CARTA DE BELO HORIZONTE 2016 INTRODUÇÃO
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- Thomas de Paiva Affonso
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1 CARTA DE BELO HORIZONTE 2016 INTRODUÇÃO Desde o ano 2000, a Federação das Apaes do Estado de Minas Gerais (Feapaes-MG) tem motivado a participação de pessoas com deficiência e de suas famílias nos Fóruns realizados concomitantemente aos Congressos da Rede Mineira das Apaes. Nesses Fóruns são elaboradas Cartas que registram os anseios e desejos das pessoas com deficiência intelectual e múltipla, e suas famílias, contendo manifestações e reivindicações nas áreas da saúde, educação, assistência social, trabalho, acessibilidade, vida afetiva e sexual e direitos para subsidiar as ações nas Apaes e nas políticas públicas destinadas a esse público. Em 2016, durante a realização do III Fórum Mineiro de Autogestão, Autodefesa e Família, as pessoas com deficiência intelectual e suas famílias analisaram as seguintes Cartas: PRÍNCIPIO 19 Uberaba Inclusão Social: Uma estratégia para a paz; CARTA DE SÃO LOURENÇO Acessibilidade e inclusão Convivência Universal; CARTA DE UBERLÂNDIA Autogestão Autodefesa: Construindo a autonomia e independência da pessoa com deficiência intelectual; CARTA DE BELO HORIZONTE Tecnologia Assistiva Promovendo o desenvolvimento da Pessoa com Deficiência Intelectual. Após análise concluiu-se que houve grandes conquistas e avanços, mas entendeuse que temos que continuar lutando para melhor qualidade de vida, respeito e dignidade. Segue abaixo a análise das Cartas acima citadas:
2 Sobre o Trabalho O que queremos: Remuneração pelo nosso trabalho; Direito a cursos de capacitação; Que a Apae prepare o Mercado de Trabalho para receber o profissional com deficiência. Capacitação para o Mercado de trabalho; Que a Apae priorize a contratação de seus ex alunos. Oportunidade de trabalho dentro da própria instituição; Ter o direito de escolher entre trabalhar ou não. Ter apoio de pessoas, recursos, serviços e equipamentos que facilitem a participação na família, escola e no trabalho, melhorando a independência e autonomia e promovendo a inclusão social. Sobre o Trabalho O que conquistamos: A pessoa com deficiência tem direito ao trabalho em igualdade de oportunidades com as demais pessoas; É proibida qualquer restrição em razão da deficiência; A pessoa com deficiência pode participar de cursos e treinamentos oferecidos pela empresa onde trabalha; A Lei de Cotas exige a contratação de um número mínimo de pessoas com deficiência; A pessoa com maiores dificuldades também tem direito ao trabalho, que se dará por meio de apoio; O empregador deve adaptar o ambiente de trabalho para receber a pessoa com deficiência.
