Organização e Gestão de Cooperativas ESAPL / IPVC
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- Emanuel Santana Cerveira
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1 Organização e Gestão de Cooperativas ESAPL / IPVC
2 As Cooperativas são empresas. Por isso devem ser geridas com recurso ao uso de técnicas de gestão empresarial em uso noutros tipos de empresas. Há que evitar quaisquer pudores, filosóficos, doutrinários ou mesmo políticos, que façam pensar que as cooperativas não devam funcionar como empresas e que não devam ter um fim principalmente económico. Há que evitar a imagem de que, como realidade sociológica, as cooperativas correspondem a situações felizes e idílicas, onde todos os membros se entendem perfeitamente, não necessitando por isso de uma gestão empresarial eficaz... simplesmente porque no seu seio não existem problemas!
3 As cooperativas não são uma panaceia para todos os males da agricultura. Apesar de serem muitas vezes apresentadas como possuidoras de todo o tipo de virtudes sociais e vantagens económicas, nem sempre os seus resultados estão muito relacionados com esta imagem. Algumas razões: Âmbito demasiado vasto da cooperativa Fraca implicação financeira dos membros (desinteresse, negligência das suas obrigações...) Não aplicação ou não cumprimento do princípio da exclusividade Falta de políticas de rigoroso controlo de qualidade Falta de planificação na gestão financeira Falta de gestão e direcção empresarial racional e lógica Falta de conhecimento rigoroso da situação patrimonial
4 Que se entende então por EMPRESA? Empresa é a unidade económica de produção. É o conjunto de pessoas, bens e serviços, organizados com certa autonomia própria para realizar processos de produção ou, dito de outra forma, realizar uma transformação com intencionalidade económica. Mas note-se que a transformação de determinados bens e serviços iniciais (factores de produção), noutros bens e serviços finais (produtos), não tem necessariamente de afectar a natureza física do factor. Basta que exista uma transformação das circunstâncias económicas que rodeiam o bem ou serviço, e que afectam o seu valor: armazenamento de produtos; transporte de produtos; etc..
5 Que se entende então por EMPRESA? A finalidade económica da empresa concretizase no GANHO DE VALOR, e normalmente os produtos têm um valor maior que os factores de produção. As cooperativas ajustam-se na perfeição às características descritas anteriormente, realizando a função específica que atrás se atribuiu às empresas, ou seja, PRODUZIR, no sentido amplo do termo.
6 Que outros agentes económicos existem? As FAMÍLIAS também realizam uma transformação económica mas de sentido contrário ao realizado pelas empresas (produção) por serem agentes económicos de consumo, elas diminuem o valor dos bens consumidos. Estes agentes económicos de produção e de consumo Empresas e Famílias estabelecem entre si fluxos de bens e serviços bidireccionais, e os correspondentes fluxos monetários de sentido contrário. Cada cidadão assume assim dois papeis: o de produtor, ao fornecer factores de produção às empresas, e o de consumidor, participando no consumo no seio da família. O Estado tem também estes papeis, diferenciando-se dos demais agentes por deter igualmente o papel de Regulador da actividade económica.
7 O Circuito Económico (simplificado) despesas de consumo bens de consumo trabalho e iniciativa salários e lucros
8 Ainda a EMPRESA De acordo com as funções que desempenham, podem-se distinguir os seguintes tipos de pessoas ou de grupos de pessoas dentro de uma empresa: Os proprietários (fornecem o capital e assumem o risco) Os directores, gerentes ou executivos (tomada de decisões, organização geral, iniciativas) Os trabalhadores (fornecem o trabalho e o conhecimento técnico) Verifica-se normalmente, ou frequentemente, que: Pequenas Empresas todas as funções na mão da mesma pessoa e/ou respectiva família. Médias Empresas duas primeiras funções na mão da mesma pessoa o Empresário, no sentido mais comum do termo. Grandes Empresas todas as funções separadas
9 Antagonismos dentro da EMPRESA? Cada grupo tenta aumentar a sua retribuição (lucro, poder, prestígio, salário, etc.) à custa dos demais, criando-se por vezes um claro antagonismo, sobretudo entre o LUCRO, como objectivo do proprietário/capitalista, e o SALÁRIO (com ou sem participação nos lucros) dos trabalhadores. Esta antagonismo é muitas vezes conhecido por LUTA DE CLASSES. Na sua perspectiva inicial, as cooperativas aparecem como uma solução para estes confrontos, ao colocarem nas mesmas mãos a propriedade dos meios de produção e o trabalho. Mas sem dúvida que as circunstâncias económicas evoluíram muito desde o aparecimento do movimento cooperativo.
10 Cooperativa Agrícola / Empresa Agrária Sectores Produtivos: - Sector Primário (ou extractivo) - Sector Secundário (ou industrial) - Sector Terciário (ou de serviços) O AGRÁRIO, é sem dúvida o mais importante subsector dentro do primeiro. COMO DEFINIR ENTÃO UMA EMPRESA AGRÁRIA? - Partindo do conceito de subsector agrário e dizendo que empresas agrárias são as que nele estão compreendidas? Ou, - Partindo de uma definição própria para as empresas agrárias e só depois considerar que o subsector agrário é aquele que inclui essas empresas?
