PODER JUDICIÁRIO O TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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1 Certificado digitalmente por: OSVALDO NALLIM DUARTE Estado do Paraná PODER JUDICIÁRIO O TRIBUNAL DE JUSTIÇA APELAÇÃO CÍVEL Nº , DA 2ª VARA DE EXECUÇÕES FISCAIS DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE LONDRINA. Apelante: Município de Londrina/PR. Apelado: Muniz e Casagrande Ltda. Relator: Juiz de Direito Substituto em 2º Grau Osvaldo Nallim Duarte (em substituição ao Des. José Laurindo de Souza Netto). APELAÇÃO CÍVEL. TRIBUTÁRIO. EMBARGOS À EXECUÇÃO. ITBI. INTEGRALIZAÇÃO DE CAPITAL SOCIAL ATRAVÉS DE CONFERÊNCIA DE BENS IMÓVEIS. APLICABILIDADE DOS ARTIGOS 36 E 37, DO CTN. NECESSIDADE DE RECOLHIMENTO DO TRIBUTO QUANDO O OBJETO SOCIAL DA PESSOA JURÍDICA TIVER RELAÇÃO COM COMPRA/VENDA E ADMINISTRAÇÃO DE BENS IMÓVEIS. FATO GERADOR CORRESPONDENTE À DATA DO ARQUIVAMENTO DO ATO NA JUNTA COMERCIAL, QUANDO SE CONSIDERA INCORPORADO O BEM IMÓVEL AO CAPITAL SOCIAL. AUSÊNCIA DE REGISTRO IMOBILIÁRIO. IRRELEVÂNCIA. EXIGÊNCIA DE TRANSMISSÃO DOMINIAL RESERVADA AOS CASOS DE COMPRA E VENDA. INVERSÃO DO ÔNUS SUCUMBENCIAL. O fato gerador do ITBI, para a incorporação de imóvel ao capital social de empresa, hipótese distinta da compra e venda, é o arquivamento dos atos constitutivos. APELAÇÃO CONHECIDA E PROVIDA. Vistos e examinados. I. RELATÓRIO. Trata-se de recurso de apelação cível interposto em face da sentença proferida pelo MM. Juiz de Direito da 2ª Vara de Execuções Fiscais do Município de Londrina Estado do Paraná, nos autos de Embargos à Ação de Execução Fiscal nº , Página 1 de 6

2 promovida por Município de Londrina em face de Muniz & Casagrande Ltda., que julgou parcialmente procedentes os pedidos do autor, com fulcro no art. 269, I, do CPC, para o fim de reconhecer a inexigibilidade do crédito tributário referente tão somente ao ITBI (considerando que também se discutia a exigibilidade de créditos de IPTU), sob o fundamento de não ocorrência do fato gerador. Consequentemente, determinou a extinção parcial da execução fiscal objeto dos autos nº , ao mesmo tempo em que determinou que fosse excluída da cobrança o montante em referência. Quanto ao valor relativo a IPTU, decidiu o magistrado singular que a execução fiscal deveria prosseguir. Desta maneira, condenou a parte sucumbente ao pagamento dos honorários advocatícios, os quais arbitrou em R$ 2.000,00 (dois mil reais). Quanto às custas processuais, definiu que o Município sucumbente deveria arcar com as despesas relativas ao Ofício Distribuidor e Oficial de Justiça. Em suas razões, o apelante defendeu a necessidade de reforma da decisão de primeiro grau, sob o fundamento de que o fato gerador do ITBI teria ocorrido, pois a apelada se beneficiou de todos os efeitos jurídicos e econômicos da integralização do imóvel. Afirmou que a cobrança do tributo seria legal pelo fato de que a parte incorporou o bem imóvel ao seu capital social, tendo inclusive registrado contrato e efetuado alterações na junta comercial. Por tais razões, pugnou pelo recebimento e provimento do apelo para o fim de reconhecer-se a ocorrência da hipótese de incidência do ITBI, bem como a legalidade de sua cobrança. O recurso foi recebido em ambos os efeitos, conforme movimento O apelado, por sua vez, apresentou contrarrazões conforme movimento 49.1, oportunidade na qual contrapôs as alegações da apelante. Subiram os autos a este tribunal. Página 2 de 6

3 Vieram conclusos. É o breve relatório. II. FUNDAMENTAÇÃO. Presentes os pressupostos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade, merece conhecimento o apelo. Preliminarmente, deve-se observar que a sentença foi pulicada anteriormente à data de vigência da Lei nº /2015 (Novo Código de Processo Civil), razão pela qual serão aplicados os preceitos contidos na Lei nº 5.869/1973 (Código de Processo Civil de 1973). A controvérsia que se apresenta no caso em análise diz respeito à possibilidade de aplicação da regra de imunidade tributária prevista no art. 156, 2º, I, da Constituição Federal que dispõe que o ITBI não deverá incidir sobre a transmissão de bens ou direitos incorporados ao patrimônio da pessoa jurídica em realização de capital, nem sobre a transmissão de bens ou direitos decorrentes de fusão, incorporação, cisão ou extinção de pessoa jurídica, salvo se, nesses casos, a atividade preponderante do adquirente for a compra e venda desses bens ou direitos, locação de bens imóveis ou arrendamento mercantil; Ainda, deve-se analisar a aplicabilidade dos artigos 36 e 37 do CTN, que dispõem: Art. 36. Ressalvado o disposto no artigo seguinte, o imposto não incide sobre a transmissão dos bens ou direitos referidos no artigo anterior: I - quando efetuada para sua incorporação ao patrimônio de pessoa jurídica em pagamento de capital nela subscrito; II - quando decorrente da incorporação ou da fusão de uma pessoa jurídica por outra ou com outra. Parágrafo único. O imposto não incide sobre a transmissão aos mesmos alienantes, dos bens e direitos adquiridos na forma do inciso I deste artigo, em Página 3 de 6

