Recentemente os media dedicaram alguma atenção ao assunto margens de refinação.
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- Malu Klettenberg Sales
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1 N º D e z e m b r o Recentemente os media dedicaram alguma atenção ao assunto margens de refinação. Mas, se analisarmos retrospectivamente as inúmeras ocasiões em que a Indústria Petrolífera é citada nesses meios, concluímos que normalmente só se aborda o preço do crude e o preço nas bombas. A refinação que é uma parte importantíssima da cadeia de valor do petróleo raramente é citada quando, afinal, são os preços à saída das refinarias que mais influenciam os preços dos combustíveis que os consumidores compram. Resulta, portanto, que achamos de interesse dedicar esta FOLHA à refinação, com o objectivo de disponibilizar informação que torne mais perceptível a sua articulação com o marketing dos produtos. Dimensão do Mercado Nacional O consumo de derivados do petróleo no mercado português atingiu, em 2004, os valores seguintes: Fonte: DGGE Produto Quantidade (milhares de toneladas) Gasolina Gasóleos Gasóleo aquecimento 202 Jets 820 GPL 944 Bancas marítimas 654 Fuel óleo industrial Outros Total Nota: Sob a designação de Outros incluem-se químicos, solventes, betumes, resíduos AV, parafinas, nafta química, coque de petróleo e lubrificantes. Av. Engº Duarte Pacheco - Amoreiras - Torre 2, 6º piso, sala LISBOA Telef Fax apetro@mail.telepac.pt
2 O aparelho refinador nacional assegurou 75% destas necessidades, sendo os restantes 25% - essencialmente consituidos por gasóleo, GPL, fuel óleo, betumes e coque de petróleo - cobertos por importações. Estrutura do aparelho refinador nacional O aparelho refinador nacional é constituído pelas refinarias de Sines e Porto. A refinaria de Sines, processualmente orientada para a produção de combustíveis, dispõe duma capacidade projectada de destilação primária de 10 milhões de toneladas/ano. A sua configuração processual permite maximizar a obtenção de gasolina (gasoline orientated) dispondo, para isso, de meios de conversão catalítica que permitem a obtenção de componentes de gasolina a partir das fracções pesadas do petróleo bruto. Esta aptidão processual permite reduzir a produção de fuel óleo e acrescentar mais valor à produção por tonelada de petróleo bruto tratada. A refinaria do Porto, destina-se especialmente à produção de especialidades, designadamente aromáticos de base para petroquímica (petrochemical feedstocks) e óleos bases e lubrificantes. Produz ainda combustíveis, dispondo duma capacidade de desenho de destilação primária de 4,5 milhões de toneladas/ano. O balanço material integrado de ambas as refinarias, referente ao ano 2004, consolida os valores seguintes: Fonte: Galpenergia Quantidade (milhares de toneladas) A - Matérias Primas Crudes Outras Matérias Primas Total B - Produtos Mercado Nacional Exportação Importação 571 A taxa de utilização média das refinarias atingiu 94% da capacidade instalada de destilação primária, reflectindo um bom desempenho da operação e uma boa qualidade de manutenção das instalações.
3 A matéria prima utilizada compreendeu misturas, de composição variável, de crudes leves (50%), médios (34%) e pesados (16%), com teores de enxofre diferenciados, por forma a aproximar o perfil das produções às necessidades do mercado, em quantidade e qualidade. Perfis de Produção e de Mercado Fonte: Galpenergia PERFIL DE PRODUÇÃO (%) 45,0 PERFIL DO MERCADO (%) 52,0 25,9 17,4 21,1 16,6 3,6 3,2 4,9 5,3 0,7 4,3 Gases Gasolinas Aromáticos Destilados Médios Fueis Outros Gases Gasolinas Aromáticos Destilados Médios Fueis Outros A origem dos crudes é muito diversificada, podendo referir-se como áreas predominantes de aprovisionamento, a Arábia Saudita, México, Venezuela, Brasil, Nigéria, Mar do Norte, Rússia, Argélia, entre outros. Enquadramento Ibérico e Europeu A dimensão do mercado europeu de produtos refinados cifra-se em cerca de 690 milhões de toneladas/ano, estimando-se que no período cresça a uma taxa relativamente modesta de 0,7% ao ano. A maior parte deste crescimento terá lugar em países da Europa Central e de Leste, onde o previsível desenvolvimento económico irá provocar um crescimento da procura de derivados do petróleo. Entretanto, o perfil do mercado vem-se alterando gradualmente. A gasolina continua a registar um modesto declínio no consumo, enquanto que a procura de destilados médios (Gasóleo e Jet) continua a crescer; o consumo de fuel óleo industrial, incluindo as bancas marítimas, continua a diminuir progressivamente.
