Tribunal de Justiça de Minas Gerais

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1 Número do /001 Númeração Relator: Relator do Acordão: Data do Julgamento: Data da Publicação: Des.(a) Irmar Ferreira Campos Des.(a) Irmar Ferreira Campos 08/10/ /10/2009 EMENTA: PROCESSUAL CIVIL - APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO CAUTELAR INOMINADA - CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA - OBRIGATORIEDADE - NÃO INFRINGÊNCIA AO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA INAFASTABILIDADE DO PODER JUDICIÁRIO - JUSTIÇA COMUM AFASTADA - EXTINÇÃO DO PROCESSO - ART. 267, VII DO CPC.- A cláusula compromissória previamente estipulada pelas partes, convencionando solução de conflitos decorrentes do contrato através do juízo arbitral, inviabiliza que os contratantes busquem solução de seus litígios via Poder Judiciário, devendo submeterem-se primeiramente ao juízo arbitral estipulado no pacto.- A convenção de arbitragem não implica em afronta ao princípio da inafastabilidade de apreciação do Poder Judiciário, previsto no art. 5º, XXXV, da Constituição da República de 1988, uma vez que as próprias partes, maiores e capazes, afastam a resolução judicial de controvérsias envolvendo direitos patrimoniais disponíveis. - Caso seja prevista a convenção de arbitragem em momento anterior à ação, sua propositura fica inviabilizada, devendo ser extinto o processo, sem julgamento do mérito, nos termos do art. 267, VII do CPC. APELAÇÃO CÍVEL N /001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - APELANTE(S): VANIA GRACIETE TEIXEIRA HERMANN E OUTRO(A)(S) - APELADO(A)(S): MRV ENGENHARIA PARTICIPAÇÕES S/A - RELATOR: EXMO. SR. DES. IRMAR FERREIRA CAMPOS ACÓRDÃO Vistos etc., acorda, em Turma, a 17ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO. 1

2 Belo Horizonte, 08 de outubro de DES. IRMAR FERREIRA CAMPOS - Relator NOTAS TAQUIGRÁFICAS Produziu sustentação oral, pelos apelantes, o Dr. Silviano Roberto Simões. O SR. DES. IRMAR FERREIRA CAMPOS: VOTO Trata-se de recurso de apelação interposto contra a sentença de fls. 55/59, proferida nos autos da Ação Cautelar Inominada movida por Vânia Graciete Teixeira Hermann e outro em face de MRV Engenharia Participações Ltda, julgou extinto o processo sem resoluçao do mérito, tendo em vista a existencia de cláusula compromissória no contrato de compra e venda entabulado entre as partes. Contra citada decisão insurge-se Vânia Graciete Teixeira Hermann e outro às fls. 60/62 pugnando pela reforma da r. sentença ao fundamento de que a Lei 9.307/96 não pode se por à norma constitucional prevista no art. 5 da Constituição Federal que assegura o livre acesso ao judiciário. Aduz que no texto constitucional não se diz que o acesso ao judiciário "será garantido na forma de lei", de modo que como a previsão de arbitragem se deu na via ordinária, esta não tem o poder de limitar a aplicação do cânone constitucional, haja vista que a previsão constitucional não se opõe às normas infraconstitucionais. Ad argumentandum, na hipotese de ser superada a questão da constitucionalidade, salienta que não é possivel a extinção do processo por tratar-se de contrato de adesão, hipotese em que é nula a cláusula que prevê eleição de juízo arbitral. 2

3 Assevera que não se pode admitir a aplicação da arbitragem no presente caso, uma vez que a primeira ré transferiu o imóvel objeto do contrato de compra e venda para terceiro, o que leva a conclusão de que a mesma não pretende outorgar a escritura aos autores, ora recorrentes. Ressalta que extinção do processo como ocorreu fere o princípio da razoabilidade, pois não é crivel que a arbitragem tenha poder para determinar o cancelamento da transferência do imóvel a terceiro e, consequentemente, transferí-lo aos autores. Por fim destaca que não consta nos autos a procuração outorgada aos representantes da ré, o que torna inválida a alegação de arbitragem por ele levantada. Requer seja dado provimento ao recurso para reformar a r. sentença, declarando-a nula e, consequentemente, determinar o retorno dos autos a origem para novo julgamento. Contrarrazões às fls. 64/73. Conheço o recurso, presentes seus pressupostos objetivos e subjetivos de admissibilidade. Os apelantes se insurgem contra a r. sentença que julgou o processo extinto sem julgamento do mérito, nos termos do artigo 267, VII, do CPC. A irresignação dos recorrentes não merece prosperar. Ao exame dos autos, verifica-se que as partes celebraram "Contrato Particular de Promessa de Compra e Venda" (fls. 11/14), estipulando, em sua Cláusula Décima Primeira, sob o título "Da Arbitragem": "As partes contratantes convencionam que, nos termos da lei 9307/96, todos os litígios decorrentes do presente contrato serão 3

