TEMA DA SESSÃO. Patriarcado de Lisboa JUAN AMBROSIO / PAULO PAIVA 2º SEMESTRE ANO LETIVO INTRODUÇÃO 2. O ACONTECER DA REVELAÇÃO
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- Orlando Benevides Martinho
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1 TEMA DA SESSÃO 1. INTRODUÇÃO 2. O ACONTECER DA REVELAÇÃO 3. CONSEQUÊNCIAS 4. TPC JUAN AMBROSIO / PAULO PAIVA 2º SEMESTRE ANO LETIVO Patriarcado de Lisboa Instituto Diocesano da Formação Cristã
2 Introdução O que é que acontece nesse instante originário e misterioso no qual Deus se revela ao ser humano? O que é que verdadeiramente se quer significar com essa expressão?
3 O acontecer da revelação (1) Nesta linha, podemos partir de um dado universalmente testemunhado: Partindo da fé religiosa mais elementar no Deus criador e salvador podemos afirmar que aquilo que sabemos de Deus - precisamente graças àquilo que ele nos revela é que ele é amor e que nos cria por amor, vivendo por isso como um «Pai/Mãe» debruçado sobre a nossa história, para a todos ajudar e a todos salvar sem discriminação de nenhum tipo. Se de alguma coisa podemos estar verdadeiramente seguros, é justamente desta amor universal, incondicional e irrestrito.
4 O acontecer da revelação (2) Assim, se Deus cria por amor e só por amor a todas as pessoas, torna-se bastante óbvio que a sua vontade é de dar-se a conhecer: A todos! Sempre! E em todos os lugares!
5 O acontecer da revelação (3) Mas como é que essa vontade se pode tornar realidade? No imaginário de muitos crentes a resposta surge com toda a facilidade: aparecendo, falando, mostrando-se. Contudo, quando analisamos criticamente esta ideia ela deixa de parecer tão consistente quanto à primeira vista poderia parecer. Se sabemos que é em Deus que a nossa existência tem fundamento é porque o descobrimos justamente como diferença qualitativa de nós. Ele é o outro, infinito e transcendente. Por isso, identificar a Deus com algo, por mais grandioso e espetacular que pudesse ser, equivale automaticamente a vê-lo, ouvi-lo ou pensá-lo como o que por definição não é. Uma manifestação direta e evidente de Deus seria claramente auto contraditória porque o situaria ao nível do mundano, do finito e do relativo.
6 O acontecer da revelação (4) Com isto não se pretende afirmar a impossibilidade da comunicação de Deus, mas repensar criticamente a ideia de uma intervenção que rompe o decurso natural das coisas, o que converteria Deus numa coisa ao lado das coisas. Aqui o fundamental está em assumir a união radicalíssima prévia a tudo e mais profunda que tudo que existe entre a criatura e o criador. No fundo, a intuição que está na base de toda esta reflexão é que a manifestação da vontade de Deus e do seu projeto, acontece pelo próprio ser da criatura e que ela mesma é a sua palavra.
7 O acontecer da revelação (5) Trata-se pois de uma relação existente entre Deus e as suas criaturas, de uma relação que constitui um acontecimento real entre Deus e o ser humano, acontecimento realizado na natureza, na história e na própria existência individual. Na natureza, Porque o homem religioso ao olhar para o mundo como criação é remetido para uma outra presença que através dele aparece e que surge como um mais, como um para além disso ; Na história, Porque toda a sua dinâmica está constantemente sendo incentivada e interpelada pela ação do criador através da liberdade do ser humano; Na existência individual, Porque o ser humano experimenta a presença de Deus no seu núcleo mais íntimo do estar sendo pessoa.
8 O acontecer da revelação (6) Porque é um facto real para nós, a revelação tem que respeitar a nossa condição de seres corpóreos existentes no mundo; Porque é também um facto real para Deus, a revelação tem que respeitar, igualmente, a sua condição. Pelo que a todo o custo devem ser evitadas as armadilhas da imaginação que facilmente levam a conceber a revelação como um direto e imediato falar de Deus, como se Ele falasse diretamente da sua boca ao nosso ouvido.
9 O acontecer da revelação (7) Daqui resulta o seu carácter necessariamente simbólico, ou seja capaz de unir estas duas dimensões, de tal maneira que o significado divino se anuncia sempre num significado humano que o transparenta e o torna de certo modo presente, mas sem jamais se identificar com ele, nem o dominar. Daqui resulta, também, como na inteligibilidade de todo este processo entra em campo toda a subjetividade humana. Tudo isto pode ajudar facilmente a entender como o processo revelador é difícil e acontece por sucessivas tentativas, no meio de surpresas e esquecimentos, na sensação de presenças e ausências.
10 O acontecer da revelação (8) Ao falarmos de revelação, estamos, pois a falar de um processo de discernimento de acontecimentos reais, no qual por vezes se produzem situações que interpelam, e sacodem a consciência do ser humano, quebrando muitas vezes rotinas e passividades e abrindo-a ao chamamento divino que sempre a está a solicitar a partir da profundidade da própria realidade criada.
11 O acontecer da revelação (9) A dimensão divina, a dimensão histórica e a dimensão da subjetividade humana, surgem aqui como dimensões constitutivas da revelação. É Deus que verdadeiramente se quer revelar e toma gratuitamente a iniciativa, tentando fazer sentir a sua presença interpelante em todos os tempos a todos os homens. É o ser humano que tem de responder a essa iniciativa, deixando-se interpelar e reconhecendo-a como tal. É na história concreta da humanidade que esse diálogo acontece. Faltando um destes elementos podemos estar a falar de coisas muito bonitas e interessantes, mas certamente não estaremos a falar da revelação de Deus ao ser humano.
