O PNLD LÍNGUA ESTRANGEIRA - REFLETINDO SOBRE OS CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DAS COLEÇÕES

Transcrição

1 O PNLD LÍNGUA ESTRANGEIRA - REFLETINDO SOBRE OS CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DAS COLEÇÕES Resumo VIEIRA, Ethieli 1 - UPF BEDIN, Thaís 2 - UPF Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas Agência Financiadora: não contou com financiamento O Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) tem como finalidade avaliar os livros didáticos de diversas disciplinas, inscritos mediante edital trienal, para a composição do Guia de Livros Didáticos a ser disponibilizado aos professores para três segmentos da escolarização básica. Este Programa existe desde 1995, mas no ano de 2011 foi a primeira vez que o Programa avaliou livros didáticos para as disciplinas de Língua Estrangeira Moderna (LEM) - Inglês e Espanhol - no âmbito dos anos finais do ensino fundamental. Nesta edição foram avaliadas 37 coleções, 11 de Espanhol e 26 de Inglês. Sendo indicadas para compor o Guia apenas quatro coleções: duas de Língua Inglesa e duas de Língua Espanhola. Assim, esse estudo se propõe a problematizar a importância do ensino de Língua Estrangeira Moderna na escola pública, bem como analisar os critérios utilizados na avaliação das coleções de Livros Didáticos propostos pelo PNLD 2011, ressaltando as potenciais contribuições desses materiais na melhoria da qualidade do ensino de Inglês e Espanhol na rede pública de ensino. Além disso, busca também refletir sobre o contraste do resultado apresentado na seleção das coleções, sendo que apenas quatro destas coleções contemplaram os critérios exigidos no edital de seleção composto por noventa e duas questões subdivididas em quatorze diferentes blocos temáticos. Como principal resultado obteve-se que apesar do muito que avançamos com a inclusão da LEM no PNLD, ainda existem inúmeras carências no sistema público de ensino, que exigem estratégias outras para que o ensino de língua qualifique-se na rede pública de educação básica, por meio da utilização do livro didático. Palavras-chave: PNLD Língua estrangeira moderna. Livro didático. 1 Graduada em Letras. Mestranda em Educação no Programa de Pós-Graduação - Mestrado e Doutorado em Educação da Universidade de Passo Fundo/RS (PPGEDU-UPF). ethyy@hotmail.com. 2 Graduada em Artes Visuais. Mestranda em Educação no Programa de Pós-Graduação - Mestrado e Doutorado em Educação da Universidade de Passo Fundo/RS (PPGEDU-UPF). tha_bedin@yahoo.com.br

2 16374 Introdução O PNLD tem como objetivo avaliar a qualidade das obras didáticas inscritas mediante edital público 3, indicando aquelas que cumprem os critérios ali estabelecidos para integrar o Guia de Livros Didáticos destinado a cada segmento educacional. Neste Guia são disponibilizadas as resenhas das coleções aprovadas, e encaminhado às escolas, que assim podem fazer a escolha dos materiais que foram aprovados para serem utilizados. Escolhem o título que melhor atende o seu projeto político pedagógico. O PNLD, na configuração hoje conhecida, já existe desde 1995, tendo avaliado, desde então, obras didáticas destinadas a alguns dos principais componentes curriculares da escola, como Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História e Geografia. A edição de 2011, direcionada aos anos finais do ensino fundamental, marcou algumas modificações no processo avaliativo, especialmente a inclusão de novos componentes curriculares, como Filosofia, Sociologia. Também foi a primeira vez que o componente curricular de Língua Estrangeira Moderna (LEM) - Espanhol e Inglês - teve obras didáticas avaliadas. Este é um momento de grande importância na história do ensino de LEM na escola pública brasileira, pois mostra a importância e relevância desse componente curricular na formação dos alunos. Até então, os professores de línguas não contavam com um material didático de boa qualidade, que levasse em conta vários aspectos metodológicos e linguísticos fundamentais no processo de ensino-aprendizagem desse componente curricular. Assim, cada aluno agora receberá um livro didático consumível (que não precisa ser devolvido no final do ano letivo). Este livro, tanto da disciplina de Espanhol quanto de Inglês será acompanhado de um CD de áudio, para que as habilidades orais também possam ser trabalhadas de forma efetiva. Esse material deve dar ao aluno condições de aprender a ler, escrever, ouvir e falar na língua estrangeira. Esse material também será de extrema importância para o professor, já que oferecerá suporte para o seu planejamento e para execução das atividades em sala de aula. As coleções selecionadas contam também com o Manual do Professor, que pode ser consultado não só para checar as respostas das atividades, mas principalmente para ampliar os conhecimentos e também como fonte de informações para os docentes. Durante o processo seletivo, os 3 Edital de convocação para inscrição no processo de avaliação e seleção de coleções didáticas para o Programa Nacional do Livro Didático - PNLD Disponível em ftp://ftp.fnde.gov.br/web/livro_didatico/edital_pnld_2011.pdf. Acesso em: 10 jan

