2ª TURMA RECURSAL JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS SEÇÃO JUDICIÁRIA DO PARANÁ

Transcrição

1 2ª TURMA RECURSAL JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS SEÇÃO JUDICIÁRIA DO PARANÁ Processo nº Relatora: Juíza Federal Andréia Castro Dias Recorrente: PEDRO FERNANDES Recorrido: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL V O T O Dispensado o relatório, nos termos dos artigos 38 e 46 da Lei nº 9.099/95, combinado com o artigo 1º da Lei nº /2001. Fundamentação Trata-se de recurso interposto pela parte autora contra sentença que julgou improcedente o pedido de concessão do benefício de auxílio-doença ou, alternativamente, aposentadoria por invalidez. Insurge-se o autor contra o entendimento de que não teria sido comprovada sua incapacidade, já que o laudo elabora em juízo constatou-a. Após detida análise de toda documentação juntada aos autos, tenho que a sentença deve ser anulada, pelo motivos que passo a expor. 1

2 O autor teve seu pedido de concessão de benefício por incapacidade indeferido pelo Juízo sentenciante, entendendo o magistrado a quo que o demandante não estaria incapaz para exercer sua atividade habitual lavrador, não obstante o laudo pericial judicial ter constatado restrições definitivas em relação a esforços e carga de pesos no autor (evento 29, LAU1). A magistrada a quo considerou razoáveis as conclusões do assistente técnico do INSS, visto que o autor realizou cinco requerimentos administrativos (em 28/05/2006, em 04/10/2006, em 30/10/2006, em 06/12/2006 e em 10/02/2009), todos tendo sido indeferidos. Na última perícia médica previdenciária, ocorrida em 10/02/2009, o assistente técnico constatou que o autor deambula, senta e levanta sem dificuldades, não possuindo contratura pára-vertebral bilateral nem sinais radiculares. Constatou, ainda, que o autor apresentava mãos extremamente calosas e com sujidades, denotando o exercício laboral periódico, exaustivo e recente (evento 43 e evento 81). Mister desde logo ressaltar a importância da verificação de existência ou não de incapacidade na parte autora por laudo pericial produzido por profissional equidistante das partes, no qual todas as cautelas legais são observadas, garantindo, assim, a imparcialidade e o contraditório. No presente caso, no entanto, verifica-se que a perícia judicial foi realizada por profissional com relação de parentesco em linha direta com o médico da parte autora. Embora tal relação não esteja elencada no Código de Processo Civil como uma das causas de impedimento ou suspeição do perito, parece evidente que, no caso dos autos, o fato de o perito judicial ser filho de um dos médicos que previamente examinou o demandante fragiliza a prova pericial judicial produzida, vez que põe em dúvida sua total e necessária imparcialidade. 2

3 Tanto assim ocorre que o próprio Juiz sentenciante acolheu as conclusões do assistente técnico do INSS, cujos exames, conforme se sabe, não são realizados sob a égide do contraditório, imparcialidade e ampla defesa, em detrimento das constatações do perito judicial. Ademais, o próprio INSS pleiteou o reconhecimento da suspeição do perito judicial (evento 69), diante do laudo que lhe era desfavorável. Assim sendo, entendo haver nulidade absoluta no processo, a partir da realização da prova pericial, vez que a não produção de prova pericial por profissional completamente equidistante das partes cerceou o direito de defesa dessas, prejudicando em especial a parte autora, que viu ceifado seu direito a um possível laudo favorável e imparcial, e, por consequência, valorado como tanto. Ademais, verifico ainda que o laudo pericial foi produzido com base nas informações do autor de que exerceria atividades na lavoura. Todavia, declarou o demandante que trabalhava como ajudante em descarga e carga de caminhões (evento 29, LAU1), labor esse que não configuraria o trabalho rurícola. Em virtude das contradições existentes quanto à atividade habitualmente exercida pelo autor, verifica-se a necessidade de realização de audiência, com produção de prova oral, para elucidação do trabalho efetivamente desenvolvido pelo demandante. Note-se ainda que a referida audiência, em particular neste feito, deve ser realizada antes da designação de nova perícia judicial, para que, com os esclarecimentos então obtidos a respeito da sua qualidade de segurado, o novo perito judicial possa, à luz das atividades comprovadamente exercidas pelo periciado, constatar com maior precisão a existência ou não de incapacidade laborativa no autor. 3

4 Pelo exposto, e considerando que é necessário o reexame de matéria fática, a qual inclusive pode redundar em alteração do convencimento da magistrada a quo, deixo de operacionalizar as diligências supra por meio de conversão em diligências, para o fim de anular a sentença recorrida. Nessa linha, não encontra aplicação nos autos o artigo 515, parágrafo 3º do CPC. Conclusão Em razão do exposto, VOTO por ANULAR o processo a partir da realização de perícia e determinar que o feito prossiga com reabertura da fase probatória para a produção de prova oral e realização de perícia judicial com nova designação de médico perito, eqüidistante das partes e imparcial, nos termos da fundamentação. Sem condenação em honorários advocatícios, porquanto incabíveis na espécie, na forma do artigo 55 da Lei 9.099/95. Considero prequestionados especificamente todos os dispositivos legais e constitucionais invocados na inicial, contestação, razões e contra-razões de recurso, porquanto a fundamentação ora exarada não viola qualquer dos dispositivos da legislação federal ou a Constituição da República levantados em tais peças processuais. Desde já fica sinalizado que o manejo de embargos para prequestionamento ficarão sujeitos à multa, nos termos da legislação de regência da matéria. Curitiba, 16 de março de

5 Andréia Castro Dias, Juíza Federal Relatora. 5