A ATUAÇÃO BRASILEIRA EM ESTADOS FRÁGEIS COMO NICHO DIPLOMÁTICO DE UMA POTÊNCIA EMERGENTE
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- Ângelo Palmeira Correia
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1 A ATUAÇÃO BRASILEIRA EM ESTADOS FRÁGEIS COMO NICHO DIPLOMÁTICO DE UMA POTÊNCIA EMERGENTE Introdução Aluno: Enzo Mauro Tabet Cruz Professor: Kai Michael Kenkel O Brasil vem crescentemente ganhando destaque no sistema internacional, como um país diferenciado em termos diplomáticos e práticos. Seu intenso envolvimento em temáticas internacionais, nos mais variados organismos multilaterais, fizeram com que o país aumentasse sua inserção no cenário de poder internacional, transformando o Brasil em um grande foco de estudos na área de Relações Internacionais. O objetivo desta pesquisa é analisar até que ponto as ações brasileiras no que diz respeito à inserção internacional e legitimização do país como exemplo de liderança sobre um discurso diplomático de atuação diferenciada se reflete na prática, utilisando como objeto de estudo a atuação do país nos processos de reconstrução de Estados Frágeis na África, mais especificamente Angola. Metodologia A definição da hipótese de pesquisa deu-se pela seguinte pergunta: como o Brasil vai se inserir internacionalmente através da atuação em Estados Frágeis no continente africano? A hipótese à ser analisada será a de que o Brasil se utiliza da atuação no processo de reconstrução de Estados Frágeis no continente africano como uma forma de demonstrar um papel diferenciado do país no âmbito internacional. Esta atuação seria instrumentalizada pela cooperação técnica internacional com estes países. Também, se utilizará da caracterização do Brasil como uma potência emergente, fazendo uso da lógica do desenvolvimento internacional como forma de compensar o restrito poder bruto em termos do tamanho das forças armadas e economia. E por fim, da atuação brasileira em termos de nichos diplomáticos, onde o país se coloca como legítimo em sua busca por liderança, ao ligar sua diplomacia externa, com as potencialidades no âmbito interno. Um estudo de caso será feito com Angola. A escolha deste país como caso principal levou em consideração o maior acesso à dados primários sobre o relacionamento entre o Brasil e Angola e a atuação brasileira no processo de reconstrução do país após a guerra civil que destruiu grande parte das infra-estruturas angolanas. Estados Falidos, Nicho Diplomático e Potências Emergentes O Brasil vem crescentemente ganhando destaque no sistema internacional, como um país diferenciado em termos diplomáticos e práticos. Seu intenso envolvimento em temáticas internacionais, nos mais variados organismos multilaterais, fizeram com que o país aumentasse sua inserção no cenário de poder internacional, transformando o Brasil em um grande foco de estudos na área de Relações Internacionais. O objetivo desta pesquisa é analisar até que ponto as ações brasileiras no que diz respeito à inserção internacional e legitimização do país como exemplo de liderança sobre um discurso diplomático de atuação diferenciada se refletem na prática, utilisando como objeto de estudo a atuação do país nos processos de reconstrução de Estados Frágeis na África.
