A DEMANDA POR ENERGIA ELÉTRICA RESIDENCIAL NO BRASIL: ESTIMATIVA DAS ELASTICIDADES RENDA E PREÇO APÓS O APAGÃO
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- Benedito Cruz Álvares
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1 XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de A DEMANDA POR ENERGIA ELÉTRICA RESIDENCIAL NO BRASIL: ESTIMATIVA DAS ELASTICIDADES RENDA E PREÇO APÓS O APAGÃO Roberta Montello Amaral (PUC-Rio) amaralroberta@yahoo.com.br Márcia Valéria de Sá Portal Monteiro (UCAM-Campos) m.portal@terra.com.br Sabe-se que o setor de energia elétrica é estratégico para o desenvolvimento de um país e, também, que o apagão de 2001 provocou mudanças no seu padrão de consumo. Mas, quando se pensa em projeção de demanda, para que seja possível avaliiar a necessidade de expansão da capacidade de geração de energia elétrica do Brasil já não existe tanta certeza. Têm-se dúvidas, por exemplo, quanto à magnitude atual das elasticidades preço e renda da economia com relação ao consumo de energia elétrica residencial; não se sabe, ao certo, se as alterações, após o ano de 2000, foram pontuais ou mudaram permanentemente as características de demanda de energia. Tentando responder a estas questões, este artigo tem, portanto, o objetivo de apresentar estimativas atualizadas de elasticidades renda e preço de energia elétrica, subsetor residencial, para que sirvam de auxílio à projeção de sua curva de demanda esperada. Adicionalmente, averigua se o consumo se alterou de forma permanente após Após a investigação apurou-se que aumentos de tarifa de 1% geram queda de 0,43% no consumo e, após 2001, incrementos de 1% na renda per capita têm como reflexo elevação de 0,61% na quantidade demandada de energia elétrica do subsetor residencial. Palavras-chaves: elasticidade-renda; elasticidade-preço; Energia Elétrica
2 1. Introdução Desde os finais dos anos 90, a geração de energia elétrica tem sido tema de várias discussões. Independentemente da opinião de cada especialista, quanto ao fato de a capacidade instalada de geração de energia elétrica estar sub ou superestimada, é fato de que se trata de um setor estratégico que, se mal dimensionado, pode dificultar o crescimento econômico. O tema ganhou destaque nas mesas de discussão nacionais e internacionais quando se verificou, depois de um atípico ano de 1999 e início de 2000, que havia necessidade de se iniciar um plano de racionamento de energia e, adicionalmente, dever-se-ia incentivar a geração de eletricidade a partir de fontes alternativas, como as usinas termelétricas. O racionamento passou, não houve apagão, tendo sido ressaltada, à época, a grande contribuição do subsetor residencial, um dos grandes responsáveis pelo sucesso do plano de controle de consumo. Não voltou a ocorrer uma estiagem tão significativa nos últimos anos, mas a discussão, quanto à necessidade de ampliação da capacidade de geração de energia elétrica no Brasil persiste. No entanto, um importante item que tem ficado à margem da discussão e que é de vital importância para se dimensionar corretamente a necessidade de geração de energia do país, é a determinação, de forma mais precisa possível, da sua demanda. Neste sentido, este artigo tem o objetivo de auxiliar a correta projeção da demanda de energia elétrica residencial, calculando os coeficientes atualizados para a elasticidade-renda e a elasticidade-preço do setor, considerando-se apenas os consumidores residenciais. Para tanto, parte da hipótese de que as características de consumo (mais especificamente a elasticidaderenda), foram afetadas no período pós racionamento. Para apresentação dos resultados, este artigo é dividido em quatro seções além desta introdução: histórico, consumo de energia elétrica, modelagem de trabalho e conclusões. A metodologia de cálculo segue o método de Mínimos Quadrados Ordinários (MQO), seguindo o modelo proposto na dissertação de mestrado de Monteiro (2008). 