A VALORIZAÇÃO DA LINGUAGEM COMO MEIO DE PROMOÇÃO DE APRENDIZAGENS SIGNIFICATIVAS EM UM PROGRAMA DE ENRIQUECIMENTO ESCOLAR
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- Maria das Neves Bergmann Beltrão
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1 A VALORIZAÇÃO DA LINGUAGEM COMO MEIO DE PROMOÇÃO DE APRENDIZAGENS SIGNIFICATIVAS EM UM PROGRAMA DE ENRIQUECIMENTO ESCOLAR Resumo CAMARGO, Renata Gomes - UFSM re_kmargo@hotmail.com CENCI, Adriane - UFSM adricenci@hotmail.com COSTA, Leandra Costa da - UFSM lcostadacosta@hotmail.com Eixo Temático: Didática: Teorias, Metodologias e Práticas Agência Financiadora: Não contou com financiamento Na Universidade Federal de Santa Maria UFSM estabelecida no estado do Rio Grande do Sul, existe um protejo de extensão, o Programa de Incentivo ao Talento PIT, desenvolvido por acadêmicos participantes do Grupo de Pesquisa Educação Especial: Interação e Inclusão Social GPESP, que oferece um atendimento com vistas a aprofundar e enriquecer o conteúdo curricular trabalhado na escola para alunos com características de altas habilidades/superdotação. Este projeto funciona há 6 anos em parceria com as escolas da Rede Pública e Privada de Santa Maria, em horário extra-escolar. Segundo a Teoria dos Três Anéis de Superdotação, proposta por Renzulli (1978, 1986), sujeitos com altas habilidades/superdotação são aqueles que apresentam em seu comportamento uma interação entre três grupamentos básicos dos traços humanos, sendo eles: habilidades gerais ou específicas acima da média, elevados níveis de comprometimento com a tarefa e elevados níveis de criatividade, porém as características destes alunos devem ser percebidas com flexibilidade, porque estamos cientes de que cada um apresenta perfil diferenciado de pensar, de aprender, de agir e de desenvolver seu potencial. Assim, estando atentos à diversidade dos participantes, sentimos a necessidade de estabelecer uma prática que esteja atenta às diferentes demandas e seja realmente significativa, acreditando que a linguagem tem papel fundamental, sendo compreendida como a base de outras habilidades mentais do ser humano, uma vez que, segundo Vygotsky (2001), é o principal meio de internalização, queremos demonstrar no presente texto a importância de uma metodologia de trabalho neste projeto, que tem como princípio primordial o entendimento entre seus participantes, que se dá essencialmente pela comunicação eficaz proporcionada por uma linguagem compartilhada e que possibilita aos alunos desenvolver aprendizagens significativas.
2 3687 Palavras-chave: Programa de enriquecimento escolar. Linguagem. Aprendizagem significativa. Altas habilidades/superdotação. Introdução No intuito de realizar uma contextualização inicial, partimos dos legados do contexto histórico da educação brasileira, aonde nos deparamos com o conhecimento de Paulo Freire à respeito de educação, didática, ensino e reflexão verificando que é de suma importância e de grande necessidade considerar sempre as práticas e os saberes dos grupos envolvidos no processo educativo. Dessa forma, podemos visualizar de maneira muito clara e significativa através de suas obras que o ato de ensinar não é simplesmente transferir conhecimento, mas que ensinar exige acima de tudo uma troca, uma linguagem especial que implica diretamente em vários fatores como: saber escutar, curiosidade, criticidade, individualidade, reflexão, ética, liberdade entre outros fatores. Uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é propiciar as condições em que os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o professor ou com a professora ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de amar. Assumir-se como sujeito porque capaz de reconhecer-se como objeto (FREIRE, 1996, p.46). Considerando a abrangência da educação, encontramos modalidades educacionais específicas, dentre estas, a Educação Especial, que possui princípios da sua prática, bem como o público-alvo da sua atuação bem definidos. Na perspectiva da educação inclusiva, a educação especial passa a integrar a proposta pedagógica da escola regular, promovendo o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Nestes casos e outros, que implicam em transtornos funcionais específicos, a educação especial atua de forma articulada com o ensino comum, orientando para o atendimento às necessidades educacionais especiais desses alunos. A educação especial direciona suas ações para o atendimento às especificidades desses alunos no processo educacional e, no âmbito de uma atuação mais ampla na escola, orienta a organização de redes de apoio, a formação continuada, a identificação de recursos, serviços e o desenvolvimento de práticas colaborativas (BRASIL, 2008, p. 9)