4 submetidos ao juízo arbitral e, para tanto, elegem a CAMINAS - Câmara Mineira de Mediação e Arbitragem, sediada na Av. Raja Gabaglia, , Conj. 1207, 12º andar - BH/MG, como Entidade Arbitral competente para instituir e processar a arbitragem que solucionará definitivamente os litígios. "As partes declaram que aceitam as regras e regulamentos da CAMINAS quanto ao procedimento arbitral e nomeação de árbitros, os quais estão disponíveis na sede da CAMINAS ou no site (fls. 14)." A Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996, em seus artigos 1º e 3º, prevê a possibilidade de pessoas, físicas ou jurídicas, capazes de contratar, valeremse da arbitragem para solução de litígios envolvendo direitos patrimoniais disponíveis, quer mediante cláusula compromissória, seja por compromisso arbitral. Dispõem os referidos artigos: Art. 1º As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis. Art. 3º As partes interessadas podem submeter a solução de seus litígios ao juízo arbitral mediante convenção de arbitragem, assim entendida a cláusula compromissória e o compromisso arbitral. No que tange à diferenciação entre a cláusula compromissória e o compromisso arbitral tem-se que a primeira retrata a promessa de submissão da controvérsia ao juízo arbitral, ou seja, é prevista antes da eventual lide, do compromisso arbitral, firmado apenas quando do surgimento da controvérsia. E nem se diga que, em casos de contratos de adesão, não seria possível a convenção de arbitragem, porquanto a própria Lei 9.307/96 dispõe expressamente, em seu art. 4º, 2º: 4

5 Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato. 1º A cláusula compromissória deve ser estipulada por escrito, podendo estar inserta no próprio contrato ou em documento apartado que a ele se refira. 2º Nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se o aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar, expressamente, com a sua instituição, desde que por escrito em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula. Depreende-se da leitura do 2º acima transcrito que existência de cláusula compromissória em contratos de adesão deve ser revestida de um procedimento especial, de modo que, nos contratos de adesão, a cláusula só terá eficácia se o aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar, expressamente, com a sua instituição, desde que por escrito em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula. No caso sub judice, após analisar detidamente os autos, especialmente do documento de fls. 45, verifico que, embora o contrato em exame seja de adesão firmado no contexto de uma relação de consumo na qual a apelante figura como parte hipossuficiente, a apelada foi diligente no sentido de demonstrar que observou o procedimento legalmente previsto, recolhendo a assinatura da promitente compradora em documento específico, que trata da instituição da cláusula compromissória, por meio do qual as partes ratificaram expressamente a opção pela arbitragem como forma de dirimir qualquer conflito. Destarte, não há falar-se em nulidade da cláusula compromissória como pretende a apelante. Nesse sentido a orientação jurisprudencial: 5

6 EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - IMISSÃO DE POSSE - LIMINAR - CLÁUSULA ARBITRAL - REQUISITOS LEGAIS. De conformidade com o disposto no art. 4º, da Lei 9.307/96, a cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes, em um contrato, comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam surgir no cumprimento do ajuste firmado. A existência de cláusulas compromissórias em contratos de adesão deve ser revestida de um procedimento especial, como previsto na Lei 9.307/96, que só terá eficácia se o aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar, expressamente, com a sua instituição, desde que por escrito em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula. Recurso provido. (TJMG - Processo nº /001(1) - Relatora: EVANGELINA CASTILHO DUARTE - Data da Publicação: 16/06/2009) Anota-se, ainda, que a arbitragem é uma opção, uma escolha das partes em se submeterem ao juízo arbitral. Bem por isso, não implica em afronta ao princípio da inafastabilidade de apreciação do Poder Judiciário, previsto no art. 5º, XXXV, da Constituição da República de 1988, uma vez que as próprias partes, maiores e capazes, afastam a resolução judicial de controvérsias envolvendo direitos patrimoniais disponíveis. Consoante a melhor doutrina, que tem por base os princípios da liberdade de contratar e da solução pacífica dos conflitos, as partes podem eleger um terceiro para que resolva possíveis pendências em uma relação jurídica. Deste modo, a Justiça está tão-somente afastada, em virtude de ter-se optado, consensualmente, pela adoção de um trâmite mais célere para as soluções das controvérsias. Sendo assim, extrai-se do Contrato de promessa de compra e venda firmados entre as partes (fls. 11/14), bem como da Cláusula Compromissória de Instituição de Juízo Arbitral (fls. 45), que elas acordaram e, ainda, ratificaram a opção pela arbitragem, resolvendo, portanto que as controvérsias porventura surgidas na interpretação ou execução do contrato seriam solucionadas perante o juízo arbitral. 6

