o CUSTO DO FINANCIAMENTO
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- João Henrique Ribas das Neves
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1 CUSTO DO FINANCIAMENTO DAS VENDAS A PRESTACOES NO BRASIL POLIA LERNER HAMBURGER JORGE WILSON SIMIERA JACOB "A dispnibilidade de vendas a prestaçã tem ajudad a cmpensar, de certa frma" as desigul"a.ldades de pder aquisitiv entre s cnswnidres. Trnu mtais fácil a grups de menr renda cmprar bens de alt valr unitári que, de utra frma, teriam sid cmprads principalmente pr grups' de renda mais alta." (D FEDERAL RESERVE BOARD: Cnsumer Lnstelrnent Credit.) As vendas a prestações tendem a representar, cada vez mais, apreciável percentagem d vlume ttal de vendas n varej em nss País. Levantament de dads feit n primeir semestre de 1965 pr aluns d Seminári de Administraçã Varejista d 4. an d Curs de Graduaçã da Escla de Administraçã de Emptêses de Sã Paul, da Fundaçã Getúli Vargas, revela que em várias ljas de departaments da capital paulista a prprçã das vendas a praz em relaçã a vlume ttal de vendas varia de 50 a 80%, e que em Bel Hriznte essa prprçã chega, pel mens num cas, a 99 0/0. O Cens ds Ljistas da Guanabara, realizad em 1964 pela DATAMEC\ assinala as seguintes percentagens das vendas a crédit sôbre a venda ttal: mínima de 9,80%, máxima de 94,40% e média de 68,70%. PÓLlA LERNER HAMBURGER- Prfessôra-Adjunta e Chefe d Departament de Mercadlgia da Escla de Administraçã de Emptêses de Sã Paul, da Fundaçã Getúli Vargas. JORGE WILSONSIMIERA JACOB- Diretr da cadeia de ljas "Arapuã" de Lins (SP). Participante d XXVI. Curs Intensiv de Administradres da EAESP. 1) DATAMEC - Organizaçã e Serviçs Mecanizads S.A. (emprêsa d grup "Ducal").
2 160 FINANCIAMENTO DAS VENDAS A PRESTAÇõES R.A.E./18 As vendas a prestações sã apenas uma das várias frmas de crédit a cnsumidr, mas sã a mais cmum. As demais frmas de crédit a cnsumidr - empréstims para aquisiçã de bens de cnsum, vendas em cnta crrente e ferta de serviçs a crédit - nã crrem nem cm a freqüência nem cm mntante das vendas a prestações. A que se deve desenvlviment cada vez mair das vendas a prestações? A análise das suas vantagens para cnsumidr de um lad, e para cmerciante, de utr, traz respsta a essa pergunta. Para cnsumidr crediári traz um aument d pder aquisitiv, prquant prprcina mair pssibilidade de aquisiçã imediata de grande variedade de bens (inclusive bens duráveis, de alt cust ) e cnseqüente melhria d padrã de vida; além diss, pel cmprmiss que implica de saldar prestações, frça a pupança. Para cmerciante as vendas a prestações aumentam vlume de vendas, nã só pela mair prcura de bens, cm pela manutençã de lista atualizada de endereçs de fregueses e pel auxíli d departament de crédit na btençã de nvas vendas. De maneira geral, pde-se dizer que para a ecnmia cnsiderada cm um td" desde que mantidas dentr de certs limites, as vendas a prestações sã benéficas, pis criam um mercad em massa para bens de alt valr unitári e prprcinam a elevaçã d padrã de vida da cmunidade. Iss nã significa que nã tenham suas desvantagens. Para cnsumidr as vendas a prestações significam preçs mais elevads ds prduts pela taxa de jurs que lhes acrescentam; pdem representar, também, cmpras maires d que pder aquisitiv real justificaria, cm cnseqüente descntrôle d rçament dméstic. Para cmerciante acarretam aument ds trabalhs e custs peracinais, pela necessidade de manutençã d
