CÉLIO MARQUES DA SILVA

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1 APELAÇÃO CÍVEL Nº ( ) COMARCA IPAMERI APELANTE CÉLIO MARQUES DA SILVA APELADO CARTÓRIO DE REGISTRO CIVIL DE IPAMERI RELATORA Desembargadora Sandra Regina Teodoro Reis RELATÓRIO Trata-se recurso apelatório interposto por CÉLIO MARQUES DA SILVA contra sentença 1 proferida pela MMª Juíza de Direito da Vara das Fazendas Públicas, Registros Públicos, Crime, Ambiental, Família e Sucessões e 2º Cível da comarca de Ipameri, Dra. Maria Antônia de Faria, nos autos da ação de retificação de certidão de casamento aforada com o escopo de alterar a profissão declinada em seu assentamento de matrimônio, que julgou improcedente o pleito exordial, com arrimo no art. 269, I do CPC. Irresignado, interpôs o insurgente a presente súplica recursal 2 estribado na alegação de que o édito sentencial objurgado carece reforma, visto que (...) nunca exerceu a profissão de motorista, sempre exerceu a profissão de lavrador, pois 1 Vide fls. 32/35 2 Vide fls. 39/43 1

2 nasceu, cresceu e sempre trabalhou no meio rural (...) 3. Assevera que (...) a profissão do apelante foi um erro, e se é um erro pode ser retificado sim, vez que ficou comprovado nos autos o erro cartorário (...) 4. Argumenta que (...) não pediu a retificação há muito tempo atrás conforme diz a sentença por falta de conhecimento jurídico (...) 5, acrescentando, ainda, que existem nos autos elementos suficientes a demonstrar seu labor no meio rural. Colaciona julgados em reforço às suas alegativas, pugnando, ao final pelo conhecimento e provimento da insurgência, ao fito de reformar o édito sentencial nos termos alhures expendidos. gratuita. Ausente preparo, porquanto beneficiário da justiça Em juízo de admissibilidade, manteve a ilustre sentenciante incólume o provimento jurisdicional verberado 6. Instada, absteve-se a douta Procuradoria de Justiça de opinar no feito, pressuposta ausência de interesse público a justificar 3 Vide fl Vide fl Vide fl Vide fl. 44 2

3 sua atuação 7. É o relatório. Ao ínclito revisor. Goiânia, 21 de março de Desembargadora Sandra Regina Teodoro Reis Relatora 7 Vide fls. 49/51 3

4 APELAÇÃO CÍVEL Nº ( ) COMARCA IPAMERI APELANTE CÉLIO MARQUES DA SILVA APELADO CARTÓRIO DE REGISTRO CIVIL DE IPAMERI RELATORA Desembargadora Sandra Regina Teodoro Reis VOTO recurso, dele conheço. Presentes os pressupostos de admissibilidade do Consoante relatado, cuida-se de apelação cível manejada por CÉLIO MARQUES DA SILVA contra sentença 8 prolatada pela MMª Juíza de Direito da Vara das Fazendas Públicas, Registros Públicos, Crime, Ambiental, Família e Sucessões e 2º Cível da comarca de Ipameri, DRA. MARIA ANTÔNIA DE FARIA, nos autos da ação de retificação de certidão de casamento aviada com a finalidade de modificar a profissão declinada em seu registro matrimonial, que julgou improcedente o pleito exordial, com arrimo no art. 269, I do CPC. Funda a insurgência a tese alusiva à manifesta ocorrência de erro em seu registro civil, sobretudo em razão do acervo probatório jungido ao processado, hábil a ensejar a modificação 8 Vide fls. 32/35 4

5 pleiteada. Compulsando os autos, visa o apelante a reforma de predito provimento jurisdicional que julgou improcedente o pleito inaugural, ao argumento de que o instituto da retificação de registro civil tem por objetivo a correção de erros essenciais à constituição dos atos e não dados transitórios (profissão). Da percuciente análise do caderno processual, tenho que o entendimento sufragado no provimento jurisdicional verberado não prospera. Consabido que a Lei n , de 31 de dezembro de 1973 (Lei de Registros Públicos), aplicável ao caso em apreço, dispõe em seu art. 109 sobre o pedido de retificação de registro civil, nos seguintes termos: "Art Quem pretender que se restaure, supra ou retifique assentamento no registro civil, requererá, em petição fundamentada e instruída com documentos ou com indicação de testemunhas, que o juiz o ordene, ouvido o órgão do Ministério Público e os interessados, no prazo de 5 (cinco) dias, que correrá em cartório." 5