3 3688 Considerando esta citação, vamos nos deter em alguns pontos dela, estes nortearão o presente trabalho, que terá por subsídio para sua explanação, os alunos com altas habilidades/superdotação e o atendimento a estes por meio de desenvolvimento de práticas colaborativas. Na Universidade Federal de Santa Maria UFSM no estado do Rio Grande do Sul, existe um protejo de extensão, o Programa de Incentivo ao Talento PIT, coordenado pela Prof.ª Drª. Soraia Napoleão Freitas, desenvolvido por acadêmicos do curso de graduação em Educação Especial e Pedagogia, da Especialização, Mestrado e Doutorado em Educação da UFSM, participantes do Grupo de Pesquisa Educação Especial: Interação e Inclusão Social GPESP que oferece um atendimento com vistas a aprofundar e enriquecer o conteúdo curricular trabalhado na escola para alunos com características de altas habilidades/superdotação. Este projeto funciona em parceria com as escolas da Rede Pública e Privada de Santa Maria, em horário extra-escolar. Segundo a Teoria dos Três Anéis de Superdotação, proposta por Renzulli (2004), sujeitos com altas habilidades/superdotação são aqueles que apresentam em seu comportamento uma interação entre três grupamentos básicos dos traços humanos sendo eles: habilidades gerais ou específicas acima da média, elevados níveis de comprometimento com a tarefa e elevados níveis de criatividade. As características de alunos que apresentam altas habilidades devem ser percebidas com flexibilidade, porque estamos cientes de que cada um apresenta perfil diferenciado de pensar, de aprender, de agir e de desenvolver seu potencial. Entretanto, há um elenco de características a ser consideradas, como: curiosidade e vivacidade mental; motivação interna; persistência na área de seu talento; facilidade de compreensão e percepção da realidade; capacidade de resolver problemas; energia; habilidade em assumir riscos; sensibilidade; pensamento original e divergente e conduta criativa. Nem todos apresentam as mesmas características, visto que elas podem variar em grau de intensidade e na forma de sistematizar os comportamentos (BRASIL, 1995). O grupo funciona há 6 anos, e ainda que atenda alunos a partir de uma característica comum, as altas habilidades/superdotação, encontramos nestes sujeitos uma grande diversidade, uma vez que as características de altas habilidades podem se manifestar em diversas áreas.
4 3689 Esta observação pode ser fundamentada em Howard Gardner que em sua Teoria das Inteligências Múltiplas (1994), descreve oito inteligências múltiplas: Lingüística (verbal), Lógico-Matemática, Espacial, Cinestésico-corporal, Musical, Interpessoal e Intrapessoal e a Naturalista e, recentemente (Gardner, 1999), anunciou seus estudos para incluir a inteligência espiritual, entendida como a preocupação com certos conteúdos cósmicos. Estando atentos a estes aspectos do projeto e seus participantes, sentimos a necessidade de estabelecer uma prática que esteja atenta às diferentes demandas e seja realmente significativa Nesse âmbito a linguagem tem papel fundamental, sendo compreendida como a base de outras habilidades mentais do ser humano, uma vez que, segundo Vygotsky, é o principal meio de internalização. A internalização do conhecimento acumulado pelos homens ao longo de sua história e disponível no meio social em que a criança vive se dá, especialmente pela linguagem. Interagindo com as pessoas que integram seu meio ambiente, a criança aprende significados lingüísticos e, com eles, o conhecimento de sua cultura. O funcionamento mental mais complexo das crianças emerge graças às regulações verbais realizadas por outras pessoas, às quais vão sendo substituídas gradativamente por auto-regulações, à medida que a fala vai sendo internalizada (PALANGANA, 2001, p.131). A internalização, que aqui entendemos como a aprendizagem, acontece essencialmente pelas trocas e vivências relacionadas a conhecimentos, conteúdos específicos que trazemos, esta no projeto se dá utilizando basicamente da linguagem, ou seja, uma metodologia baseada em práticas dialógicas eficazes. Dessa forma, assim como a cultura, a linguagem também é entendida como constitutiva do conhecimento humano. Isso porque além de ser estruturada pelas circunstâncias e referências do mundo social a linguagem é, ao mesmo tempo, estruturante do nosso conhecimento e extensão (simbólica) de nossa ação sobre o mundo (OLIVEIRA, 1997, p.43). Deste modo, queremos demonstrar no presente texto a importância de uma metodologia que tem como princípio primordial o entendimento entre seus participantes, que se dá essencialmente pela comunicação eficaz proporcionada por uma linguagem compartilhada e que possibilita aos alunos desenvolver uma aprendizagem significativa. Desenvolvimento