3 R.A.E./18 FINANCIAMENTO DAS'VENDAS A PRESTAÇõES 161 crediári e pel aument ds riscs de perdas de cntas mair financiament. Essa necessidade tem levad s varejistas a usarem seus própris recurss u a prcurarem recurss externs de financiament, principalmente crédit mercantil, ist é, crédit frnecid pr fabricantes u atacadistas, e financiament de cmpanhias de investiments. O crédit bancári, s cncurss, brindes, carnês e utras frmas de vendas cm pagament antecipad, bem cm lançament de debêntures a curt praz, sã recurss de que sóespràdicamente se valem s varejistas para êsse fim. O crédit mercantil ainda é a principal fnte de crédit d varejista. O praz médi cncedid pr frnecedres, de acôrd cm Cens ds Ljistas da Guanabara, de 1964, gira em tôrn de 100 dias. Os bancs nã representam fnte expressiva de crédit para varejista, nã só pel baix valr ds títuls, cm pela garantia unilateral na peraçã (geralmente, cnsumidr só cnta cm crédit pessal) e pel praz limitad a 90 e 120 dias. Para varejista a perda de cntat cm cliente e a reaçã desfavrável da freguesia pela cbrança bancária smam-se as fatôres citads anterirmente. Nas grandes capitais as cmpanhias de financiament peram razàvelmente cm varej, pis evitam alguns ds fatôres negativs apresentads pels bancs. Os carnês e lançament de debêntures sã as frmas mens usadas pels varejistas. Essa variedade de recurss está a indicar, segund entendems, que as emprêsas estã sentind a crescente necessidade de prcurar fntes externas para financiament de suas vendas a prestações. POLÍTICA DE CRÉDITO E CUSTO DE FINANCIAMENTO O cust de financiamet nã inclui apenas cust d dinheir n mercad: é frmad também pel cust de peraçã d crediári (cncessã, administraçã, cbrança,
4 162 FINANCIAMENTO DAS VENDAS A PRESTAÇOES R.A.E.j18 atrass, riscs, perdas), cust que nã existe quand as vendas sã realizadas à vista. A estabelecer sua plítica de crédit, a emprêsa varejista deve cnsiderar êsses dis custs, prque us descmedid dessa imprtante arma de rnercadizaçâ, que é crédit, dá rigem, necessàriamente, a descntrôle financeir. Quais sã s plans mais cmuns na plítica de vendas a crédit? O segund plan apresenta um preç à vista, sem qualpreç calculad para cert praz, sem mais acréscims, cm descnt para venda a vista e acréscim suave para prazs mais lngs d que ferecid pel plan básic. Exempl: preç de tabela é de Cr$ , sem acréscim, para praz de dez meses; para cmpra a vista dá-se descnt de 10% (que representa jur disfarçad); para prazs maires haverá acréscim "declarad" a redr de 2% pr prestaçã. Êsse plan é, em geral, bem aceit pel cliente, que nã sente a realidade d cust d dinheir. O segund plan apresenta um preç à vista, sem qualquer descnt, cm acréscim sôbre sald devid, qualquer que seja praz cncedid. As taxas "reais" nesse cas scilam entre 3,2 e 4% pr prestaçã e representam realmente que a lja deseja u precisa cbrar pel financiament (n exempl dad, Cr$ à vista; para praz de 10 meses seriam acrescids 32% sôbre sald a ser financiad, deduzida a entrada). Quant signifique realmente essa taxa depende d praz, cnfrme se pde ver n Quadr 1. Nesse quadr demnstrams que uma taxa de jurs cnstantes para diferentes plans de pagaments significa, na realidade, uma taxa decrescente sôbre ttal a pagar, à medida que praz aumente. Prtant, para manter cnstante em plans cm duraçã hetergênea a taxa real sôbre ttal a pagar, as taxas declaradas terã de ser crescentes, à medida que praz aumente.