2 Para que se entenda o comportamento brasileiro na busca por preponderância internacional é necessário a revisita aos conceitos teóricos sobre as potências médias e Estados Frágeis. Quando utilizada em referência a estados, a fragilidade é normalmente definida em contraposição ao tipo ideal de estado weberiano. Neste sentido, suas principais características são: a ineficiência e corrupção das instituições de governo; a falta de representatividade e accountability e, portanto, de legitimidade; a ausência de segurança jurídica e a arbitrariedade no uso dos meios coercitivos do Estado [1]. As várias definições normalmente se baseiam em critérios funcionais atribuídos a unidades soberanas, mas há escasso consenso entre elas. Outras definições salientam as consequências da fragilidade para a segurança internacional, para o desenvolvimento, meio ambiente, crime internacional, entre outras [2]. A conceituação de um país como uma potência média varia. A conceituação mais comum vem da questão da hierarquia de poder no sistema internacional, medida através do tamnaho do país, população, recursos e economia. Entretanto, para este trabalho, existe uma definição de potência média que se encaixa melhor nos padrões brasileiros de atuação internacional: o comportamental [3]. Diz respeito ao fato de que os países que não se encontram em uma posição muitos recursos de poder bruto (hard power), como economia pesada e Forças Armadas extensas, teriam uma força política maior, como uma forma de compensar esta deficiência evitando ao máximo o uso da força. Buscam-se mais soluções através das vias multilaterais, bem como a participação em organismos internacionais. Com uma pequena margem de manobra, em um mundo centrado na questão de segurança militar, passaram a adotar um foco em programas de alívio às tensões globais, como o controle internacional de armas (IBIDEM, p.20). Também, percebe-se que as potências médias buscam se especializar em temáticas das chamadas low politics onde possuem mais chances de obter preponderância, como questões ambientais e de direitos humanos. Passam a criar e defender um nexo entre estas políticas e as chamadas high politics, como a segurança mundial, como uma forma de obterem preponderância internacional (IBIDEM, p.22). A diplomacia das potências médias portanto, buscam uma especialização muito forte diplomática, como uma forma de garantir uma ação diferenciada nas discussões internacionais em temáticas específicas, chamadas de issue areas. Buscam garantir que suas ações sejam vistas como diferenciadas dos demais países que ocupam status de grandes potências Ibid, p.24. Logo, a ligação entre a segurança e o desenvolvimento se tornam um importante conceito à ser tratado, especialmente pelo Brasil, como uma forma de se inserir internacionalmente nos temas da alta política. A complementariedade entre a noção de segurança e desenvolvimento visa enxergar a problemática além do seu aspecto militar. Os riscos para a segurança humana estão intimamente ligados aos probelmas do subdesenvolvimento, como crescimento populacional desenfreado, pobreza e stress ambiental, aumentando a instabilidade e portanto o risco de eclosão de conflitos internos [4]. A proteção e melhora de vida das populações marginalizadas seriam então alguns dos instrumentos para se tratar da questão do desenvolvimento e segurança. Essa ligação entre segurança e desenvolvimento vem de um chamado antecedente liberal ou liberal foreground, procupado em garantir o controle dos processos biológicos e sociais em nome da população, dos direitos e liberdade Ibid, p.4. O Brasil em sua política externa deseja ser reconhecido através da sua capacidade de negociação, e não como uma potência militar [5]. O país pretende se afirmar internacionalmente como um país que possui um diferencial em termos de atuação no sistema internacional, participando com forte ênfase no multilateralismo, afirmando
3 seus próprios interesses através da participação na construção de normas e processos de construção institucional [6]. Este diferencial vem do fato de que o país se coloca como legítimo em sua busca por liderança, ao ligar sua diplomacia externa, com as potencialidades no âmbito interno. São exemplos, como a presença de uma democracia estável e as políticas sociais do governo Lula que permitem o país à criarem um discurso de legítimos líderes em termos da diminuição das assimetrias internacionais Ibid, p.21. Para entender a ênfase brasileira em participar como peacebuilder no sistema internacional advém de sua concepção como país emergente do conceito de soberania. Este conceito advém de uma visão horizontal da soberania, definida como a inviolabilidade de fronteiras, como um fator de proteção própria. Esta característica vai marcar a posição brasileira no contexto das operações de paz [7]. O reconhecimento do país em sua participação como contribuinte direto nos processos de paz são permitidas pela capacidade organizacional, de