7 Com efeito, após a regulamentação da arbitragem pela Lei 9.307/96, nenhuma das partes, isoladamente, poderá, de forma eficaz, substitui-la pelo procedimento judicial. Assim, surgindo controvérsias oriundas do contrato de compra e venda entabulado, não poderiam os apelantes, de fato, recorrerem ao Judiciário, visando a solucionar o conflito, sendo necessário o acordo de ambas em franca opção pela via jurisdicional, renunciando ao processo arbitral, o que não ocorreu em caso. Ademais, em nenhum momento da exordial, os apelantes discutem acerca da legalidade ou não da Cláusula Décima Primeira do contrato em tela, a qual institui a arbitragem. Por isso, não há que se falar em discordância expressa de uma das partes em obedecer referida cláusula, motivo pelo qual não se divisa qualquer vício na mencionada disposição. Com tais razões, tendo sido estipulado entre as partes a convenção de arbitragem anteriormente ao processo, impede sua abertura, mostrando-se acertado o decisum objurgado que julgou extinto o processo sem julgamento do mérito, nos termos do artigo 267, VII, do CPC, sendo o órgão judicial impedido de apreciar o mérito. Nesse sentido a orientação jurisprudencial: APELAÇÃO - COBRANÇA - CONTRATO DE COMPRA E VENDA - PRODUTO TEXTIL - CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA - ANUÊNCIA DAS PARTES - CONFLITOS - APRECIAÇÃO AFASTADA DO ÂMBITO DO JUDICIÁRIO - EXTINÇÃO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO - SENTENÇA MANTIDA. A arbitragem é uma faculdade das partes em se submeterem ao juízo arbitral, e por isso, não implica em afronta ao princípio da inafastabilidade de apreciação do Poder Judiciário, previsto no art. 5º, XXXV, da Constituição da República de O juízo arbitral não subtrai a garantia constitucional do juiz natural, ao contrário, implica realizá-la, porquanto somente cabível por mútua concessão entre as partes. Restando expressamente convencionada a cláusula compromissória, impõe-se a extinção do processo sem 7

8 resolução de mérito, com base no inciso VII, do art. 267, do Código de Processo Civil. O art. 20 4º do CPC, estabelece que nas causas de pequeno valor, nas de valor inestimável, naquelas em que não houver condenação ou for vencida a Fazenda Pública, e nas execuções, embargadas ou não, os honorários serão fixados consoante apreciação eqüitativa do juiz, atendidas as normas das alíneas a, b e c do parágrafo anterior. (Apelação nº /001 - TJMG - Relator: Desembargador Marcelo Rodrigues - Publicação: 03/10/2008) APELAÇÃO CÍVEL - EMBARGOS DO DEVEDOR - CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA - JUÍZO ARBITRAL - EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM JULGAMENTO DO MÉRITO - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - OBEDIÊNCIA AO DISPOSTO NO ART. 20, 4º DO CPC - SENTENÇA MANTIDA. O manejo de ação judicial, desconsiderando a convenção de uso da arbitragem estipulada entre as partes, conduz à extinção do processo sem julgamento do mérito, conforme reiteradamente vem decidindo este Tribunal, uma vez que o art. 5º, XXXV, da Constituição Federal não impede a renúncia das partes à submissão da questão litigiosa à apreciação judicial, antes de exaurir a instância arbitral. Por conseguinte, estando a vontade das partes manifesta na cláusula compromissória, permitir o seu suprimento judicial equivaleria a admitir a invalidação da vontade bilateral dos litigantes, o que somente é admissível nas hipóteses de cláusulas abusivas ou ilegais, o que não configura o caso dos autos, sendo de se ressaltar que o juízo arbitral é autônomo e suas regras se conciliam com o princípio constitucional do livre acesso à Justiça. O julgador primevo pautou-se com zelo ao fixar os honorários advocatícios, obedecendo ao disposto no artigo 20, 4º do CPC que dispõe: 'Nas causas de pequeno valor, nas de valor inestimável, naquelas em que não houver condenação ou for vencida a Fazenda Pública, e nas execuções, embargadas ou não, os honorários serão fixados consoante apreciação eqüitativa do juiz, atendidas as normas das alíneas a, b e c do parágrafo anterior.' (Apelação nº /001 - TJMG - Relator: Desembargador Mauro Soares de Freitas - Publicação: 25/01/2008) PROCESSUAL CIVIL - REVISÃO CONTRATUAL - CLÁUSULA 8

9 COMPROMISSÓRIA - VALIDADE - EXTINÇÃO DO PROCESSO - ART. 267, VII DO CPC. A cláusula compromissória arbitral implica na renúncia da jurisdição estatal, em favor da particular, constituindo o meio pelo qual as partes contratantes formalizam seu desejo de submeter à arbitragem eventuais divergências ou litígios sobre direitos disponíveis, passiveis de ocorrer ao longo da execução do contrato. Sendo assim, o manejo de ação judicial, desconsiderando a convenção de arbitragem, conduz à extinção do processo, sem resolução do mérito, nos termos do artigo 267, VII, do CPC, com a redação conferida pela Lei 9307/96. (Apelação nº /002 - TJMG - Relator: Desembargador Tarcísio Martins Costas - Publicação: 12/01/2008) Dado o exposto, NEGO PROVIMENTO À APELAÇÃO, para manter in totum a r. sentença objurgada. Ficam mantidos os ônus sucumbenciais. Custas, ex lege. O SR. DES. LUCIANO PINTO: VOTO De acordo. A SRª. DESª. MÁRCIA DE PAOLI BALBINO: VOTO De acordo. SÚMULA : NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO.???? 9

10 ???? TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS APELAÇÃO CÍVEL Nº /001 10