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6 164 FINANCIAMENTO DAS VENDAS A PRESTAÇÕES R.A.E.j18 Nte-se que falams em jurs "pr prestaçã", nã "pr mês". A diferença é que jur pr mês se refere a praz médi, enquant que jur pr prestaçã se refere a acréscim a cada parcela, a cada pagament. Pr exempl: 10 prestações pagas mensalmente crrespndema um n + 1 praz médi de 5,5 meses (praz médi = ---- nde 2 n é númer ttal de prestações). Essa diferença explica a diversidade entre a taxa declarada e a real. A taxa é declarada pr prestaçã, mas na realidade se aplica a um praz médi prque sald nã é pag td de uma vez, n fim d períd, mas em parcelas mensais. A taxa real 2 n t se btém pela seguinte fórmula: T =c= ----, nde T n + 1 é a taxa real, n númer de prestações e t a taxa declarada. 2 Para uma visã mais clara d prblema deve ser intrduzida, mesm nessa fórmula de taxa real, uma crreçã que cnsidere s diferentes prazs, cm se vê n exempl dad n Quadr 1. CUSTO DO DINHEIRO E CUSTO TOTAL DA VENDA A CRÉDITO Para cálcul d cust d dinheir pdems tmar pr base cust nas cmpanhias financiadras, que geralmente peram nas seguintes cndições: praz: de 7 a 12 meses;. taxa de jurs: mais u mens 38,50/0 ttal que se passa a dever;" a an, sôbre 2) N. R. - exame da deduçã e ds valôres que cmpõem a.fórmula é feit n artig "Análise de Investiments e Inflaçã", de autria de CLAUDE MACHLINE, ne'ste mesm númer da Revista de Administraçã de Emprêsas. 3) Cnvém divtinguir entre jur sôbre preç-base e jur sôbre ttal que se passa a dever (u, cm se diz vulgarmente, entre "jur pr dentr" e "jur pr fra"). Supnd-se, pr exempl, um preç 100 e uma taxa ttal de jurs 20, tems que, expressa sôbre 100, essa taxa significa 20%; mas, expressa sôbre s 120 que se passa a dever, ela representa apenas 16,7%.
7 R.A.E/18 FINANCIAMENTO DAS VENDAS A PRESTAÇÕES 165 cauçã: para um descnt de 100% é necessária uma cauçã extra de 33%.4 Pdems demnstrar êsse cust pr mei de um exempl: praz: 10 meses (praz médi, já que s prazs variam de 7 a 12 meses); taxa de jur: 32% (38,5% é a taxa a an); cauçã: (cm essa cauçã varejista precisa imbilizar 133% para receber pr 10 meses um líquid de 68%; prtant, apenas a metade d dinheir é realizada). Nas vendas a vista s custs a cnsiderar sã cust da mercadria, das despesas peracinais e d ratei d capital própri, enquant que, cm já dissems, cust ttal da venda a crédit nã é apenas cust d dinheir pel praz cncedid: nêle devem ser incluíds, também, s custs das despesas de perações da lja (despesas gerais, cm nas vendas à vista, mais as despesas de peraçã d crediári), ds riscs e perdas pr devedres duvidss, ds atrass ns pagaments e, ainda, d ratei da remuneraçã d capital própri envlvid n financiament. (Dams exempl da cmpsiçã dêsses custs n Quadr 2.) Se nas vendas a prestações fôsse pssível passar a terceirs financiament - que é imprvável -, cust ttal nã incluiria cust d ratei da remuneraçã d capital própri. Cm iss nã é acnselhável, pis s bancs e as cmpanhias financiadras têm cm critéri vender dinheir a taxas superires às que pagam, a participaçã d capital de gir própri tende a nerar cálcul. O cust da remuneraçã d capital própri pde ser igual a cust d dinheir n mercad, mas também pde diferir 4) De acôrd cm Bletim Banas Infrma de 28/6/1965, as cmpanhias de investimente emprestavam a uma taxa que chegu em 1964 até a tio% a an. Atualmente, prém, essas taxas baixaram muit, nã só em virtude de fatôres psiclógics, cm pela menr slicitaçã de financiament, derivada da diminuiçã de faturament. A mesma publicaçã assinala a taxa média de 36 % em junh de 1965.
