Supremo Tribunal Federal

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1 RECURSO EXTRAORDINÁRIO RIO GRANDE DO SUL RELATOR RECTE.(S) ADV.(A/S) RECDO.(A/S) PROC.(A/S)(ES) : MIN. LUIZ FUX :CRISTIANO LORO MOTTA :FABIANO MELLO AOZANI :UNIÃO :ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONCURSO PÚBLICO. CANCELAMENTO POR SUSPEITA DE FRAUDE. DIREITO, OU NÃO, DE CANDIDATO INSCRITO NO CERTAME À INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. OFENSA INDIRETA. REEXAME DE FATOS E PROVAS. SÚMULA N. 279 DO STF. REPERCUSSÃO GERAL. MATÉRIA CUJO EXAME PRESSUPÕE RECURSO ADMISSÍVEL SOB O CRIVO DOS DEMAIS REQUISITOS CONSTITUCIONAIS E PROCESSUAIS DE ADMISSIBILIDADE. RECURSO EXTRAORDINÁRIO A QUE SE NEGA SEGUIMENTO. 1. A repercussão geral pressupõe recurso admissível sob o crivo dos demais requisitos constitucionais e processuais de admissibilidade (art. 323 do RISTF). 2. Consectariamente, quando a ofensa for reflexa ou meso quando a violação for constitucional, mas necessária a análise de fatos e provas, não há como se pretender seja reconhecida a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso (art. 102, III, 3º, da CF). 3. Para se chegar a conclusão contrária à

2 adotada pelo acórdão recorrido e afirmar que o cancelamento do concurso público que seria realizado para o provimento de cargos de policial rodoviário federal violou a honra do recorrente de modo a ensejar a necessidade de indenizar-lhe pelos danos morais sofridos necessário seria o reexame dos fatos e das provas constantes dos autos, o que inviabiliza o extraordinário, a teor do Enunciado da Súmula 279 do Supremo Tribunal Federal, que interdita a esta Corte, em sede de recurso extraordinário, sindicar matéria fática. Precedente: RE AgR, Segunda Turma, Relatora a Ministra Ellen Gracie, DJ de In casu, o Tribunal de origem manteve a sentença que condenou a União a indenizar o recorrente por danos materiais causados em razão do cancelamento de prova de concurso público por suspeita de fraude, indeferindo, todavia, a concessão de indenização por danos morais, sob os seguintes fundamentos: (...) o ato que culminou com a anulação da prova realizada para o concurso em apreço, tendo em vista a suspeita de fraude, foi devidamente motivado, justificando-se pela preservação do princípio constitucional da legalidade, da moralidade e da isonomia. Contudo, no caso em tela, tenho que a comunicação de cancelamento das provas foi feita com antecedência insuficiente, pois inferior a 48 (quarenta e oito) horas. Em 2

3 razão disso, o autor não teve o tempo necessário para a remarcação ou o cancelamento de suas viagens. Note-se que tais fatos aconteceram por responsabilidade da ré, dado o vazamento das provas que seriam aplicadas no dia 9 de dezembro de ( ) A Constituição Federal assegura o direito à indenização por dano material, moral e à imagem, como também a legislação ordinária. Assim, configurado o dano à parte autora, em razão da insuficiente antecedência na comunicação do cancelamento das provas, bem como presente o nexo de causalidade, materializado no irregular procedimento da autoridade, e ausente qualquer excludente da responsabilidade civil caso fortuito ou força maior surge o dever de indenizar. ( ) Postula a parte autora o pagamento de danos morais supostamente sofridos. Tenho que os fatos ocorridos não ensejaram a produção de danos dessa natureza, à medida que a prestação de concursos públicos pode envolver contratempos, tais como os ocorridos. Contudo, são meros dissabores, não gerando sofrimento capaz de conduzir à indenização pleiteada. 5. Recurso extraordinário a que se nega seguimento. 3

