PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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1 PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Certificado digitalmente por: LUCIANE BORTOLETO ESTADO DO PARANÁ 12ª CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL Nº ORIGEM: VARA DE REGISTROS PÚBLICOS E CORREGEDORIA DO FORO EXTRAJUDICIAL DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA APELANTE: LUIZ ROBERTO RAICOSKI E OUTRO RELATORA: DESª DENISE KRUGER PEREIRA RELATORA SUBSTITUTA: JUÍZA LUCIANE BORTOLETO APELAÇÃO CÍVEL. SUSCITAÇÃO DE DÚVIDA. RECOLHIMENTO DE IMPOSTO DE TRANSMISSÃO INTER VIVOS (ITBI). EXIGÊNCIA CONSIDERADA VÁLIDA PELO JUÍZO A QUO. REQUERIMENTO DAS PARTES QUE NÃO SE LIMITA A MERA EXTINÇÃO DE CONDOMÍNIO. PERMUTA DE COTAS TITULARIZADAS POR CONDÔMINOS SOBRE DOIS IMÓVEIS. TRANSFERÊNCIA ONEROSA INCIDÊNCIA DO FATO GERADOR DO TRIBUTO. AEPLAÇÃO CONHECIDA E DESPROVIDA. Página 1 de 9

2 VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº , da Vara de Registros Públicos e Corregedoria do Foro Extrajudicial do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba, em que é apelante Luiz Roberto Raicoski. I RELATÓRIO. Trata-se de recurso de apelação interposto em face da sentença proferida na sequência 16 - Projudi, prolatada nos autos de Suscitação de Dúvida nº , pela qual a MMª. Juíza julgou a dúvida suscitada, nos seguintes termos: (...)Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE a dúvida levantada pelo 5º Registro de Imóveis de Curitiba-PR, não havendo que ser registrada a escritura pública lavrada às fls. 129/132 do livro 1120-E do 6º Tabelionato de Notas de Curitiba sem a comprovação de recolhimento do ITBI e do FUNREJUS. Custas processuais pelos apresentantes Maria Clarete Raicosk e Luiz Roberto Raicoski, na forma do art. 207 da Lei 6.015/73. Inconformados com tal decisão, os apelantes interpuseram o presente recurso, arguindo em síntese, a necessidade de reforma da decisão proferida, declarando a inexistência da obrigação tributária imposta, considerando que não houve acréscimo patrimonial com o desfazimento do condomínio anterior. O Ministério Público se manifestou pelo conhecimento e provimento do presente recurso (seq. 48 Projudi). A Procuradoria Geral de Justiça se pronunciou pelo conhecimento e desprovimento do recurso, posto que no negócio celebrado Página 2 de 9

3 ocorreu troca de frações de imóveis e, desta forma, configura-se o fato gerador do ITBI (fls. 11/16). É o breve relatório. II VOTO Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço o presente recurso. Denota-se dos autos que foi apresentada em cartório a escritura pública de divisão amigável, lavrada no 6º Serviço Notarial de Curitiba. Discorrem que o objeto é a divisão consensual das matrículas e , que pertencem à Maria Raicosk, Maria Lucia Raicosk de Tejedor, Maria Isabel Raicoski, Maria Clarete Raicosk, Rosane Maria Raicoski D Agostin s/marido Fernando Giocondo D Agostin, Edison Miguel Raicosk Junior e Marcos Aurélio Raicosk (proprietários de 50%); Nilda Cecília Raicoski, Luiz Roberto Raicoski s/mulher Rita de Cássia Giannini Raicoski (proprietários dos outros 50%). A escritura apresentada em Cartório não foi registrada diante da recusa assim fundamentada, em 31/10/2014 (seq. 1.11): Verificando o título apresentada e prenotado, deixamos de registrá-lo pelos motivos seguintes: Apresentar os comprovantes de pagamentos do Imposto de Transmissão de Bens Imóveis acima e do FUNREJUS. Diante disso, os apelantes argumentam que não há incidência do ITBI, considerando que a escritura tem por finalidade a extinção de condomínio, transação esta que não possui caráter oneroso. Não lhes assiste razão. Página 3 de 9