5 3690 Para falar de uma metodologia de atuação, primeiramente necessitamos deixar claro como se configura este trabalho no projeto, para que possamos visualizar a valorização da linguagem como meio para o desenvolvimento das atividades. O trabalho em questão acontece no Programa de Incentivo ao Talento PIT. Projeto de extensão vinculado ao Grupo de Pesquisa Educação Especial: Interação e Inclusão Social, GPESP, da Universidade Federal de Santa Maria. O PIT surgiu da preocupação com o desenvolvimento e a estimulação do potencial e do talento de crianças e adolescentes com altas habilidades-superdotação. É um programa de enriquecimento que visa, dentre outros objetivos, suprir e complementar as necessidades apresentadas, propiciando um espaço rico em experiências diversas, onde ocorrem redes de diálogo, troca de conhecimentos, aprofundamento teórico das áreas de interesse e momentos para que estes sujeitos encontrem desafios compatíveis com sua capacidade. O PIT tem como propósito geral oferecer, aprofundar e enriquecer o conteúdo curricular trabalhado na escola, pois esta geralmente não contempla todos os interesses dos alunos com altas habilidades/superdotação sendo que os estudos escolares, na maioria dos casos, são pouco motivadores para esses sujeitos. Neste contexto, tem por objetivos específicos oportunizar experiências, com orientações adequadas, aos alunos com altas habilidades/superdotação das séries iniciais do Ensino Fundamental de Santa Maria/RS, disponibilizando atividades que englobem a área de interesse de cada um; além de proporcionar aos alunos o autoconhecimento, o cultivo das relações sociais entre os pares, bem como um convívio orientado para o alcance de metas comuns, conscientizar a comunidade escolar sobre a temática em questão; promover debates e discussões com a família através de um Grupo de Estudos com os pais dos alunos participantes do PIT. O Projeto tem parceira com os grupos PETs Programa de Educação Tutorial da UFSM, a fim de que os mesmos desenvolvam, juntamente com a equipe executora do PIT, atividades de aprofundamento teórico e ampliação dos conhecimentos em torno das áreas de interesse das crianças. Neste sentido, para que os sujeitos com altas habilidades desenvolvam-se é necessário proporcionar atividades propositalmente elaboradas para expor, estes alunos, a uma ampla variedade de disciplinas, tópicos, assuntos, profissões e lugares, geralmente não incluídos no
6 3691 currículo escolar. Espera-se, assim, que as necessidades afetivas, sociais e educativas especiais destas pessoas, sejam atendidas devidamente. Dessa forma, voltamos nossas ações para a ampliação das aprendizagens, do pensamento dos alunos, ou seja, trabalhamos para que eles visualizem e explorem suas capacidades. Para tanto estamos sempre atentos buscando entendê-los e qualificar nossa comunicação/diálogo, proporcionados pela linguagem, direcionando as atividades para os interesses que cada aluno nos comunica, para que estas aprendizagens sejam realmente significativas. Buscamos especialmente em Vygotsky o aporte teórico para fundamentar o presente trabalho, pois a relação pensamento/linguagem tem destaque na obra do autor. Para ele a relação entre pensamento e palavra é um processo, e tal relação passa por transformações ao longo da vida. Pensamento e linguagem teriam origens distintas, assim há um período pré-lingüístico do pensamento e um período pré-intelectual da fala; ao longo da evolução tem início uma conexão entre ambos, que depois se modifica e se desenvolve. Da conexão surge o pensamento verbal 1, que possibilita um modo de funcionamento psicológico mais sofisticado. Esse pensamento verbal a interiorização da linguagem não é uma forma de comportamento inato, mas determinado por um processo histórico-cultural (VYGOTSKY, 1993). Na medida em que a criança interage com membros de sua cultura aprende a utilizar a linguagem como meio de comunicação e instrumento do pensamento. Por tal perspectiva o PIT pode ser pensado como espaço que promove a comunicação, a interação social na qual a linguagem é meio de aprendizagem, de desenvolvimento do pensamento. Vygotsky (1993) atribui à linguagem uma função organizadora que produz novas formas de comportamento nos indivíduos, visto que de acordo com sua teoria, a linguagem estrutura o pensamento. O pensamento não é simplesmente expresso em palavras; é por meio delas que ele passa a existir (VYGOTSKY,1993, p.108). 1 A internalização da linguagem, a união de pensamento e fala produz o pensamento verbal, porém este não abrange todas as formas de pensamento ou de fala tanto no adulto como na criança. Vygotsky (1993) propõe que se imagine [...] pensamento e fala como dois círculos que se cruzam. Nas partes que coincidem, o pensamento e a fala se unem para produzir o que se chama de pensamento verbal (p.41).