2. Histórico Até o início da década de 50, a política cambial era o único instrumento de política econômica que o governo brasileiro utilizava na tentativa de regular a economia. Altamente dependente das exportações de café, que alimentavam a riqueza das classes sociais brasileiras mais elevadas, o câmbio e as políticas de controle de estoques através da regulação da oferta espelhavam o grau de atraso em que a nação estava mergulhada. Com um pequeno, senão praticamente inexistente, parque industrial, a economia brasileira era basicamente pautada na exportação de produtos primários. A partir de um diagnóstico da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL) que identificou como problemas do continente a relação de trocas comerciais desiguais e a inexpressividade do seu mercado consumidor interno, o governo do presidente Juscelino Kubitshek (JK), no final dos anos 50, viabilizou uma série de investimentos em infraestrutura em 5 principais áreas: energia, transporte, alimentação, indústrias de base e educação, segundo distribuição apresentada na Tabela 1. 2
3 Setor % Responsável investimento Energia 42,4 SETOR PÚBLICO Transporte 28,9 SETOR PÚBLICO Ind. Básica 22,3 SETOR PRIVADO OU FINANCIAMENTO POR ENTIDADES PÚBLICAS Alimentaçã 3,6 o Educação 2,8 SETOR PÚBLICO Fonte: ABREU (1992) Tabela 1: Plano de Metas: Estimativa de Investimento Era a materialização do pensamento de PEGO FILHO et al. (1999): não há crescimento econômico sustentável sem a existência de infra-estrutura eficiente e eficaz, que atende a objetivos diversos: viabiliza o produto potencial; integra toda a população à economia nacional, por meio de modais de transportes e sistemas de comunicações eficientes que interliguem, de fato, as regiões do país; e minimiza desperdícios de recursos, ao otimizar sua utilização, entre outros. É fato que investir em infraestrutura afeta diretamente a produtividade geral da economia, o crescimento econômico e o bem-estar da população. Posteriormente, no período do milagre brasileiro (década de 70), manteve-se a política de investimento em infraestrutura, tendo sido o período de maior desenvolvimento das empresas estatais. Com a perda de capacidade de honrar sua dívida externa, e consequentemente do acesso a crédito, nos anos 80, os investimentos públicos brasileiros foram substancialmente reduzidos. A partir de 1985 o PIB voltou a crescer, enquanto os investimentos das estatais continuaram caindo, e, em 1990, chegaram a um terço do que eram em Na primeira metade dos anos 90, a queda dos investimentos foi ainda maior: passaram de US$ 11 bilhões em 1990 para US$ 9,3 bilhões,em 1995, o que baixou sua relação com o PIB de 3,0% para 1,5%, respectivamente. (PEGO FILHO, 1999) Com a falta de investimentos, todo o setor público foi afetado, inclusive o setor de geração de energia elétrica. Isto causou reflexos em todo o setor industrial, dependente da energia como insumo para produção de bens manufaturados. A entrada em operação de Itaipu e Tucuruí e a redução da capacidade de gerar recursos próprios do sistema Eletrobrás contribuíram para a queda significativa dos investimentos, que alcançaram cerca de US$ 19,5 bilhões nos anos 90, comparados aos US$ 75,1 bilhões da década anterior. Como conseqüência, houve queda da taxa de expansão média da capacidade instalada que, na década de 90, foi de 3,3% contra 4,8% na década de 80. Entre 1995 e 2000, o acréscimo médio da capacidade instalada do setor elétrico foi de 3,8%. (PEGO FILHO, 2001) O resultado da queda dos investimentos e da recessão dos anos 90 foi um programa de obras de geração de energia elétrica praticamente inexistente. Somou-se a este cenário a vontade de diminuir o tamanho do setor público brasileiro (resultado da aplicação das políticas neoliberais de privatização das empresas estatais), o que implicou em uma variação pouco relevante da capacidade de geração de energia elétrica. Assim, os investimentos neste setor acabaram deixando de acompanhar o crescimento da demanda. Segundo aponta estudo do IPEA, nos últimos 20 anos, o crescimento do consumo (exceto nos 3