comportamento no âmbito internacional de política externa relativo à aderência das normas e de capacidade de implementação prática das mesmas. O discurso brasileiro relativo à sua participação em operações de paz nos contextos de instabilidade internacional é o país seria um ator diferenciado em termos de ação concreta, enumerada pelos seguintes fatores Ibid, p.652: Indicadores materiais, no que diz respeito à implementação de políticas sociais e de reforço democratico, favorecido pelos esforços internos no contexto de pobreza e desigualdade em que vive o país. Vai gerar um alinhamento às metas embutidas no processo de peacebuilding, ou de reconstrução no pós-conflito Ibid, 654. A experiência brasileira com o processo de redemocratização vai permitir que os militares brasileiros nestas missões tenham extensas capacidades no que diz respeito à implementação de infra-estrutura, desenvolvimento e controle de criminalidade (Ibid). Orientações políticas abrangentes, pela aderência e suporte às instituições multilaterais. Sua política externa de não intervenção e a visão normativa no que diz respeito à soberania o transformaram em um defensor da resolução pacífica de conflitos, defensor dos direitos humanos e da auto-determinação. Isso vai se refletir na sua atuação no processo de manutenção e reconstrução da paz, diminuindo o foco nas ações militares concretas e buscando uma abordagem de resolução através da mediação (Ibid). Estudo de Caso: Angola A escolha de Angola como estudo de caso remete ao fato de que muito do relacionamento entre os países vem se intensificando, por diversos motivos, como semelhança cultural, linguística e interesse brasileiro em se aproximar do continente africano. Angola caracteriza-se como um exemplo da atuação brasileira em Estados Frágeis, especialmente durante o processo de reconstrução após a Guerra Civil que assolou o país. Nesta seção será dado um breve histórico do conflito, fatores de semelhança entre ambos os países potencializadores da relação, e por fim, a importância da atuação em Angola como modelo brasileiro de liderança e compromisso com a paz e segurança internacional, visando a sua projeção como liderança nos fóruns multilaterais. O Conflito, a Reconstrução e o relacionamento com Angola
4 A Guerr a Civil angolana aconteceu no período pós-independencia do país. O conflito entre os grupos rivais MPLA, apoiados pela URSS, e o Unitas, grupo rebelde nacional que lutavam para obter o controle de Angola durou 16 anos e vitimou especialmente civis, atingindo o número de mortes. O conflito se alastrou até 1999, quando a situação de segurança se estabilizou no país. Além de gerar enormes perdas humanas, o conflito também danificou gravemente grande parte da infra-estrutura institucional do país, gerando um gap entre a necessidade por serviços básicos de infra-estrutura e o que o governo tinha capacidade de fornecer [8]. Diante da necessidade de reconstruir o país, Angola se manteve aberta à colaboração com parceiros estratégicos que pudessem fornecer auxílio financeiro e técnico ao país para o processo de reconstrução, posição esta que o Brasil ocupou com destaque. A atuação brasileira no processo de reconstrução foi caracterizada dentro da proposta de Política Externa brasileira, explicitado na primeira parte do relatório, como uma forma de projetar a liderança do país no âmbito internacional à partir do comprometimento com a manutenção da paz e segurança internacional [4]. A concepção de segurança preconizada pelo discurso brasileiro, se encaixava na proposta da reconstrução angolana, já que expunha o conceito de segurança como algo ligado a presença de uma democracia estável e a busca por políticas de desenvolvimento visando o estabelecimento de uma paz duradoura à longo prazo. Neste sentido, o governo brasileiro se utilizou das semelhanças entre ambos os países como uma forma de aproximação estratégica do país, visando manter um relacionamento à longo prazo. Esta aproximação se deu principalmente através das semelhanças linguísticas e culturais, institucionalizadas através da CPLP, ou Comunidade dos Países de Língua Portuguesa [9]. A CPLP é o foro multilateral instituido para o aprofundamento do relacionamento e da cooperação entre os seus membros. A instituição goza de personalidade jurídica e é dotada de autonomia financeira, podendo implementar políticas de cooperação e normatização técnica entre seus membros ibid. Dentro desta proposta, o Brasil se utilizou da instituição como forma de implementar projetos de cooperação e participação no processo de reconstrução Angola. Dentro desta proposta de cooperação, o Brasil vai dar enfoque aos segmentos que o país possui postencialidades internas. Os projetos abrangem as àreas da saúde, em termos do desenvolvimento conjunto de tecnologias para o combate de doenças, educação e agricultura, no desenvolvimento de sementes e grãos. Este auxílio advém especialmente da cooperação técnica