TAXAS DO SISCOMEX FORAM ELEVADAS ILEGALMENTE E É POSSIVEL A RESTITUIÇÃO
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- Oswaldo da Fonseca Diegues
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1 NÚMERO 95, ANO VIII NOVEMBRO DE 2016 I TAXAS DO SISCOMEX FORAM ELEVADAS ILEGALMENTE E É POSSIVEL A RESTITUIÇÃO Hoje, para se importar qualquer mercadoria, a Receita Federal exige o registro de uma Declaração de Importação, ou DI, no chamado Sistema Integrado de Comércio Exterior, ou Siscomex, criado por Decreto em Alguns anos depois, como era de se prever, instituiu-se que uma taxa para a utilização do sistema. Assim, os importadores passaram a recolher o valor de R$ 30,00 (trinta reais) por DI e de R$ 10,00 (dez reais) para cada adição de mercadoria à DI. Pois bem. Em meados de 2011, por intermédio de uma portaria, o Ministério da Fazenda reajustou a Taxa de Utilização do Siscomex. Com isso, o Registro de Declaração de Importação (DI) pulou de R$ 30 para R$ 185 variação de 516,6%. E cada adição de mercadorias na DI saltou de R$ 10 para R$ 29,50 variação de 195%. Individualmente são valores reduzidos, mas, em grandes operações, e com o passar dos anos, viram um custo mais razoável. Por conta disso, o reajuste foi objeto de inúmeros questionamentos judiciais. Em recente decisão, a 2ª Turma do STJ julgou como inexigível os reajustes da taxa acima do INPC, por extrapolar, e muito, a variação de 131,6% do custo de vida medido pelo índice neste período, outorgando ao importador o direito a restituição do valor pago acima desta atualização.
2 A decisão é um excelente precedente, sendo certo que deve estimular os importadores a entrarem em juízo para se creditarem, com correção pela Selic, de valores já pagos a maior nos últimos 5 anos. II FRAUDES FISCAIS NA MIRA DA RECEITA Quem acompanha nossos informativos já tem notado que a postura da Receita federal e Procuradoria tem mudado. Com resultados pífios de arrecadação via execuções fiscais, a postura passiva de ajuizar as ações e esperar resultados tem sido abandonada pelos procuradores, em prol de novas estratégias. Em resumo, foco nos melhores casos e atuação preventiva (extrajudicial). Recente exemplo dessa nova postura é a criação do Grupos de Atuação Especial no Combate à Fraude à Cobrança Administrativa e à Execução Fiscal (GAEFIS), com o objetivo de identificar e prevenir fraudes fiscais que ponham em risco a recuperação de créditos tributários da União. As ações dos GAEFIS levarão em consideração os seguintes critérios: a potencialidade lesiva da fraude, o risco de ineficácia da cobrança ou da execução fiscal e a necessidade de adoção de medidas judiciais urgentes para assegurar a efetividade da cobrança. Para isso, poderão solicitar monitoramento patrimonial, solicitar a instauração de procedimento prévio de coleta de informações, propor ações de busca e apreensão,
3 quebra de sigilo de dados ou outras medidas necessárias à produção de provas para demonstração de responsabilidade tributária ou localização de bens e direitos em nome do sujeito passivo ou de terceiro envolvido em fraude fiscal, bem como poderão propor medida cautelar fiscal. Vale lembrar que, há poucos meses, a Procuradoria da Fazenda Nacional instituiu o Regime Diferenciado de Cobrança de Créditos, que nada mais é do que um conjunto de medidas voltadas à otimização da cobrança da Dívida Ativa da União. Cada vez mais a União está concentrando esforços em otimizar seus métodos de cobrança, o que tem tornado os procedimentos céleres, todavia, em muitas situações a Receita Federal e a PGFN estão simplesmente atropelando princípios basilares de nosso ordenamento jurídico, deixando de observar o princípio da presunção de inocência, o sigilo fiscal e bancário, bem como ignorando a ideia de que a má-fé não se presume, deve ser comprovada. Ao que parece a União está tentando importar para o Direito Tributário a controversa Terceira Velocidade do Direito Penal (o chamado Direito Penal do Inimigo ), na qual direitos e garantias fundamentais são mitigados em detrimento de um bem maior, no caso a satisfação do crédito tributário. No nosso entendimento, isso é inadmissível e cabe ao Poder Judiciário afastar qualquer abuso ou excesso cometido pela União. Reiteramos que diante deste novo cenário, se torna vital que o contribuinte faça um planejamento tributário eficaz, entendendo os riscos que corre e garantindo, assim, sua proteção frente aos novos e contestáveis métodos de cobrança da União. III
4 NOVIDADES NA PENHORA ONLINE A ferramenta que permite que juízes bloqueiem saldos em conta bancária de devedores é chamada de sistema Bacenjud, também conhecida como penhora online. Desde que foi implementada, há mais de uma década, a ferramenta já sofreu muitas modificações, e tem se tornado a principal forma de satisfação de créditos pela Justiça. Pela extrema simplificação que trouxe para credores, houve um exagero inicial em sua utilização, especialmente pelas Fazendas Públicas e Justiça do Trabalho. Havia juízes que determinavam bloqueios eternos, até a satisfação do débito. Algo que podia muitas vezes inviabilizar a atividade de uma empresa, ou arruinar uma pessoa física. Felizmente hoje seu uso está mais disciplinado. Entretanto, ainda hoje há falhas injustificáveis no sistema. Tome-se como exemplo uma ordem de bloqueio de R$ contra uma empresa. Essa ordem irá gerar bloqueio repetido desse valor em todas as contas da empresa. Assim, se forem 5 contas, teremos R$ bloqueados no total. Ainda que o desbloqueio do excedente seja aceito pelo juiz, após pedido da parte, e os valores liberados em pouco tempo, trata-se de abuso de direito que se tornou normal com o passar do tempo, por estar sancionado pelo software oficial. Agora, o Banco Central está em vias de implementar mais uma leva de mudanças no sistema, que devem ampliar ainda mais sua aplicação, bem como resolver alguns problemas antigos. As principais mudanças: - Até então, a existência de uma ordem de bloqueio pendente impedia outros juízes de lançarem suas próprias ordens. Essa restrição será abolida. - Há mais segurança sobre a tempo de incidência do bloqueio. Caso seja determinado, ele impede saques e pagamentos das contas atingidas, capturando
5 quaisquer novos depósitos, durante todo o dia. O dia seguinte deverá estar liberado para saques e recebimentos. - O sistema passará a identificar contas-salário, que não devem sofrer penhoras por conta de proibição legal (exceto para pagamento de pensões alimentícias). O problema com o Bacenjud é essencialmente um. A conjuntura em que ele se insere. Num ambiente de insegurança jurídica, facilitar em demasia a recuperação de créditos acaba por tornar os credores institucionais preguiçosos e os trabalhistas muito vorazes. Os Fiscos, por exemplo, não têm interesse por quaisquer outros ativos além de dinheiro. O juiz trabalhista também não se preocupa se o bloqueio online irá impedir o pagamento de salários de outros empregados. Dessa forma, um devedor pessoa jurídica pode acabar privado de valiosos recursos líquidos geralmente no momento em que mais precisa deles, o que não raro o leva à ruina, ainda que tenha uma série de outros ativos. Em um ambiente com segurança jurídica e tributação adequada, isso não seria um problema, pois os devedores seriam apenas os que fizeram por merecer. Mas sabemos que não é exatamente o caso brasileiro.
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