4 DECISÃO: Cuida-se de recurso extraordinário interposto por CRISTIANO LORO MOTTA, com fundamento no artigo 102, inciso III, alínea a, da Constituição Federal de 1988, contra acórdão prolatado pela Segunda Turma Recursal da Seção Judiciária do Rio Grande do Sul, que manteve a sentença que condenou a União a indenizar o recorrente por danos materiais causados em razão do cancelamento de prova de concurso público por suspeita de fraude, indeferindo, todavia, a concessão de indenização por danos morais. Noticiam os autos que o recorrente inscreveu-se para participar do concurso público que seria realizado para o provimento de cargos de policial rodoviário federal. Cancelado o certame por suspeita de fraude, o recorrente ajuizou ação ordinária contra a União, ora recorrida, pleiteando o recebimento de indenização por danos materiais e morais, sob a alegação de ter efetuado despesas para deslocar-se da cidade onde mora até Brasília/DF, localidade onde seriam aplicadas as provas. O magistrado singular julgou parcialmente procedente o pedido para condenar a União ao pagamento apenas da indenização por danos morais, arbitrados em R$ 725,64 (setecentos e vinte e cinco reais e sessenta e quatro centavos), exatamente a quantia pedida pelo recorrente na petição inicial, sob os seguintes fundamentos: (...) o ato que culminou com a anulação da prova realizada para o concurso em apreço, tendo em vista a suspeita de fraude, foi devidamente motivado, justificando-se pela preservação do princípio constitucional da legalidade, da moralidade e da isonomia. Contudo, no caso em tela, tenho que a comunicação de cancelamento das provas foi feita com antecedência insuficiente, pois inferior a 48 (quarenta e oito) horas. Em razão disso, o autor não teve o tempo necessário para a remarcação ou o cancelamento de suas viagens. Note-se que tais fatos aconteceram por responsabilidade da ré, dado o vazamento das provas que seriam aplicadas no dia 9 de dezembro de

5 ( ) A Constituição Federal assegura o direito à indenização por dano material, moral e à imagem, como também a legislação ordinária. Assim, configurado o dano à parte autora, em razão da insuficiente antecedência na comunicação do cancelamento das provas, bem como presente o nexo de causalidade, materializado no irregular procedimento da autoridade, e ausente qualquer excludente da responsabilidade civil caso fortuito ou força maior surge o dever de indenizar. ( ) Postula a parte autora o pagamento de danos morais supostamente sofridos. Tenho que os fatos ocorridos não ensejaram a produção de danos dessa natureza, à medida que a prestação de concursos públicos pode envolver contratempos, tais como os ocorridos. Contudo, são meros dissabores, não gerando sofrimento capaz de conduzir à indenização pleiteada. Irresignados, o recorrente, a Universidade Federal do Rio de Janeiro URFJ e a União recorreram. A Segunda Turma Recursal da Seção Judiciária do Rio Grande do Sul negou provimento aos recursos dos dois primeiros, mantendo, nesta parte, a sentença por seus próprios fundamentos, e deu parcial provimento ao recurso da União, para determinar que, a partir de 1º/07/2009, para fins de atualização monetária e juros e independentemente da data de citação, haverá a incidência, uma única vez, até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança, na forma do art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pelo art. 5º da Lei nº /2009. Nas razões do apelo extremo, o recorrente alega violação dos artigos 1º, inciso III, 5º, inciso X, 24 e 170 da CF/88, bem como do artigo 48 do ADCT, alegando, em síntese, que a Egrégia 2ª Turma Recursal ao julgar que não houve ofensa à dignidade da pessoa humana e da imagem e honra do Recorrente, mesmo considerando ter havido claramente defeito na prestação dos serviços das Recorridas e que houve realmente o fato 5