3 16375 manuais foram avaliados, também, em relação aos conteúdos extras trazidos como insumo de conhecimento para os professores, como forma de ampliar os temas propostos com sugestões de atividades diferenciadas, mas sempre respeitando a autonomia e a criatividade do professor. Assim, foi exigido no edital que os manuais adicionassem textos, fontes bibliográficas e webgráficas, além das informações sobre a proposta pedagógica da coleção. Isso tudo foi idealizado para que o manual constituísse também uma fonte de recurso para a autoformação continuada do professor. O edital para avaliação das coleções foi publicado em 2008 (PNLD-EF), a avaliação das coleções foi realizada no 2º semestre de O Guia de Livros didáticos PNLD foi publicado em abril de 2010 e as obras selecionadas pelos professores foram distribuídas até o início do ano subsequente. Inscreveram-se para o processo de avaliação pedagógica 37 coleções, sendo 11 de Espanhol e 26 de Inglês. Mas, após a realização da avaliação, somente quatro coleções foram selecionadas, duas para Língua Inglesa e duas para Língua Espanhola. Segundo o Guia, as demais coleções foram excluídas por não cumprirem os critérios do Edital, o que, em alguns casos, poderia inviabilizar seu uso em sala de aula (BRASIL, 2010, p. 3). Observa-se, então, um grande contraste entre o número de obras inscritas para a avaliação e o número de obras escolhidas. Este contraste nos faz refletir sobre as razões pelas quais várias coleções não atenderam às especificações do edital de avaliação. Num esforço de compreender tais razões, algumas questões vêm à tona: como os manuais de ensino de idiomas têm sido sendo elaborados? Quais os aspectos teórico metodológicos estão fundamentando a elaboração destas obras, já que grande parte delas não foram aprovadas? Também, é necessário refletir sobre como o PNLD vê o ensino de línguas na escola e quais critérios levou em conta na avaliação das coleções que serão distribuídas nas escolas públicas, para utilização de professores e alunos nos próximos três anos. Com isso, esse artigo propõe uma análise da importância do ensino de LEM na escola pública. Também, como analisar os critérios de avaliação das coleções de Livros Didáticos propostos pelo PNLD e ressaltar como esses materiais poderão auxiliar na melhoria da qualidade do ensino de Inglês e Espanhol na rede pública de ensino. Primeiramente, será mostrada a importância da inclusão da LEM no PNLD, e sua potencial contribuição para a melhoria no ensino de línguas. Em seguida, será feita uma 4 Guia do Livro Didático - PNLD Disponível em: Acesso em: 10 jan

4 16376 análise dos critérios que foram levados em conta para a avaliação das coleções, quais fatores foram considerados importantes para a sua aprovação e, por fim, as considerações finais em relação aos assuntos abordados. Uma conquista significativa: PNLD de LEM A inclusão da área de LEM no PNLD é um grande avanço para a educação básica do nosso país. Essa conquista mostra que as disciplinas de Inglês e Espanhol estão começando a obter o seu espaço, e o seu reconhecimento como uma área de conhecimento de fundamental importância para o desenvolvimento e inclusão social das crianças e jovens que frequentam a educação básica. Como o próprio Guia ressalta: lugar de aprender línguas estrangeiras é na escola de educação básica (BRASIL, 2010, p. 11). Isso mostra que há uma preocupação com um aprendizado de línguas de qualidade, e que esse aprendizado não está restrito às camadas mais favorecidas da nossa sociedade. É um aprendizado fundamental para a formação da cidadania como mencionam os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs): A Língua Estrangeira no ensino fundamental tem um valioso papel construtivo como parte integrante da educação formal. Envolve um complexo processo de reflexão sobre a realidade social, política e econômica, com valor intrínseco importante no processo de capacitação que leva à libertação. Em outras palavras, Língua Estrangeira no ensino fundamental é parte da construção da cidadania (BRASIL, 1998, p. 41). Assim, o edital do PNLD 2011 buscou estabelecer critérios de avaliação para a seleção de coleções que contemplassem um ensino de LEM de qualidade na escola pública. O principal objetivo do edital era garantir que as coleções selecionadas estivessem estruturadas de forma bem planejada, auxiliando o aluno a compreender e produzir, oralmente ou por escrito, diversos tipos de texto. E ainda, os critérios incluíam a importância do caráter educativo da aprendizagem de línguas, na medida em que essa aprendizagem pode oportunizar o conhecimento sobre o outro e sobre si mesmo, sobre culturas locais e globais (BRASIL, 2010, p. 11). Com a universalização da distribuição de livros didáticos para as disciplinas de Inglês e Espanhol, espera-se que as escolas adaptem e elaborem projetos político pedagógicos que contemplem ao máximo o ensino dessas línguas, garantindo propostas de trabalho de qualidade, com uma carga horária adequada.