7 3692 Considerando, de acordo com Sabatella (2005), que os alunos com altas habilidades/superdotação possuem um alto nível de inteligência, objetivamos voltar nossas ações para o reconhecimento, estímulo e/ou desafio, direcionando suas potencialidades de pensamento para questões construtivas. Partindo deste pressuposto, queremos evidenciar a importância da linguagem em situações de aprendizagem, sendo ela estruturante do pensamento, constituindo-se no meio para que alunos participantes e equipe executora do projeto possam efetivamente compreender-se. Este entendimento oportuniza verificar se as atividades estão acontecendo da maneira esperada, o que está sendo benéfico e o que não está ocorrendo como gostaríamos, enfim, como os alunos estão interagindo com a proposta de trabalho. Desta forma, verificamos que o estabelecimento de uma comunicação efetiva, por meio de uma linguagem compartilhada, tem efeitos sobre as aprendizagens e experiências. Esta linguagem compartilhada, entendemos como uma dedicação recíproca em procurar comunicar-se com o outro fazendo-se entender, para isso é necessário que trabalhemos baseados em princípios de interação, onde nos dispomos à estar convivendo de forma ativa em um grupo, compartilhando experiências e vivencias, especialmente por meio da linguagem. Logo, encontramos no interacionismo sócio-histórico os conceitos para a análise da configuração do nosso grupo. Para Vygotsky (1991) os processos de desenvolvimento humanos têm origem no social. Alunos com características de altas habilidades/superdotação, assim como quaisquer sujeitos, necessitam de espaço de interação para que possam vir a desenvolver seu potencial, porém existem algumas peculiaridades. [...] Necessidade de convivência criativa, atividades científicas, tecnológicas, artísticas, de lazer e desporto que congreguem grupos similares, devendo ser estimulado e motivado por programas adjuntos de enriquecimento, como projetos de pesquisa, visitas, viagens, colônias de férias, participação em programas comunitários (SABATELLA, 2005, p.117). A interação, o estímulo, as trocas dentro do grupo social são fundamentais. O PIT se organiza seguindo tais princípios, buscando suprir essas necessidades que Sabatella (2005) aponta.
8 3693 Todos os sujeitos necessitam desse espaço de interação com o grupo social. As características tipicamente humanas não estão presentes desde o nascimento do indivíduo, nem resultam apenas da pressão do meio externo; elas são o resultado da interação dialética do homem e seu meio sócio-cultural. Ao mesmo tempo que o ser humano transforma o seu meio para atender suas necessidades básicas, transforma-se a si mesmo (REGO, 2002, p.41). O pleno desenvolvimento das potencialidades do sujeito com altas habilidades requer o estímulo do meio, nos estudos de Renzulli (2004), encontramos a explicação para isto, onde o autor nos traz que na interação entre as características da pessoa com altas habilidades/superdotação, temos uma forte influência dos fatores ambientais e de personalidade, que contribuem para a manifestação destas. No PIT os alunos têm oportunidade de se deparar com diversas situações em diferentes áreas, identificando-se e aprofundando-se em temas mais específicos, interesses ligados à área de maior potencialidade. Para tanto a metodologia do Projeto se propõe a num primeiro momento trabalhar as diversas áreas e posteriormente segundo o interesse de cada aluno aprofundar em conhecimentos específicos. Destacamos a importância do primeiro momento, uma vez que o sujeito para perceber talento em algo deve ter contato com o objeto desse conhecimento. O contato propiciado pode desencadear a pesquisa individual, tornando esse conhecimento realmente significativo para o sujeito. A Teoria Sócio-Histórica propõe que o organismo biológico e o ambiente social não podem ser analisados separadamente. O desenvolvimento dos mecanismos psicológicos mais avançados os Processos Psicológicos Superiores (PPS) estão relacionados com o meio social, isto é, se originam na participação do sujeito em atividades compartilhadas com os outros. Aqui destacamos o mito que o sujeito com altas habilidades não precisaria de ninguém para aprender. Segundo o interacionismo sócio-histórico as aprendizagens se dão em processos interativos; sem as atividades compartilhadas com o grupo social o desenvolvimento de qualquer sujeito fica comprometido. A interação social, seja diretamente com outros membros da cultura, seja através dos diversos elementos do ambiente culturalmente estruturado, fornece a matéria-prima para o desenvolvimento psicológico do indivíduo. (OLIVEIRA, 1997, p.38) Dessa forma, podemos afirmar que as funções psíquicas têm origem cultural. A cultura é parte constitutiva do homem, uma vez que as características psicológicas tipicamente