6 Cumpre ressaltar ser o princípio da veracidade norteador dos registros públicos, devendo, dessa forma, espelhar a realidade, conferindo publicidade a situações efetivas e reais. Assim, uma vez evidenciada a inexatidão dos assentamentos, imperativa sua retificação. No caso em tela, infere-se que o autor/recorrente acostou ao processado acervo probatório hábil a comprovar seu labor como trabalhador rural, precisamente no que diz com a declaração de óbito e certidão eleitoral 9, contemporâneos à data do equivocado registro consignado em sua certidão de casamento que objetiva retificar 10. Convém, para melhor elucidação da questão, consignar a existência de provas testemunhais produzidas por meio de recurso audiovisual a corroborar as afirmações declinadas pelo insurgente, em relação à profissão por ele exercida 11. Assim, analisando as provas acima reproduzidas, força convir que houve interpretação equivocada dos fatos, afastando-se da veracidade inerente aos registros públicos. desta egrégia Corte: Neste sentido, confira-se os seguintes precedentes 9 Vide fls. 09/10 10 Vide fl Vide fl. 28 6

7 APELAÇÃO CÍVEL. RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL. ERRO NA DECLARAÇÃO DA PROFISSÃO NO REGISTRO DE ÓBITO. PROVA TESTEMUNHAL. ADMISSIBILIDADE. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. I- A Lei nº 6.015/73 ( Lei de Registros Públicos), prevê em seu artigo 109 a possibilidade de retificação de assentamento no registro civil, através de requerimento em petição fundamentada e instruída com documentos ou com indicação de testemunhas, quando existente erro ou equívoco no registro, que não corresponda com a verdade dos fatos. II- Caracterizado o erro quanto a profissão do esposo da apelante constante de sua certidão de óbito, e comprovado a condição de 'lavrador', conforme depoimentos das testemunhas, a sua retificação é necessária, por refletir a veracidade dos fatos. APELAÇÃO CONHECIDA E PROVIDA. (TJGO, 6ª CC, AC nº , Rel. Des. Fausto Moreira Diniz, publ. DJe nº 56 de 23/01/2012). APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL. CERTIDÃO DE ÓBITO. PROFISSÃO. ERRO DEMONSTRADO. PRINCÍPIO 7

8 DA VERACIDADE. Os registros públicos devem retratar a realidade, de modo que, alegado e comprovado o equivoco no registro civil de óbito, em relação à profissão exercida pela pessoa falecida, deve ser acolhido o pedido formulado, ainda que a prova apresentada seja exclusivamente testemunhal. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO (TJGO, 5ª CC, AC nº , Rel. Dr. Marcus da Costa Ferreira, publ. DJe nº 1139, de 5/9/2012) APELAÇÃO CÍVEL. RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL. PROFISSÃO NO ASSENTAMENTO DE CASAMENTO. PROVA TESTEMUNHAL. ADMISSIBILIDADE. EQUÍVOCO COMPROVADO. POSSIBILIDADE DE RETIFICAÇÃO. I O procedimento de retificação de registro civil disciplinado no artigo 109 da lei 6.015/73, admite a produção de prova exclusivamente testemunhal para amparar o requerimento, máxime em se tratando de comprovar a condição de trabalhador rural o qual na maioria das vezes não possui documentação para comprovar o exercício da atividade. II - Um dos princípios que norteiam os registros 8

9 públicos é o da veracidade, devendo o registro espelhar a realidade, conferindo publicidade a situações efetivas e reais. desta feita, uma vez demonstrada a inexatidão dos registros, cabe a sua retificação. APELAÇÃO CONHECIDA E PROVIDA. (TJGO, 1ª CC, AC nº /188, Rel. Dr. Donizete Martins de Oliveira, publ. DJ 350 de 8/6/2009). Cumpre acrescentar, por pertinente, que eventual finalidade previdenciária não constitui óbice à postulação retificatória em apreço, visto que o próprio órgão responsável (INSS) pode requisitar outros documentos além do registro de casamento para fins de comprovação da atividade laboral exercida pelo requerente, lançando mão dos procedimentos necessários à obtenção do benefício previdenciário 12. Por se tratar de procedimento de jurisdição voluntária, com participação obrigatória do Ministério Público, no qual não há lide nem partes, mas tão somente interessados, não há falar em sucumbência em sede de ação de retificação de registro civil em que se objetiva a modificação de profissão do postulante em certidão de casamento. 12 "APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL. EQUÍVOCO NA DECLARAÇÃO DA PROFISSÃO DO NUBENTE NO ASSENTAMENTO DE CASAMENTO. (...) 3 - A finalidade previdenciária não se constitui em pressuposto para o indeferimento da retificação. APELO CONHECIDO E IMPROVIDO." (TJGO, 4ª CC, AC nº /188. Rel. Des. Carlos Escher, publ. DJ nº 82, de 6/5/2008). 9

