REFLEXÕES SOBRE O BRINCAR A PARTIR DE UMA ANÁLISE DOS DOCUMENTOS OFICIAIS DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA
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- Nathalia Ferrão Brunelli
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1 REFLEXÕES SOBRE O BRINCAR A PARTIR DE UMA ANÁLISE DOS DOCUMENTOS OFICIAIS DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA Resumo Michelle Duarte Rios Cardoso Mestranda em Educação PPGE/UFJF Núbia Aparecida Schaper Santos Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação PPGE/UFJF Doutora em Educação UERJ O presente texto é fruto das discussões tecidas no interior de um dos eixos do grupo de pesquisa Linguagem, Educação, Formação de Professores e Infância LEFoPI, que tem por objetivo, promover a reflexão crítica entre as coordenadoras das 23 creches públicas de Juiz de Fora e os pesquisadores da Universidade acerca das temáticas que envolvem o cotidiano das creches. A partir da temática do brincar, o presente texto tem por objetivo traçar uma discussão no que tange do brincar a partir da análise de alguns documentos oficiais do Ministério da Educação e Cultura MEC, publicados no período de 2006 a Tal análise se faz importante, no interior dessa pesquisa, pois entendemos que a brincadeira deve ser o foco na educação das crianças pequenas, por ser uma das formas pelas quais a criança se desenvolve em um processo de significação de si, do outro e da sociedade em que vive. Sendo assim, buscar a temática do brincar nos referenciais destinados a Educação Infantil do Ministério da Educação e Cultura MEC, nos possibilita enfatizar essa atividade, inerente e significativa para as crianças de 0 a 3 anos, foco de nossas discussões, como um eixo central, ou seja, como atividade principal para o desenvolvimento das crianças pequenas. Tais leituras nos possibilitam compreender a brincadeira, nessa faixa etária, não apenas como um passatempo, como abordado por muitos, e, sim, como uma das maneiras, se não a principal, da criança se desenvolver, visto que, brincando, a criança aprende a se comunicar, compreende o mundo à sua volta, desenvolvendo-se afetiva, intelectual e fisicamente. Por meio da brincadeira, ela aprende valores que lhe serão úteis ao longo da vida. Palavras-chave: Creche Brincadeira Infâncias Introdução O presente texto é fruto de uma pesquisa a um dos eixos do Grupo de Pesquisa LEFoPI/UFJF, e tem por objetivo discutir a temática do brincar, a partir da imersão em alguns documentos oficiais do Ministério da Educação e Cultura MEC, voltados para a Educação Infantil, em especial a Creche. Tal movimento se fez importante, pois, o referido grupo ao desenvolver um trabalho com as 22 Coordenadoras das creches públicas de uma cidade mineira, 06049
2 2 percebeu o incomodo gerado nelas sobre a possível dicotomia entre o papel da Creche e da Pré-Escola, nas questões envolvendo o lúdico. Com o objetivo de abordar tal temática e continuar as discussões do grupo acerca do brincar, fez-se necessário uma busca que revelasse menções sobre o papel da instituição Creche na educação das crianças de 0 a 3 anos, a partir de alguns referenciais do Ministério da Educação e Cultura para a primeira etapa da Educação Infantil. O papel da brincadeira nos referenciais do Ministério da Educação O processo pedagógico deve considerar as crianças em sua totalidade, observando suas especificidades, as diferenças entre elas e sua forma privilegiada de conhecer o mundo por meio do brincar (BRASIL, 2006, p.17). Levando em consideração o que nos diz o fragmento acima, retirado do documento Política Nacional de Educação Infantil. E, além disso, partindo do princípio popular de que toda criança brinca, entendemos que a brincadeira faz parte do dia-a-dia da criança e que, por fazer parte desse cotidiano, torna-se de extrema importância para o desenvolvimento infantil. Percebendo essa importância, de uma maneira bem direta, todos os documentos estudados tratam do papel fundamental da brincadeira no processo de desenvolvimento das crianças pequenas, como garantia de um crescimento e desenvolvimento