Aula 09 TEORIA GERAL DOS CONTRATOS
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- Ângelo Affonso Barreto
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1 Turma e Ano: CAM MASTER B 2015 Matéria / Aula: Direito Civil Obrigações e Contratos Aula 9 Professor: Rafael da Mota Mendonça Monitor: Mário Alexandre de Oliveira Ferreira Aula 09 TEORIA GERAL DOS CONTRATOS 1) NATUREZA JURÍDICA: NEGÓCIO JURÍDICO BILATERAL Observação: Negócio jurídico unilateral x Negócio jurídico bilateral i) Negócio jurídico unilateral: É aquele que se aperfeiçoa com a manifestação de apenas 1 vontade. Como exemplos, temos o testamento e a promessa de recompensa. No Código Civil, estão tutelados entre os artigos 854 e 878. ii) Negócio jurídico bilateral: é aquele que se aperfeiçoa com o encontro de, pelo menos, 2 vontades. Como exemplo clássico, temos os contratos. Interessante destacar que os contratos, assim como os negócios jurídicos, também podem ser divididos em unilaterais e bilaterais. Todavia, tais classificações não se confudem. Diz-se que um contrato é unilateral quando ele gerar obrigações para apenas um das partes; em sentido contrato, o contrato bilateral gera obrigações para ambas as partes. Como exemplo daqueles, temos a doação; como exemplo destes, Vejamos o caso da doação: assim como todo contrato, é um negócio jurídico bilateral. Todavia, em relação à classificação quanto às obrigações geradas, trata-se de um contrato unilateral, na medida em que só há obrigações para o doador, enquanto que, ao donatário cabe aceitar a doação, o que não passa de um ônus/encargo. 2) CONCEITO: 2.1) CONCEITO CLÁSSICO (Pré-constitucionalização do Direito Civil): Contrato é um negócio jurídico bilateral, formado por direitos e deveres de natureza patrimonial, que produzem efeitos exclusivamente entres as partes. Tal conceito, de viés extremamente patrimonial, está pautado nos seguintes princípios: Pacta sunt servanda, Relatividade e Autonomia da Vontade. 2.2) CONCEITO CONTEMPORÂNEO: É um negócio jurídico bilateral, formado por direitos e deveres de natureza patrimonial e extrapatrimonial, nucleado na solidariedade constitucional, assegurando trocas justas entre os contratantes, e que produz efeitos entre as partes e também perante terceiros.
2 Agora, o Centro Gravitacional das relações jurídicas passou do patrimônio para a pessoa humana. Desta forma, não só as relações patrimoniais têm importância, mas, bem como as relações existenciais. Os contratos, bem como os demais institutos de Direito Civil, foram redefinidos com o advento da Constituição de Desde então, passou a ser baseado em pilares como Solidariedade e Igualdade Material, visando sempre a proporcionar trocas justas, como reflexo do Princípio da Boa Fé Objetiva. Exemplo de evolução: Sob a égide do CC-16, exigia-se que o erro fosse escusável; com o advento da CRFB/88 e, posteriormente, com o CC-02, não mais se exige tal característica, na medida em que se espera da outra parte uma conduta leal e proba. Na parte final do conceito, vislumbra-se o Princípio da Função Social dos Contratos, que não mais produzem efeitos somente entre as partes, sendo os mesmos espalhados para os terceiros. Portanto, do conceito de contrato, podemos extrair o reflexo dos seguintes fenômenos: Despatrimonialização, Publicização, Constitucionalização, Boa Fé Objetiva e Função Social do Contrato. 3) ELEMENTOS DO CONTRATO: Nos contratos, deve se verificar a alteridade, que é a necessidade da presença de partes distintas na sua formação. Questão interessante diz respeito à admissibilidade do autocontrato no Direito Civil pátrio. Exemplo 1: A outorga poderes a B, que é um advogado, para contratar algum defensor para aquele. Neste sentido, B contrata a si mesmo para representar juridicamente A. Exemplo 2: A outorga poderes a B para que este doe todo o seu patrimônio, vindo este a doar tudo para si próprio. Exemplo 3: Numa promessa de compra e venda, o promitente comprador acerta o pagamento em 200 parcelas ao promitente vendedor, que está se mudando para o exterior. Quando da celebração do negócio, este celebra um mandato com aquele, outorgando-lhe poderes para, ao final do pagamento da promessa, celebrar a escritura definitiva em seu nome. Assim, o PV é o representado, e o PC, o representante. Assim, na compra e venda, uma mesma pessoa ocupa os papeis de comprador e vendedor. Neste sentido, os artigos 117 e 685, Código Civil: Art Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o negócio jurídico que o representante, no seu interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo. Parágrafo único. Para esse efeito, tem-se como celebrado pelo representante o negócio realizado por aquele em quem os poderes houverem sido subestabelecidos. Art Conferido o mandato com a cláusula "em causa própria", a sua revogação não terá eficácia, nem se extinguirá pela morte de qualquer das partes, ficando o mandatário dispensado
3 de prestar contas, e podendo transferir para si os bens móveis ou imóveis objeto do mandato, obedecidas as formalidades legais. Analisando os dispositivos, infere-se que o negócio jurídico celebrado pelo representante consigo mesmo é anulável, salvo nos casos em que a lei ou o representado permitir. Nos casos acima, o procurado permitiu, através da celebração dos mandatos. Ademais, o parágrafo único exige que os poderes sejam substabelecidos a um terceiro. Assim, na verdade, encaixa-se um terceiro na relação jurídica, a fim de evitar eventuais fraudes. Portanto, conclui-se que é possível a celebração do autocontrato, desde que haja a presença de um terceiro, desde que autorizado pelo representado e com poderes para tanto. Em outras palavras, o vendedor seria um terceiro, nomeado pelo mandatário, e este seria o comprador. Na forma do art. 685, CC, o mandato em causa própria permite a doação para si próprio, ficando o mandatário exonerado de prestação de contas. No caso, aplica-se também o art. 117, CC, e a doação terá como doador um terceiro e, como donatário, o mandatário. 4) CLASSIFICAÇÃO A) UNILATERAL x BILATERAL UNILATERAL: É aquele que gera obrigações para apenas 1 das partes. BILATERAL: É aquele que gera obrigações para ambas as partes. B) GRATUITO x ONEROSO GRATUITO: Gera vantagem para apenas 1 das partes ONEROSO: Gera vantagem para ambas as partes C) REAL x CONSENSUAL REAL: É aquele que se aperfeiçoa pela tradição do bem CONSENSUAL: É aquele que se aperfeiçoa pelo encontro de vontades. Obs.: O aperfeiçoamento do contrato não pode ser confundido com a transferência de propriedade. Por isso, a compra e venda de um bem móvel deve ser classificada como consensual, e não, real. O aperfeiçoamento do contrato se encontra no plano de validade do negócio jurídico, enquanto a transferência de propriedade, no contrato de compra e venda, encontra-se no plano de eficácia. A compra e venda, portanto, torna-se perfeita com o encontro de vontades, mas a transferência de propriedade somente se dará com o registro ou com a tradição.