4 Compulsando os autos, verifica-se que a matéria discutida versa exatamente sobre a situação normatizada pelo artigo 198 da Lei de Registros Públicos, porquanto, de um lado, os apelantes pretendem proceder ao registro do imóvel sem a incidência do ITBI e, por outro, o Oficial do Registro de Imóveis entende ser exigível o recolhimento do imposto Desta forma, correta a via eleita pelo Titular do Registro de Imóveis, sendo legítima a suscitação de dúvida, nos termos do referido dispositivo legal. Isso porque a ele incumbe, no exercício de suas atribuições, o ônus de fiscalização do pagamento dos impostos devidos por força dos atos que lhe forem apresentados em razão do ofício, conforme dispõe o artigo 289 da Lei de Registros Públicos. No que diz respeito à incidência do imposto no caso em apreço, deve-se ressaltar que a competência para instituição do ITBI é do Município, nos termos do artigo 156 da Constituição Federal. No caso do município de Curitiba, o tributo foi instituído pela Lei Complementar nº 40 e o Decreto Municipal 1597/2013, este dispondo da seguinte forma: DA HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA E DO FATO JURÍDICO-TRIBUTÁRIO Art. 2º O imposto sobre a transmissão "inter vivos", a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre bens imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos à sua aquisição - ITBI tem como hipótese de incidência: I - a transmissão "inter vivos", a qualquer título, por ato oneroso, da propriedade ou do domínio útil de bens imóveis por natureza ou acessão física; II - a transmissão "inter vivos", a qualquer título, por ato oneroso, de direitos reais sobre bens imóveis, exceto os direitos reais de garantia; III - a cessão, por ato oneroso, de direitos relativos à aquisição de bens imóveis. Art. 3º O disposto no artigo 2º, deste decreto, abrange os seguintes fatos jurídico-tributários: I - compra e venda; Página 4 de 9

5 II - dação em pagamento; III - permuta; IV - instituição de usufruto, uso e habitação; V - mandato em causa própria ou com poderes equivalentes para a transmissão de bem imóvel ou de direito a ele relativo e seu substabelecimento; VI - arrematação ou adjudicação em leilão, hasta pública ou praça, bem como as respectivas cessões de direitos; VII - transferência de bem imóvel ou direito real sobre imóvel ao patrimônio de pessoa jurídica para o de qualquer um de seus sócios, acionistas ou respectivos sucessores; VIII - transferência de bem imóvel ou direito real sobre imóvel ao patrimônio de pessoa jurídica para pagamento de capital, na parte do valor do imóvel não utilizada na realização do capital; IX - reposições onerosas que ocorram: a) referentemente ao valor dos imóveis que, na divisão de patrimônio comum ou partilha, forem atribuídos a um dos cônjuges separados ou divorciados, ao cônjuge supérstite ou a qualquer herdeiro, acima da respectiva meação ou do quinhão; b) nas divisões para extinção de condomínio de bens imóveis, quando qualquer condômino receber quotaparte cujo valor seja maior do que o de sua quotaparte ideal. X - na instituição, translação, cessão ou extinção do direito de superfície; XI - cessão de direito à herança ou legado; XII - cessão dos direitos de opção de venda, desde que o optante tenha direito à diferença de preço e não simplesmente à comissão; XIII - instituição, translação e extinção de qualquer direito real sobre imóvel, exceto os direitos reais de garantia e as servidões pessoais. No caso em comento, Edson Miguel Raicoski e Luiz Norton Raicoski possuíam, cada um, 50% (cinquenta por cento) da propriedade dos imóveis matriculados sob os números e Ocorre que ambos faleceram e seus herdeiros passaram a compartilhar tais imóveis, firmando uma escritura particular de divisão amigável de condomínio para que os bens ficassem exclusivamente na posse, um da família de Edison e outra da família de Luiz. Neste acordo, restou Página 5 de 9