3 Sobre a Escola O que queremos: Educação Especial com profissionais específicos dentro de cada área que possam dar apoio na Escola da Apae e acompanhamento na Escola Regular; Aprender a ler e a escrever, tendo direito à EJA; Que a escola normal respeite o tempo de aprendizagem do aluno, sem com isso discriminá-lo. Que os professores das escolas comuns sejam preparados para receber os alunos com deficiência; Que a Apae auxilie os professores das escolas comuns, que eles não sejam abandonados pois quem fica sem aprender são os alunos com maiores dificuldades; Que o currículo das escolas regulares seja menos complicado e mais adequado para as pessoas com deficiência; Que se tenha maior flexibilidade nos currículos e forma de avaliação dos alunos, pois nem todos aprendem do mesmo jeito. Ter o direito de ir para a escola comum ou para a escola especial. Ter profissionais especializados para lidar com a pessoa com deficiência intelectual de acordo com a sua necessidade. Sobre a Escola O que conquistamos: A pessoa com deficiência e sua família têm o direito de escolher onde estudar, podendo optar entre escola comum ou especial, pública ou privada; As escolas particulares não poderão cobrar valores superiores das pessoas com deficiência; As escolas comuns deverão contar com o auxílio de professor apoio para pessoas com deficiência;
4 Estruturou-se a EJA anos finais nas Apaes com flexibilização do currículo, por meio de oficinas práticas; As escolas deverão respeitar as especificidades de cada aluno; Os estudantes com necessidades educacionais especiais têm direito a currículo, técnica, organização, dentre outros, de acordo com sua necessidade; Na Apae, a oferta dos serviços educacionais se dão de forma multidisciplinar contando com a participação dos profissionais de todas as áreas. Sobre Direito Acessibilidade O que queremos: Políticos honestos e saber o que acontece no governo; Que não haja discriminação dentro das Apaes, separando os alunos considerados violentos dos mais calmos. Ter acesso aos locais públicos e locais bonitos; Ter acesso e fazer uso deles, não apenas passar perto; Ter direito ao lazer com acessibilidade. É preciso aumentar o acesso das pessoas com deficiência ao lazer, como todas as outras pessoas; Que as Apaes façam mais casas lares. Quando a gente envelhecer quem vai cuidar da gente?; Ter direito a dignidade que muita gente fala, mas continua discriminando. O preconceito continua presente em nossas vidas. Queremos ser vistos como pessoas. As Apaes devem organizar serviços para as pessoas com deficiência em fase de envelhecimento, serviços que incluam a família e que promovam atividades que melhorem a qualidade de vida da pessoa com deficiência, tais como atividades físicas, laborais, orientações sobre dieta, e outras. Que se invista em programas de sensibilização e humanização de todas as pessoas que interagem com as pessoas com deficiência em diversos espaços sociais (família, escola, comunidade).
5 Que as leis sejam cumpridas. Temos muitas leis boas, somos cidadãos e pagamos impostos em tudo o que compramos. Se temos deveres também queremos que nossos direitos saiam do papel e se tornem realidade. Que o Programa de Autodefensores saia do papel em todas as Apaes, pois podemos falar o que queremos e nós sabemos escolher e definir o que é melhor para nossas vidas. Queremos ter condições de comprar casa própria e os políticos poderiam conseguir financiamentos para ajudar as pessoas com deficiência a terem suas casas. Que os autodefensores regionais e estaduais tenham o direito de visitar as Apaes da região e do estado. Ter acesso às reuniões das Apaes. Queremos ser preparados para entender como funciona nossa Apae, mas as pessoas não têm paciência de explicar e dizem que não podemos participar porque não sabemos escolher e nem votar. Participar da elaboração e da implementação do Plano de Ação, nos Conselhos de Direitos e na diretoria das Apaes.
6 Sobre Direito Acessibilidade O que conquistamos: As pessoas com deficiência devem conviver com as outras, sem sofrer qualquer tipo de discriminação. Quando na escola, as pessoas com deficiência integram a sala de aula de acordo com a sua idade escolar e não em relação à deficiência ou grau de comprometimento; A lei garante que a pessoa com deficiência viva de forma independente e que exerça todos os direitos de cidadania e participação social, devendo o órgão público e a sociedade em geral facilitar a aproximação, acesso, permanência a todos os lugares, que deverão ser acessíveis; A lei também garante acessibilidade de informações, segurança, tratamento, comunicação, de acordo com as necessidades de cada pessoa com deficiência; As Apaes estruturaram ou estão estruturando serviços que oferece atendimento especializado voltados às pessoas com deficiência em envelhecimento, dentre os quais citamos o serviço de assistência social de Média Complexidade, que busca evitar o isolamento social desse indivíduo e do cuidador familiar, promovendo a autonomia e fortalecendo o papel protetivo da família; Vários mecanismos de defesa da pessoa com deficiência foram criados e solidificados, inclusive com defensoria pública voltada exclusivamente a esse público, participação efetiva em conselhos, dentre outros; O Programa de Autodefensores foi solidificado e hoje contamos com a Escola de Autodefensores, existente em 126 Apaes do Estado de Minas Gerais; Foram estruturados fóruns locais, regionais e estadual da pessoa com deficiência, objetivando a participação efetiva dos mesmos nas discussões;