10 Neste sentido, é o entendimento do colendo STJ: RECURSO ESPECIAL. CIVIL. REGISTRO PÚBLICO. DIREITO DE FAMÍLIA. CASAMENTO. ALTERAÇÃO DO NOME. ATRIBUTO DA PERSONALIDADE. ACRÉSCIMO DE SOBRENOME DE UM DOS CÔNJUGES POSTERIORMENTE À DATA DE CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO E DA LAVRATURA DO RESPECTIVO REGISTRO CIVIL. VIA JUDICIAL. POSSIBILIDADE. RECURSO DESPROVIDO. (...) 2. Dada a multiplicidade de circunstâncias da vida humana, a opção conferida pela legislação de inclusão do sobrenome do outro cônjuge não pode ser limitada, de forma peremptória, à data da celebração do casamento. Podem surgir situações em que a mudança se faça conveniente ou necessária em período posterior, enquanto perdura o vínculo conjugal. Nesses casos, já não poderá a alteração de nome ser procedida diretamente pelo oficial de registro de pessoas naturais, que atua sempre limitado aos termos das autorizações legais, devendo ser motivada e requerida perante o 10

11 Judiciário, com o ajuizamento da ação de retificação de registro civil prevista nos arts. 57 e 109 da Lei 6.015/73. Trata-se de procedimento judicial de jurisdição voluntária, com participação obrigatória do Ministério Público. 3. Recurso especial a que se nega provimento (STJ, 4ª Turma, Resp /SC, Rel. Min. Raul Araújo, publ. DJe de 19/6/2013). grifei AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO ESPECIAL. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULAS 211/STJ E 282/STF. INCIDÊNCIA. REGISTRO IMOBILIÁRIO. PROCEDIMENTO DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA. SUCUMBÊNCIA. INEXISTÊNCIA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. CONDENAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. (...) Não são devidos honorários advocatícios no pedido de retificação do registro imobiliário - procedimento de jurisdição voluntária. Eventual impugnação não transforma em jurisdicional a atividade administrativa nele exercida pelo juiz (STJ, 3ª Turma, AgRg no Ag /MG, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, publ. DJ de 16/10/2006). 11

12 Conseguintemente, demonstrado que o apelante, na ocasião de seu casamento, exercia atividade rural e não a de motorista, como consignado no registro realizado, afigura-se, portanto, legítimo o pleito de retificação, para o fim de constar nos assentos sua real e verídica profissão (trabalhador rural), nos termos do art. 109 da lei nº 6.015/73 (Lei de Registros Públicos). Na confluência do exposto, conheço do recurso manejado e DOU-LHE PROVIMENTO, para reformar a sentença atacada e determinar a retificação da profissão do insurgente, de motorista para lavrador, à margem do seu registro de casamento, pelas razões acima alinhavadas. É como voto. Goiânia, 08 de abril de Desembargadora Sandra Regina Teodoro Reis Relatora 12

13 APELAÇÃO CÍVEL Nº ( ) COMARCA IPAMERI APELANTE CÉLIO MARQUES DA SILVA APELADO CARTÓRIO DE REGISTRO CIVIL DE IPAMERI RELATORA Desembargadora Sandra Regina Teodoro Reis EMENTA: APELAÇÃO. AÇÃO DE RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL. CERTIDÃO DE CASAMENTO. PROFISSÃO. EQUÍVOCO. ACERVO PROBATÓRIO SUFICIENTE. APLICAÇÃO DO DISPOSTO NO ART. 109 DA LEI Nº 6.015/73. FINALIDADE PREVIDENCIÁRIA. AUSÊNCIA DE IMPEDIMENTO. PROCEDIMENTO DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA. SUCUMBÊNCIA. INEXISTÊNCIA. 1. Comprovada a ocorrência de erro na profissão do postulante quando do registro de sua certidão de casamento, viável a retificação do assento, nos termos do art. 109 da lei de registros públicos. 2. Eventual finalidade previdenciária não constitui óbice à postulação retificatória de registro civil. 3. Por se tratar de procedimento de jurisdição voluntária, não há falar em sucumbência em sede de ação de retificação de registro civil. 13

14 APELO CONHECIDO E PROVIDO. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de APELAÇÃO CÍVEL Nº ( ) da Comarca de Ipameri, em que figura como apelante CÉLIO MARQUES DA SILVA e como apelado CARTÓRIO DE REGISTRO CIVIL DE IPAMERI. ACORDAM os integrantes da Quarta Turma Julgadora da 6ª Câmara Cível, à unanimidade de votos, em conhecer da Apelação e dar-lhe provimento, nos termos do voto da Relatora. Fausto Moreira Diniz. A sessão foi presidida pelo Desembargador Votaram com a Relatora o Desembargador Jeová Sardinha de Moraes e o Desembargador Fausto Moreira Diniz. Eliseu José Taveira Vieira. Presente o ilustre Procurador de Justiça Doutor Goiânia, 08 de abril de Desembargadora SANDRA REGINA TEODORO REIS R e l a t o r a 14