PRÁTICAS PEDAGÓGICAS PARA O ENSINO DE LEITURA E ESCRITA A PARTIR DO CONTEXTO CULTURAL DOS EDUCANDOS: APRENDENDO COM A EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA.
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- Anderson Bentes Cavalheiro
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1 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS PARA O ENSINO DE LEITURA E ESCRITA A PARTIR DO CONTEXTO CULTURAL DOS EDUCANDOS: APRENDENDO COM A EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA. LAÍS REIS RIBEIRO. (Mestranda em Educação e Contemporaneidade - UNEB). ROSÂNGELA DOS S. FIGUEREDO DIAS (Mestranda em Educação e Contemporaneidade - UNEB). ROSANE A. MINEIRO YAMAGUCHI (Mestranda em Educação e Contemporaneidade - UNEB). RESUMO: O presente estudo trata-se de um relato de experiência sobre a realização de um projeto de intervenção na Escola Estadual Indígena Tupinambá de Olivença (EEITO), no município de Ilhéus-BA sobre práticas pedagógicas de leitura e escrita a partir do patrimônio cultural dessa população. Para tanto, foi realizada inicialmente a observação participante, no qual, foi possível aprender com eles acerca da educação diferenciada que respeita o diálogo intercultural e valoriza sua cultura e modos de vida. Nessa fase, identificaram-se dificuldades no processo de leitura e escrita de uma turma de 3º/4º ano do ensino fundamental da escola supracitada. Com isso, foi proposto um levantamento das músicas cantadas no Poranci (ritual Tupinambá) e posteriormente um trabalho de alfabetização a partir dessas músicas, utilizando os diversos espaços dentro e fora do prédio escolar e de atividades lúdicas. A educação escolar indígena vem se afirmando enquanto espaço de fronteira, de negociação entre culturas distintas e ao mesmo tempo contribui para autoafirmação desses povos. A partir dessa experiência, foi possível perceber que o processo de aquisição de habilidades como leitura e escrita mostra-se mais significativo quando está relacionado com o contexto social e cultural dos educandos. Conclui-se, pois, que a Educação escolar indígena ao trabalhar os conteúdos formais de ensino a partir da vivência cultural dos alunos contribui para a valorização da autoestima e motivação, facilitando o aprendizado. Essa prática intercultural deve ser ponto de partida também para as escolas não indígenas a fim de construir uma Educação que respeite a diversidade e reconheça as contribuições dos diversos povos na formação da sociedade brasileira. PALAVRAS-CHAVE: alfabetização; educação escolar indígena; interculturalidade. PROBLEMÁTICA: O fazer pedagógico, observado nas instituições escolares, subjaz a concepção de educação e sociedade assumida pelos profissionais envolvidos no processo educativo. Assim, o trabalho com a diversidade cultural (proposta deste estudo) exige do educador não só uma construção teórica acerca do tema, mas sim, um compromisso ético e político. A sociedade brasileira é marcada historicamente pela desigualdade, preconceito e discriminação, associado ao desprestígio social e econômico de grande parcela da 03519
2 população. Esse cenário constitui reflexo da tentativa do projeto colonizador de inferiorização e esvaziamento cultural das matrizes étnicas dos povos ameríndios e africanos (ATAÍDE e MORAIS, 2003). Esse contexto histórico de negação cultural refletiu nos currículos escolares, reforçando a perpetuação de ideias e posturas discriminatórias. Observa-se, assim, que a influência da população indígena, africana e asiática, que deixaram um legado de conhecimentos e valores, formadores dos nossos hábitos e costumes, é negligenciada e até mesmo excluída desse currículo. A abordagem didática nas escolas foi assim construída, pautada em um olhar universal e homogeneizante sobre os alunos que nega e oculta as diferenças e a heterogeneidade do povo brasileiro. Dessa forma, os conteúdos trabalhados em sala de aula desconsideram o contexto social e cultural dos educandos, dificultando o reconhecimento identitário e a própria aprendizagem. CONSIDERAÇÕES PROPOSITIVAS: A Educação intercultural apresenta-se como alternativa para uma Educação humanitária, que reconheça o universo simbólico das diversas vertentes civilizatórias, na busca da afirmação da identidade e valorização da diversidade humana. Segundo Canclini (2007) os povos indígenas, a partir de uma proposta de educação diferenciada, desenvolvem um diálogo intercultural, transitando entre saberes tradicionais e modernos. Diante disso, apresentaremos a experiência de um trabalho de intervenção pedagógica, realizado na Escola Estadual Indígena Tupinambá de Olivença (Núcleo Katuana), no município de Ilhéus-Ba, no ano de 2012, com o objetivo de trabalhar conteúdos formais do ensino a partir da valorização do patrimônio cultural dessa população. O trabalho foi realizado com uma turma do 3º/4º ano do Ensino fundamental de aproximadamente 14 alunas, com idade entre 9 a 14 anos, que apresentavam dificuldades no processo de aprendizagem da leitura e escrita. A partir dessa observação, o projeto proposto teve como principal estratégia metodológica, a leitura e escrita de músicas indígenas do povo Tupinambá de Olivença, cantadas durante o Poranci (ritual tradicional do povo Tupinambá)