6 consignado que um núcleo familiar se comprometia a transferir suas frações ideias aos outros e vice-versa. Constata-se, assim, que ocorreu acréscimo à quotaparte das Apelantes, perfazendo a hipótese de incidência prevista na Lei Complementar nº40, que instituiu o ITBI no âmbito do Município de Curitiba, sendo este concretamente devido, desde que recaia somente sobre a parcela que ensejou o aumento patrimonial. Diferente do alegado, não se verifica uma simples extinção do condomínio, mas sim a ocorrência de permuta, tendo em vista que confere direito e deveres às partes, cabendo a cada uma delas transferir um bem, no intuito de receber outro em troca. Procuradoria de Justiça: Neste sentido também é o parecer da Douta (...)A permuta verificada, por sua vez, constitui contrato oneroso, pela presença de sacrifício de vontade para as partes, na medida em que confere direitos e deveres a ambas, cabendo a cada uma delas transferir um bem, com o intuito de receber outro em troca. No presente caso é o que se vê, considerando que o recebimento de cotas por determinados condôminos não se deu gratuitamente, mas sim mediante a transferência de suas próprias cotas aos outros condôminos, dai revelando a onerosidade do negócio. Evidenciado, portanto, que o negócio que se pretende registrar se aperfeiçoou mediante a troca de frações de imóveis, inequívoca, portanto, a configuração do fato gerador do ITBI, qual seja a transferência onerosa de bens imóveis, a revelar o acerto da sentença ao exigir que o ato registral somente se realize com a comprovação do pagamento aludido tributo.(...) Justiça e desta Corte: Assim é o entendimento do Superior Tribunal de Página 6 de 9

7 PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. OMISSÃO. NÃO-OCORRÊNCIA. ITBI. IMÓVEIS URBANOS EDIFICADOS. DISSOLUÇÃO DE CONDOMÍNIO. INCIDÊNCIA DO TRIBUTO. BASE DE CÁLCULO. PARCELA ADQUIRIDA AOS OUTROS COPROPRIETÁRIOS. (...) 7. Na situação inicial, antes do pacto de extinção parcial do condomínio, os quatro impetrantes eram co-proprietários de cada um dos imóveis, que devem ser considerados individualmente. 8. Com o acordo, cada um dos impetrantes passou a ser único proprietário de um dos seis imóveis. Ou seja, adquiriu dos outros coproprietários 75% desse bem, pois já possuia 25%. 9. O ITBI deve incidir sobre a transmissão desses 75%. Isso porque a aquisição dessa parcela se deu por alienação onerosa: compra (pagamento em dinheiro) ou permuta (cessão de parcela de outros imóveis). (...) 11. Os impetrantes adjudicaram cada um dos quatro imóveis a uma única pessoa, indenizando os demais (por pagamento ou permuta), nos termos do art. 632 do CC/ É pacífico que os impostos reais (IPTU e ITBI, em especial) referemse aos bens autonomamente considerados. Também por essa razão seria incabível tratar diversos imóveis como universalidade para fins de tributação. 13. Esse entendimento foi consolidado pelo egrégio STF na Súmula 589: "É inconstitucional a fixação de adicional progressivo do imposto predial e territorial urbano em função do número de imóveis do contribuinte". 14. A Suprema Corte impediu que os Municípios considerassem todos os imóveis de cada contribuinte como uma universalidade para fins de progressividade das alíquotas. Isso decorre do reconhecimento de que cada imóvel a ser tributado deve ser autonomamente considerado. 15. Se o Município não pode considerar o conjunto de imóveis uma universalidade, para cálculo do IPTU, seria inadmissível que o contribuinte possa fazê-lo com o intuito de pagar menos ITBI. 16. Recurso Especial provido. (REsp nº /RJ, da 2ª T. do STJ, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, in DJU de 11/11/2009) APELAÇÃO CÍVEL. SUSCITAÇÃO DE DÚVIDA. PRETENSÃO DE REGISTRO DE DIVISÃO AMIGÁVEL. FISCALIZAÇÃO DO PAGAMENTO DOS IMPOSTOS. DEVER DO TITULAR DE REGISTRO DE IMÓVEL, POR FORÇA DOS ATOS QUE LHE FOREM APRESENTADOS.Conforme dispõe o art. 289 da Lei de Registros Públicos, é dever do titular de registro de imóvel, no exercício de suas atribuições, Página 7 de 9

