ATENÇÃO PSICOSSOCIAL. PROCESSO DE HUMANIZAÇÃO DOS EXCLUIDOS.
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- Jerónimo Malheiro Angelim
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1 ATENÇÃO PSICOSSOCIAL. PROCESSO DE HUMANIZAÇÃO DOS EXCLUIDOS. DEMERI RIBEIRO SILVA 1 FACULDADES DE PINHAIS - FAPI Área: Psicologia Eixo: Salud Colectiva, Salud Mental y Derechos Humanos: superación de la cultura manicomial. Objetivo: Busca trazer à luz da discussão três desafios que se caracterizam pelo grau de necessidade: Acessibilidade ao cuidado; Sustentabilidade das Ações e Qualificação do cuidado. Procurando apresentar instrumentos que visam trazer integração e qualificação dos protagonistas que trabalham em serviços de saúde mental, na expectativa de alcançar uma boa prática clínica, articulada a melhor utilização dos recursos humanos e institucionais. 1 Mestrando em Distúrbios da Comunicação pela Universidade Tuiuti do Paraná UTP. Especialização em Clínica Terapêutica pela UTP; Especialização em Ciências Forenses Pela UTP; Professor de Psicologia Jurídica e Medicina Legal e Psicologia Forense no curso de Direito da Faculdade FAPI a cidade de Pinhais. Professor de Fundamentos Psicológicos da Educação I e II do curso de Pedagogia da FAPI na cidade de Pinhais, Responsável pelo NAPP (Núcleo de Atendimento Psicológico e Psicopedagógico) da FAPI n acidade de Pinhais. Endereço: Rua Chanceler Lauro Muller n CEP Parolin Curitiba - PR Tel. ( ) demeuri@yahoo.com.br
2 ATENÇÃO PSICOSSOCIAL. PROCESSO DE HUMANIZAÇÃO DOS EXCLUIDOS. Demeuri Ribeiro Silva RESUMO: O ser humano em sua maioria nasce saudável, e com perspectivas de uma vida promissora, mas nem todos vivem assim. A loucura, a esquizofrenia, o sofrimento mental e as doenças mentais podem acometer qualquer pessoa. Muitas vezes sem motivos, a doença tem início em qualquer fase da vida. Uma dura realidade que é melhor quando vivida com a compreensão, carinho e respeito das pessoas, em especial, da família. Para buscar diminuir um pouco o sofrimento de pacientes e familiares, no ano de 1978 tiveram início as primeiras lutas e movimentos sociais pelos direitos dos pacientes psiquiátricos no Brasil. Esta luta contava com o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), que era formado por associações de parentes, sindicalistas, profissionais do meio e pessoas com longo histórico de internações psiquiátricas. Eles tinham como objetivo denunciar os métodos usados nos manicômios, apresentar as diversas formas de violência cometidas. Após inúmeras reivindicações, em 1987 aconteceu o II Congresso Nacional do MTSM na cidade de Bauru, em São Paulo, com o objetivo de que fosse feita a reforma psiquiátrica. Quando do surgimento de serviços de atenção psicossocial, fundadas nas experiências dos primeiros territórios ; Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS) e Hospitaisdia, e as primeiras normas para fiscalização e classificação dos hospitais psiquiátricos, surgiram vários desafios, entre todos; o presente artigo busca trazer à luz da discussão três que se caracterizam pelo grau de necessidade: Acessibilidade ao cuidado, Sustentabilidade das ações, Qualificação do cuidado. INTRODUÇÃO Desde a década de 70, o campo da saúde mental no Brasil tem sido debatido em várias esferas e a partir da promulgação da Lei Federal /2001, que instituiu a Reforma Psiquiátrica no nosso país, Estados e Municípios têm tentado se adequar às diretrizes dessa lei. Tendo em vista que historicamente os manicômios judiciários passam por duas Grandes exclusões - a de abarcarem doentes mentais e criminosos - urgem repensar algumas práticas já em pleno funcionamento de modo que propostas de ação sejam revistas visando uma melhoria na assistência prestada à população dependente desses cuidados. No Brasil esta questão se mostra em plena atualidade em virtude da expansão da reforma psiquiátrica que possibilitou o desenvolvimento de um processo democrático e público voltado à atenção psicossocial. REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL APÓS A LEI NACIONAL