6 danoso, afrontou claramente os artigos e princípios constitucionais mais elevados, referentes aos próprios fundamentos da Carta Magna e dos direitos fundamentais do cidadão. Requer, ao final, a condenação da União ao pagamento de indenização por danos morais. É o relatório. DECIDO. Ab initio, a repercussão geral pressupõe recurso admissível sob o crivo dos demais requisitos constitucionais e processuais de admissibilidade (art. 323 do RISTF). Consectariamente, quando a ofensa for reflexa ou meso quando a violação for constitucional, mas necessária a análise de fatos e provas, não há como se pretender seja reconhecida a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso (art. 102, III, 3º, da CF). O Tribunal a quo pronunciou-se quanto à questão sub examine à luz do contexto fático-probatório engendrado nos autos; para se chegar à conclusão contrária à adotada pelo acórdão recorrido e afirmar que o cancelamento do concurso público em questão violou a honra do recorrente de modo a ensejar a necessidade de indenizar-lhe pelos danos morais sofridos necessário seria o reexame dos fatos e das provas constantes dos autos, o que inviabiliza o extraordinário, a teor do Enunciado da Súmula 279 do Supremo Tribunal Federal, que interdita a esta Corte, em sede de recurso extraordinário, sindicar matéria fática. Nesse sentido, o seguinte julgado: CONSTITUCIONAL. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CONCURSO PÚBLICO. DESCLASSIFICAÇÃO. AVALIAÇÃO MÉDICA. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. REEXAME DE FATOS E PROVAS. 1. É inadmissível recurso extraordinário no qual, a pretexto de ofensa a princípios constitucionais, pretende-se a análise de legislação infraconstitucional. Hipótese de contrariedade indireta à Constituição Federal. 2. O Tribunal de origem, a partir do exame dos fatos e das provas dos autos, concluiu pela inexistência de dano moral a ser reparado em razão de 6

7 desclassificação da parte agravada do concurso público com base em avaliação médica. 3. Incidência da Súmula STF 279 para aferir alegada ofensa ao artigo 37, 6º, da Constituição Federal. Precedentes. 4. Inexistência de argumento capaz de infirmar o entendimento adotado pela decisão agravada. 5. Agravo regimental a que se nega provimento. (RE AgR, Segunda Turma, Relatora a Ministra Ellen Gracie, DJ de ) Relativamente ao verbete sumular, traz-se a lume o comentário do ilustre professor Roberto Rosas, In Direito Sumular, 12ª edição, Editora Malheiros, verbis: Chiovenda nos dá os limites da distinção entre questão de fato e questão de direito. A questão de fato consiste em verificar se existem as circunstâncias com base nas quais deve o juiz, de acordo com a lei, considerar existentes determinados fatos concretos. A questão de direito consiste na focalização, primeiro, se a norma, a que o autor se refere, existe, como norma abstrata (Instituições de Direito Processual, 2a ed., v. I/175). Não é estranha a qualificação jurídica dos fatos dados como provados (RT 275/884 e 226/583). Já se refere a matéria de fato quando a decisão assenta no processo de livre convencimento do julgador (RE , Rel. Min. Djaci Falcão, RTJ 47/276); não cabe o recurso extraordinário quando o acórdão recorrido deu determinada qualificação jurídica a fatos delituosos e se pretende atribuir aos mesmos fatos outra configuração, quando essa pretensão exige reexame de provas (ERE , Relator para o acórdão o Min. Amaral Santos, RTJ 46/821). No processo penal, a verificação entre a qualificação de motivo fútil ou estado de embriaguez para a apenação importa matéria de fato, insuscetível de reexame no recurso extraordinário (RE , Rel. Min. Eloy da Rocha, RTJ 46/666). A Súmula 279 é peremptória: Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário. Não se vislumbraria a 7

8 existência da questão federal motivadora do recurso extraordinário. O juiz dá a valoração mais conveniente aos elementos probatórios, atendendo aos fatos e circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados pelas partes. Não se confunda com o critério legal da valorização da prova (RTJ 37/480, 56/65) (Pestana de Aguiar, Comentários ao Código de Processo Civil, 2a ed., v. VI/40, Ed. RT; Castro Nunes, Teoria e Prática do Poder Judiciário, 1943, p. 383). Ex positis, nego seguimento ao recurso extraordinário com fundamento no artigo 21, 1º, do RISTF. Publique-se. Brasília, 25 de outubro de Ministro LUIZ FUX Relator Documento assinado digitalmente 8