I. CONHECIMENTO Por tempestivo e atendidos os demais pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.

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1 DOENÇA PRÉ-EXISTENTE. AGRAVAMENTO. CONCAUSAS. As tarefas desempenhadas pela autora não contribuíram para o agravamento e/ou aceleramento do seu quadro patológico, razão pela qual não há como se concluir pelo seu enquadramento como doença profissional, no conceito de concausa. Para a caracterização do dever de indenizar, no caso de danos decorrentes de acidente do trabalho típico ou doença ocupacional, é imprescindível a configuração dos seguintes pressupostos da responsabilidade civil: fato (acidente/doença), dano (material/moral) e nexo de causalidade entre o fato e o dano. Situação não retratada nos autos. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de Recurso Ordinário em que são partes: VALÉRIA VIANA COSME, como Recorrente, e MANTECORP INDÚSTRIA QUÍMICA E FARMACÊUTICA LTDA., como Recorrida. Inconformada com a r. decisão proferida pelo MM. Juízo da 3ª Vara do Trabalho do Município do Rio de Janeiro que, às fls. 540/541, julgou IMPROCEDENTE o pedido contido na inicial, recorre ordinariamente a reclamante, pelas razões de fls. 544/561. Dispensada do recolhimento das custas. Insurge-se a reclamante, em síntese, contra o indeferimento da indenização por danos morais e materiais decorrente do acidente de trabalho. Contra-razões da ré as fls. 584/587. Autos não remetidos à Procuradoria Regional do Trabalho, por não se vislumbrar interesse público a justificar a intervenção, neste momento. É o relatório. V O T O I. CONHECIMENTO Por tempestivo e atendidos os demais pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso. II. PRELIMINAR 3101/alad 1

2 NULIDADE DO JULGADO. REABERTURA DA INSTRUÇÃO. NOVA PROVA PERICIAL. CERCEIO DO DIREITO DE DEFESA. Argúi a reclamante, ora recorrente, ainda que sem as vestes da preliminar, a nulidade do julgado, por cerceio do direito de defesa. Diz que o segundo laudo apresentado é genérico, contraditório, irreal e completamente desmerecedor de qualquer validade, ante confronto com a ficha clínica da autora. Entende ser necessária a realização de uma outra perícia a fim de aclarar as contradições existentes entre os laudos e, ainda, com seu histórico clínico. O Juízo de origem indeferiu a pretensão, consignando as seguintes razões (fls. 519): O laudo pericial se apresenta de forma suficientemente esclarecida, devendo ser ressaltada a legalidade do procedimento adotado pelo perito do Juízo, no sentido de utilizar um médico especialista para lhe auxiliar nos exames físicos da autora. O que se constata, tão somente é a insatisfação da reclamante com relação ao conteúdo do laudo, o que é aceitável.(...) Rejeito. Não se verifica o alegado cerceamento de defesa quanto ao indeferimento da realização de uma nova perícia, uma vez que o laudo pericial foi conclusivo. Entendeu o Juízo, assim, desnecessária a providência por considerar que os elementos contidos nos autos permitiam a total e completa verificação da situação fática, sendo o laudo apresentado pelo perito de confiança do juízo suficiente ao exame da matéria. Pode o magistrado, sem que disso decorra qualquer nulidade, indeferir qualquer tipo de prova quando entender que a sua não-produção não interferirá no julgamento da lide, conforme autorizado pelo art. 130 do CPC, aplicado subsidiariamente ao processo trabalhista. Portanto não se verifica o alegado cerceio de defesa, estando o procedimento adotado pelo julgador "a quo" de acordo com os poderes que lhe são conferidos pelas normas de processo do trabalho (art. 765 da CLT) e, no que couber, pelas normas de processo civil (Parágrafo único do art. 8º e art. 769, ambos da CLT). III. MÉRITO DANO MORAL. ACIDENTE DE TRABALHO. Diz a autora, em sua inicial, que o desenvolvimento de seu quadro patológico funcional decorreu das formas inadequadas de organização do trabalho vigentes na empresa, que não tomava as medidas preventivas de saúde necessárias à proteção de seus funcionários, e sequer seguia as orientações dos fabricantes dos 3101/alad 2