4 decorrência da sua desincorporação do patrimônio da pessoa jurídica a que foram conferidos. Art. 37. O disposto no artigo anterior não se aplica quando a pessoa jurídica adquirente tenha como atividade preponderante a venda ou locação de propriedade imobiliária ou a cessão de direitos relativos à sua aquisição. 1º Considera-se caracterizada a atividade preponderante referida neste artigo quando mais de 50% (cinqüenta por cento) da receita operacional da pessoa jurídica adquirente, nos 2 (dois) anos anteriores e nos 2 (dois) anos subseqüentes à aquisição, decorrer de transações mencionadas neste artigo. 2º Se a pessoa jurídica adquirente iniciar suas atividades após a aquisição, ou menos de 2 (dois) anos antes dela, apurar-se-á a preponderância referida no parágrafo anterior levando em conta os 3 (três) primeiros anos seguintes à data da aquisição. 3º Verificada a preponderância referida neste artigo, tornar-se-á devido o imposto, nos termos da lei vigente à data da aquisição, sobre o valor do bem ou direito nessa data. 4º O disposto neste artigo não se aplica à transmissão de bens ou direitos, quando realizada em conjunto com a da totalidade do patrimônio da pessoa jurídica alienante. Inicialmente é válido esclarecer que os bens imóveis integralizaram as cotas subscritas pela sócia, conforme movimento 1.5 (PROJUDI). Desta maneira passaram a integrar o patrimônio da pessoa jurídica de forma completa. Contudo, tanto a CF quanto o CTN preveem as supracitadas regras de isenção, com vistas ao incentivo das atividades econômicas empresariais. Para isso, é imprescindível verificar qual é a atividade preponderante da pessoa jurídica. De acordo com o contrato social acostado aos autos, o objeto mercantil da pessoa jurídica em relação à qual o bem fora integralizado consistia, à época da integralização, na administração de bens imóveis e móveis próprios ou de terceiros, participação ao capital social de outras empresas, investimentos em valores imobiliários e Página 4 de 6

5 mobiliários, atendidas as disposições legais. (conforme se verifica nas folhas 11 e 12). Estas atividades eram exercidas originalmente pela empresa Ágata Administração e Participação Ltda., conforme de verifica por meio de seu contrato social. Apenas em 24 de julho de 2014 (fl. 38-verso), o objeto social da pessoa jurídica fora modificado, por meio da décima terceira alteração contratual. Contudo, a sócia Muniz & Casagrande Ltda. integralizou seu capital nos termos da segunda alteração contratual, ocorrida em abril de Desta maneira, diante das provas trazidas aos autos, verifica-se que as atividades da empresa na qual o capital fora integralizado diziam respeito ao ramo imobiliário. Por consequência, identifica-se a ocorrência do fato gerador do ITBI, eis que a situação que se apresenta não se enquadra em uma das hipóteses de imunidade tributária constitucionalmente previstas. A circunstância de não ter havido a transmissão dominial, através do registro imobiliário, não é motivo que impeça o lançamento tributário, considerando os seguintes aspectos: a) em primeiro lugar, o desvio de finalidade, traduzido na pretensão de jamais levar a transação a registro junto à matrícula imobiliária e, assim, obstar legítimo lançamento fiscal; b) segundo, e não menos importante, é que o registro imobiliário é exigido para operações de compra e venda, não se estendendo, necessariamente, para a incorporação de bem imóvel ao capital social de sociedade empresária; c) terceiro, que, nos termos do art. 36, I, do CTN, tem-se que o tributo incide no momento da incorporação ao património social, ou seja, o efetivo arquivamento do ato na Junta Comercial. Por tal razão, a sentença merece ser reformada, nos termos desta fundamentação, declarando-se exigível o referido imposto sobre a integralização do capital social analisada. Obviamente, caso Página 5 de 6

6 haja o registro na matrícula, posteriormente, não poderá haver dupla tributação. Diante da reforma da decisão singular devem ser invertidos os ônus sucumbenciais. Desta maneira, a ora apelada deverá arcar com a totalidade das custas e despesas processuais, bem como dos honorários advocatícios, os quais, por apreciação equitativa, considerando o montante da execução, a qualidade do trabalho e tempo exigido pela causa, mantenho em R$ 2.000,00 (dois mil reais) arbitrados pelo sentenciante, com fundamento no art. 20, 3º e 4º, do CPC/73. III. DECISÃO. Acordam os Magistrados integrantes da 3ª Câmara Cível, por unanimidade, em conhecer e dar provimento ao recurso de apelação, nos termos do voto do Relator. Participaram do julgamento e acompanharam o voto do relator a juíza Denise Hammerschmidt e o Desembargador Sérgio Roberto Nobrega Rolanski. Publique-se. Curitiba, 29 de novembro de OSVALDO NALLIM DUARTE Juiz de Direito Substituto em 2 grau Relator convocado Página 6 de 6