4 Refined Product Demand Fonte: Purvin&Gertz Last Revised October 2005 Gasoline 21% Kero 6% Other 18% Gasoil/Diesel 36% HFO 19% Kero 7% Gasoline 17% Other 19% Gasoil/Diesel 42% HFO 15% Kero 10% Gasoline 10% Other 21% Gasoil/Diesel 47% HFO 12% Nota: O valor agregado gasoil/diesel reflecte simultaneamente o declínio do gasóleo de aquecimento e o forte crescimento do gasóleo motor. Actualmente as refinarias europeias experimentam um aumento da sua taxa de utilização para o máximo sustentável, devido ao crescimento da procura de derivados de petróleo nos mercados mundiais, designadamente nos EUA. Apesar disto, verifica-se, por parte dos refinadores, uma elevada prudência na avaliação do comportamento dos mercados, pelo que ainda não se registaram quaisquer iniciativas de ampliação significativa da capacidade de destilação primária instalada. Até à data, foram realizados apenas alguns debottlenecks de capacidade, apostando as companhias mais na importação de produto em vias de fabrico (feedstocks), particularmente da Rússia, para adequar a produção às necessidades dos mercados. A generalidade das refinarias europeias está projectada para maximizar a produção de gasolinas; todavia, a evolução dos mercados tem vindo a contrariar os propósitos desta opção, na medida em que se assiste a um crescimento progressivo da procura de gasóleo e um declínio do consumo de gasolina; esta situação está a gerar um défice crónico de gasóleo no espaço europeu (cerca de 20 milhões de toneladas/ano) compensado à custa de importações, e um excedente de gasolinas (30 milhões de toneladas/ano) que actualmente, é exportado para os EUA.
5 Não surpreende, portanto, que actualmente se assista ao lançamento de iniciativas de reformulação do processo (dieselização do aparelho produtivo) que passam pelo aumento da capacidade de conversão dos destilados pesados em destilados médios. O panorama ibérico não é diferente do contexto europeu mais alargado. As refinarias ibéricas, designadamente as portuguesas, têm em marcha projectos de aumento da capacidade de conversão e de maior flexibilização processual, por forma a aproximar o seu perfil de produção às necessidades dos mercados. Margens de Refinação evolução recente e futura As margens de refinação são fortemente influenciadas pelo tipo de refinaria (nível de complexidade processual) pelas cotações dos produtos petrolíferos, pelos diferenciais de preços para os petróleos brutos e pela proximidade aos mercados consumidores. Quanto maior for a complexidade processual duma refinaria, isto é, quanto maior for a sua aptidão para converter as fracções pesadas do crude, maior será a margem gerada. As margens net (margem depois de deduzidos os custos fixos e variáveis) históricas e previstas até 2020, são graficamente representadas na figura abaixo. Margens de Refinação Noroeste da Europa CIF NWE REFINING MARGINS (Forecast in Constant 2005 Dollars per Barrel) Fonte: Purvin&Gertz Last Revised October (2.00) Sweet/Sour Hydrocracking Sweet/Sour Cat Cracking Sweet Hydroskimming Nota: As margens são calculadas numa base CIF por forma a corresponder à alternativa de importação dos produtos necessários ao mercado.