3 Quando trabalhamos os conteúdos formais do currículo escolar dentro da realidade cultural da criança, temos a oportunidade de introduzir o aluno no mundo da produção das habilidades linguísticas em situação real de uso. Assim, o educando tem a oportunidade de participar, de pertencer, de estar junto, de somar e de agir. O projeto fundamenta-se nas ideias de Paulo Freire (1975), o qual entende a Educação como reflexão existencial e como prática da liberdade. Freire entende o momento pedagógico como práxis social e construção de um mundo refletido com o povo. As técnicas dessa Pedagogia envolvem codificações, palavras geradoras, cartazes com as famílias fonêmicas, quadros ou fichas de descoberta e material complementar a partir da realidade concreta dos sujeitos. Diante disso, as ações realizadas no presente estágio incluem: pesquisa realizada pelas alunas das músicas tradicionais que fazem parte da cultura indígena Tupinambá; leitura e interpretação das letras dessas canções; organização da música em estrofes, frases e palavras; identificação de letras, palavras e frases já conhecidas; relação entre palavras encontradas nos textos com outras com ortografia semelhante; além de discussões e problematizações acerca dos sentidos dessas canções para a vida na comunidade Tupinambá. Todas essas ações foram realizadas com a utilização de recursos lúdicos, como caça-palavras, quebra-cabeça, rodas de conversas, brincadeiras e jogos (conforme fotos no final do trabalho). A partir do envolvimento com o que já se cantava na comunidade, percebemos um maior interesse entre as alunas em participar das atividades, pois, esta relação com a vivência do sujeito ganha maior significado e facilita o aprendizado. Durante o projeto, utilizamos os espaços naturais que envolvem o entorno da escola para a realização das atividades (o campo e a praia), propiciando o contato com as folhas, as flores, a areia e o mar durante as atividades de leitura e escrita e de brincadeiras cantadas com movimentos corporais. Para as comunidades indígenas, a relação com a natureza é algo sagrado e que deve ser tratada com respeito. É a partir dessa relação que nasce a Educação Indígena, vivenciada nas tribos, passada de geração em geração através dos elementos naturais, próprios de cada comunidade, dentre as várias especificidades que compõem as aldeias indígenas de todo o Brasil (BRASIL, 1998). Diante dessa experiência, percebemos como as crianças se sentem mais motivadas a aprender quando os conteúdos formais relacionam-se com sua realidade cultural e possuem significado para a vida. Entendemos, pois, que esta deve ser uma 03521
4 realidade educacional construída não apenas em contextos de educação diferenciada, mas, aplicada também em todas as escolas a fim de favorecer o diálogo intercultural, referido por Canclini (2007). A escola ao receber tais experiências étnicas e culturais em seu espaço, propicia uma democracia cognitiva baseada na afirmação da cidadania cultural destes grupos étnico-sociais, ressignificando suas culturas e histórias que foram limitadas de participação na sociedade brasileira e, sobretudo, no âmbito educacional (FREIRE, 2002). CONSIDERAÇÕES FINAIS: A partir da experiência de uma educação diferenciada, percebemos a importância da valorização do contexto social e cultural dos educandos para o processo de aprendizagem, sendo esta significativa e não mecânica. Assim, ao compararmos com as práticas das nossas escolas, percebemos que ainda há nesta, uma tentativa de homogeneização dos sujeitos, no qual, aplica-se um conhecimento universal para todos, eliminando assim a diversidade que é própria da natureza humana. Entende-se, portanto, que o processo de aprendizagem envolve também a leitura do mundo e por isso a Educação indígena pode contribuir para aprendermos a incluir nas nossas escolas o diálogo intercultural e o respeito e valorização da cultura dos educandos que possuem diferentes histórias de vida, modos de conhecer e de se relacionar. REFERÊNCIAS: ATAÍDE, Y. D. e MORAIS, E. S. A (re)construção da identidade étnica afrodescendente a partir de uma proposta alternativa de educação pluricultural. Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 12, n. 19, p , jan./jun./2003. BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas. Brasília: MEC/SEF, CANCLINI, Néstor García. Diferentes, desiguais e desconectados: mapas da interculturalidade. Trad. Luiz Sérgio Henriques. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 5. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra p.. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra,
5 ANEXO Figura I: Brincadeira realizada com alunos da EEITO, Figura II: Brincadeira realizada com alunos da EEITO, Figura III: Atividade de identificação de palavras chave na música Oração à Lua realizada com alunos da EEITO,
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