5 16377 Acredita-se, todavia, que o objetivo do Ministério da Educação (MEC), com a inclusão das LEM no PNLD, é justamente mudar esse quadro, tentar qualificar o ensino de línguas na escola pública. É possível observar tal expectativa quando analisamos os critérios de avaliação das coleções. Esses critérios tencionam abordar diversos aspectos: teóricometodológicos, estruturais da língua, interdisciplinares, formação continuada do professor através do manual, dentre outros que analisaremos adiante. Outro aspecto relevante em relação a esse novo olhar direcionado ao ensino de línguas é a importância de se contemplar as quatro habilidades da língua: a compreensão oral e escrita, e a expressão oral e escrita. Sabe-se que no quadro atual do ensino de idiomas na escola pública, a leitura é a única habilidade que vem sendo trabalhada. Os próprios PCNs - terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental - explicitam isso: considerar o desenvolvimento de habilidades orais como central no ensino de Língua Estrangeira no Brasil não leva em conta o critério de relevância social para a sua aprendizagem (BRASIL, 2008, p. 20). Segundo o documento, grande parte das escolas públicas não está preparada para trabalhar todas as habilidades da língua, assim seu foco recai sobre a leitura. De acordo com os PCNs, os aspectos que inviabilizam o ensino dessas habilidades são, dentre outros: carga horária reduzida, classes superlotadas, pouco domínio das habilidades orais por parte da maioria dos professores, material didático reduzido a giz e livro didático. O documento ressalta, também, que se houver condições favoráveis ao desenvolvimento das habilidades orais, a escola pode incluí-las, pois nele constam orientações para o ensino da compreensão e produção, tanto oral como escrita. Mas a falta de livros didáticos de LEM com material de áudio também propiciou esse quadro de ausência do ensino das habilidades orais. Os professores precisam ir atrás de materiais extras, buscar diferentes recursos para oportunizar aos seus alunos materiais de áudio autênticos, o que é uma tarefa difícil diante da sua exaustiva jornada de trabalho e acaba não acontecendo. Outras duas razões que reforçam esse quadro, segundo Costa (2011, p ) são: A ênfase dada à preparação para o vestibular e, mais recentemente, para o ENEM. Como esses exames, na área de línguas estrangeiras, pretendem avaliar algumas habilidades associadas à capacidade do aluno de ler e entender pequenos textos, os planos de curso são elaborados para que o estudante, ao concluir o Ensino Básico, possa alcançar esse fim. E a persistência de uma concepção de linguagem como sistema que fundamenta um ensino planejado em torno de tópicos gramaticais. Embora muitos professores já venham há alguns anos buscando planejar seus cursos a partir de outras perspectivas - temas, situações, funções -, as quais, em alguma medida, ensejam o desenvolvimento das outras habilidades (falar, ouvir, escrever), a gramática continua tendo maior relevância. Desse modo, é ainda frequente a leitura