8 fiscalizar o "pagamento dos impostos devidos por força dos atos que lhe forem apresentados em razão do ofício".incidência DO ITBI. COMPROVAÇÃO DE IMUNIDADE, ISENÇÃO OU PAGAMENTO. NÃO OCORRÊNCIA.CERTIDÃO MUNICIPAL DE NÃO INCIDÊNCIA. INEXISTÊNCIA. AQUISIÇÃO DE QUINHÃO HEREDITÁRIO.ONEROSIDADE. LEI COMPLEMENTAR MUNICIPAL QUE PREVÊ O FATO GERADOR. OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. IMPOSTO DEVIDO. COMPROVAÇÃO DE RECOLHIMENTO OU DE DISPENSA.Havendo acréscimo à quota-parte de um dos condôminos, perfaz-se a hipótese de incidência prevista na Lei Complementar nº 01/2010, que instituiu o ITBI no âmbito do Município de Nova Fátima, sendo este concretamente devido, desde que recaia somente sobre a parcela que ensejou o aumento patrimonial. RECURSO DESPROVIDO. (TJPR - 11ª C.Cível - AC Nova Fátima - Rel.: Vilma Régia Ramos de Rezende - Unânime - - J ) As hipóteses de desfazimento de condomínio e de adjudicação de determinado bem a um único condômino por meio de indenização ou permuta não se confundem. Enquanto no primeiro caso temos um ato declaratório (não há, portanto, transmissão onerosa, mas apenas atribuição física do bem a cada pessoa), no segundo, a propriedade do bem (frações que pertencem aos demais) é transmitida a um determinado condômino. Tratando-se de coisa divisível, a divisão mostra-se como meio adequado para extinguir o condomínio (art , Código Civil). Nesse caso, diz ser simplesmente declaratória e não atributiva da propriedade a divisão porque o imóvel está sendo fracionado entre os condôminos de acordo com a porção que cabe a cada um. De outro lado, adjudicação de determinado bem a um único condômino denota o ajuste por meio do qual os condôminos acordam atribuir a um co-proprietário a integralidade do bem, isto é, transferindo frações que não lhe pertenciam. Essa transmissão poderá ser ajustada de forma gratuita ou onerosa. No primeiro caso, estará sujeita ao ITCMD; no segundo, incidirá o ITBI. Página 8 de 9

9 Nos autos, evidencia-se a ocorrência de adjudicação onerosa. A escritura pública que se requer denota o intento dos requerentes em dividir entre eles os imóveis já adquiridos (e partilhados) por sucessão causa mortis e, por meio de concessões mútuas de frações de outro imóvel (permuta), que cada bem passe a ser titulado por uma única família proprietária. Desse modo, a medida que se impõe é a manutenção da r. sentença, nos exatos termos em que foi lançada, devendo ser negado provimento ao recurso em apreço. III DISPOSITIVO. Diante do exposto, acordam os Desembargadores do 12ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em conhecer e negar provimento ao recurso. O julgamento foi presidido pelo Desembargador Mário Helton Jorge (com voto) e dele participou o Desembargador Mário Luiz Ramidoff. Curitiba, 09 de novembro de 2016 Luciane Bortoleto Juíza Substituta em 2º Grau Página 9 de 9