favoráveis. Frisam também que as brincadeiras, para a faixa etária das crianças que frequentam as creches e escolas de educação infantil, proporcionam-lhes condições de usufruírem plenamente suas possibilidades de apropriação e de produção de significados no mundo da natureza e da cultura (BRASIL, 2009, p. 18). Sendo assim, é preciso entender o que é essa brincadeira e por que ela é tão importante no ambiente da creche. Compreendendo que brinquedo e brincadeira podem ter significados opostos, é preciso perceber que a brincadeira é vista ora como ação livre, ora como atividade supervisionada pelo adulto. Seguindo esse raciocínio, o brinquedo expressa qualquer objeto que serve de suporte para brincadeira livre ou fica atrelado ao ensino de conteúdos escolares. Ou seja, pela contraposição entre a liberdade e a orientação das brincadeiras, entre a ação lúdica concebida como fim em si mesma, ou com fins para a aquisição de conteúdos específicos contidos no currículo 06050
3 3 escolar, o brincar acaba por atravessar um continuum de experiências (SILVA, 2006). Sendo assim, cabe-nos entender como usar o brinquedo e a brincadeira no ambiente da creche. Sabendo que a brincadeira fornece à criança a possibilidade de construir uma identidade autônoma, cooperativa e criativa (ABRAMOWICZ; WAJSKOP, 1999, p.56) e que, por meio da brincadeira, a criança se expressa, demonstra seus desejos, inquietações, dificuldades e sentimentos, é preciso que haja um olhar pedagógico, por parte dos profissionais. Além disso, é necessário focar nas iniciativas espontâneas das crianças que levem a uma brincadeira, seja ela concreta ou de faz de conta, vez que é pelo brincar e repetir a brincadeira que a criança saboreia a vitoria da aquisição de um novo saber, incorporando-o a cada novo brincar (SILVA, 2006). O documento Critérios para o atendimento em creches que respeite os direitos fundamentais das crianças deixa claro que, nas creches, "os brinquedos estão disponíveis às crianças em todos os momentos, e que, mesmo quando estão guardados, devem ficar em locais de livre acesso às crianças (BRASIL, 2009, p.14). O mesmo documento salienta ainda que as rotinas da creche são flexíveis e reservam períodos longos para as brincadeiras livres (BRASIL, 2009, p.14) e que, por esse motivo, já ficam previstas, nos orçamentos de construção e manutenção das creches: a compra e reposição de brinquedos, material para expressão artística e livros em quantidade e qualidade satisfatórias para o número de crianças e as faixas etárias (BRASIL, 2009, p. 38). Isso porque o Ministério da Educação entende que o brinquedo e a brincadeira são instrumentos da criança, entendendo que, nessa idade, a brincadeira é a principal forma de a criança se desenvolver. É preciso que os brinquedos e as brincadeiras não se tornem monótonos e repetitivos para as crianças. Por isso a necessidade de se ter diversidade de brinquedos e criatividade por parte dos educadores em elaborar e ajudar as crianças, descobrindo diversas formas de utilizar o brinquedo concreto e de explorar a brincadeira livre. Em complemento a isso, Bondioli (1998, p. 213) considera a necessidade de delinear uma sequência evolutiva do jogo de zero a três anos que esclareça, para cada etapa considerada, o entrelaçamento entre criança, objetos, pessoas no jogo, e evidencie a inter-relação entre aspectos cognitivos, afetivos e sociais. Como complemento a esse ponto, os Parâmetros básicos de infra-estrutura para instituições de educação infantil evidenciam a importância da recreação e do espaço de 06051
