estética & filosofia da arte
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- Gilberto Castanho Estrela
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1 estética & filosofia da arte carlos joão correia ºSemestre
2 O que é a arte? Esta é uma questão que tem sido importante tanto na estética do século XX como na prática da arte. Por vezes, parece que os artistas tiveram de a confrontar nos seus trabalhos para serem levados a sério pelo mundo da arte. Enquanto escrevo, o artista belga Francis Alÿs escolheu mandar um pavão vivo para a Bienal de Veneza em vez de comparecer pessoalmente. A actividade do pavão é apresentada como uma obra de arte intitulada O Embaixador. Os galeristas britânicos do artista forneceram um comentário útil sobre o significado desta obra de arte: «A ave irá pavonear-se em todas as exposições e festas como se fosse o próprio artista. É burlesca, insinuando a vaidade do mundo da arte e remetendo para velhas fábulas com animais.» Presumivelmente, estava alguém por perto para limpar os trabalhos menores deste artista substituto durante a bienal. Talvez estes venham a ser expostos numa futura bienal. Warburton 2007:13-14; 2003: 1-2
3 Alÿs está longe de ser o primeiro artista a apresentar um animal vivo como obra de arte. Uma Verdadeira Obra de Arte, de Mark Wallinger, por exemplo, é um cavalo de corrida e participou em competições. O nome da obra não deve ser entendido metaforicamente. É literalmente uma obra de arte. É um verdadeiro cavalo que participou em competições assim como é, também, uma verdadeira obra de arte. Nomear o cavalo e dar a conhecer a sua existência é um desafio para a maioria das posições aceites acerca do que é a arte. E, num certo sentido, é esse o objectivo ou pelo menos uma boa parte do objectivo. Na criação de obras de arte como esta um estilo baptizado por «objectos ansiosos» pelo crítico de arte Harold Rosenberg os artistas aproximam-se da condição de filósofos. Para eles, os predecessores sugerem uma teoria da arte que refutam elegantemente através de um contra-exemplo bem escolhido. Com o tempo, esses contra-exemplos ficam integrados na corrente e perdem o poder de chocar, tornando-se a seu tempo alvo de uma nova avant-garde. E assim a arte evolui em direcções estranhas e imprevistas. Warburton 2007:14; 2003: 2
4 Eduardo Kac Alba Edúnia
5 1ª Uma obra de arte no sentido classificativo é 1) artefacto 2) um conjunto de características que lhe conferiram o estatuto de candidato à apreciação por uma ou várias pessoas que representam determinada instituição social (o mundo da arte). George Dickie. Art and the Aesthetic. Ithaca/NY: Cornell Un.Press. 1974, 34. 2ª Uma obra de arte é um artefacto do tipo [of a kind] criado para ser apresentado a um público do mundo da arte. George Dickie. Introduction to Aesthetics. Oxford/NY: Oxford Un. Press. 1997, 92.
