RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E O ENSINO DE CIÊNCIAS

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1 RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E O ENSINO DE CIÊNCIAS Gisele Arruda UNIPAR/NRE 1 Sirlei Pereira Martins NRE 2 Lucília Gouveia NRE 3 Caroline Baldessar Dalmolin UFFS 4 Resumo: Este estudo procura compreender as relações étnico-raciais no ensino de Ciências, identificando as aproximações e as divergências existentes no processo educativo entre o professor e o educando, evidenciando o papel do ensino de Ciências no combate ao racismo e discriminações. Foi realizado levantamento bibliográfico de artigos, teses, dissertações e livros. É imprescindível discutir a política da educação científica e avaliar como o racismo permeia a Ciência e seu ensino, identificando ambos, racismo e ciência, num contexto maior, política e economicamente determinado. O ensino acrítico aplicado em Ciências engaja a manutenção do racismo entre professores e alunos, devido a incorporação de uma propagando racista sutil, difícil de ser detectada, além de ser vista como neutra. Nesse sentido, é reconhecido a necessidade de se desenvolver uma prática pedagógica anti-racismo no ensino de Ciências. Isso requer um engajamento do sistema educacional, uma mudança de conhecimento e cultura, um reconhecimento da parte que assume no sistema político e ideológico total, mudanças nas relações interpessoais e também nas econômicas. Palavras-chave: Aprendizagem; Diversidade Cultural; Processo Educativo. Introdução 1 Graduada em Ciências Biológicas, mestrado em Ciências Bioquímica, doutorando em Biologia Comparada, Universidade Paranaense e Núcleo Regional da Educação. giselearrudabioq@gmail.com 2 Graduada em Pedagogia, especialista em Psicopedagogia e Gestão Escolar, doutoranda em Epistemologia da História da Ciência, Núcleo Regional da Educação. sirleipmartins@seed.pr.gov.br 3 Graduada em Pedagogia, especialista em Educação Especial, Supervisão e Orientação e Administração Escolar, Núcleo Regional da Educação. luciliagouveia@seed.pr.gov.br 4 Graduada em Farmácia, especialista em Farmacologia, Universidade Federal da Fronteira Sul. carolinebaldessar@gmail.com

2 O ensino de Ciências pode colaborar no entendimento do impacto que as Ciências da Natureza tem sob a vida social e o racismo sob dois viés, um considera que os valores sociais interferem na produção de conhecimentos científicos e o outro que a produção de conhecimentos científicos interferem na construção de valores da sociedade (VERRANGIA; SILVA, 2010). Dessa maneira, surge a necessidade de produzir um ensino de Ciências que, efetivamente, se comprometa com o combate ao racismo. No entanto, existe uma ausência quase total de orientações específicas em educação e ensino de Ciências no Brasil. Essa carência mostra a importância de compreender como a legislação vigente e a literatura na área podem contribuir, ou não, para o elaboração de tal ensino. Essa compreensão passa, necessariamente, pela discussão das relações entre ensino de Ciências e cidadania (SILVA, 2009). Nessa perspectiva, a educação pública no país prima por reflexões em torno do que é ensinado e a forma como os conteúdos são exibidos nas escolas. A sociedade está marcada pela pluralidade e esta, muitas vezes, é renegada e submetida a cultura branca hegemônica. É necessário estabelecer ações para reverter esse quadro e elaborar currículos que não só reconheçam a existência de outras culturas, que não a hegemônica, mas que parta dessas diferenças para a construção dos mesmos (WALSH, 2005, apud CANDAU, 2009). Nesse contexto, o objetivo do trabalho foi realizar uma discussão acerca das relações étnicos-raciais e o ensino de Ciências, identificando as aproximações e as divergências existentes no processo educativo entre o professor e o educando, evidenciando o papel do ensino de Ciências no combate ao racismo e discriminações. Desenvolvimento Nos últimos anos muitas políticas públicas foram implementadas na tentativa de reconhecer as novas identidades que ocupam o cenário da escola básica brasileira, a fim de estabelecer uma contra-hegemonia cultural. Como exemplo, tem-se a Lei n de 2003 que determina a