4 anos de 93 e 94) esteve sempre acima do PIB: na década de 80, o consumo total de energia elétrica cresceu a uma taxa média de 5,9%aa enquanto o PIB cresceu, em média, 1,6% aa; já nos anos 90, o consumo cresceu a uma taxa média de 4,1%aa contra 2,6%aa da média do PIB. Deste modo, evidenciou-se um sério desequilíbrio entre a capacidade de oferta de energia elétrica e a necessidade de consumo, desequilíbrio este materializado com a crise do setor elétrico que impôs a todos a necessidade de reduzir o consumo em 20%. 3. Consumo de Energia Elétrica No Brasil, o consumo de energia elétrica é acompanhado pela Eletrobrás desde A partir do ano de 1964, dispõe-se de uma base de dados em que este setor é dividido em quatro subsetores: residencial, comercial, industrial e outros. A Figura 1 apresenta a evolução, de 1964 até 2008, destes valores: Residências Comércio Indústria Outros Total Figura 1 Consumo Anual de Energia Elétrica no Brasil (GWh) Fonte: ipeadata O que se pode perceber é que, ao longo destes 45 anos de acompanhamento, o consumo total de energia elétrica, no país, cresceu mais de 16 vezes, o que significa um incremento médio anual de pouco mais de 6,6% aa. Por subsetor, há pequenas variações em torno desta média de crescimento, de modo que nenhum deles apresentou variação média anual inferior a 6,3% aa. Mas as variações de consumo não costumam estar uniformemente distribuídas ao longo do tempo, já que dependem de uma série de fatores, como a renda média do país, o preço da energia, o estoque de eletrodomésticos existente, a capacidade instalada da indústria, o nível de atividade da indústria, o preço de seus substitutos (somente na indústria), etc. A Figura 2 apresenta as mudanças nas taxas de variação anual do consumo de energia elétrica no Brasil: 4
5 % 15% 10% 5% 0% -5% -10% Valor observado Média Figura 2 Variação Anual do Consumo de Energia Elétrica no Brasil (%) O que se pode perceber é uma forte correlação com o nível de atividade econômica do País. Nos anos do milagre brasileiro (década de 70) as taxas eram mais elevadas, ultrapassando uma média de 11% aa tendo apresentado histórico pico de 17,5% de variação entre 1970 e A partir da segunda metade dos anos 80, as médias históricas mantiveram-se em patamares bem menores, chegando ao vale histórico de -7,9% em 2001, ano do apagão no setor elétrico. 14,2% 45,7% 24,2% 15,8% Residências Comércio Indústria Outros Figura 3 Composição do Consumo por Subsetor 2008 (%) Um dos subsetores de maior importância, neste segmento, é o residencial, conforme aponta a Figura 3. Foi ele que parece ter sido o mais afetado com a ocorrência do apagão, pois foram os próprios consumidores residenciais que foram conclamados pelo presidente, à época, Sr. Fernando Henrique Cardoso, a contribuir para remediar o problema de incapacidade do país de incrementar, naquele ano, a oferta de energia, dado o baixo volume histórico de investimentos no setor e o baixo volume de chuvas no verão de 2000/2001 (o sistema de geração de energia elétrica, no Brasil, é basicamente composto por hidrelétricas que dependem de um certo volume de água nos seus reservatórios para que sejam capazes de gerar energia elétrica compatível com a capacidade de produção de cada usina). Em 2008, o subsetor residencial respondia por quase 1/4 da demanda de energia do país. Apesar de este ser um percentual relativamente estável, ele também sofreu variações ao longo 5
6 do tempo, conforme demonstra a Figura 4, a seguir: 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% Figura 4 Evolução da Representatividade do Subsetor Residencial no Consumo de Energia Elétrica Brasileiro (%) Claramente a média de representatividade das residências manteve-se em patamares próximos a 20, 22% até a metade dos anos 80, mas começou a apresentar sinais de mudança de patamar até 2000, quando decresceu e voltou a mostrar sinais de estabilidade, mas num patamar mais elevado, próximo aos 25%. Isso nos faz acreditar em dois aspectos que serão investigados na seção a seguir: a) De 1985 a 1998/1999, há uma tendência de aumento da representatividade do subsetor; b) A partir de 2000, reverte-se esta tendência de crescimento e verifica-se uma diminuição da participação relativa das residências. Como já foi