PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

Transcrição

1 Acórdão 1a Turma RECURSO ORDINÁRIO. 1- APLICAÇÃO DOS PRIVILÉGIOS PROCESSUAIS DA FAZENDA PÚBLICA À ECT. Defere-se o requerimento da ECT, no sentido de declarar a sua equiparação à Fazenda Pública. 2- ECT. BANCO POSTAL. ENQUADRAMENTO NA CATEGORIA DE BANCÁRIO. INAPLICABILIDADE. A Portaria nº 588, de 04/10/2000, que instituiu o Serviço de Banco Postal, não visou equiparar a Empresa Brasileira de Correios a uma instituição bancária, mas, sim, levar atendimento bancário até os municípios desassistidos. E sendo o reclamante empregado da ECT, não pode ser enquadrado na categoria dos bancários, uma vez que o enquadramento sindical se dá em razão da atividade econômica preponderante do empregador, não fazendo jus, portanto, aos direitos previstos nas normas coletivas dos bancários. Recurso não provido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso ordinário, em que são partes VILSON GOMES DA SILVA, como recorrente, e, ECT EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS E BANCO BRADESCO SA, como recorridos

2 I RELATÓRIO Trata-se de recurso ordinário interposto pelo autor (fls.402/412), em face da respeitável sentença da MM. 1ª Vara do Trabalho de Itaperuna (fls.394/397), da lavra do(a) Juiz(a), FILIPE RIBEIRO ALVES PASSOS, que julgou improcedentes os pedidos. O autor pretende a reforma do julgado, para que sejam reconhecidos os direitos previstos nas normas coletivas dos bancários. Custas dispensadas do recolhimento. Notificadas, somente a ECT apresentou contrarrazões às fls.422/447, requerendo, preliminarmente, que seja declarada a sua equiparação à Fazenda Pública. O Ministério Público do Trabalho, através de seu procurador, Dr. André Luiz Riendlinger Teixeira, às fls.450, preconiza pelo regular prosseguimento do feito. É o relatório. VOTO II CONHECIMENTO Conheço do recurso, por preenchidos os pressupostos legais de admissibilidade. III FUNDAMENTAÇÃO DO REQUERIMENTO DE EQUIPARAÇÃO DA ECT À FAZENDA PÚBLICA, ARGUIDA EM CONTRARRAZÕES. Requer a ECT que seja declarada a sua equiparação à Fazenda Pública

3 Os privilégios processuais da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, que se embasa no Decreto-Lei nº 509/69, entre eles a impenhorabilidade de seus bens, devendo a execução ser realizada por precatório, prazos elastecidos, inclusive para recursos e estar liberadas de depósito recursal e custas judiciais, foram reconhecidos pelo STF através de decisão proferida no RE nº , RJ, da lavra do Min Nélson Jobim, publicado no DJU em Resta claro, portanto, ser aplicável à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos os privilégios processuais da Fazenda Pública, razão pela qual defiro o requerimento. ENQUADRAMENTO NA CATEGORIA DOS BANCÁRIOS. O autor, na emenda à inicial (fls.167/175), alega que foi contratado pela ECT, em 06/04/1979, e que desde 02/11/2003 está lotado na agência dos Correios e Banco Postal de Natividade/RJ, onde atua no cargo de Agente de Correios (e/ou Atendente Comercial), com jornada de 44 horas semanais, de segunda a sextafeira, no horário das 8h às 17h30min, com 1h30min de intervalo intrajornada. E que através de um contrato firmado entre a ECT e o Banco Bradesco, os Correios passaram a assumir atividades de Atendente Comercial de Banco Postal, que consiste na prestação de serviços bancários, em todo o território nacional, tendo como público alvo os clientes de baixa renda. Em razão desse contrato, a ECT passou a exercer atividades próprias de instituição financeira, e que, diante de tal situação, por realizar o demandante tarefas típicas de