4 4 recreação nas creches, acrescentando que, a partir das brincadeiras, no geral, a criança começa a ler o mundo, ou seja, o reconhecimento do corpo, junto com a interação com o ambiente natural com o qual ela convive diariamente, estimula a curiosidade e a criatividade da criança. Assim, observamos que a brincadeira é mais que aprender, sendo a maneira que a criança encontra para se expressar e se expressando, ela se desenvolve de maneira natural. Portanto, é necessário oportunizar à criança, no ambiente da creche, brincar por brincar e também brincar para aprender, o que dá o tom é se estamos atentos ao movimento que a criança faz no que se refere ao gesto de estar brincando. Somente conseguiremos perceber esse gesto, se estivermos atentos a nós mesmos, isto é, se soubermos que aquele movimento é importante para ela e que nós o reconhecemos em nós mesmos (PEREIRA, 2005, p.26). Considerações Finais Ao longo das leituras e análises dos documentos aqui abordados, pudemos perceber que, embora muito se fale a respeito dos direitos e dos deveres das crianças, nem sempre isso tem se configurado nas práticas pedagógicas da creche. Ainda assim, tal estudo possibilitou a compreensão da importância de se respeitar a infância, a sua forma peculiar de se desenvolver e de aprender, sendo de fundamental importância que tais documentos sejam conhecidos por todos os educadores, em especial aqueles que trabalham nas Instituições de Educação Infantil. A partir dessa discussão torna-se possível buscar uma relação entre o que é oficial os documentos, e a prática cotidiana da creche na tentativa de possibilitar as crianças se expressar nesses espaços, também por meio do brincar. Desse modo, é importante valorizar e dar um lugar significativo à brincadeira na creche, pois a brincadeira é a linguagem da qual as crianças se apropriam para se constituírem como seres humanos. As crianças usam de gestos, expressões, sons, brinquedos e até do silêncio para entenderem e interpretarem o mundo. Nesse sentido, brincar nem sempre é uma forma de prazer. Se observarmos bem, nas brincadeiras das crianças encontraremos disputas, temores, acordos, burlas, birras, alegria, raiva, enfim, as inúmeras formas de relacionamento encontradas na vida do dia-a-dia, acrescidas com o tempero da imaginação, do de mentirinha (PEREIRA, 2005, p. 24)
5 5 Assim, em um movimento de pesquisa, o grupo LEFoPI, continua as discussões com essas profissionais a cerca da temática do brincar entendendo a creche como um lugar de expressão das crianças, considerando que por meio do brincadeira, as crianças se relacionam, brigam, questionam, escolhem, descobrem, aprendem, recriam, enfim, desenvolvem-se, descobrindo o mundo em que vivem e produzindo cultura. Nossas discussões, sob o eixo do brincar, continuam pautadas sob a premissa que a brincadeira deve estar no centro de tudo pensado para a educação de crianças na creche. Isso porque é por meio dela que as crianças vão viver a tensão das escolhas, do conflito, dos limites, do fazer e dos desfazeres das ações e imaginações em que o brincante experimenta o equilíbrio e o desequilíbrio, o contraste e o semelhante, a união e a desunião (PEREIRA, 2005, p. 24). Referências ABRAMOWICZ, Anete; WAJSKOP, Gisela. Educação infantil creches: atividades para crianças de zero a seis anos. 2ed. São Paulo: Moderna, BONDIOLI, Anna. A dimensão lúdica na criança de 0 a 3 anos e na creche. In: BONDIOLI, Anna; MANTOVANI, Suzana (orgs.). Manual de Educação Infantil. Porto Alegre: ArtMed, p BORBA, Ângela Meyer. As culturas da infância no contexto da Educação Infantil. In: VASCONCELLOS, Tânia de (org.). Reflexões sobre infância e cultura. Niterói: EdUFF, BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Política Nacional de Educação Infantil:pelo direito das crianças de zero a seis anos à educação. Brasília:MEC,SEB, p. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Critérios para o atendimento em creches que respeite os direitos fundamentais das crianças. 6ed. Brasília: MEC, SEB, p. FÜLLGRAF, Jodete; WIGGERS, Verena; CAMPOS, Maria Malta. Qualidade na educação infantil: alguns resultados de pesquisas In: 28ª Reunião Anual da ANPED, 2005, Caxambu. Anais da 28ª Reunião anual da ANPED, Caxambu, PEREIRA, Eugênio Tadeu. Brincar e Criança. In: CARVALHO, Alysson [et al.] (orgs.) Brincar (es). Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005, p SILVA, Léa Stahlschmidt Pinto. Roteiro de aula da disciplina Brinquedos e Brincadeiras na Educação Infantil. Universidade Federal de Juiz de Fora. Faculdade de Educação. Curso de Pedagogia,
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