6 16378 de textos, muitas vezes não-autênticos, com a finalidade principal, ou exclusiva, de ilustrar o uso de estruturas e vocabulário. Com isso, o PNLD de LEM tem buscado mudar essa situação, avaliando e selecionando coleções que contemplem não só a leitura, mas todas as habilidades da língua. E assim, possibilitando aos alunos da rede pública de ensino uma oportunidade de aprender uma Língua Estrangeira com qualidade, na medida em que foi muito criterioso na sua avaliação, levou em conta diversos fatores fundamentais para a escolha de um bom livro didático, como veremos em seguida. PNLD LEM - critérios de avaliação das coleções Para a avaliação das coleções, o edital discriminou dois grupos de critérios: a) Critérios eliminatórios gerais (comuns a todas as áreas); b) Critérios específicos (da área de LEM). Assim, o edital tornou claro para as editoras o que o PNLD de LEM almejava, e em quais quesitos os materiais seriam avaliados. Baseada nos critérios, uma ficha de avaliação foi criada contendo 92 5 questões, subdividida nos seguintes blocos: I. Respeito à legislação, às diretrizes e às normas oficiais relativas ao ensino fundamental. II. Observância de princípios éticos necessários à construção da cidadania e ao convívio social republicano. III. Coerência e adequação entre a abordagem teórico-metodológica assumida pela coleção e a proposta didático-pedagógica e objetivos explicitados. IV. Correção e atualização de conceitos, informações e procedimentos. V. Observância das características e finalidades específicas do manual do professor e adequação da coleção à linha pedagógica nele apresentada. VI. Adequação da estrutura editorial e do projeto gráfico aos objetivos didáticopedagógicos da coleção. VII. Estrutura e organização; VIII. Coletânea de textos orais e escritos; IX. Compreensão escrita; 5 As 92 questões estão disponíveis no site: < guiapnld2011linguaestrangeira/download>. Acesso em: 10 nov

7 16379 X. Produção escrita; XI. Compreensão oral; XII. Produção oral; XIII. Conhecimentos linguístico-dicursivos: gramática e vocabulário; XIV. Diversidade, cidadania e consciência crítica. Para fundamentar os critérios do edital foram utilizados os seguintes documentos: a) documentos de caráter normativo, como: a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, as Diretrizes Curriculares Nacionais para o ensino fundamental, a Constituição da República Federativa do Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente, Resoluções e Pareceres do Conselho Nacional de Educação; b) documentos oficiais de caráter didático-pedagógico, como os PCN s terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental; c) pesquisas e discussões no âmbito acadêmico relacionadas a questões teóricometodológicas do ensino-aprendizagem de LE, norteadoras das concepções de livro didático, língua, papéis do professor e do aluno, habilidades e competências, autonomia, pluri/interculturalismo, interdisciplinaridade, letramento, gêneros textuais etc. Analisaremos em seguidas blocos nos quais as perguntas foram subdivididas, relatando sobre a importância desses critérios para a escolha dos livros didáticos de Língua Estrangeira moderna. Os blocos I e II dizem respeito ao cuidado que deve haver por parte das editoras em relação aos conteúdos publicados nos livros didáticos (textos, imagens, entre outros), pois eles não podem, de forma alguma, contrariar a legislação, ter caráter preconceituoso ou criar estereótipos. Além disso, também não podem fazer apologias em relação à religião, doutrinas, marcas, serviços, ou quaisquer situações que estimulem comportamentos inadequados. Já os blocos III e IV, levaram em conta a estrutura teórico-metodológica das coleções, analisando-as em relação à atualização dos conceitos, informações e procedimentos utilizados, buscando encontrar uma organização progressiva dos conteúdos, que favoreça o aprendizado dos alunos. Além do mais, este bloco pretendeu analisar se os conteúdos propostos pelos livros didáticos promovem o desenvolvimento do pensamento crítico do estudante. Para Costa (2011, p ), essa é uma análise difícil de ser feita pelos avaliadores:

8 16380 Uma análise difícil, pois requeria conhecimentos de várias ordens por parte do avaliador. Deviam-se considerar não só imprecisões quanto ao teor de conceituações, mas também equívocos ou inconsistências na apresentação e discussão de temas, em informações relativas à LE países, povos, culturas, variantes, por exemplo, em atividades para a prática e desenvolvimento das habilidades ou, ainda, em dados de diversa natureza que pudessem aparecer nos textos. O bloco V estava focado no Manual do Professor. Este Manual é de extrema importância para os professores, uma vez que nele estão apresentados os procedimentos metodológicos e orientações para um uso adequado do livro didático. Neste bloco estão contidas dez questões para avaliação das coleções. O primeiro tópico abordado foi em relação à estrutura dos manuais, buscando saber se na sua estrutura interna havia uma organização da coleção mostrando os conteúdos trabalhados em cada volume. Isso para que os professores pudessem ter um panorama dos conteúdos que serão abordados em cada um dos volumes da coleção, e então organizar os seus trabalhos pedagógicos. Além disso, esse bloco analisou as estratégias e referências extras que foram disponibilizadas para os professores poderem fazer um uso adequado do material. Esse bloco buscou ainda observar se os manuais oportunizam discussão sobre diferentes formas de avaliação. Isso é importante para a ampliação de possibilidades de avaliação qualitativa e quantitativa. Observou-se também se os livros didáticos propiciam insumos linguísticos e informações culturais adequadas em relação à Língua Estrangeira estudada. Isso, pois, quando se estuda uma Língua Estrangeira, é de fundamental importância conhecer tanto a língua como a cultura em que ela está imersa. E espera-se que os livros didáticos contemplem esses aspectos culturais. O Manual do Professor também foi avaliado quanto às sugestões de respostas para as atividades, analisando se foram propostas diferentes formas de solucionar as atividades. E para finalizar, esse bloco analisou também se o Manual do Professor promove a reflexão sobre a prática docente, incentivando o professor a investir na sua formação continuada. Costa acrescenta que o Manual do Professor é um instrumento que deve oferecer ao docente muito mais do que orientações quanto às estratégias e aos recursos de ensino a serem empregados nas aulas: Ele deve contribuir para a continuidade da formação do professor, propiciando-lhe ampliação dos conhecimentos; isso poderia ser feito tanto com a inclusão, no próprio MP, de informações de caráter metodológico, linguístico e cultural, que favorecessem o aprofundamento de determinados conteúdos e o aprimoramento das