indicado anteriormente, este trabalho parte da seguinte hipótese para explicar estes dois comportamentos: o consumo médio residencial perdeu força a partir de 2001 porque, devido à meta de redução estabelecida pelo setor público no ano do apagão, tornouse mais eficiente, fazendo com que as famílias percebessem que poderiam otimizar seus gastos de recursos com energia elétrica. Adicionalmente, após esta investigação inicial, decidiu-se avaliar, também, se o consumo médio residencial ganhou espaço da indústria nos anos 80 e 90, o que poderia ser explicado pela estagnação dos investimentos públicos e privados decorrentes da falta de estabilidade econômico-financeira do país. 4. Modelagem de Trabalho Conforme já apontado na introdução, este trabalho destina-se a verificar o cálculo das elasticidades renda e preço de energia elétrica, atualizando os modelos apresentados por Modiano (1984) e Andrade & Lobão (1997). Deseja-se verificar se estas elasticidades mantiveram-se constantes ao longo do tempo e, adicionalmente, averiguar se, realmente, as mudanças dos anos 80, 90 e 2000 podem ser comprovadas com cálculos estatísticos. Inicialmente desenhadas por Paul Douglas e Charles Cobb, para estudar o comportamento da produção e, depois, com seu uso estendido para as funções utilidade, muito úteis em estudos microeconômicos (VARIAN, 2006), as funções do tipo Cobb-Douglas também servem para se fazer cálculo de elasticidade. Apresentam a seguinte forma funcional: 6
7 Y i = X 1i.X 2i β Estas funções são adequadas para a representação de modelos com variação exponencial ao longo do tempo e são de extrema utilidade quando se trata de assuntos econométricos porque sua forma é facilmente linearizável. Para tanto, basta aplicar logaritmo que se chega à seguinte equação: Ln Y i = ln X 1i + ln X 2i Esta última forma se parece bastante com a de equações estimadas por modelos de regressão linear múltipla se considerarmos Ln Y i uma variável dependente e ln X 1i e ln X 2i variáveis independentes. Modiano (1984) parte da hipótese de que a demanda de energia elétrica, independentemente de seu subsetor, varia conforme a seguinte equação: log q i = a 0i + a 1i log y + a 2i log pi Onde: i = 1, 2, 3 e 4 (representando os 4 subsetores); a 1i > 0; a 2i < 0; q i : demanda de energia elétrica do subsetor i; p i : tarifa média real para a classe consumidora; y: renda real da economia. Andrade & Lobão (1997) acrescentam uma nova variável independente ao subsetor residencial: Assim, sugerem o seguinte modelo: Com relação ao comportamento da demanda residencial ao longo do tempo, considera-se que o mesmo seja influenciado por três variáveis fundamentais: a tarifa cobrada pelo serviço, a renda familiar e o estoque domiciliar de aparelhos eletrodomésticos. Teoricamente, espera-se que o consumo reaja negativamente aos aumentos de tarifa e, positivamente, aos aumentos de renda e do estoque de eletrodomésticos Ct = K P t Y t E t K > 0, < 0, > 0 e > 0 Onde: K > 0; < 0; > 0; > 0; C t : consumo residencial de energia elétrica no tempo t; P t : tarifa residencial de energia elétrica no tempo t; Y t : renda familiar no tempo t; E t : estoque domiciliar de aparelhos eletrodomésticos no tempo t. Em função do que foi observado na seção 3 deste trabalho e dos modelos anteriores de Modiano (1984) e de Andrade & Lobão (1997), nesta seção será apresentada a estimativa dos parâmetros da seguinte equação: C t = k.p t.y t β+ d1t+ d2t.e t (k > 0, < 0, β > 0, > 0, ) Que equivale à seguinte função linearizada: 7
8 Ln C t = lnk + ln P t + ( + d1 t + d2 t ) ln Y t + ln E t 8
