Difusão de Rotinas Organizacionais em Redes de Empresas. Pesquisadora: Renata Lèbre La Rovere IE/UFRJ. Introdução:
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- João Lucas Brunelli Câmara
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1 Difusão de Rotinas Organizacionais em Redes de Empresas Pesquisadora: Renata Lèbre La Rovere IE/UFRJ Introdução: No paradigma tecno-econômico atual, a capacidade de criar e sustentar vantagens competitivas em um determinado território está relacionada à capacidade de aprendizado, dos ganhos de qualidade e de produtividade e da capacitação produtiva e tecnológica das empresas. Neste paradigma, as empresas buscam atender aos requisitos de flexibilidade e rapidez associando-se em redes. Os estudos sobre o desenvolvimento local apontam para uma grande variedade de formas de associação em rede e de inserção destas redes nos mercados globais. As redes podem ser formadas por conjuntos de empresas situadas em um mesmo território ou em territórios diferentes. Apesar da variedade e reduzida precisão dos conceitos sobre aglomerações de empresas (Hasenclever e Zissimos, 2006), todos os autores que trabalham com a análise destas aglomerações apontam para as vantagens que as empresas podem ter com a proximidade. A proximidade proporciona economias de escala, possibilidades de adensamento de cadeias produtivas, acumulação de conhecimento e de atividades inovadoras, redução de custos de transporte e, no caso das aglomerações urbanas, acesso a clientes sofisticados. Uma das vantagens mais discutidas pela literatura está relacionada ao processo de geração de conhecimento das empresas localizadas num mesmo território. Na medida em que o conhecimento gerado pelas empresas e pelas instituições que é o alicerce da atividade inovadora se divide em conhecimento tácito e codificado, o território tem um papel relevante no compartilhamento do conhecimento tácito, que pode se efetuar através da cooperação entre as empresas situadas num mesmo local, da rotação de recursos humanos (portadores de conhecimento tácito) dentro do território e do grau de empreendedorismo da população daquele território. Assim, as oportunidades de crescimento são moldadas pela herança de conhecimento acumulado e aprendizado do local, sendo assim geograficamente determinadas (Ianmarino e McCann, 2006). Estudos mais recentes, porém, recuperam o conceito de um outro tipo de proximidade, que não depende do território: a proximidade relacional. Amin e Cohendet (2005) argumentam que a proximidade relacional, cujo conceito foi desenvolvido a partir do texto de Nonaka e Konno (1998) sobre espaços de compartilhamento de relações ( ba ), é alimentada por viagens, rotinas comuns, bases de dados e software comuns e formação de comunidades temporárias através de grupos de projeto e forças-tarefa. A proximidade relacional pode ser alcançada através de uma variedade de mobilizações regionais. Alguns autores, como Lemarié et al. (2001) usam o termo proximidade organizacional para descrever a proximidade relacional. Eles constrastam a proximidade geográfica -relacionada ao espaço com proximidade organizacional relacionada à afiliação (mesma área relacional) e à semelhança (atores que se parecem uns com os outros do ponto de vista organizacional). Para estes autores, ambas as formas aumentam o compartilhamento de conhecimento tácito no processo de inovação (Davenport, 2005). O conceito de proximidade organizacional é importante para entender os impactos sobre o território das redes com diferentes conformações. Após uma revisão da literatura sobre redes e aglomerações de empresas, Britto (2002) identifica três tipos possíveis de rede: as redes de
2 subcontratação, onde uma grande empresa terceiriza parte de suas atividades; os distritos industriais marshallianos, onde a interação entre os componentes da rede se dá através da aquisição de vantagens estáticas e dinâmicas ligadas à proximidade geográfica; e as redes tecnológicas, onde a interação entre os componentes se dá com o propósito específico de desenvolver inovações. Sendo a proximidade organizacional um dos elementos motivadores da formação de redes de subcontratação e de redes tecnológicas, podemos encontrar exemplos de redes destes tipos cujas empresas não estão aglomeradas num mesmo território. Recente estudo conduzido por Tigre et al. (2009) apontou que, no caso do setor de software, ambos os tipos de proximidade se fazem presentes nas redes de empresas, mas os benefícios relacionados à proximidade do ponto de vista da capacidade de geração de inovações das empresas locais dependem da própria conformação da rede. Em redes formadas por filiais de multinacionais com o intuito de prover serviços à matriz, como ocorre na rede da IBM em Hortolândia, por exemplo, não foram identificadas vantagens significativas de geração de conhecimento para empresas locais. Já em redes de empresas que com maior envolvimento de outras instituições locais, como o cluster de software de Recife, estes benefícios foram claramente identificados (Tigre et.al, 2009). Outro estudo identificou também, no caso deste cluster, a prática das mesmas rotinas organizacionais em diferentes empresas, o que sugere que neste território a disseminação de conhecimento tácito tem impactos não apenas nas rotinas associadas ao processo de inovação mas também na definição das estratégias competitivas das empresas (La Rovere e Rodrigues, 2008). No caso do setor de software, as rotinas comuns eram associadas à gestão de recursos humanos, que são um recurso crítico para as empresas, principalmente as de menor porte, e portanto têm importância estratégica (Rangone, 1999). Problema de Pesquisa A questão que se coloca é em que medida a possível diversidade de configurações de rede afeta a definição de rotinas organizacionais nas pequenas empresas que participam destas redes. Em particular, como as empresas de menor porte, caracterizadas por práticas de gestão frequentemente definidas ad hoc e implementadas de modo informal, modificam suas rotinas a partir da entrada em uma rede de empresas. A conformação da rede afeta este processo ou a definição de rotinas organizacionais está associada aos recursos críticos da empresa? Em que medida o setor de atividade das empresas afeta a definição de rotinas organizacionais? O presente projeto de pesquisa visa investigar esta questão. Objetivo Analisar de que forma a conformação de uma rede de empresas afeta a difusão de rotinas organizacionais em pequenas empresas. Metodologia e marco teórico