3 equipamentos de digitação. Diz a reclamante, ainda, que era submetida a uma carga horária abusiva, imposta pela política de estímulo à produtividade da ré. Em laudo pericial realizado por perito médico nomeado pelo i. Juízo de Primeiro Grau, as fls. 472/494, foi diagnosticado, em exame clínico, que a autora é portadora de cisto sinovial dorsal do punho direito, não apresentando, na ocasião da realização da perícia diagnostico de tendinite crônica. (fls. 484/485). Constatado, ainda, através das atividades desenvolvidas por outra funcionária, que realiza as mesmas tarefas outrora realizadas pela reclamante, que as atividades são diversificadas, não havendo digitação de forma contínua. Ressaltado pelo perito que o trabalho não envolve sobrecarga dos punhos, cotovelos e dos ombros, nem digitação excessiva. Em conclusão, consignou o i. Perito que não há como se afirmar que a patologia da autora seja unicamente proveniente das atividades laborativas desempenhadas pela reclamante, pois outras causas podem desencadear os cistos sinoviais dorsais, entre elas: trabalhos domésticos com movimentos repetitivos, tocar instrumentos musicais, traumas (quedas e fraturas) hormonais e medicamentosas, entre outras. Com base no laudo pericial, o Juízo de Origem indeferiu a pretensão, consignando que não há nexo entre a patologia vivenciada pela reclamante e a atividade laborativa executada nas dependências da reclamada. Mantenho a decisão recorrida. De fato, a origem dos cistos sinoviais ainda é, na doutrina médica, desconhecida, podendo estar relacionada a diversos fatores. Em artigo publicado na Revista Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, em julho de 2003, a referida patologia foi assim descrita: Um cisto sinovial é uma tumoração arredondada, geralmente única, circunscrita e indolor, que se localiza preferencialmente próximo a uma articulação ou tendão(1). A etiologia desse tumor é ainda desconhecida. Do ponto de vista histológico, o cisto sinovial pode ser considerado como uma lesão degenerativa do tecido conjuntivo. O local mais comum de aparecimento dos cistos é o dorso do punho, entre o extensor longo do polegar e o extensor do indicador. Pode ocorrer na face palmar do punho, na palma da mão e outros locais menos freqüentes, que incluem o dorso da área társica, a região ânte-rolateral do joelho e a porção ântero-lateral do tornozelo. A maioria dos pacientes nega antecedente traumático. As mulheres têm mais predisposição a desenvolver esse quadro, que pode aparecer em qualquer idade. No que tange ao quadro clínico apresentado pela recorrente de tenossinovite, no curso do contrato de trabalho, que culminou na concessão do benefício Auxílio-doença, os artigos médicos assim pontuam o quadro: 3101/alad 3

4 O termo Sinovite é usado para descrever o processo inflamatório da membrana Sinovial, independentemente da causa que o gerou, assim como a expressão Tenossinovite refere-se ao processo inflamatório da membrana sinovial que recobre o tendão. Só a partir da exclusão de doenças sistêmicas, alterações hormonais, distúrbios metabólicos, macro e micro traumas realizados em atividades extras laborais, poderemos firmar o diagnóstico de uma sinovite de origem profissional o que, neste caso, poderia ser enquadrado como uma DORT. Não há o diagnóstico honesto de DORT sem uma visita ao posto de trabalho e a constatação de condições nocivas geradoras do processo. Cabe ao médico que atestar ser o autor portador de uma DORT, vistoriar o posto de trabalho em que o trabalhador desempenha suas atividades e constatar, in loco, se existe a relação direta de causa e efeito entre a alteração clínica e o trabalho que é executado. Sinovites diagnosticadas em consultórios são apenas processos inflamatórios da membrana sinovial. (Fonte: No laudo médico das fls. 472/494, complementado pelos esclarecimentos das fls. 510/517, o perito informou que a reclamante era, em 2001, portadora de tendinite, não apresentando atualmente o referido quadro, possuindo, contudo, um cisto sinovial dorsal de punho direito. Especificamente em relação a reclamante ser portadora de cisto sinovial, destacou o expert que não pode afirmar que esta patologia seja unicamente proveniente das atividades laborativas desempenhadas pela Suplicante na empresa Suplicada, pois outras causas podem desencadear os cistos sinoviais dorsais, entre elas: trabalhos domésticos com movimentos repetitivos, tocar instrumentos musicais, traumáticas (quedas e fraturas), hormonais e medicamentosas, entre outras. Assim, concluiu o I. Perito que, apesar de ter sido diagnosticada Tenossinovite do Abdutor Longo do Polegar direito, em 24/04/2001, por intermédio de exame complementar de ultrassonografia, atualmente essa patologia não foi constatada. Diante de tais esclarecimentos, necessário se faz pontuar se o quadro de tenossinovite, apresentado pela reclamante quando de sua dispensa, ocasionoulhe perda ou sequelas, que importasse na condenação reparatória por parte da ré. É certo que a tenossinovite é uma patologia quase sempre relacionada as doenças decorrentes das LER (Lesões por Esforço Repetitivo) e/ou DORT (Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho), uma vez que surge usualmente através do excesso de repetições de um mesmo movimento. Apesar de ser incontroverso que a autora foi afastada, em benefício previdenciário, por força do reconhecimento do acidente de trabalho, ante o quadro de tenossinovite, mostra-se necessário analisar se a reclamante realizava esse tipo 3101/alad 4