oficial do Brasil, através da EMBRAPA, da Fiocruz e especialmente da ABC (Agência Brasileira de Cooperação). Os interesses Estratégicos brasileiros Dentro da proposta de aproximação com Angola, visto através da presença no processo de reconstrução e proximidade através das semelhanças linguístico-culturais, podemos enumerar o alinhamento com alguns princípios da política brasileira em Estados Frágeis como forma de projeção internacional. Em primeiro lugar, vemos o interesse em se afirmar o conceito de segurança como algo ligado ao desenvolvimento humano, e não somente à estabilização da situação de segurança em termos militares. Como, explicado na primeira seção do relatório, o Brasil busca afirmar a visão de que os riscos para a segurança humana estão intimamente ligados aos probelmas do subdesenvolvimento, demonstrado através da participação brasileira no processo de
5 reconstrução através do fortalecimento institucional e da cooperação técnica com Angola. Em segundo lugar, como uma implicação estratégica da primeira afirmativa, ao se utilizar de conceitos como o desenvolvimento e as políticas de segurança internacional, no caso brasileiro, se relaciona com as potencialidades no âmbito interno. Ao se colocar como fornecedor de auxílio técnico, o Brasil vai se inserir nas áreas em que internamente possui vantagem e legitimidade, como no caso, as políticas sociais na educação e no combate à pobreza, e no âmbito da saúde e agricultura, com os projetos de cooperação no setor. Por fim, através do gradativo aumento no relacionamento com o Estado angolano e na presença no processo de reconstrução, o Brasil pretende projetar sua imagem como liderança diferenciada no sistema internacional. Com o apoio dos países do Sul Global, especialmente dos Estados africanos, o Brasil pretende construir uma legitimidade como um país capaz de arcar com as responsabilidades da segurança internacional. Ainda neste objetivo, através da cosntrução desta imagem, o país visa angariar apoio em um possível processo de reestruturação do Conselho de Segurança das Nações Unidas. No caso de Angola, é visível a aproximação e apoio do governo ao Brasil, explicitado pela declaração do Secretário de Comunicação do governo angolano, Hélio Aragão, ao dizer que Angola bebe da água do Brasil para crescer, e com o volume de recursos externos que por lá estão sendo efetivados, acredito que vamos levar bem menos tempo para alcançar o estágio de país emergente no continente africano [11] Conclusão Após a analise dos dados pode-se inferir algumas constatações acerca do projeto. Em primero lugar podemos afirmar que existe uma ênfase brasileira em se estabelecer como uma liderança internacional, especialmente através de um enfoque no conceito de desenvolvimento como principal fator de ligação com os grandes temas da segurança internacional [7]. Esta guia de Política Externa vai privilegiar a vantagem interna brasileira de possuir expertise nestas áreas de atuação, pelos diversos programas ja existentes dentro do próprio. O país então vai procurar se estabelecer como uma liderança legítima, através do discurso que preconiza o Brasil como um ator diferenciado em termos de ação concreta, enumerada pelos seguintes fatores: indicadores materiais, no que diz respeito à implementação de políticas sociais e de reforço democratico, favorecido pelos esforços internos no contexto de pobreza e desigualdade em que vive o país [3]. Por fim, podemos constatar a afirmação de um enfoque brasileiro em participar de projetos de desenvolvimento no continente africano. Constata-se através da análise dos dados de cooperação das principais agências responsáveis, a presença e aumento de diversos projetos de cooperação, especialmente com Angola. A presença no seu processo de reconstrução, caracteriza claramente o alinhamento com os interesses brasileiros em se projetar internacionalmente como uma liderança diferenciada e obter assim, um lugar de destaque nos organismos multilatarais das Nações Unidas, especialmente o Conselho de Segurança. Bibliografia:
6 1- BROCK, L. Fragile states : violence and the failure of intervention. Polity Press, Cambridge, U.K., PATRICK, S. Weak links : fragile states, global threats, and international security. Oxford University Press Oxford ; Nova Iorque, COOPER, Adrews. Relocating Middle Powers. University of British Columbia Press. Canadá DUFFIELD, Mark. Development, Security and Unending War. Polity Press. Cambridge, ALSINA, João Paulo Soares. Política Externa e poder militar no Brasil. Editora FGV. Brasil KENKEL, Kai. South American Perspectives on Peace Operations. International Peacekeeping, vol 17, n.5. Novembro, BBC. Angola Profile. (Maio) Disponível em Último acesso 23 de Julho de CPLP. Objetivos. Disponível em Último acesso em 23 de Julho de GONÇALVES, Nelson. Angola bebe da Água do Brasil. JCNET Disponível em Último acesso em 23 de Julho de 2013
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