Relatos do processo de elaboração de um componente online de inglês: desafios e reflexões

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1 Relatos do processo de elaboração de um componente online de inglês: desafios e reflexões Reports on the developmental process of an English online component: challenges and reflections Bruna Lopes Scheiner Gomes 1 (UFRJ) Resumo: O presente trabalho é um relato de experiência sobre o desenvolvimento do componente on-line das disciplinas Inglês I e IV do curso de graduação da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O objetivo é descrever e analisar a fase de planejamento do ambiente virtual de aprendizagem que foi implementado por meio do projeto Letras 2.0. Algumas perguntas nortearam as reflexões. Sendo elas: Como ocorreu o planejamento de atividades e divisão de tarefas? Quais foram os papeis assumidos pela professora, assessora e monitores? Que desafios foram encontrados no planejamento do curso? Que estratégias foram usadas para superá-los? A base teórica usada para fundamentar as considerações feitas perpassa pela área de educação a distância, mais especificamente, pela literatura sobre design instrucional. Palavras-chave: Ambiente virtual de aprendizagem, Moodle, planejnamento, design instrucional, educação a distância. Abstract: The current study is an experience report about the development of an online component of the graduation disciplines English I and English IV in the Faculty of languages of the Federal University of Rio de Janeiro. The aim is to describe and analyze the planning stage of the online learning environment which was carried out by the project entitled Letras 2.0. Some questions guided the reflection such as How did the planning of activities and task management happen? Which roles did the professor, the assessor and monitors play? What challenges were faced during the course planning? What strategies were used to overcome them? The theoretical foundation used contemplates the area of distance education, specifically instructional design issues and literature. Keywords: online learning environment, Moodle, planning, instructional design, distance education. 1. Introdução As novas tecnologias de informação e comunicação (NTICs) assumem cada vez mais um papel central na sociedade contemporânea. A informatização de serviços, a popularização da Internet, o desenvolvimento e uso das redes sociais são alguns sinais da expansão e domínio das NTICs em diversas instâncias e segmentos da sociedade. A interação entre as pessoas, mais especificamente, o modo de interação, parece estar mais dinâmico. Por meio da 1 blsgomes@gmail.com Linguagens e Diálogos, v. 2, n. 2, p ,

2 comunicação on-line é possível estar em contato com várias pessoas ao mesmo tempo e de qualquer lugar do mundo. A rede mundial de computadores, ao interferir na variável espaço e tempo, permite a interação sem fronteiras, a troca de experiências, a aquisição e compartilhamento de conhecimento. As NTICs aparecem no cenário pedagógico como ferramentas de produção e divulgação de saberes, contribuindo para a expansão de redes de conhecimento. Oferecem ainda a possibilidade de criação de um espaço de convivência virtual e interação, que são fatores importantes na construção do conhecimento, representando o outro e a troca. Segundo Oliveira et. Al (2004), a Internet parecer estimular os alunos pela novidade e por oferecer a possibilidade de maximizar o aprendizado. No entanto, a intensificação do uso da Internet por professores apresenta um grande desafio. Conforme Filatro (2008) indica, a necessidade de profissionalizar aqueles que trabalham com educação a distância, mais especificamente, com o desenvolvimento de soluções para o ensino-aprendizado eletrônico ganhou força e destaque com a expansão das novas tecnologias de informação e comunicação. Para o professor, o ambiente virtual não é apenas um novo meio distinto do presencial. A educação a distância via Internet pode oferecer uma nova prática pedagógica e, ainda, um novo olhar sobre o ensino-aprendizagem. Além disso, competência de diferentes campos do saber são exigidas do professor para atuar nesse contexto como, por exemplo, educação, tecnologia, gestão, comunicação. Para elaborar um curso em um ambiente virtual de aprendizagem (AVA), essas competências também são fundamentais. 2. Fundamentação teórica Desenvolver um componente on-line de uma disciplina, além de conhecimento sobre aprendizagem e aspectos pedagógicos, deve contar com planejamento e organização. Dessa maneira, em diversos momentos recorri à área de educação a distância, mais especificamente, design instrucional, para embasar minhas ideias. Design instrucional pode ser definido como a ação intencional e sistemática de ensino que envolve o planejamento, o desenvolvimento, e a aplicação de métodos técnicas, a fim de promover, a partir dos princípios de aprendizagem e instruções conhecidos a aprendizagem humana. Em outras palavras, definimos design instrucional como o processo (conjunto de atividades) de identificar um problema (uma Linguagens e Diálogos, v. 2, n. 2, p ,

