O INTER/MULTICULTURAL NA FORMAÇÃO DOCENTE: IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA PEDAGÓGICA NO CONTEXTO AMAZÔNICO.

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1 02921 O INTER/MULTICULTURAL NA FORMAÇÃO DOCENTE: IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA PEDAGÓGICA NO CONTEXTO AMAZÔNICO. Rosana Ramos de Souza 1 - UFOPA Anselmo Alencar Colares 2 UFOPA Agência Financiadora - FAPEAM RESUMO Compreender o multiculturalismo no campo educacional é fundamental para buscar alternativas aos desafios presentes na pluralidade do espaço escolar no interior da Amazônia. Principalmente as relações étnicas em escolas urbanas que decorre do crescimento das populações indígenas em área urbana. A presente pesquisa (em andamento), objetiva conhecer as abordagens e os desafios da diversidade cultural no processo de formação continuada de professores da Educação Básica da rede municipal de Parintins-AM. Tem-se por princípio o reconhecimento das diferenças étnico-raciais, religiosas, de gênero e de orientação sexual presentes nas salas de aula. Estas diferenças exigem do professor formação contínua e atualização de conhecimentos teóricos e metodológicos para o desenvolvimento de práticas educativas que atendam a diversidade e possam garantir o direito à cidadania para todos. Neste contexto a formação continuada se apresenta como um campo eficaz que pode contribuir na melhoria dos processos educacionais e na valorização da diversidade amazônica. Palavras-chave: Multiculturalismo. Diversidade. Formação de Professores. INTRODUÇÃO Objetiva-se, neste estudo, compreender as abordagens e os desafios do (inter)multiculturalismo no processo de formação continuada de professores da Educação Básica da rede municipal de educação de Parintins/AM. A pesquisa possui como fundamento legal a Constituição Federal de 1988 que assegura uma sociedade fraterna e pluralista ; a Lei de Diretrizes e Base da Educação (Lei 9.394/96); os Parâmetros Curriculares Nacionais (1996) e o Tema Transversal-Pluralidade Cultural. Parintins, locus da pesquisa, é um dos 62 municípios do Estado do Amazonas. Ocupa uma área de 5.592,390 km 2 e população de 102 mil e 033 habitantes, o que resulta em uma densidade demográfica de 17,14 hab/m 2. A pesquisa acena para o reconhecimento das diferenças étnico-raciais, religiosas, de gênero e de orientação sexual presentes no ambiente escolar. Formar professores que reconheçam e valorizem estas diferenças constitui um desafio para educação contemporânea.

2 APORTE TEÓRICO A formação docente tem se organizado como um campo de investigação na área educacional devido ao reflexo das práticas educativas do professor. Nesta perspectiva a formação contínua compõe um campo eficaz que pode contribuir na qualidade da educação e valorização da diversidade incidindo positivamente nas discussões sobre os preconceitos e as discriminações que enfrentam os grupos minoritários. Em cada fase de exploração, povoamento, integração e desenvolvimento os povos da terra (índios e caboclos) foram tratados a ferro e fogo, como submissos, subordinados, adaptados e integrados. A Amazônia acolheu gregos e troianos que aqui vieram para viver e trabalhar. Não se tratou apenas de dar e conceder abrigo, refúgio, agasalho e trabalho. Querenciou a todos, prejuízo de suas identidades, memórias, crenças religiosas, valores conceituais neste grande mutirão étnico-cultural nortista (BENCHIMOL, p.15). No campo educacional precisamente em sala de aula estas manifestações sociais, culturais, de classes e privilégios estão permeadas de conflitos. Ao professor requer reconhecer as relações de poder imbricadas na cultura escolar responsável por hierarquias, padrões de comportamento, normalidade, que geram diferença, desigualdade e estigmas falseados nos discursos de inclusão, universalização e igualdade de oportunidade. Embora, em uma Região marcadamente constituída de pluralidades e diversidades, esta característica ainda é pouco considerada nos currículos escolares. Uma mudança de atitude quanto a esta problemática passa, necessariamente, pela formação docente. Esta pesquisa fundamenta-se na inquietação de (re)inventar a escola de um ambiente homogeneizador para uma escola inclusiva que reconheça a diferença e desnaturalize os preconceitos e os estereótipos que afetam os grupos minoritários excluídos ao longo do processo histórico. Cabe ressaltar que esta (re)invenção do espaço escolar perpassa por uma formação docente que agregue em sua prática educativa a orientação multicultural. Preparar professores na realidade amazônica é considerar a complexa e diversificada característica de seus habitantes presentes na sala de aula. Em um contexto marcado pela diversidade e pluralidade cultural a construção do currículo que norteia a formação inicial do professor deve garantir a inclusão dos grupos minoritários, excluídos historicamente dos direitos sociais, culturais, econômicos e políticos.