3 A lei /2001, que instituiu a Reforma Psiquiátrica no Brasil, enfatiza a cidadania em contraposição à antiga lógica, excludente e estigmatizante, das políticas de saúde voltadas ao atendimento do doente mental. Essa lei destaca se por reafirmar o direito do usuário à convivência sócio-familiar, ao mesmo tempo em que contempla as singularidades possíveis dos tratamentos. As ações de cuidado são amplas e devem ser considerada caso a caso, sem preconceitos de qualquer espécie, para garantia da especificidade da atenção, conforme previsto no artigo 7º da lei 8.080/90, que instituiu o Sistema Único de Saúde (SUS). Atualmente, segundo estatísticas divulgadas no Relatório de Gestão Saúde Mental SUS, sofrem de transtornos mentais severos (esquizofrenia, autismo, psicose infantil, neuroses graves, depressão profunda e deficiência mental severa com sintomas psicóticos) 3% da população do país, ou seja, entre 5 e 6 milhões de pessoas. Além destes pacientes graves, se considerar aqueles que possuem os chamados transtornos mentais leves (depressão não tão profunda, fobias, demências moderadas), chegam a 12% da população, cerca de 20 milhões de pessoas. Somente no ano de 2001, após 12 anos de tramitação no Congresso Nacional, a Lei Paulo Delgado foi sancionada no país, a tão sonhada reforma psiquiátrica. Com isso, a Lei Federal redireciona a assistência em saúde mental, privilegiando o oferecimento de tratamento em serviços e a proteção dos direitos das pessoas com transtornos mentais, mas não deixa clara a total extinção dos manicômios. Aponta o Relatório de Gestão Saúde Mental SUS, que desde 2002 o número de leitos em hospitais veio caindo de 51 mil para 39 mil, o que contribuiu para os valores esta a expansão de uma rede de atenção aberta e comunitária, que permitiram a redução e a substituição significativa de leitos psiquiátricos, especialmente de longa permanência, e o fechamento de vários hospitais psiquiátricos em péssimas condições de funcionamento. O mesmo Relatório aponta que as residências terapêuticas com regime aberto eram 85 agora são 563 ao total. Nos séculos passados, quando ainda não havia controle de saúde mental, a loucura era uma questão privada, onde as famílias eram responsáveis por seus membros portadores de transtorno mental. Com o passar dos anos, começou então a discussão e luta pela implantação de serviços de saúde mental no Brasil. Foi quando surgiram as primeiras instituições, no ano de 1841, na cidade do Rio de Janeiro, que era um abrigo provisório. Somente agora no final do século XX é que a militância por serviços humanizados conseguiu as primeiras implantações de Centros de Atenção Psicossocial, os CAPS. ATENÇÃO PSICOSSOCIAL Trata-se de um conjunto de práticas clínicas e sociais articuladas, voltadas para pessoas que sofrem com transtornos mentais, suas famílias, suas redes de interesse e pertencimento: moradia, escola, trabalho, lazer, cultura... tudo que faça sentido na sua existência. Onde não acontece? Nos manicômios, prisões, asilos na rede de cuidados. Atenção Psicossocial apresenta vários desafios a serem superados. Acreditamos que três se destacam perante as emergências que a sociedade exige. São eles: 1º desafio: Acessibilidade ao cuidado: garantir o acesso ao cuidado expandindo as redes: Atenção Básica; CAPS; SAMU; De volta pra casa benefício 2. 2 Relatório de Gestão : saúde mental SUS, Página 57.