5 de movimento, a fim de se apurar se as tarefas desempenhadas contribuíram para o agravamento e/ou aceleramento do seu quadro patológico. O I. Perito reconhece expressamente que a reclamante esteve incapacitada temporariamente para o exercício de suas funções, quando esteve de licença no INSS (fls. 485), apesar de ressaltar que atualmente encontra-se a autora em condições de exercer suas atividades laborais. O I. Perito ressaltou, ainda, que as condutas preventivas, tais como pausa intrajornada, menor carga de horas de trabalho ou menos toques por minuto/hora não poderiam ter evitado o aparecimento da citada patologia. Constatado, ainda, em perícia, que as atividades exercidas pela reclamante são diversificadas, não exigindo a digitação de forma contínua e excessiva, não envolvendo, assim, sobrecarga dos punhos, cotovelos e dos ombros. Observa-se, assim, que as tarefas desempenhadas pela autora não contribuíram para o agravamento e/ou aceleramento do seu quadro patológico, razão pela qual não há como se concluir pelo seu enquadramento como doença profissional, no conceito de concausa. Para a caracterização do dever de indenizar, no caso de danos decorrentes de acidente do trabalho típico ou doença ocupacional, é imprescindível a configuração dos seguintes pressupostos da responsabilidade civil: fato (acidente/doença), dano (material/moral) e nexo de causalidade entre o fato e o dano. Registre-se que comungo do entendimento contido no artigo 927 do Código Civil, onde se materializa a Teoria do Risco. Daí que irrelevante a existência ou não de conduta danosa e/ou culposa para a configuração do dever de indenizar, na medida em que a responsabilidade do empregador é objetiva. Nesse passo, não constato, in casu, a configuração dos pressupostos necessários para embasar a responsabilidade civil do empregador, uma vez que a patologia da reclamante não teve origem ou foi agravada pelas atividades laborativas exercidas. É certo que a tenossinovite apresentada pela reclamante decorreu do trabalho exercido, culminando na licença previdenciária, que visa a recuperação da doença acometida no período. E tal recuperação foi constatada pelo i. Perito, que expressamente consignou que a autora apresenta condições de exercer as atividades laborais anteriormente por ela desempenhadas. Ressalte-se que o fato da autora ter gozado o benefício previdenciário, por si só, não enseja a condenação pretendida, pois a conduta adotada pela ré, no curso de trabalho da autora, não se mostrou inadequada ao cumprimento das obrigações legais. A Resolução nº 1488/98, do Conselho Federal de Medicina, que traça procedimentos e diretrizes para a perícia médica de nexo causal em relação às 3101/alad 5

6 doenças ocupacionais, determina aos médicos que prestam assistência aos Trabalhadores, que se investiguem: Estudo do local do trabalho; Identificação dos riscos; Avaliar as condições de Saúde do Trabalhador para determinadas funções e/ou ambientes, indicando sua locação para trabalhos compatíveis com sua condição de saúde; Promover o acesso ao trabalho de portadores com afecções não as agrave ou ponha em risco uma vida;. Não houve, quando da alta da autora, qualquer obrigação de se readaptar a autora em outra função. É de se registar, ainda, que a referida Resolução, incube ao médico o dever de esclarecer o empregador sobre a condição ideal para locar um candidato em um determinado posto de trabalho e alertar para as possíveis sansões judiciais caso a doença pré-existente se agrave. Não houve, na questão posta em Juízo, qualquer tipo de situação que viesse a agravar o quadro apresentado pela reclamante. Por todo exposto, mantenho a decisão recorrida, porquanto entendo, assim como o Juízo de primeiro grau, que não houve relação de nexo técnico entre o quadro clínico atual da reclamante com o e seu trabalho. Por conseguinte, não preenchidos os pressupostos da responsabilidade civil, não incumbe à reclamada o dever de indenizar. III. CONCLUSÃO Pelo exposto, conheço do recurso e, no mérito, nego-lhe provimento. A C O R D A M os Desembargadores da Primeira Turma do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, por unanimidade, conhecer do recurso e, no mérito, por maioria, negar-lhe provimento. Rio de Janeiro, 10 de novembro de 2009 DESEMBARGADOR JOSÉ NASCIMENTO ARAUJO NETTO RELATOR 3101/alad 6