9 3694 humanas (PPS) se dão através da internalização dos modos historicamente determinados e culturalmente organizados de operar com informações (REGO, 2002). Além do desenvolvimento cognitivo, destacamos ainda a importância da interação social para o desenvolvimento psicológico dos sujeitos. Especialmente no caso de crianças com altas habilidades, que muitas vezes são tratadas como adultos, a interação com os pares pode ser determinante para que desenvolva uma boa auto-imagem e para que consiga lidar com os demais nas práticas culturais cotidianas. Na perspectiva vygotskyana, a internalização das práticas culturais que constituem o desenvolvimento humano, assume papel de destaque internalização é aprendizagem. Para Vygotsky (1991) internalização é a reconstrução interna de uma operação externa e esse processo consiste em uma série de transformações, ele aponta as seguintes: 1- Uma ação inicialmente externa é reconstruída e passa a ocorrer internamente. 2- Todas as funções no desenvolvimento da criança ocorrem primeiro no nível social (interpsicológico entre pessoas) e depois no nível individual (intrapsicológico no interior da criança). 3- A transformação de processo interpessoal em intrapessoal é resultado de longa série de eventos. Antes de ser internalizado definitivamente, o processo, sendo transformado, continua a existir e mudar como uma forma externa de atividade. Voltamos nosso enfoque para a afirmação que a aprendizagem é inicialmente interpessoal, isto é, se dá entre os sujeitos, na interação, tendo a linguagem como principal forma de comunicação. Assim a equipe executora do PIT trabalha valorizando a compreensão do que é expresso pelo outro através da linguagem. Retomando o que vem nos trazendo Vygotsky (1993), aponta-se as duas funções básicas da linguagem. A primeira é a de intercâmbio social, isto é, para estabelecer comunicação com seus semelhantes o homem cria sistemas de linguagem. Para que se tenha uma comunicação mais sofisticada utilizam-se os signos, estes acabam gerando a segunda função básica da linguagem: a de pensamento generalizante. As palavras signos ordenam o real, criando categorias conceituais. É essa função de pensamento generalizante que torna a linguagem um instrumento de pensamento: a linguagem fornece os conceitos e as formas de organização do real que constituem a mediação entre o sujeito e o objeto de conhecimento (OLIVEIRA, 1997, p.43).
10 3695 Perceber na linguagem a função de intercâmbio social e de pensamento generalizante, ou em outras palavras, a linguagem comunicativa e significativa, como meio de organização e mediação nos propõe muitos desafios, dentre estes, a sensibilização diante da diversidade que temos nos alunos, que precisa ser feita, pois do contrário não conseguiríamos entrar em consenso para promover a internalização/aprendizagem pelas atividades do projeto. Entendemos que perceber a relação entre pensamento e linguagem não é tarefa simples, porém importante para desvendar o funcionamento psicológico humano. Pensamento e linguagem têm origens distintas, Vygotsky (1993) acredita que o progresso da fala não é paralelo ao progresso do desenvolvimento, pois em alguns pontos se cruzam, estão intimamente relacionados como viemos ressaltando ao longo do texto. Assim, a atenção e valorização dadas à linguagem nas práticas do PIT, pela sua ligação com o desenvolvimento do pensamento, proporciona que nossas ações desencadeiem aprendizagens significativas. Nessa perspectiva é que o PIT vem propondo-se a desenvolver um trabalho dinâmico, de aprendizagem significativa, baseado na valorização da linguagem como meio de desenvolvimento, que englobe tanto as questões de ordem cognitiva como de ordem sócioafetiva, a fim de que não se perca o enorme potencial desses sujeitos, uma vez que são, justamente, esses alunos que estão entre os principais responsáveis pelo progresso de nossa sociedade. Considerações finais Analisando os documentos oficiais do nosso país, temos que os espaços que oferecem educacionais não-formais configuram-se como uma opção para o atendimento de alunos com altas habilidades/superdotação. Recomenda-se às escolas de Educação Básica a constituição de parcerias com instituições de ensino superior com vistas à identificação de alunos que apresentem altas habilidades/superdotação, para fins de apoio ao prosseguimento de estudos no ensino médio e ao desenvolvimento de estudos da educação superior. (BRASIL, 2001, p.49). Porém, este trabalho deve ser desempenhado com a preocupação de oferecer uma ação diferenciada e ampliar de forma significativa as aprendizagens que os alunos participantes já efetuam na escola que frequentam.
