cada comunidade pode tomar da bondade da terra aquilo de que necessita para sua sobrevivência, mas tem também o dever de protegê-la e garantir a continuidade da sua fertilidade para as gerações futuras. Na verdade, a Encíclica propõe a passagem de uma visão antropocêntrica da Bíblia para uma visão mais interessada por todas as criaturas como centro. Logo, repaginar nossa visão de criação submetida ao domínio humano, para uma leitura onde a criação é vista como carícia de Deus; comunhão do divino com toda realidade criada. Todo o universo material é uma linguagem do amor de Deus, do seu carinho sem medida por nós. O solo, a água, as montanhas: tudo é carícia de Deus. SEGUNDO EIXO: Do antropocentrismo moderno ao paradigma ecológico Como avançar na direção de um paradigma que privilegie o planeta como casa comum? A resposta do Papa é enfática: Nos tempos modernos, verificou-se um notável excesso antropocêntrico, que hoje, com outra roupagem, continua a minar toda referência a algo de comum. De fato, esse paradigma, que se sustentou ao longo da modernidade, precisa ser superado por um paradigma que veja o ser humano como um nó de relações e não como centro, ou seja, a comunidade de todas as criaturas está acima como valor vital, e não, simplesmente, o humano. Daí, a insistência do escrito. LS 68. LS LS 84. LS 116. Castelo Branco Científi ca - Ano Ano I V - Nº 08 - julho/dezembro de ca.com.br 4
5 Quando o ser humano se coloca no centro, acaba por dar prioridade absoluta aos seus interesses contingentes, e tudo o mais se torna relativo. Na esfera religiosa o problema se coloca na mesma perspectiva. Se o ser humano se declara autônomo da realidade e se constitui dominador absoluto, desmorona-se a própria base da sua existência, porque em vez de realizar o seu papel de colaborador de Deus na obra da criação, o homem substitui-se a Deus. O despertar para uma ecologia integral é um caminho irrenunciável a ser percorrido hoje. Uma tarefa para o presente e para o futuro. Uma ecologia integral exige que se dedique algum tempo para recuperar a harmonia serena com a criação, refletir sobre nosso estilo de vida e os nossos ideais, contemplar o Criador, que vive entre nós, e naquilo que nos rodeia com sua presença não precisa ser criada, mas descoberta, desvendada. Em termos de sentimento e práxis planetária, significa assumir o planeta como casa comum. É necessário voltar a sentir que precisamos uns dos outros, que temos uma responsabilidade para como os outros e o mundo, que vale a pena sermos bons e honestos. Comportamento capaz de gerar uma nova cotidianidade. Ecologia integral é feita também de simples gestos cotidianos, pelos quais quebramos a lógica da violência, da exploração, do egoísmo. LS 122. LS 117. LS LS LS 225. LS 128. LS Castelo Branco Científi ca - Ano I V - Nº 08 - julho/dezembro de ca.com.br 5
6 TERCEIRO EIXO: Um novo estilo de vida Para inaugurar esse terceiro eixo faz-se importante voltar a um belíssimo texto da Carta da Terra citado pelo Papa. Como nunca na história, o destino comum obriga-nos a procurar um novo início (...) que o nosso seja o tempo que se recorde pelo despertar de uma nova reverência perante a vida, pela firme resolução de alcançar sustentabilidade, pela intensificação da luta em prol da justiça e da paz e pela jubilosa celebração da vida. Para que esse novo início ocorra, a Encíclica propõe alguns caminhos: o diálogo sobre o meio ambiente na política internacional ; o diálogo para as novas políticas nacionais e locais ; o diálogo e a transparências nos processos decisórios ; política e economia em diálogo para a plenitude da vida e as religiões no diálogo com as ciências. Ainda sobre um novo estilo de vida, chamam atenção no texto alguns pontos: a) A necessidade de uma mudança da consciência. Falta a consciência de uma origem comum, de uma recíproca pertença e de um futuro compartilhado por todos. Essa consciência basilar permitiria o desenvolvimento de novas convicções, atitudes e estilos de vida. b) O papel da educação. É muito nobre assumir o dever de cuidar da criação com pequenas ações diárias, e é maravilhoso que a educação seja capaz motivá-las até dar forma a um estilo de vida. LS 207. LS LS LS LS LS LS 202. LS 211. Castelo Branco Científi ca - Ano I V - Nº 08 - julho/dezembro de ca.com.br 6
7 c) A conversão ecológica. Os desertos exteriores se multiplicam no mundo, porque os desertos interiores se tornam tão amplos. A crise ecológica é um apelo a uma profunda conversão interior. d) A fraternidade universal. O cuidado da natureza faz parte de um estilo de vida que implica capacidade de viver juntos e em comunhão. e) Uma nova espiritualidade. Quando alguém reconhece a vocação de Deus para intervir juntamente com outros nessas dinâmicas sociais, deve lembrar-se que isso faz parte de sua espiritualidade, é exercício de caridade e, deste modo, amadurece e se santifica. CONSIDERAÇÕES FINAIS Trata-se de um escrito útil e necessário para o tempo presente. Além de apresentar o tema da criação divina em chave ecológica e, por conseguinte, o papel do ser humano frente a uma ecologia integral, a Encíclica do Papa Francisco indica também possíveis comportamentos para que o planeta, como casa comum, possa ter sua sacramentariedade respeitada e preservada. Um pequeno trecho da belíssima oração cristã sobre a criação posta no final da Encíclica serve como conclusão desse artigo. Nós vos louvamos, Pai Com todas as criaturas, LS 217. LS 228. LS 230. Castelo Branco Científi ca - Ano I V - Nº 08 - julho/dezembro de ca.com.br 7
8 Que saíram da vossa mão poderosa. São vossas e estão repletas de vossa presença E da vossa ternura. Louvado Sejais! Referência Bibliográfica PAPA FRANCISCO, Carta Encíclica Laudato Si, São Paulo: Paulinas, LS pg 195. Castelo Branco Científi ca - Ano I V - Nº 08 - julho/dezembro de ca.com.br 8
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