3 O marco teórico do presente projeto se alinha com os estudos neo-schumpeterianos, ao estabelecer o pressuposto que num contexto de racionalidade limitada e de informação assimétrica, as decisões que os agentes locais tomam afetam as decisões de outros agentes num processo auto-organizador que determinará as propriedades das redes locais (Vicente, 2000). Faz parte deste processo a difusão de rotinas organizacionais entre os membros das redes de empresas. O projeto parte também do pressuposto de que as redes de empresas e seus mundos de produção podem se organizar em diferentes formas, com diferentes impactos sobre o território (Markusen, 2008). Além disso, a interação entre empresas, instituições e comunidade local num determinado território influencia a disseminação de conhecimento e de inovações (Storper, 2007, 2008). A metodologia utilizada seguirá as seguintes etapas: 1. Revisão da literatura sobre rotinas organizacionais 2. Análise de estudos de caso realizados em pesquisa anterior sobre clusters de software no Brasil 3. Escolha dos casos a serem analisados 4. Envio de questionários para uma amostra representativa de empresas, selecionada pela técnica de painel intencional 5. Análise dos questionários e definição de roteiro de entrevistas para pesquisa de campo 6. Pesquisa de campo 7. Análise das informações recolhidas 8. Consolidação das informações recolhidas Resultados Esperados O estudo dos tipos de rede permitirá, em primeiro lugar, contribuir para o debate sobre o papel da proximidade organizacional e da proximidade geográfica na disseminação de rotinas organizacionais. Em segundo lugar, permitirá entender os desafios e oportunidades colocados às empresas de pequeno porte no que se refere à gestão dos seus recursos e da cooperação com os demais integrantes da rede. Pretende-se assim fornecer elementos para o desenho de políticas de apoio a empresas de pequeno porte inseridas em rede. Referências Bibliográficas do Projeto AMIN, A.; COHENDET, P. Geographics of knowledge formation in firms. Industry and Innovation, v.12n.4, p , December 2005
4 BRITTO, J. N.P.Cooperação interindustrial e redes de empresas. In: Kupfer, D; Hasenclever, L. (org.) Economia Industrial. Fundamentos Teóricos e Práticas no Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 2002 DAVENPORT, S. Exploring the role of proximity in SME knowledge-aquisition. Research Policy, v. 34, n. 5, p , Julho 2005 GILLY, J.P., TORRE, A. Proximidad y dinámicas territoriales. In F. Boscherini, L. Poma. (org). Território, conocimiento y competitividad de las empresas, Mino Y Dávila Editores, HASENCLEVER, L.; ZISSIMOS, I. R. M. A evolução das configurações produtivas locais no Brasil: uma revisão da literatura. Revista de Estudos Econômicos, v. 36, p , IAMMARINO, S.; MCCANN, P. The structure and evolution of industrial clusters: Transactions, technology and knowledge spillovers. Research Policy, v. 35, n. 7, p , Setembro LA ROVERE, R L ; RODRIGUES, R. F.. Outsourcing and diffusion of knowledge in ICT clusters: a case study. In: 12th INTERNATIONAL SCHUMPETER SOCIETY CONFERENCE - ISS 2008 Rio de Janeiro, 2008, Rio de Janeiro. Anais da 12th International Schumpeter Society Conference. Rio de Janeiro : Instituto de Economia da UFRJ, LEMARIÉ, S.;MANGEMATIN, V.;TORRE, A. Is the creation and development of biotech SMEs localised? Conclusions drawn from the French case. Small Business Economics, v.17, n.1, p.61-76, August 2001 MARKUSEN, A. Sticky Places in Slippery Space: a Typology of Industrial Districts. In Ron Martin, ed., Contemporary Foundations of Space and Place - Economy: Critical Essays in Human Geography. Aldershot, Hants, UK: Ashgate, Publicado originalmente em Economic Geography, Vol. 72, No. 3: , NONAKA, I.; KONNO, N. The concept of "Ba": Building a foundation for knowledge creation. California Management Review, vol.40, n.3 (Spring 1998), p RANGONE, A., A Resource-Based Approach to Strategy Analysis in Small-Medium Sized Enterprises. Small Business Economics 12, 1999, p STORPER, M; Community and Economics. In: A. Amin and J. Roberts, eds, Organising for Creativity: Community, Economy and Space." Oxford: Oxford University Press, 37-68, 2008 STORPER, M ; LAVINAS, M.H ; Mercado-Celis, A.. Society, community and development: a tale of two regions. In: Polenske, K. (Org.). The Economic Geography of Innovation. Cambridge: Cambridge University Press, 2007, v., p TIGRE, P. B ; LA ROVERE, R. L.; TEIXEIRA, F. ; LÓPEZ, A. ; RAMOS, D. ; BERCOVICH, N.. Urbes de conocimiento. Un análisis de clusters de software y outsourcing en Argentina y Brasil (no prelo). Cidade do México: IDRC - FLACSO, VICENTE, J.Interactions economiques et coexistence spatiale des modes de coordination. Tese (Doutorado em Ciências Econômicas) Universidade de Toulouse, 2000
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