11 3696 O Programa de Incentivo ao Talento caracteriza-se como tal, sendo que estamos atentos à responsabilidade de desenvolver uma prática pedagogica extra-escolar direcionada a alunos com caracteristicas de altas habilidades/superdotação. Pensamos que um dos fatores que mais qualifica nosso trabalho, e consequentemente as aprendizagens que os alunos desenvolvem, é a forma que desempenhamos as atividades propostas, dando enfoque à valorização da linguagem. E pensar aprendizagem é também falar em desenvolvimento, algo muito mais amplo que pode ser decisivo na vida dos alunos do participantes do projeto, assim como o é para qualquer sujeito. Aprendizado não é desenvolvimento; entretanto, o aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer (VYGOTSKY, 1993, p.101). Aprendizado adequadamente organizado é o que visa a prática da equipe executora do PIT. Nossas propostas buscam atingir aspectos do desenvolvimento que geralmente a escola não trabalha; abordar questões diferenciadas é essencial para que se desperte interesse por elas, e talvez nessas estejam habilidades do sujeito ainda não exploradas, uma vez que não as conhecia por ter contato. Através da reflexão que fizemos o longo do texto, podemos perceber o quanto esta valorização da linguagem, o ouvir nosso aluno, conversar com ele, contribui para trocas efetivas, bom aproveitamento deste espaço de interação social rico que se configura o Programa de Incentivo ao Talento e apreciação da diversidade das pessoas envolvidas. Como trazemos o pensamento de Paulo Freire para fazer uma contextualização inicial, vamos retomar este autor na conclusão do trabalho, para caracterizar a dinâmica da nossa ação, nos diz Freire (1996, p.26) que ensinar inexiste sem aprender e vice-versa. Esta é a impressão que sempre pretendemos passar para os alunos, observando a linguagem de cada um, estabelecendo comunicação e assim, trocas efetivas com eles. Acreditamos que esta forma de trabalho, que utilizando de uma linguagem compartilhada, reflete sobre a aprendizagem dos alunos, que tende a ser significativa, pois parte das características de cada um.assim, contemplando e valorizando as singularidades destes, que são expressas especialmente através da linguagem, conseguimos ter o entendimento entre participantes e equipe executora, qualificando nossa metodologia de trabalho, e consequentemente os resultados desta.
12 3697 REFERÊNCIAS BRASIL, Ministério da Educação e Secretaria da Educação Especial. Diretrizes gerais para o atendimento educacional dos alunos portadores de Altas Habilidades/Superdotação e talentos. Brasília, MEESC/SEESP,1995. Ministério da Educação. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Secretaria de Educação Especial, Brasília: MEC/SEESP, Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasilia: MEC/SEESP, FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, GARDNER, H. Estruturas da mente: A teoria das inteligências múltiplas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994., Mentes extraordinárias. Rio de Janeiro: Rocco, OLIVEIRA, M. K. de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento: um processo sóciohistórico. São Paulo: Scipione, PALANGANA, I. C. Desenvolvimento e Aprendizagem em Piaget e Vygotsky: a relevância do social. São Paulo: Summus, REGO, T. C. Vygotsky: uma perspectiva hisórico-cultural da educação. 14ª edição. Petrópolis: Vozes, RENZULLI, J. O que é esta coisa chamada superdotação, e como a desenvolvemos? Uma retrospectiva de vinte e cinco anos. Revista Educação. Tradução de Susana Graciela Pérez Barrera Pérez. Porto Alegre RS, ano XXVII, n. 1, p , jan/abr SABATELLA, M. L.P. Talento e superdotacao: Problema ou Solução?. Curitiba; IBPEX, VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
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