9 16381 competências necessárias para ensinar um idioma; quanto com a apresentação de uma bibliografia de referência comentada (COSTA, 2011, p. 324). O bloco VI visou analisar a qualidade e coerência da parte gráfica dos livros didáticos por meio de doze perguntas que questionaram se a estrutura dos livros era clara, coerente e funcional. Também analisou a qualidade gráfica das imagens, se seus tamanhos e cores eram adequados, e se elas estavam de acordo com a finalidade para a qual foram propostas. Essa parte da avaliação observou ainda se não havia erros de revisão, principalmente nas transcrições dos diálogos da Língua Estrangeira para a materna, e se foram citadas as referências das imagens e textos dispostos nos livros didáticos. Seguindo, o bloco VII está focado na estrutura e organização dos livros e o VIII na coletânea dos textos orais e escritos. Juntos esses blocos totalizam 19 questões. Essa parte da avaliação analisou se os tópicos linguísticos, os temas e as atividades estavam coerentes com a proposta pedagógica e também com as rotinas de sala de aula. Observou também se as habilidades de compreensão e produção oral e escrita estavam integradas. Outro ponto importante analisado nesse bloco foi se durante as atividades propostas houve reflexão sobre a língua estudada e se as instruções das atividades estavam claras. Esse bloco buscou encontrar a coerência necessária entre as atividades propostas e a rotina da sala de aula, ponto de extrema importância na avaliação. Pois muitas vezes os livros didáticos trazem atividades que são inviáveis de serem feitas, seja pelo tempo ou pela forma como abordam o conteúdo a ser trabalhado, ou até mesmo, por não serem interessantes aos alunos. Os blocos IX, X, XI e XII são estruturados para analisar a compreensão e a produção oral e escrita nos livros didáticos. Assim, a primeira parte (blocos IX e X), contemplou a compreensão e expressão escrita, que buscou avaliar se os textos escolhidos abordavam diferentes gêneros textuais, usando atividades de pré-leitura e pós-leitura. Analisou-se também se os livros apresentavam estratégias de leitura para auxiliar os alunos na interpretação e compreensão dos textos, e também se os livros apresentavam atividades com intertextualidade, usando um texto para se referir a outros e como as atividades estavam estruturadas. Outro fator importante analisado com relação à leitura foi se as atividades propostas auxiliavam na formação de um leitor crítico-reflexivo. Costa (2011, p. 328) comenta sobre atividades a serem propostas, nos seguintes termos: Para dar conta da diversidade de gêneros, propósitos e tipos de compreensão, as atividades não poderiam se resumir a completar lacunas ou identificar informações específicas no texto ouvido, como as que encontramos com muita frequência nos