7 A pessoa com deficiência passou a ser associada especial da instituição, possuindo o direito de votar e ser votada na escolha dos representantes da Apae, podendo, inclusive, ser presidente da instituição, bem como participar da elaboração do plano de ação da entidade; A lei possibilita linhas de financiamento para compra de casa própria pela pessoa com deficiência. Sobre Afetividade Namoro O que queremos: Que seja valorizado o lado afetivo das pessoas e que a família respeite as amizades surgidas na instituição, permitindo que elas aconteçam fora dela também; Que não sejamos protegidos dos conflitos. Que sejam valorizadas as trocas, os trabalhos em equipe e os relacionamentos surgidos das brincadeiras em grupo nos relacionamentos do Ter o direito de namorar, ser feliz, formar uma família, ter filhos, ter netos como todas as pessoas. Que as Apaes tenham programas de educação sexual para que a gente possa aprender a namorar e cuidar da nossa saúde e não pegar doenças sexualmente transmissíveis. Entender como é o namoro para evitar a gravidez na adolescência, pois tem muitos colegas que engravidam porque não sabem como namorar. Que nossas famílias sejam incluídas nas Apaes. Nossas famílias boas ou ruins são Ter o direito de namorar, casar e ter filhos. Sermos orientados por profissionais da Apae ou da rede parceira com o apoio e permissão da família. Que os pais proporcionem a autonomia e independência dos seus filhos. Que os nossos pais conversem com a gente sobre nossa afetividade e Que as Apaes criem parcerias com profissionais especializados na área da sexualidade para atender as pessoas com deficiência e suas famílias. Que as pessoas com deficiência tenham mais oportunidade de trabalho, para poderem fazer escolhas e assumirem o casamento com responsabilidade e independência. Que os pais e/ou responsáveis sejam capacitados em
8 dia a dia. as famílias que temos e elas precisam de apoio. sexualidade. A orientação sexual deve começar na família. relação à orientação afetivo-sexual de seus filhos, por exemplo: namorar, fazer amizades, constituir família. Sobre Afetividade Namoro O que conquistamos: As pessoas com deficiência têm o direito de namorar, casar, constituir união estável, ter filhos, inclusive adotar em igualdade de condições; A pessoa com deficiência tem direito ao acesso de informações sobre sua vida sexual, prevenção, condições da gestação; A família adquiriu papel importante no dia a dia das pessoas com deficiência, inclusive na Apae. Nesse sentido foram criadas as Escolas de Pais, que já contam com 55 apaes somando 902 familiares capacitados em todo o Estado, dando a oportunidade à família de ser protagonista da sua própria história.
9 CARTA DE BELO HORIZONTE 2016 Nós, integrantes do III Fórum Mineiro de Autogestão, Autodefesa e Família, ocorrido em setembro de 2016, no município de Belo Horizonte-MG, que somamos 420 (quatrocentos e vinte) pessoas com deficiência intelectual e familiares, representando as 450 Apaes do estado de Minas Gerais, eleitos nos 35 Fóruns Regionais, que aconteceram de março a agosto de 2016, constatamos que muitas das reivindicações durante esses anos foram conquistadas e estão sendo fortalecidas pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência LBI - Lei Brasileira da Inclusão que nasceu justamente dos sonhos e anseios das pessoas com deficiência e de seus familiares. Elaboramos esse documento CARTA DE BELO HORIZONTE 2016 tendo consciência que para contemplar de forma adequada e para usufruirmos dos benefícios do Estatuto da pessoa com deficiência, propomos 19 (Dezenove), reivindicações que irão contribuir para mais avanços nessa luta, promovendo o que buscamos: Melhor qualidade de Vida, Respeito e Dignidade. 1. Que as pessoas com deficiência intelectual e múltipla e suas famílias sejam orientadas quanto à legislação vigente e a sua aplicação. Ex: LBI. 2. Que os empregadores sejam conscientizados da necessidade de adaptações e procedimentos especializados (tecnologias assistivas e outros) para atender as necessidades das pessoas com deficiência intelectual e múltipla no mundo do trabalho. Ex: modalidade de emprego apoiado. 3. Que os nossos representantes políticos regulamentem o auxílio inclusão para beneficiar as pessoas com deficiência intelectual e múltipla que recebem BPC e têm interesse de trabalhar 4. Que seja mantido o direito de escolha da pessoa com deficiência e sua família em relação à escola que irá frequentar: comum ou especial, pública ou privada.