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9 R.A.E./18 FINANCIAMENTO DAS VENDAS A PRESTAÇõES 167 dêle. Se fôsse pssível cnseguir dinheir "barat", cust d capital própri deveria ser mair d que cbrad n mercad, para evitar descapitalizaçã. Mas cm bter dinheir "barat"? A taxa de jurs pde ser menr d que a taxa de inflaçã, pr exempl. N preç cbrad n mercad únic cuidad a tmar seria de "revender" capital pr preç igualu superir a que se tivesse pag. A remuneraçã d capital própri empregad em financiament, prém, tem de ser equivalente à remuneraçã que se bteria pel emprêg dêsse mesm capital nas perações de cmpra e venda. N cálcul de custs varejista deve, prtant, basear-se na remuneraçã que capital de gir cnsegue nas perações nrmais da emprêsa. Send assim, êle deve calcular a participaçã d capital de gir própri para rateá-l sôbre ttal financiad. Supnd-se, pr exempl, que n financiament ljista use 50% de capital própri e 50% de capital de terceirs, êle deve calcular a remuneraçã ds 50% de capital própri e rateá-ls pels 100% de financiament cncedid," Se êle cnceder um ttal de financiament de Cr$ num an, ds quais Cr$ sejam própris, e cnsiderar adequada a remuneraçã de 30% pr an, êle terá de ratear Cr$ sôbre Cr$ , que dará cêrca de 1,5% em praz médi. N cálcul de frmaçã de cust ratei seria, nesse cas, de 1,50/0. CONCLUSÃO benefíci das vendas a prestações para cnsumidr, traduzid na pssibilidade que estas lhe dã de atingir melhr padrã de vida pela cmpra de bens que pde utilizar antes de pagar, cntribui certamente para desenvlviment da ecnmia, pela criaçã de um mercad em massa que dutra frma nã existiria, dada a limitaçã 5) Vale a pena lembrar a incidência d ímpôst de renda sôbre êsse lucr fictíci '(n cas de acréscims sôbre capital própri) representad pela taxa que se cbra para cmpensar a inflaçâ.
10 168 FINANCIAMENTO DAS VENDAS A PRESTAÇCES R.A.E.j18 d pder aquisitiv de ba parte da ppulaçã em nss País. Na medida em que financiament d varejista a cnsumidr se destine à cmpra de bens duráveis e se realize a taxas inferires à própria inflaçã - tais cm as citadas neste artig -, êle deve merecer td api pelas vantagens que prprcina a cnsumidr e à ecnmia. Se alguém tivesse de pr-lhe qualquer restriçã, seriam s depsitantes e/u s tmadres de lêtras, que entregam suas pupanças as bancs e financiadras, e que sã s únics prejudicads n prcess. Pr utr lad, s exagers na cncessã de crédit, n que se refere a prazs e tips de mercadrias vendidas (tais cm bens de baix valr unitári u vida útil muit reduzida), assim cm s abuss nas taxas cbradas nas vendas a prestações, certamente cntribuem para a espiral inflacinária e, em última análise, prejudicam cnsumidr. A fórmula que aqui apresentams de cálcul de cmpsiçã ds custs d financiament tem emprêg geral apenas em suas linhas metdlógicas, já que as taxas de jurs, perdas, atrass etc. devem ser adaptadas às cndições próprias de cada emprêsa. Mas ela expressa a imprtância dêsses custs nas taxas cbradas, e recnheciment dessa imprtância é essencial para a determinaçã de uma plítica sadia de crédit em qualquer emprêsa varejista.
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