4 2º desafio: Sustentabilidade: através dos meios legais: Legislações; Financiamento. Apoiados pelas Leis: Lei Federal / substituição progressiva dos leitos psiquiátricos, Lei Federal / a alocação de pacientes na comunidade. 3º desafio: qualificação do cuidado: supervisionando o quadro clínico e as instituições. Capacitando os elementos responsáveis pelo cuidado melhorando seus conhecimentos através da Graduação; Pós-Graduação; Extensão; Cursos, treinamentos; Seminários; Congressos. Portanto, diante de tais desafios surge possibilitar instrumentos que visam buscar melhorias que vêem a ser um meio de integração e qualificação das equipes que trabalham em serviços de saúde mental buscando alcançar uma boa prática clínica, articulada a melhor utilização dos recursos humanos e institucionais existentes nas equipes, nos serviços e no território envolvido. Para isso a supervisão clínico-institucional 3 irá contribuir. Deve acontecer com a presença de um (a) supervisor (a) externo que acompanhe a equipe, uma vez ao mês, com duração de duas horas, no mínimo para "trabalhar o trabalho" cotidiano das equipes, onde a partir da discussão (ou estudo) de casos, ou do exame de uma situação de crise, ou ainda o debruçar-se sobre qualquer situação adversa ou não, possa se desenvolver uma cultura de compartilhamento e encontro de novas soluções para dilemas clínicos e/ou institucionais que, por serem discutidos coletivamente, formará e informará a toda a rede que se estabelece na equipe, numa espiral crescente de conhecimento e experiência compartida. Dado a ausência de experiências de um trabalho de supervisão de tal dimensão que se propõe uma reunião mensal com os supervisores, "oficina de saberes" para cumprir a função de reflexão, sistematização e atrelamento a uma política de saúde mental que se desenvolva, com a intenção de desinstitucionalizar e criar chances de autonomia dos sujeitos num contexto de subordinação e pertencimento a projetos e programas de desenvolvimento humano para os que sofrem com transtornos mentais. O fato de privilegiar um atendimento baseado no modelo centrado na prescrição burocrática, impessoal e pontual não deve nortear a política de cuidados da rede de serviços de saúde mental. Justifica tais mudanças nas atuais condutas. Saber operar em equipe é o exercício que um (a) supervisor (a) externo (a), que possa agir como facilitador (a), catalizador (a), tradutor (a) de sentimentos, favorecendo leituras que facilitem o grupo a trabalhar os conflitos, crescendo com eles, é o objetivo maior da supervisão clínico-institucional numa equipe. Discutir a ligação entre o trabalho clínico/institucional no campo das instituições e das organizações e a elaboração de conceitos a partir do diálogo entre diferentes teorias é o que se buscará demonstrar as oficinas de saberes nos encontros de supervisores. Pretende-se que a discussão possibilite uma análise sobre as questões institucionais e os processos de mudança e sistematize Conhecimentos produzidos na equipe. Os supervisores convidados propõem uma abordagem que se centra na pessoa, sobre suas construções, dificuldades, conflitos e sofrimentos experimentados em sua atuação profissional. A evolução de estruturas e mudanças individuais e coletivas refere-se ao que é vivido nas equipes e serviços aos quais ela faz parte, mas que ao mesmo tempo são parte de si mesma. 3 Relatório de Gestão : saúde mental SUS, Página 59.
5 OBJETIVOS Monitorar, capacitar e desenvolver uma identidade coletiva com os protagonistas que trabalham nos CAPS, habilitando-as para desenvolver o cuidado de pacientes e familiares no território, visando à melhoria da qualidade das ações de promoção e tratamento, e, a potencialização da interação humana entre os sujeitos da equipe de cuidados dentro e fora das instituições. Pretende-se criar um espírito de corpo que, frente à fragmentação e individualização, tão presentes entre os que trabalham nos serviços, instituindo um ambiente saudável nos lugares de trabalho, dando a todos, condições de melhor operar nas situações adversas que costumam povoar o cotidiano do trabalho com pessoas, sadias ou enfermas. Cuidar dos cuidadores. Oferecer aos protagonistas que trabalha nos CAPS, um espaço de acolhida para suas angústias, projetos e dificuldades com o objetivo de elaboração conjunta de estratégias mais saudáveis de convivência. Acompanhar o trabalho realizado pelos técnicos nos CAPS, através de supervisões e discussões de casos clínicos, adequando o aprendizado teórico-prático às condições de cuidado no território, explorando ações intersetoriais que potencializem o cuidado. Possibilitar uma discussão e personalização dos casos, instituindo-se projetos terapêuticos singulares para os pacientes e famílias, e ainda, o acompanhamento coletivo para a equipe, enriquecendo aos dois grupos. Exercitar o "gerenciamento de casos" na comunidade, expandindo os muros da instituição para onde faça sentido acompanhar os usuários nos seus projetos de vida, autonomia, cidadania. Discutir ações domiciliares necessárias aos seus itinerários terapêuticos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Concluímos que para haver mudanças concretas e profundas no modelo de atenção em saúde mental, os quais agregam fortes componentes de combate ao estigma da loucura; devemos ter como prioridade a manutenção da valorização através das capacitações dos protagonistas que atuam nas redes de atenção psicossocial e que buscam promover a construção de um novo lugar social para o chamado louco, porém, é de fundamental importância conduzi-los humanizados através de escutas da subjetividade de cada individuo, trabalhando seus conflitos adequando à situações adversas que costumam povoar seu cotidiano. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS - Coordenação de Saúde Mental e Coordenação de Gestão da Atenção Básica, saudemental@saude.gov.br - Relatório de Gestão : saúde mental no SUS: acesso ao tratamento e mudança do modelo de atenção / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2007.
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