9 Onde: C t : consumo de energia elétrica; P t : tarifa residencial; Y t : renda; E t : preços de eletrodomésticos; d1 t : variável dummy, sendo d = 0, quando t < 2001 e d = 1, quando t d2 t : variável dummy, sendo d = 0, quando t < 1985 ou T > 1999 e d = 1, quando 1985 t Ou, simplificando a representação: C t * = K* + Pt* + ( + d1 t + d2 t ) Yt* + E t * De modo que as variáveis caracterizadas por * referem-se ao logaritmo neperiano das variáveis originais do modelo. Mas nem todas as variáveis são observáveis ou comparáveis ao longo do tempo e, por isso, são necessários ajustes ou o uso de proxys que permitam avaliar o que se deseja. Deste modo, para representar cada uma das variáveis foram escolhidas as seguintes séries e fontes: Representação Variável Metodologia de Cálculo Séries Coletadas Unidade Fonte (Conforme IPEADATA)* Ct Consumo de energia elétrica residencial per capita razão entre o consumo residencial total de energia elétrica e o número total de consumidores residenciais Consumo - energia elétrica - residência - qde. População residente - 1º de julho GWh Habitante Eletrobrás - ELETRO_CEERES IBGE/Pop - DEPIS_POP Pt Preço de energia elétrica residencial tarifa residencial média em valores reais de 1994 Consumo - energia elétrica - residência IGP-DI - geral - índice tarifa média por MWh - R$ ago = 100 Eletrobrás - ELETRO_CEETRE S FGV/Conj. Econômica - IGP_IGP Yt PIB per capita PIB per capita PIB per capita (preços 2009) R$ de 2009(mil) IPEA - GAC_PIBCAPR Et preços de eletrodomésticos preços de eletrodomésticos em valores reais de julho de 1994 IPA-OG - eletrodomésticos IPC - geral - índice - RJ ago = 100 ago = 100 FGV/Conj. Econ. - IGP antigo - IGP12_IPA0582 FGV/Conj. Econ. - IGP - IGP_ICVRJ *O banco de dados utilizado para a coleta dos valores históricos foi o ipeadata ( Tabela 2: Variáveis do modelo e fontes Vale a pena, antes de continuar com o estudo, verificar o comportamento das variáveis consideradas (as variáveis são apresentadas a partir de 1974, porque somente a partir deste 9
10 ano há informações disponíveis para tarifa de energia elétrica): consumo per capita tarifa deflac PIB-perc. Eletrodom. Figura 5 Evolução do Consumo de Energia Elétrica per Capita, tarifa deflacionada, PIB per capita e Preço dos Eletrodomésticos deflacionados 1974 a 2008 índice de Base fixa (1974 = 100) O que se pode perceber é que o consumo per capita parece ter um comportamento de alta que mudou de patamar a partir de 2000, conforme análise anteriormente indicada. O preço dos eletrodomésticos também merece ser observado, pois apresenta forte queda nos 35 anos avaliados, representando, em 2008, menos de 5% do valor de O método aplicado para se fazer a estimativa dos valores foi o método de MQO. Foi encontrada a seguinte equação para os dados anuais de 1974 a 2008 (35 observações para cada variável): = 7,20 - Pt* + ( - 0,12d1 t + 0,004d2 t ) Yt* - 0,28 E t * (t) (5,66) (-3,89) (2,18) (-1,15) (0,06) (-8,71) O modelo apresentou um coeficiente de determinação (R 2 ) elevado (0,96), indicando que as variáveis escolhidas respondem por aproximadamente, 96% da variação do consumo. O teste de significância global F apontou uma estatística F calculada de 141, 28, indicando que existe, pelo menos, um parâmetro estatisticamente válido. No entanto, a baixa representatividade de d2 indica que a mesma deve ser desconsiderada. Assim, foi calculado um novo modelo desconsiderando-se esta variável, tendo-se chegado à seguinte equação: = 7,23 - Pt* + ( - 0,12d1 t ) Yt* - 0,28 E t * (t) (6,38) (-5,14) (2,22) (-2,00) (-11,13) Para este novo caso, trabalhando-se com confiança de 94%, aceita-se como estatisticamente válidos todos os parâmetros calculados. O modelo continua apresentando teste de significância global satisfatório e R 2 elevado (0,96). Quanto às possíveis violações do modelo de MQO, fazem-se os seguintes comentários: as variáveis independentes apresentam forte correlação (-0,61 entre Pt e Yt; 0,52 entre Pt e Et; - 0,81 entre Yt e Et), no entanto, este não parece afetar significativamente as estimativas, uma vez que todas foram estatisticamente válidas; com relação à possibilidade de existência de autocorrelação, a estatística de durbin-watson, DW, para este modelo foi de 1,74, valor que, somado ao fato de estarmos lidando com uma série do tipo cross-section, indica que não se 10