3 necessidade) de aprendizagem e desenhar e avaliar uma solução para esse problema. (FILATRO, 2008, p.3). O processo de design instrucional mais aceito atualmente divide ações educacionais em pequenas fases: análise de necessidades, projeção, desenvolvimento, implementação e avaliação da solução. Além disso, o design instrucional preocupa-se com a produção de conhecimento de forma a melhor contemplar os diferentes estilos de aprendizagem. 3. Metodologia de pesquisa O presente trabalho é fruto de uma pesquisa exploratória de base etnográfica. O contexto de pesquisa foi o projeto Letras coordenado pela professora Kátia Tavares (UFRJ) e desenvolvido pelo núcleo de pesquisa LingNet, que está inserido no Programa de Pós-graduação em Linguística Aplicada da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O projeto Letras 2.0 tem por objetivo viabilizar condições para que a Faculdade de Letras venha a oferecer disciplinas e cursos de extensão na modalidade on-line, com base na plataforma Moodle, incentivar pesquisas na área de educação a distância, oferecer oportunidade para formação docente e, futuramente, monitores que atuem on-line e auxiliar os professores na inserção das novas tecnologias nas aulas presenciais. Os participantes da pesquisa foram: a professora das disciplinas de Inglês I e Inglês IV; três monitores das disciplinas, sendo dois monitores voluntários para Inglês I e uma monitora bolsista para Inglês IV ; a assessora-pesquisadora, que é autora do presente trabalho. Como eu já havia trabalhado anteriormente com a professora durante um ano como monitora da disciplina Inglês IV. Destaco esse fato, pois acredito ter sido muito importante para o bom relacionamento/comunicação entre professora e assessora e para o desenvolvimento das atividades de Inglês IV. A fim de analisar o desenvolvimento do componente on-line das disciplinas Inglês I e IV, utilizei os seguintes instrumentos de geração de dados: Linguagens e Diálogos, v. 2, n. 2, p ,

4 s; notas de campo; entrevista por Relatos e reflexões A fim de saber as expectativas da professora para o desenvolvimento do componente on-line para as disciplinas, foi realizado um primeiro encontro presencial no dia 25/03/2011, sem a presença dos monitores. A professora mostrou-se muito entusiasmada tanto no referido encontro quanto nos s anteriores ao encontro. Ela já havia pensado em algumas atividades para o ambiente on-line e foi possível compartilhamos algumas ideias. Ao pensar em desenvolver um componente on-line para disciplinas presenciais da graduação, era necessário desenvolver atividades para esse novo ambiente. Havia um prazo previsto para disponibilizar o componente on-line para os alunos. Logo, tornou-se fundamental criar um cronograma com as atividades que precisariam ser realizadas e os prazos para uma melhor organização e planejamento dos eventos e etapas. Como a equipe era numerosa para a proposta do trabalho, era como lidar com duas equipes ao mesmo tempo: Inglês I e Inglês IV. Era preciso, portanto, assegurar-me de que pouco ou nenhum ruído atrapalharia a comunicação. Na fase de planejamento, utilizei um recurso de design instrucional denominado mapa de atividades. O mapa de atividades permite uma visualização geral do curso e das atividades e serve de instrumento para orientar a equipe de desenvolvimento instrucional. É possível traçar um panorama e expectativas para o curso a partir de informações obtidas pelo mapa. Logo, ele auxilia bastante a fase de planejamento. É claro que o mapa passou por uma série de ajustes, adaptações e alterações, fazendo com que a versão final (anexo 1) dele se diferenciasse bastante da primeira versão. A comunicação com os monitores acontecia pelo menos uma vez por semana quando eles recebiam um com a programação daquela semana. Eles não tinham acesso ao mapa de atividades completo e sim a um cronograma de tarefas (Anexo 2). As atividades eram disponibilizadas semanalmente e o objetivo era criar um enunciado para atividade sugerida e se quisessem estariam livres para sugerir outras atividades. Conforme a professora Linguagens e Diálogos, v. 2, n. 2, p ,