4 bancário, seja na atividade de caixa, financeiro, gerente de agência, entre outros, é que deve ser equiparado aos bancários, fazendo jus aos direitos previstos nas normas coletivas da referida categoria profissional, como: salário de bancário e seus reajustes; redução da jornada para 6 horas e pagamento de horas extras; gratificação de função e gratificação de caixa ou adicional de atendimento em guichê; reflexos nas férias + 1/3 constitucional, 13º salário, RSR, anuênio e FGTS; cesta alimentação; abono único; e PLR. A ECT, em defesa, sustenta que incabíveis os pedidos do autor, uma vez que pretende sua equiparação aos bancários, o que não pode prevalecer posto que está inserido na categoria profissional dos empregados dos Correios, pertencendo, portanto, ao Sindicato dos Trabalhadores na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (SINTECT). O Banco Bradesco, em contestação, argumenta que não pode ser mantido na lide, uma vez que não lhe pode ser atribuída qualquer responsabilidade pelo adimplemento das parcelas postuladas pelo demandante. O juiz de primeiro grau indeferiu o pleito do demandante, sob o seguinte fundamento: ENQUADRAMENTO NA CONDIÇÃO DE BANCÁRIO (...) não constam dos autos argumentos, nem pedido de reconhecimento da nulidade do contrato firmado com o primeiro réu, para fins de reconhecimento

5 do vínculo de emprego com o banco, por eventual ilicitude na terceirização dos serviços, até porque as atividades desenvolvidas pelo autor estão regulamentadas na portaria 588/00 do Ministério das Comunicações. Assim, como o primeiro reclamado não é banco, mas sim executor e controlador, com monopólio, dos serviços postais, em todo o território nacional, nos moldes do art. 2º, Decreto-Lei nº 509/69, não há que se falar no enquadramento dos seus empregados em tal categoria, conforme leciona o professor Arnaldo Süssekind, in verbis: 'O empregado, portanto, compõe a categoria profissional correspondente à categoria econômica a que pertence a empresa em que trabalha, pouco importando a função que nela exerça (p. ex.: o escriturário e o servente de uma empresa metalúrgica são metalúrgicos)'. Instituições de Direito do Trabalho, Ltr, 22ªed., p Aliás, o próprio Decreto-Lei 509/69 é expresso ao dizer que os empregados da EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS

6 E TELÉGRAFOS são classificados na categoria dos comerciários, conforme se verifica no seu art. 11. (...) À derradeira, acrescente-se que estender ao reclamante os direitos dos bancários não por enquadramento, mas com vistas à isonomia, seria, na verdade, ferir o mencionado princípio, visto que os empregados dos bancos exercem a respectiva atividade por completo e em tempo integral, enquanto que o autor atua nos estritos limites da Portaria 588/00 do Ministério das Comunicações e da Resolução 3.954/11 do Banco Central do Brasil e, ainda, em parte da sua jornada, conforme narrado na própria inicial. Face ao exposto, julgo improcedente o pedido formulado no item '5' do rol de fls.167/175 e, consequentemente, os demais, já que acessórios. (...)" Insurge-se o reclamante contra a sentença, argumentando que devem ser deferidos os pedidos formulados na inicial, pois, embora seja agente dos Correios, desempenhava funções que não eram compatíveis com aquelas para as quais fora contratado, e sem perceber pelos serviços extras prestados

7 Acrescenta que a sua pretensão não consiste em nulidade do contrato de trabalho, mas sim a busca por direitos decorrentes da prestação de serviços diversos (bancários) feitos pelo trabalhador em favor da ECT e Banco Bradesco. Ressalta que o Banco transferiu para a ECT atividades tipicamente bancárias, sendo que o obreiro se ativava nessas tarefas em grande parte de sua jornada, realizando atividades comuns àquelas desempenhadas pelos bancários. E que, desta forma, devem-lhe ser estendidos os direitos assegurados a essa categoria profissional, sob pena de desprestígio do trabalhador e premiação da discriminação, repugnada pela ordem jurídica. Aduz, ainda, que deve o Banco Bradesco responder, subsidiariamente, pelo cumprimento das obrigações postuladas. A matéria em questão diz respeito ao desempenho de atividades bancárias por empregados da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT, o chamado Banco Postal. No Contrato de Prestação de Serviços de Correspondente Bancário, firmado entre as rés (fls. 331/344 e 345/364), consta em sua Cláusula Primeira que a ECT foi contratada "como correspondente bancário no País com vistas à prestação de serviços bancários básicos, limitados ao escopo da Resolução nº 2.707/2000 do Conselho Monetário Nacional. (g.n.). Segundo o demandante, em decorrência desse contrato de prestação de serviços, embora tenha sido admitido pela ECT como atendente comercial, em verdade, realiza atividades próprias de serviços bancários, seja na atividade de caixa, financeiro, gerente de agência, entre outras, as quais são realizadas