12 O acontecer da revelação (10) A experiência reveladora parte da experiência da presença de Deus na realidade total (natureza, história, ser humano) como autenticamente reveladora e como capaz de expressar-se em acontecimentos concretos. Esta presença não equivale, contudo a um intervencionismo, pois a sua atividade reveladora é captada pelo ser humano através de um cair na conta. Através de uma experiência de desvelamento que se traduz sempre por uma linguagem simbólica. É na realidade inteira, e não apenas num ou noutro acontecimento, que Deus se manifesta mostrando continuamente qual o seu projeto e a sua vontade. O que acontece é que nem sempre o ser humano percebe essa presença e se deixa interpelar por ela.
13 O acontecer da revelação (11) Em tudo isto o ser humano faz a experiência de que a iniciativa realmente não lhe pertence. É porque Deus lhe sai ao encontro que o ser humano o pode reconhecer. Aqui desaparece toda a passividade de parte a parte. Deus não está passivo, porque constantemente interpela e quer fazer notar a sua presença; O ser humano não pode também estar passivo, pois a sua resposta a esta presença interpelante é condição para que ela possa ser uma realidade experienciável na sua vida. E porque ao revelar-se Deus revela o seu projeto de realização e felicidade para o ser humano, na resposta a essa revelação este pode fazer a experiência de se estar a realizar a si mesmo.
14 O acontecer da revelação (12) Sem romper a sua transcendência, a presença de Deus face à liberdade humana possui uma real eficácia no desenvolvimento da história e no crescimento do ser humano. Este, como ser que «emerge» de tudo o criado, é o ponto donde a ação divina encontra uma possibilidade de intervenção, sem cair no intervencionismo nem no extrinsecismo. Naqueles momentos em que o desenrolar da história e a sensibilidade humana tornam possível que o ser humano cai na conta de que Deus está aí a revelar-se, então é possível ir mais longe na direção da novidade que Deus quer propor. Então o ser humano pode fazer a experiência de sentir-se iluminado e capacitado para orientar a sua história no sentido de uma maior realização para todos. É, pois, através da liberdade humana, que a revelação de Deus se pode concretizar no mundo.
15 O acontecer da revelação (13) A origem da revelação não reside, pois, num milagre, que se acrescente à realidade, Mas no captar o que Deus está constantemente a dizer através dela. A realidade criada por Deus tem esta capacidade expressiva, porque Deus está sempre presente nela sustentando-a e fazendo-a ser. Por outro lado o ser humano também ele sustentado no seu ser pelo próprio criador tem também a possibilidade de se aperceber da presença de Deus na natureza, na história, e na sua própria existência, escutando a sua voz e tentando decifrar a sua vontade.
16 O acontecer da revelação (14) A compreensão da relação imanência transcendência, permite compreender que Deus não precisa de romper através de um milagre ou de um intervencionismo a autonomia do mundo e do sujeito para revelar a sua presença. Deus não vem de fora, Deus está dentro sustentando, promovendo e iluminando a subjetividade humana, o que permite que possa ser descoberto.
17 Consequências (1) Uma revelação, evidente e universal, desde o começo da humanidade acaba por ser impossível, não por parte de Deus, mas por parte do ser humano. O que não deve, de todo, de estranhar, pois entre Deus e a criatura existe uma grande e inultrapassável diferença: Ele é transcendência absoluta e nós somos mundaneidade relativa. Se já a comunicação entre iguais é algo tão difícil de realizar, sendo sempre uma conquista fazer ao longo da existência,
18 Consequências (2) O estranho, o que verdadeiramente nos deveria espantar, não são as dificuldades desta comunicação entre Deus e o ser humano, mas a sua inquebrantável vontade de dialogar e o seu constante fazer por todos os modos e em todos os lugares - com que esse diálogo seja uma possibilidade. Neste contexto podemos perceber que a possibilidade de uma revelação universal e evidente no início da humanidade é um absurdo. Por muito inteligente que uma mãe seja e por muito que queira o seu filho de um ano de idade, poderá ela ensinar-lhe o Teorema de Pitágoras? E se «não pode» isso não é porque não saiba ou não queira o filho.
19 Consequências (3) Alguém fundador, santo, profeta particularmente sensível ao religioso e, por isso, capaz de descobrir a presença divina ali, onde os outros ainda não conseguem ver nada, capaz de «cair na conta» de que Deus é muito mais do que aquilo que habitualmente diziam dele. Este aspeto é realmente importante no momento de pensar a possibilidade de comunicar a revelação: O «inspirado», o profeta, tem um papel fundamental e indispensável, pois é o pioneiro, o que descobre e abre caminhos. Sem ele a presença de Deus continuaria desconhecida e não seria ouvida. E como este iniciador não capta algo que só lhe está a ser revelado a ele, mas sim algo que é dirigido a todos, acaba por se tornar num mediador que possibilita que essa experiência seja feita por todos.
20 Consequências (4) E aqui estamos perante algo que é igualmente decisivo. Justamente porque revela e dá a conhecer aquilo que está a afetar a todos no seu conjunto, os outros podem, então, reconhecer e aceitar, por si mesmos, essa revelação. Antes ainda não tinham «caído na conta», mas agora podem fazer a experiência, por si mesmos, verificando a sua razoabilidade. Assim, o ouvinte não fica reduzido a ter que acreditar porque o profeta lhe diz aquilo que Deus lhe disse, sem possibilidade alguma de verificar, por si mesmo, a verdade ou falsidade do que lhe é transmitido.
21 TPC
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