6 A margem catalitic cracking reflecte os ganhos das fortes exportações de gasolina para os EUA; a margem hydrocracking, particularmente a partir de 2004, beneficia do forte aumento da cotação do gasóleo e do jet nos mercados europeus. A margem hydroskimming (refinaria sem conversão) ilustra bem as vantagens da existência de sistemas de conversão. Correlação entre margens e preços de crudes Não é possível estabelecer uma correlação consistente entre a cotação dos crudes e as margens de refinação. As variações de cotação dos crudes nem sempre são acompanhadas por variação equivalente nas margens, verificando-se, muitas vezes, que estas reagem em contraciclo. Os preços dos crudes e o valor das margens dependem de numerosos factores, designadamente: Crescimento das economias regionais, designadamente das dos países em vias de desenvolvimento, que necessitam de grandes quantidades de energia para o seu desenvolvimento; Cartelização da maioria dos países produtores; Conflitos regionais de natureza militar e/ou política; Incerteza, na área de segurança quanto à funcionalidade dos meios logísticos de aprovisionamento de matérias primas; Restrições ou impedimentos ao trânsito de matérias primas por problemas de natureza geopolítica; Paragem de refinarias por período significativo (acidentes, paragens gerais, etc) Alterações de qualidade dos produtos por imperativos ambientais; Actos da natureza (tufões, inundações, etc); Especulação nas bolsas de matérias primas e produtos acabados; A recente onda altista dos preços do crude é fundamentalmente devida à forte subida da procura associada ao crescimento das economias da China e da Índia; as cotações altas dos produtos são consequências das elevadas importações realizadas pelos EUA, na sequência dos sucessivos desastres naturais que afectaram as suas infraestruturas de produção e de refinação, as quais mesmo em situações de normalidade, são insuficientes para abastecer o mercado interno.
7 Crescimento da procura do crude a nível mundial Central & South America 7% Europe 0% FSU East 5% North America 15% World Oil Demand Growth 2005: 1.42 million b/d or 1.7% Africa 6% Asia 45% Europe -5,000 b/d FSU East 76,000 b/d Asia 634,000 b/d Middle East 301,000 b/d Africa 87,000 b/d North America 218,000 b/d Central & South America 107,000 b/d Middle East 22% Projecções para o período Em situações anteriores de crise, o mercado de produtos petrolíferos sempre reagiu de forma a estabelecer um novo equilíbrio, quer por redução compulsiva dos consumos através de medidas oficiais de racionalização do uso da energia, quer por atitude voluntária do consumidor. Actualmente, já se manifestam sinais de contracção dos consumos que irão trazer consequências na fixação dos preços. Entretanto, como era expectável, já se regista um certo esfriamento do crescimento económico da China e da Índia, que vai repercutir-se no mercado dos crudes. Por outro lado, a entrada em serviço a breve prazo, dos oleodutos na zona do Cáspio e uma maior oferta de crudes canadianos obtidos a partir de areias betuminosas, vão alterar o balanço da ofertaprocura nos mercados mundiais. Associado a este crescimento da oferta de crudes, prevê-se, ainda, que ocorra a modernização das refinarias russas e da Europa central e a ampliação de capacidade da refinação dos EUA, o que irá alterar significativamente o panorama da oferta de destilados.
8 Com base nestes pressupostos, reputados analistas do mercado petrolífero, apontam para uma estabilização dos preços de crude, para o horizonte , à volta dos 40 USD/bbl e margens net de refinação (refinaria de conversão) próxima do 2-3 USD/bbl. As margens net médias para o período, para refinarias de hydroskimming, manter-se-ão no breakeven ou negativas. Last Revised October 2005 Current Dollars per Tonne Northwest Europe Product Prices (1) (Current Dollars) Fonte: Purvin&Gertz LPG Naphtha Premium 0.15g/l Regular Unleaded (2) Euro Unleaded (2) Super Unleaded (2) Kerosene Diesel EN590 (3) Diesel 10ppm Gasoil (4) RFO, 1%S RFO, 3.5%S Nota: (1) Cargoes CIF Rotterdam (2) Based on maximum gasoline sulfur content of 150ppmw from ; 50ppmw from ; 10ppmw from (3) Based on maximum diesel sulfur content of 350ppmw from ; 50ppmw from ; 10ppmw from (4) Based on maximum gasoil sulfur content of 0.2% through 2006; 0,1% from Evidentemente que a quadro acima não é mais que uma previsão, das várias que são disponibilizadas à indústria petrolífera por analistas muito especializados. Previsões deste tipo constituem um instrumento muito importante para a actividade de refinação, que requer contínuos e muito elevados investimentos para que possa responder eficazmente às necessidades dos mercados. Esperamos que esta FOLHA tenha, de algum modo, contribuído para dar a conhecer um pouco melhor esta faceta da actividade petrolífera que, em última análise, é a responsável por colocar à disposição de todos nós, consumidores, os produtos necessários ao nosso dia a dia.
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