3 obrigatoriedade da inclusão no currículo dos estabelecimentos de ensino das escolas básicas oficiais, públicas e particulares, a temática da História e Cultura Afro-Brasileira. A lei reconhece a relevância do emprego desse conteúdo para a criação da cidadania de todos os brasileiros, visto que o Brasil se afirma enquanto um país fruto da miscigenação (BRASIL, 2003). Essa lei determina a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura Afro-Brasileira em três disciplinas escolares: educação artística, literatura e história brasileira. Cabe destacar, que isso não elimina a necessidade de outras disciplinas trabalharem o conteúdo, sobretudo Ciências e Biologia, que contribuem diretamente para a consolidação de uma hegemonia cultural branca, já que seus conteúdos são orientados pelas contribuições científicas advindas de alguns segmentos da população mundial, principalmente europeia, deixando de evidenciar as contribuições que tiveram o nascimento no continente africano. Aliado a esse fato, não se pode negar a importância da Ciência, em especial da Biologia, na consolidação de concepções racistas, chamada de racismo científico, cujo debate precisa ser incluído nestas disciplinas escolares (VERRANGIA; SILVA, 2010). É importantíssimo entender a dificuldade que as instituições escolares têm no pensar a diversidade cultural aplicada ao seu currículo, pois historicamente possuem concepções curriculares numa perspectiva monocultural e homogeneizadora (NUNES, 2011). Esta perspectiva possui grande enfoque na atualidade e, por isso, se faz necessário romper com esta visão e construir práticas educativas em que a questão da diferença e do multiculturalismo se façam cada vez mais presentes (CANDAU, 2008 apud NUNES, 2011, p. 120). Verrangia e Silva (2010) constataram que grande parte dos professores não consegue ver, se quer, efetuar relações entre suas aulas de Ciências e as ações que a escola pretende implementar, no sentido de debater e favorecer relações étnico-raciais positivas. Assim, na área de Ciências e Biologia, podem ser elaboradas diversas ações, a fim de incentivar a capacidade crítica da turma e fazê-los refletir a respeito desse tema. Um exemplo, são os assuntos sugeridos por Verrangia e Silva (2010, p. 713): Impacto das Ciências Naturais na vida social e racismo; Superação de estereótipos, valorização da diversidade e Ciências Naturais; África e seus descendentes e o desenvolvimento científico mundial; Ciências, mídia e relações étnicoraciais; Conhecimentos tradicionais de matriz africana e afro-brasileira e Ciências

4 Assim, para realizar associações e o professor mediar atividades que envolvam as relações étnico-raciais com os conteúdos curriculares de Ciência e Biologia é essencial ao docente ter formação adequada, que deverá ajudar na reflexão-ação sobre os diversos viés que cercam o assunto, permitindo aportes pedagógicos capazes de dar novos sentidos às relações inter-raciais e relacioná-las às disciplinas em questão. Sem isso, a formação ética não será apta a reconhecer a diversidade cultural e racial e, tampouco, terá efeito propício para o estabelecimento de uma sociedade autônoma (THIJM, 2014). Muito menos um ensino de Ciências empenhado com as questões sociais (OLIVEIRA; QUEIROZ, 2013). Conclusão Em virtude dos fatos mencionados, é imprescindível que todos compreendam o valor das relações étnico-raciais sobretudo no ensino de ciências, tendo em vista que o mesmo interfere na construção de valores da sociedade de maneira recíproca. Neste contexto, faz-se necessário postular a necessidade de discussões e reflexões a respeito do ensino de Ciências que estabeleça ações que promovam uma educação de relações étnico-raciais de equidade, abolindo essa perspectiva monocultural e homogeneizadora que segrega a tantos. Referências BRASIL. Lei Nº de 09 de janeiro de Altera a Lei n o 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências. Presidência da República do Brasil. Disponível em: < Acesso em: 08 nov

5 CANDAU, V. M. (Org.). Direitos Humanos, Educação e Interculturalidade: as tensões entre igualdade e diferença. In: CANDAU, V. M. Educação Intercultural na América Latina: entre concepções e tensões e propostas. Rio de Janeiro: 7 Letras, NUNES, F. G. Interculturalidade e o papel da escola na atualidade: reflexões a partir do filme Entre os muros da escola. Pro-Posições, v.22, n. 3, p , OLIVEIRA, R. D. V. L. de; QUEIROZ, G. R. P. C. Educação em Ciências e Direitos Humanos: reflexão-ação em/para uma sociedade plural. 1.ed. Rio de Janeiro: Multifoco, p. SILVA, D. V. C. da. A educação das relações étnico-raciais no ensino de Ciências: diálogos possíveis entre Brasil e Estados Unidos. 335f. Tese (Doutorado em Educação) Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, THIJM, F. E. A. O que dizem as teses e dissertações sobre relações raciais em educação ( ). 161f. Dissertação (Mestrado em Educação: Currículo, Epistemologia e História) - Instituto de Ciências da Educação, Universidade Federal do Pará, Belém, VERRANGIA, D.; SILVA, P. B. G. Cidadania, relações étnico-raciais e educação: desafios e potencialidades do ensino de Ciências. Educação e Pesquisa, v. 36, n. 3, p , 2010.