11 trata de um problema relevante; com relação a possíveis problemas de heterocedasticidade, se trabalharmos com o teste de White e 99% de certeza, o teste é rejeitado, indicando que se trata de um modelo homocedástrico. Assim, admite-se que a equação encontrada não viola os pressupostos básicos do modelo de MQO e pode ser utilizada como uma boa aproximação do comportamento de consumo residencial de energia elétrica. A equação encontrada é bastante interessante porque indica que, a cada acréscimo de 1% no preço da tarifa, o consumo cai 0,43%, a cada acréscimo de 1% no preço dos eletrodomésticos, o consumo diminui 0,28%, até 2000, o acréscimo de 1% na renda elevava o consumo em 0,74%, mas após o apagão este percentual caiu para 0,61%. Estes resultados devem ser comparados com os resultados de Modiano (1984) e Andrade & Lobão (1997): Modelo Período Elasticidade Preço Elasticidade Renda (até 2000) Elasticidade Renda (após 2000) Modiano 1963 a ,403 1,130 n/a Andrade & Lobão 1963 a ,051 0,213 n/a Amaral & Monteiro 1974 a ,431 0,735 0,613 Tabela 3: Resumo das Estimativas das Elasticidades A análise da tabela 2 aponta alguns aspectos interessantes: os valores agora estimados parecem muito mais consistentes com o modelo encontrado por Modiano, em 1984, tendo apresentado pouca variação na magnitude da elasticidade-preço e os mesmos sinais para todos os coeficientes. Adicionalmente, os valores para elasticidade-renda são muito mais condizentes com a expectativa de elasticidade de consumo de um bem como eletricidade do que os encontrados por Andrade & Lobão. Por fim, ressalta-se que o modelo realmente aponta para uma redução na elasticidade-renda após o apagão, sugerindo que as famílias tornaram seu consumo mais eficiente, reduzindo a despesa com eletricidade e destinando sua renda a outras fontes de consumo e/ou poupança. Conforme relacionam FONSECA (2008) apud MONTEIRO (2008) e CASTRO & ROSENTAL (s.d.), o consumo de energia elétrica vem apresentando mudanças significativas em função do ganho de eficiência energética dos aparelhos eletrodomésticos. O consumidor atual leva em consideração, também, aparelhos classificados como A pelo selo PROCEL e isto deveria ser considerado em estudos de cálculo de elasticidade como este. No entanto, ainda não utilizamos uma proxy para este efeito por dois motivos: não existe uma base de dados confiável que retrate este efeito e este movimento ainda não é fortemente sentido na economia, pois a substituição do estoque de aparelhos ineficientes ainda está em andamento e deve demorar mais alguns anos até que afete, substancialmente, os coeficientes aqui estimados. Mas, para estudos futuros recomenda-se que se busque avaliar o efeito do ganho de eficiência do consumo de energia elétrica dos eletrodomésticos, considerando-se, principalmente, aqueles aparelhos com maior grau de consumo (e.g. geladeiras, freezers, aparelhos de ar condicionado). Os resultados aqui encontrados corroboram a ideia de que houve mudança no perfil do consumo e que este deve ser incorporado às projeções de consumo dos próximos anos, pois, caso não se atente para estas mudanças, é possível que se estimem necessidades de geração de energia elétrica bastante superiores às exigidas. Destacam CASTRO & ROSENTAL (s.d.): 11
12 Como resultado dessa tendência de redução da demanda de energia elétrica pode-se assinalar, do ponto de vista qualitativo, que as projeções de aumento da demanda e oferta de energia elétrica ainda estão levando em consideração uma elasticidade-renda da demanda de energia elétrica superior a 1. Por exemplo, estudo recente publicado pelo IPEA (PÊGO & CAMPOS NETO, 2008) concluiu que os projetos de ampliação da capacidade geradora serão insuficientes para atender a demanda de energia elétrica. Esta conclusão perde fundamentação na medida em que o estudo adota como elasticidaderenda da energia elétrica em relação ao PIB o valor de 1,3. Implica dizer que para a projeção de crescimento do PIB de 5% no período, a demanda de energia elétrica terá um crescimento de 6,5%. E analisando os projetos de construção de usinas geradoras e o parque instalado, conclui que não haverá há oferta suficiente, sinalizando crise de abastecimento de energia elétrica. É claro que este trabalho trata apenas do segmento residencial e, portanto, deve-se avaliar, também, o impacto pós- apagão nos demais setores antes de se trabalhar na projeção de consumo de energia elétrica com os parâmetros aqui estimados. 