11 Cooperativa Agrícola / Empresa Agrária 1ª Hipótese: mais complicada, pela dificuldade de definição correcta e precisa daquilo que deve ser o subsector agrário 2ª Hipótese: também difícil por serem variadas as correntes de opinião sobre qual o conceito de Actividade Agrária (aquela a que se dedicam as empresas agrárias) Vejamos então três dessas correntes de opinião
12 1ª Corrente de Opinião Define actividade agrária como aquela que utiliza essencialmente o factor TERRA para obter produtos vegetais e animais. Então onde colocamos: a pecuária sem terra? as adegas cooperativas? os lagares? os processos de comercialização de produtos? etc.?
13 2ª Corrente de Opinião Define actividade agrária como aquela que, tendo um sentido económico, é regulada por leis biológicas. Então incluímos nela: as actividades farmacêuticas que se recorrem de microorganismos? E não incluímos de novo: os processos de comercialização de produtos? as actividades turísticas no contexto de explorações agrícolas? etc.?
14 3ª Corrente de Opinião Define actividade agrária como a soma de cinco parcelas: o cultivo da TERRA; a actividade pecuária nas suas diferentes modalidades; a actividade florestal (em sentido amplo, compreendendo igualmente as actividades cinegéticas; a comercialização dos produtos procedentes das actividades anteriores, até à fase retalhista; os processos industriais tradicionalmente desenvolvidos pelos agricultores.
15 Parece então difícil definir actividade agrária ou, pior ainda, empresa agrária Principalmente devido às áreas marginais dessa actividade: por exemplo certas indústrias, como as dos produtos lácteos ou certas conservas; porque mesmo do ponto de vista do consumo é difícil obter-se um padrão constante. É impossível dizer que a actividade agrária é a que se dedica à produção de alimentos: que dizer por exemplo da pesca? que dizer por exemplo do tabaco, das fibras têxteis, da cortiça, da madeira?
16 Assim, o que é verdadeiramente importante é assumir o carácter das cooperativas como EMPRESAS. A integração das cooperativas no sector agrícola, e portanto a sua classificação como empresas agrícolas, depende muitas vezes de opções tomadas aquando da sua constituição, conforme estabelece a própria lei (para o caso das cooperativas multisectoriais). A direcção e a gestão das empresas cooperativas requer a utilização de determinadas técnicas, instrumentos e modelos de gestão que se complicam gradualmente, à medida que aumenta a dimensão da empresa e que se pretende melhorar os processos de tomada de decisões.
17 Decisões Empresariais Tal como no caso das pessoas se pode dizer que, desde que nascem até que morrem, as suas vidas são uma sucessiva sequência de TOMADAS DE DECISÃO, também o dia a dia das empresas não passa sem a ocorrência de inúmeras decisões, de diversa índole e envergadura.
18 Quem toma as decisões numa Cooperativa? Os Membros ou Cooperadores? sim, mas a resposta é bem mais complexa! não esquecer que há: a Assembleia Geral a Direcção os Gestores e há decisões que estão tomadas a priori : os Estatutos são vinculativos e, uma vez aprovados, tornam certas decisões independentes da vontade dos membros a Lei, que restringe a vontade soberana dos membros e impõe limites aos próprios estatutos
19 Quem toma as decisões numa Cooperativa?
20 As Fontes de Informação Os modelos e técnicas de gestão adoptados nas empresas em geral, e nas cooperativas em particular, têm de utilizar dados que proporcionem informação actual, precisa e em quantidade suficiente sobre: a situação dentro da empresa a situação fora da empresa A CONTABILIDADE é a fonte de informação indispensável à maioria das empresas,e obviamente às cooperativas. Ela é vital porque: negligenciá-la, no sentido de não a manter completa, detalhada e actualizada, pode conduzir a perdas de elevado montante; porque a contabilidade das cooperativas deve ir mais além da das demais empresas. Além de quantificar os objectivos da cooperativa, ela tem de abordar a fase seguinte de distribuição equitativa de direitos e obrigações, de acordo com as regras estabelecidas.
21 A Contabilidade A principal fonte de informação de uma Cooperativa é então a CONTABILIDADE Ela reveste-se de duas vertentes: a CONTABILIDADE FINANCEIRA a CONTABILIDADE DE CUSTOS (ou analítica)
22 A Contabilidade Financeira A contabilidade financeira informa sobre a situação patrimonial da cooperativa, de forma quantitativa e qualitativa, em determinados momentos de tempo: bens direitos obrigações
23 A Contabilidade Financeira Os Balanços realizam-se normalmente com uma periodicidade Anual ou Mensal, a partir das Contas da Contabilidade Financeira. O período entre dois Balanços chama-se de EXERCÍCIO. A variação quantitativa do Património pode medir-se através da Conta de Ganhos e Perdas (ou Conta de Exploração). Nas cooperativas um resultado positivo toma o nome de EXCEDENTE LÍQUIDO. A variação qualitativa do Património pode medir-se através do cálculo de certos índices (Rácios), que se obtêm por cociente entre alguns dos elementos patrimoniais mais representativos.
24 A Contabilidade de Custos A Contabilidade de Custos, ou Contabilidade Analítica, tem por objectivo a determinação dos Custos de Produção dos produtos (e/ou serviços) da cooperativa. Alguns componentes do custo total estão claramente determinados pelo processo de produção de um só produto. Outros componentes do custo total intervêm em determinados processos de produção de forma não totalmente definida, não sendo assim possível imputá-los aos distintos produtos de forma quantitativa. Processo Produtivo Custos Específicos Custos Comuns
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