5 coloca na entrevista por , o propósito era que eles indicassem o que iria ser mais motivador e dessem sua opinião sobre o grau de dificuldade do que eu pretendia propor. Tendo feito isso, a assessora passaria para a professora o resultado das interações monitoresassessora e chegariam a uma versão final da atividade para que, por fim, ela pudesse ser colocada no ambiente on-line. A professora, durante as reuniões semanais com os monitores, tratava, ocasionalmente, de assuntos do projeto Letras 2.0 e procurava saber como estava o andamento do processo. Dessa forma, o diagrama a seguir representa o fluxo de comunicação entre a equipe. Ambiente On-line Figura 1 Fluxo de comunicação entre a equipe Os papeis entre os membros da equipe foi divido da seguinte maneira: os monitores ficaram responsáveis por trocar ideias com a assessora sobre as atividades e a linguagem empregada no ambiente on-line; a assessora ficou responsável por comunicar-se com os monitores, com a professora (reuniões presenciais e trocas de s) e postar conteúdo no ambiente on-line. A professora, por sua vez, comunicava-se com a assesssora, com os monitores (nas reuniões semanais e s) e fazia correções no ambiente on-line. Alguns desafios foram encontrados ao longo do planejamento do componente on-line. O primeiro deles foi a disponibilidade de horários de encontro entre professora e assessora. Para a realização dos quatro encontros presenciais, a solução foi negociar horários e dias de encontros. Tanto a assessora precisou administrar faltas com seu empregador quanto a professora fez reuniões em seu horário de almoço. Linguagens e Diálogos, v. 2, n. 2, p ,

6 Outro desafio - e eu diria o maior deles - foi a participação dos monitores de uma das disciplinas na realização das tarefas e na comunicação. O próprio monitor afirma que a comunicação entre equipe foi boa. Poderia ter sido melhor, pois infelizmente não pude responder de forma satisfatória por estar muito ocupado com o trabalho. A primeira estratégia usada foi envio de s questionando a falta de participação e notícia deles (Anexos 3 e 4). A segunda estratégia usada foi mudar o canal de comunicação. Em vez de usar o GoogleDocs para nos comunicar, trocar ideias e construir colaborativamente os enunciados das atividades como fizemos na primeira atividade, passei a usar o para troca de mensagens e arquivos. Apesar de ainda gostar mais da primeira forma de comunicação, por ser mais adequada para produzir textos colaborativamente, a estratégia que deu certo, na prática, foi a segunda. 5. Considerações finais Participando do projeto Letras 2.0 enquanto assessora pude perceber a importância do planejamento das ações e da boa comunicação entre a equipe ao desenvolver um componente on-line. Refleti também sobre as limitações e dificuldades encontradas nesse processo. Em consonância com o que pude perceber, Filatro (2008,p.6) também aponta que dividir projetos altamente complexos em componentes menores e mais administráveis permite identificar estratégias, abordagens, atividades e métodos com maior probabilidade de êxito Durante a implementação, avaliações serão feitas para repensar a elaboração dos próximos componentes on-line. Contudo, vale a pena destacar que para garantir o êxito do curso, as avaliações devem ser feitas ao longo da fase da implementação e não apenas ao final do curso. À luz dos argumentos, a organização e a comunicação são fundamentais para o andamento do trabalho. Além disso, as competências não só técnicas como pedagógicas devem ser balanceadas. É preciso ter flexibilidade ao administrar e gerenciar processos, pois é natural que nem sempre o que foi planejado saia como esperado ou que o cronograma não seja cumprido, sendo necessárias, assim, adaptações ao longo do caminho. Linguagens e Diálogos, v. 2, n. 2, p ,

7 Referências ENGESTRÖM, Y. Aprendizagem por expansão na prática: em busca de uma reconceituação a partir da teoria da atividade. Cadernos de Educação Universidade Federal de Pelotas, ano 11, n.19:31-64, jul./dez FILATRO,A. Design instrucional na prática.são Paulo. Pearson Education do Brasil OLIVEIRA, et al. Ambientes informatizados de aprendizagem. In: Novas linguagens e novas tecnologias Educação e sociabilidade. Petrópolis: Vozes, Anexos Anexo 1- Mapa de atividades final (página 1) (p Linguagens e Diálogos, v. 2, n. 2, p ,

8 (página 2) (página 3) Linguagens e Diálogos, v. 2, n. 2, p ,

9 Anexo 2 - da assessora para monitores com o cronograma de tarefas Anexo 3 - da assessora para monitores sobre a falta de comunicação Linguagens e Diálogos, v. 2, n. 2, p ,

10 Anexo 4 - da assessora para monitores sobre a falta de participação Recebido em 02/08/2011. Aprovado em 26/09/2011. Linguagens e Diálogos, v. 2, n. 2, p ,

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