3 02923 Esta pesquisa tem como foco trabalhar o multiculturalismo crítico de Mc Laren (1999) e Canen (2005), pois reconhecer e respeitar a diferença são, portanto o caminho para se questionar estratégias de silenciamento presente no ambiente escolar através do currículo formal. O multiculturalismo crítico reconhece a diversidade cultural, porém deseja dar um passo adiante do discurso ou da essência, deseja intervir no conflito social para fornecer acesso igualitário aos recursos sociais, a fim de transformar as relações de poder dominante (sociais, culturais e institucionais) onde os significados são gerados (MC LAREN, 1997, p.122). Vamos considerar também o conceito intercultural como preferem denominar alguns autores (vide MOREIRA; CANDAU, 2008; SOUZA, 2005), por considerarmos que todos estes estudos apresentam importantes contribuições para a compreensão do fenômeno concreto que está presente nas escolas da Amazônia. Dar um passo além do discurso é tarefa dos pesquisadores da educação e perpassa pelas mãos de quem concretiza as políticas e ações afirmativas étnico-raciais entre outras. 3. MATERIAL E MÉTODOS Para atingir os objetivos propostos a pesquisa está sendo desenvolvida por meio da abordagem qualitativa, a qual: Visa compreender em profundidade os fenômenos educativos, o que representa o primeiro passo para a transformação real do contexto educativo estudado (ESTEBAN, 2010, p.132). Inclui o estudo de caso porque tende a um exame detalhado de uma situação particular e a realização de uma análise profunda da formação continuada de professores da Educação Básica de Parintins. O local da pesquisa será a Secretaria Municipal de Educação de Parintins e inclui como sujeitos Coordenadores do programa de formação continuada e professores da Educação Básica da rede municipal de Parintins. A técnica utilizada nesta pesquisa constituirá da entrevista dirigida ao coordenador do programa de formação continuada de professores da Educação Básica da rede municipal de Parintins. A grande vantagem da entrevista sobre outras técnicas é que ela permite a captação imediata e corrente da informação desejada, praticamente com qualquer tipo de informante e sobre os mais variados assuntos (LUDKE; ANDRÉ, 1986, p.34). Durante o período de coleta de dados também serão observados e acompanhados os cursos e eventos de formação continuada oferecida pela Secretaria Municipal de Educação de Parintins.

4 RESULTADOS PARCIAIS O Censo Demográfico 2010 (IBGE, 2010), aponta o Amazonas com a maior população indígena do Brasil. Sendo registrado também no Censo de 1991, 2000, 2010 um crescimento de populações indígenas em áreas urbanas. Estas informações estão associadas a inserção do quesito cor ou raça. Na Região Norte, das dez (10) cidades com maior índice de população indígena em área urbana, oito (8) estão no Amazonas (Quadro 01). O Amazonas tem a maior população indígena do Brasil, ao relacionar este fato ao crescimento desta população em área e escolas urbanas. É necessário problematizar e discutir em que perspectiva os cursos de formação continuada propícia subsídios aos professores para trabalharem as relações étnicas em salas de aula. Em entrevista com o Coordenador Municipal de Formação Continuada de Parintins, a Secretaria Municipal de Educação faz o planejamento bimestral ou mensal enquanto nas escolas ocorre quinzenal (1º ao 3º ano) e mensalmente (4º ao 5ºano). No ano de 2013 os temas trabalhados nos cursos de formação continuada foram os seguintes: Letramento e alfabetização; avaliação educacional; pedagogia de projetos; diversidade, e ainda orientações específicas para organização do trabalho pedagógico. Pensar as prioridades da escola é perfazer um caminho de reflexão sobre a formação integral do aluno para a cidadania é rever a função social da escola no mundo contemporâneo. As características do professor crítico reflexivo é uma alternativa para repensar a teoria e prática. O professor [...] deve ser agente numa realidade social construída; fomentar atitudes e ação crítica frente ao mundo capitalista (LIBÂNEO, 2012, p. 75). Pretende-se com este projeto de pesquisa suscitar discussões sobre o desenvolvimento de políticas de formação continuada de professores orientados (inter)multiculturalmente, para que sejam capazes de valorizar a pluralidade cultural do ambiente amazônico e questionar os estigmas e preconceitos construídos historicamente. Gerar questionamento sobre uma política de formação de professores ancorada na realidade amazônica com estabelecimento de práticas educativas concernentes ao o reconhecimento da diferença e a construção da igualdade substantiva no contexto amazônico.

5 02925 REFERÊNCIAS BENCHIMOL, Samuel. Amazônia: formação social e cultural. 3.ed. Manaus: Valer, ESTEBAN, Maria Paz Sandín. Pesquisa qualitativa em educação: fundações e tradições, Miguel Cabrera (Trad.). Porto Alegre: AMGH, LIBÂNEO, José Carlos. Reflexividade e formação de professores: outra oscilação do pensamento pedagógico brasileiro. In: PIMENTA, Selma Garrido; GHEDIN, Evandro (orgs). Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. 7. ed. São Paulo: Cortez, LUDKE, Menga; ANDRÉ E. D. A. Marli. Pesquisas em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EDU, MAC LAREN, P. Multiculturalismo crítico. São Paulo: Cortez, ANEXOS Cidade/Estado Quadro 01: População Indígena em área urbana Região Norte São Gabriel da Cachoeira/AM Boa Vista/RR Manaus/AM Autazes/AM Belém/PA São Paulo de Olivença/AM Santa Izabel do Rio Negro/AM Santo Antônio do Içá/AM Barcelos/AM Benjamim Constant/AM Fonte: IBGE, 2010 População Absoluta 1 Mestranda em Educação/PPGE/UFOPA Bolsista FAPEAM 2 Docente PPGE/UFOPA Doutor em Educação