10 5. Que o professor apoio seja mais bem capacitado sobre a deficiência intelectual e múltipla e possa assim promover a aprendizagem dessas pessoas onde quer que elas estejam. 6. Que nas salas de aula, onde tem pessoas com deficiência intelectual e múltipla o professor regente e o professor apoio dialoguem para garantir a aprendizagem desse indivíduo. 7. Que as Apaes articulem com a rede socioassistencial para garantir os apoios que as pessoas com deficiência intelectual e múltipla necessitam na fase de envelhecimento. 8. Que as pessoas com deficiência intelectual e múltipla tenham o direito de gerenciar sua própria renda seja ela BPC ou salário, e sejam também orientadas quanto ao planejamento dos seus gastos, por meio da educação financeira pessoal. 9. Que a família seja orientada quanto à importância da vida afetiva e da sexualidade da pessoa com deficiência intelectual e múltipla, inclusive na escolha de ter ou não ter filhos. 10. Que as políticas públicas dialoguem entre si para atender de maneira integrada as necessidades da pessoa com deficiência intelectual e múltipla e sua família. 11. Que as políticas públicas promovam ações preventivas de deficiências. Ex: garantir vacinas de doenças que deixam sequelas (Meningite, e outras). 12. Que o atendimento domiciliar às pessoas com deficiência intelectual e múltipla que necessitam sejam realmente realizados tanto no SUS, quanto na rede privada. 13. Que o programa de Reabilitação na Comunidade seja também realizado para as pessoas com deficiência intelectual e múltipla e suas famílias. 14. Que os recursos de habilitação e reabilitação na área de saúde, educação e assistência social para as pessoas com deficiência intelectual e múltipla e suas famílias sejam arcados pelo poder público. Ex: Pedia Suít; Equoterapia; Centro Dia. 15. Que o poder público, as organizações que atendem pessoas com deficiência intelectual e múltipla, e a sociedade em geral incentivem o lazer e cultura como forma de promoção social dessa pessoa.
11 16. Fortalecer as relações entre as famílias, profissionais e gestores das Apaes com a finalidade de conhecer as necessidades das pessoas com deficiência intelectual e múltipla e de suas famílias. 17. Possibilitar o autoconhecimento, a livre expressão e o empoderamento das pessoas com deficiência intelectual e múltipla e de suas famílias. Ex: implantação da Escola de Formação de Pais e da Escola de Autodefensores. 18. Reivindicar políticas públicas para cuidadores de pessoas com deficiência intelectual e múltipla que estão em situação de vulnerabilidade. 19. Criar estratégias de aproximação com a comunidade e o poder público, inclusive com participação nos conselhos de direitos do município, objetivando firmar parcerias. Considerações Finais: Este documento de recomendações e propostas deve nortear as ações do movimento Apaeano Mineiro nas 450 unidades em todo o estado, (gestores, profissionais, colaboradores, familiares, etc), afastando de vez os estigmas e preconceitos que esse público carregou todos esses anos e que os impediram de assumirem suas próprias vidas. É papel dos gestores, profissionais oportunizar espaços para o exercício de direitos e deveres das pessoas com deficiência intelectual e múltipla e seus familiares em todas as políticas públicas: saúde, educação, trabalho, assistência social.
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