5. Conclusões Após a aplicação da metodologia descrita no início da seção Modelagem de Trabalho, pode-se verificar que, para os dados de 1974 a 2008, podemos estimar a seguinte equação que descreve o consumo de energia elétrica do subsetor residencial no Brasil: C t = 1380,22.P t -0,43.Y t 0,74-0,12d.E t -0,28 Ou: Ln C t = 7,23 0,43 ln P t + ( - d) ln Y t - 0,28 ln E t Onde: C t : consumo de energia elétrica previsto para o ano t; P t : tarifa residencial; Y t : renda; E t : preços de eletrodomésticos; d: variável dummy, sendo d = 0, quando t < 2001 e d = 1, quando t Este resultado mostra-se conforme o esperado em termos de sinal para as três elasticidades calculadas: negativo para preço de tarifa e dos eletrodomésticos e positivo para renda. Em relação à magnitude dos parâmetros, os valores são bastante parecidos com os encontrados por MODIANO (1984) e com a expectativa dos estudos pesquisados. Chama a atenção o fato de termos encontrado, adicionalmente, uma queda na elasticidade-renda, após o ano de 2000, indicando que a curva de demanda de energia elétrica tornou-se mais inelástica, ou seja, até 2000, em média, incrementos de 1% na renda representavam incrementos de 0,74% de crescimento da demanda de energia elétrica residencial. Mas, após 2000, este percentual caiu para 0,61%, indicando que as pessoas implementaram mudanças no consumo que foram incorporadas não apenas na época de racionamento, tornando a utilização da energia elétrica residencial mais eficiente. Este resultado é de extrema importância porque deve ser levado em consideração para as futuras projeções de demanda do setor. Apesar de o objetivo deste trabalho ter sido plenamente atendido, a metodologia aqui proposta não pretende esgotar a discussão a respeito do tema e, portanto, sugerem-se novos estudos no sentido de avaliar se o mesmo efeito foi verificado nos demais subsetores (indústria e comércio), averiguar a diferença que o crescimento do estoque de eletrodomésticos mais eficientes traz às elasticidades ou investigar se existe diferença nos valores das elasticidades entre as diferentes regiões geográficas do Brasil. 12
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14 Referências ABREU, M. de P. (org), A Ordem do Progresso: cem anos de política econômica republicana , Rio de Janeiro: Ed. Campus, ANDRADE, T.; LOBÃO, W.; Elasticidade Renda e Preço da demanda Residencial de Energia Elétrica no Brasil, Texto para Discussão nº 489, IPEA, Rio de Janeiro, CASTRO, N. J. de; ROSANTAL, R.; Nova tendência para a Elasticidade-Renda da Demanda de Energia Elétrica no Brasil; Rio de Janeiro, IFE, sem data. FONSECA, D. de J. V.; Comportamento do Consumo Residencial de Energia Elétrica no Âmbito da Concessionária Escelsa, Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro, UCAM, GUJARATI, D.N.; Econometria Básica. São Paulo: Makron Books, ª edição. MODIANO, E. M., Elasticidade Renda e Preços da Demanda da Energia Elétrica no Brasil, Texto para discussão nº 68, Rio de Janeiro: Departamento de Economia da PUC-RJ, 1984 MONTEIRO, M. V. de S. P.; A Demanda por Energia Elétrica Residencial no Brasil: Estimação das Elasticidades Preço e Renda. Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro, UCAM, PÊGO FILHO, B.; CÂNDIDO JÚNIOR, J.O.; PEREIRA, F; Investimento e Financiamento da Infraestrutura no Brasil: 1990/2002, Texto para Discussão nº 680, Rio de Janeiro: IPEA, PÊGO FILHO, B. et al.; Impactos Fiscais da Crise de Energia Elétrica: 2001 e 2002, Texto para Discussão nº 816, Rio de Janeiro: IPEA, PÊGO, B.; CAMPOS NETO, C. A. da S.; O PAC e o setor elétrico: desafios para o abastecimento do mercado brasileiro ( ). Texto para Discussão nº 1329 Rio de Janeiro: IPEA, SKIDMORE, T.; Brasil: de Castelo a Tancredo, Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 1988, 4ª edição. VARIAN, H. R.; Microeconomia: Princípios Básicos, Rio de Janeiro: Ed. Elsevier, 2006, Tradução da 7ª edição, 8ª reimpressão. 14
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