4 D) ALEATÓRIO x COMUTATIVO ALEATÓRIO: É aquele que tem álea, ou seja, que decorre da sorte, gerando um risco, ou seja, uma das partes não tem a certeza de que poderá cumprir com a prestação que lhe cabe. COMUTATIVO: É aquele marcado por um sinalagma, ou seja, por um equilíbrio. Nele, ambas as partes têm a certeza de que poderão cumprir com as prestações que lhes cabem. E) SOLENE x NÃO SOLENE SOLENE: A lei impõe uma forma/procedimento para a sua celebração. NÃO SOLENE: Em sentido contrário, a lei não estabelece nenhuma forma ou procedimento para a sua celebração. F) TÍPICO x ATÍPICO TÍPICO: É aquele que tem disciplina legal. ATÍPICO: Não possui disciplina legal. Exemplos de classificação BILATERAL (O ADQUIRENTE DEVE PAGAR O PREÇO; O ALIENANTE DEVE TRANSFERIR A PROPRIEDADE DO BEM) ONEROSO COMPRA E VENDA DE UM CARRO (BEM MÓVEL) CONSENSUAL (APERFEIÇOA-SE COM O ENCONTRO DE VONTADES) COMUTATIVO NÃO SOLENE (em regra) TÍPICO Obs.: É possível, excepcionalmente, a celebração do contrato de compra e venda ser aleatória. O Código Civil estabeleceu 2 situações:
5 i) Compra e Venda de coisa futura (art. 483, CC) Art A compra e venda pode ter por objeto coisa atual ou futura. Neste caso, ficará sem efeito o contrato se esta não vier a existir, salvo se a intenção das partes era de concluir contrato aleatório. A compra e venda de coisa futura pode, ainda, ser dividida em 2 espécies: a) Emptio Spei: é a venda de esperança. A incerteza é quanto à própria existência do objeto do negócio jurídico. Em outras palavras, compra-se algo que não sabe se virá a existir, ou seja, a sua existência decorre do acaso. No CC, está previsto no art Exemplo clássico: a compra de um peixe que ainda não foi pescado. Art Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem a existir um dos contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe foi prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado venha a existir. b) Emptio Rei Speratae: é a venda da coisa esperada. A incerteza não é quanto à existência, mas sim, quanto à quantidade do objeto do negócio jurídico. A existência não decorre do acaso, mas sim, da ordem natural das coisas. Exemplo: Compra e venda de uma safra. Art Se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras, tomando o adquirente a si o risco de virem a existir em qualquer quantidade, terá também direito o alienante a todo o preço, desde que de sua parte não tiver concorrido culpa, ainda que a coisa venha a existir em quantidade inferior à esperada. Parágrafo único. Mas, se da coisa nada vier a existir, alienação não haverá, e o alienante restituirá o preço recebido. ii) Compra e Venda de coisa existente sujeita a risco (art. 460 e 461, CC): Exemplo: compra e venda de um determinado produto em área de guerra ou de calamidade pública, por exemplo.a coisa em si existe, mas está sujeita a um risco. Art Se for aleatório o contrato, por se referir a coisas existentes, mas expostas a risco, assumido pelo adquirente, terá igualmente direito o alienante a todo o preço, posto que a coisa já não existisse, em parte, ou de todo, no dia do contrato. Art A alienação aleatória a que se refere o artigo antecedente poderá ser anulada como dolosa pelo prejudicado, se provar que o outro contratante não ignorava a consumação do risco, a que no contrato se considerava exposta a coisa. Obs.: Há outros que são aleatórios em razão de sua natureza. Eis os demais: i) Jogo
6 ii) Seguro: ele é aleatório apenas para o segurado; para a seguradora, não há risco, na medida em que mensalmente receberá o prêmio. iii) Aposta Obs.:Todos os contratos podem ser aleatórios, a depender do contexto em que estejam inseridos. Além disso, a álea pode vir supervenientemente. Exemplo 1: Cessão de crédito litigioso. Exemplo 2: Locação de um imóvel que venha a ser invadido antes da ocupação.
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