10 16382 LDs para ensino de LE disponíveis no mercado; deveriam ir além, demandando dos alunos condutas semelhantes às do cotidiano nas diversas situações em que ouvem algo que lhes é dito responder, contra-argumentar, opinar, comentar, recontar, anotar, refletir, discutir etc., uma boa oportunidade, portanto, para explorar a integração do ato de ouvir ao ato de falar e de escrever. A segunda parte desse bloco (XI e XII) se deteve em avaliar a compreensão e expressão oral. Com isso, seu foco recaiu sobre o material de áudio que acompanha o livro didático de LEM, o CD. Os textos orais foram avaliados quanto a sua autenticidade e qualidade, levando em conta se contemplavam diferentes variedades linguísticas (diferença de sotaques e estruturas entre regiões e países falantes da língua estudada) e se a estrutura dessas atividades estava bem organizada, indicando onde o aluno poderia encontrar a faixa do CD e a transcrição de áudio. Com relação à expressão oral, a avaliação buscou analisar se atividades propostas propiciavam o uso da língua estudada em sala de aula, mobilizando diferentes formas comunicativas. E por fim, os dois últimos blocos: XIII e XIV, compostos por 16 questões, buscaram analisar aspectos linguístico-discursivos, ligados à gramática e ao vocabulário, bem como a formação de um aluno consciente e crítico. Analisaram se as atividades propostas contemplavam as quatro habilidades da língua, também como se estavam estruturadas e ligadas aos aspectos gramaticais. Buscaram ainda verificar se os insumos linguísticos disponíveis estavam contextualizados e se as atividades de vocabulário consideravam o nível fonético-fonológico, morfológico, sintático, semântico e pragmático-discursivo das palavras. Também nesses blocos, foram contempladas questões ligadas à formação de um aluno críticoreflexivo. Analisou-se se as atividades propostas abordaram temas que auxiliam o aluno na compreensão da diversidade do mundo o que circunda, aprendendo a valorizá-la e a respeitála. Considerações finais Após analisar as questões que subsidiaram a avaliação dos livros didáticos a serem indicados para compor o Guia de LEM, foi possível observar que o PNLD, por meio de uma avaliação bem criteriosa, delineou a função do livro didático e também configurou o papel que a LE assume no espaço escolar. Com isso, buscou selecionar coleções bem estruturadas, que contemplem as quatro habilidades da língua propondo atividades que desenvolvam o

11 16383 aluno nos conhecimentos específicos da disciplina estudada e também como um cidadão crítico-reflexivo. Os critérios de avaliação exigiram das editoras coleções que, através de textos orais e escritos, promovessem um processo de interação, de (re)construção de sentidos do alunoleitor. O foco essencial está no relacionamento do mundo do aluno com as ideias do autor. Sabe-se que é difícil que todos os livros cumpram todos os quesitos exigidos no edital, até porque a avaliação reuniu alguns aspectos ideais, muitas vezes até utópicos de difícil concretização no estágio atual da própria área, mas que têm como objetivo estabelecer as bases do perfil do livro didático esperado. Essa foi a primeira avaliação do PNLD para LEM, então, espera-se que para as próximas seleções, as editoras possam adequar seus materiais para que cumpram com as exigências estabelecidas pelo PNLD, e assim, mais coleções possam ser aprovadas para compor o Guia de LEM. Além disso, é importante ter em conta que, com a inserção da LEM no PNLD, será preciso repensar a própria estrutura curricular, já que uma aula por semana é insuficiente para desenvolver as habilidades em LE. O professor precisa ter condições de desenvolver seu trabalho, o que inclui carga horária suficiente, salário justo, infraestrutura necessária adequada, dentre outros fatores. Outro aspecto importante é o reconhecimento e a valorização do papel da LE na formação dos alunos, tanto por parte da escola como dos próprios alunos. Por fim, a formação continuada dos professores, que também é um fator relevante, deve ser encarada como primordial para um ensino de LE de qualidade. Para concluir, destaca-se que, apesar do muito que avançamos com a inclusão da LEM no PNLD, ainda existem inúmeras carências no sistema público de ensino. Porém, se cada um fizer a sua parte para que o PNLD continue no rumo certo, e na medida em que outras estratégias forem acionadas, em um futuro não muito distante estaremos propiciando um ensino de língua mais qualificado na rede pública de educação básica. REFERÊNCIAS BRASIL. MEC-SEB. Guia de livros didáticos: PNLD 2011 Língua Estrangeira. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de EducaçãoBásica, Disponível em: < Acesso em: 10 jan MEC-FNDE. Edital de convocação para inscrição no processo de avaliação e seleção de coleções didáticas para o programa nacional do livro didático PNLD 2011.

12 16384 Brasília: Ministério de Educação, FNDE, Disponível em: < Acesso em: 10 jan MEC-SEF. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua estrangeira. Brasília: MEC, Secretaria de Ensino Fundamental, COSTA, Elzimar Goettenauer de Marins. Lugar de aprender língua estrangeira é na escola: reflexões em torno do PNLD Revista Letras, Santa Maria, v. 21, n. 42, p , jan./jun Disponível em: < Acesso em: 8 dez