6 R.G. Collingwood 1938 "Estava constantemente a observar o trabalho do meu pai, da minha mãe e dos outros pintores profissionais que frequentavam a nossa casa, e tentava constantemente imitá-los; de modo que aprendi a pensar numa pintura não como um produto acabado, exposto para admiração dos entendidos, mas como um relato visível, espalhado pela casa, de uma tentativa de resolver um determinado problema na pintura, até onde a tentativa o permitia. Aprendi aquilo que alguns críticos e estetas nunca souberam durante as suas vidas: que nenhuma «obra de arte» está acabada, de modo que, nesse sentido da expressão, não há de todo em todo «obras de arte». O trabalho cessa sobre a pintura ou manuscrito não porque esteja acabado mas porque acabou o prazo para a sua conclusão, ou porque o editor exige o trabalho." An Autobiography. Oxford: Clarendon Press. 1978, 2 Cit. Warburton 2007:52-53; 2003:38-39
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12 William Morris Arts and Crafts
13 Arte como ofício - sentido obsoleto τέχνη - téchnē ars Ars no Latim antigo, como τέχνη nos gregos [...] significava um ofício ou uma técnica [skill] especializada, como a carpintaria, a actividade dos ferreiros ou a cirurgia. Os gregos e os romanos não tinham qualquer concepção do que nós chamamos arte como sendo algo de diferente de ofício; o que nós chamamos arte eles viam-na apenas como um tipo de ofício, como o ofício da poesia The Principles of Art. Oxford/NY: OUP. 1958, 5 Ofício [craft] é o que ars significava no Latim antigo e o que τέχνη significava para os gregos: a capacidade de produzir um resultado preconcebido através de uma acção conscientemente controlada e directa. The Principles of Art. 1958: 15
14 Herrad de Landsberg
15 Arte versus Ofício 1. Ofício envolve sempre a distinção entre meios e fins; 2. Ofício envolve a distinção entre planificação e execução; 3. No processo de planificação de um ofício meios e fins estão relacionados entre si numa única direcção. Na planificação o fim é prévio aos meios. 4. No ofício há uma distinção clara entre matéria-prima e produto acabado ou artefacto. 5. No ofício há uma distinção entre matéria e forma. 6. Há uma relação hierárquica entre diferentes ofícios. The Principles of Arts. 1958: 15-17
16 Collingwood rejeita a teoria técnica da arte com base na ideia de que a actividade do artista não precisa de envolver uma distinção entre meios e fins. Nem precisa de envolver uma distinção entre planear e executar. Obviamente que algumas obras de arte envolvem de facto planeamento, particularmente, por exemplo, as produzidas como resultado de uma encomenda detalhada. Qualquer pessoa que ache que Miguel Ângelo se limitou a pegar no pincel e na tinta quando decorou o tecto da Capela Sistina é ingénua. O trabalho de Miguel Ângelo envolveu imenso planeamento. Contudo, planear não é uma característica necessária para fazer arte, nem uma sua característica distintiva. Para usar o exemplo de Collingwood, um escultor a brincar com um pedaço de barro, vendo os seus dedos a transformá-lo num pequeno dançarino, pode mesmo assim produzir uma obra de arte. O facto de não ter planeado produzir tal escultura, nem saber qual iria ser o seu aspecto até estar perto de a completar, não a impede de ser uma obra de arte.
17 Isto é algo que se pode ver claramente, por exemplo, nos métodos de trabalho de Picasso, que declarou: «não sei antecipadamente o que irei pôr na tela, do mesmo modo que não decido antecipadamente que cores usar.» Isto destrói a teoria da técnica da arte como uma teoria inclusiva de toda a arte. Contudo, Collingwood aponta outras dificuldades, como a de especificar a matéria-prima para uma obra de arte. Será a matéria-prima de um poema simplesmente as palavras? Ou será talvez uma emoção? A conclusão de Collingwood é que a teoria técnica da arte como um tipo de ofício é um nado-morto. Apesar de as obras de arte poderem envolver ofício, a arte não deve ser identificada com este, porque a arte não é apenas uma questão de técnica; não é algo que possa ser ensinado como uma competência pode ser ensinada Warburton 2007: 55-56; 2003:40-41.
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19 Os comentários da escultora Ana Maria Pacheco relativamente à sua abordagem da escultura em madeira vão na mesma linha da distinção de Collingwood entre arte e ofício: Obviamente que sei qual é a estrutura da composição, mas não sei como vai evoluir. É por isso que não faço modelos, porque de outro modo seria apenas um design. Estaríamos a lidar com aquilo que sabemos. Nas artes visuais temos de lidar com o que não sabemos. Ana Maria Pacheco Tanto para [Francis] Bacon como para Pacheco, é o próprio processo que clarifica a intenção inicialmente vaga. Como diz Collingwood: «O verdadeiro artista é uma pessoa que, lutando com o problema de expressar uma certa emoção, diz: 'Quero tornar isto claro.'» Há um elemento de planificação à medida que se produz a obra, de reacção ao aleatório ou, pelo menos, a aspectos que não foram conscientemente escolhidos. E ao passo que um certo nível de perícia é necessário, a perícia só por si não é suficiente para fazer de uma tela uma verdadeira obra de arte. Warburton 2007: 61; 2003:48-49
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