8 em benefício do Banco Bradesco. E sendo assim, a sua pretensão de enquadramento na categoria de bancária decorre, unicamente, das atividades desempenhadas na agência da ECT. Há que se ressaltar que a Portaria nº 588, de , do Ministério das Comunicações (fls.319/320), ao instituir o Serviço Financeiro Postal Especial, denominado Banco Postal, o qual seria prestado pela ECT, não visou equiparar a Empresa Brasileira de Correios a uma instituição bancária, mas, sim, levar atendimento bancário até os municípios desassistidos, como forma de instrumento de inserção social". É certo que as agências dos Correios não deixaram de desempenhar sua atividade principal (a postal), para executarem somente as atividades inerentes às instituições bancárias. Até porque, a referida Portaria, que criou o Serviço de Banco Postal, é categórica, em seu art. 4º (fls.319), ao autorizar a ECT a realizar apenas algumas das atividades próprias das instituições bancárias, na qualidade de correspondente. Observe-se que o próprio autor, na inicial, admite que não cumpria integralmente a sua jornada realizando tarefas inerentes às dos bancários, o que evidencia que as atividades por ele realizadas não eram suficientes para equipará-lo aos empregados de uma instituição financeira. Ademais, o enquadramento sindical se dá em razão da atividade econômica preponderante do empregador, que, no caso dos empregados da ECT, são classificados como comerciários. Portanto, ante a impossibilidade de se enquadrar a ECT na categoria de instituição financeira, via de consequência, não há como se

9 estender ao demandante os direitos previstos nas normas coletivas dos bancários. acórdãos do C. TST: Nesse mesmo sentido, podemos citar os seguintes RECURSO DE REVISTA. ECT. BANCO POSTAL. EXTENSÃO DA JORNADA ESPECIAL DE SEIS HORAS. IMPOSSIBILIDADE. Segundo o atual entendimento desta Turma, não faz jus à jornada especial de seis horas inerentes ao bancário o trabalhador ecetista que labora no banco postal (ECT). Ressalva de entendimento do Relator, que aplicava a jornada prevista no art. 224, caput, CLT. Assim, o recurso de revista não preenche os requisitos previstos no art. 896 da CLT, pelo que inviável o seu conhecimento. Recurso de revista não conhecido. Processo: Data de Julgamento: /06/2013, Relator Ministro:Mauricio Godinho Delgado, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT /06/2013. EMPREGADOS DA ECT BANCO POSTAL - ENQUADRAMENTO NA

10 CATEGORIA DOS BANCÁRIOS - HORAS EXTRAS IMPOSSIBILIDADE. 1. A teor do disposto nos arts. 511, 1º e 2º, e 581, 2º, da CLT, o enquadramento sindical do obreiro é determinado com base na atividade preponderante da empresa empregadora. A exceção fica por conta dos trabalhadores das categorias profissionais diferenciadas (art. 511, 3º, da CLT), cuja definição independe da atividade econômica da empresa que os emprega. 2. No caso, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT, na condição de correspondente bancário (Banco Postal), exerce, de forma acessória, apenas os serviços bancários básicos de uma agência, e não as atividades privativas de uma instituição financeira. 3. Assim, considerando que a atividade preponderante da ECT, nos termos do art. 7º da Lei 6.538/78, continua sendo o serviço postal, os seus empregados, ainda que prestem serviços em agência do Banco Postal e com elevado percentual de atividade bancária,

11 permanecem inseridos na categoria dos trabalhadores da ECT, não sendo beneficiários, por conseguinte, das normas coletivas e consectários aplicáveis à categoria profissional dos bancários, uma vez que não há como ser reconhecida a condição de bancário do Reclamante. Orientação diversa transformaria os Correios em banco, em que pese estar se desfigurando o perfil da empresa com a assunção de outros serviços não exclusivamente postais, como posto de benefícios previdenciários e agência bancária. Inaplicável, por consequência, o entendimento vertido na Súmula 55 do TST, não havendo de se falar em horas extras excedentes da jornada de seis horas, até porque isso seria generalizar para outra categoria a jornada especial aplicável aos bancários. Recurso de revista provido. Processo: Data de Julgamento: /04/2013, Relator Ministro:Ives Gandra Martins Filho, 7ª Turma, Data de Publicação: DEJT / 04/

12 AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. BANCO POSTAL. ENQUADRAMENTO COMO BANCÁRIA. IMPOSSIBILIDADE. É entendimento jurisprudencial prevalecente nesta C. Corte que o empregado que não é integrante de categoria profissional diferenciada, ou seja, que está inserido na atividade preponderante da empresa, no caso, atividade postal, não tem o direito de haver de seu empregador vantagens previstas em instrumento coletivo no qual a empresa não foi representada por órgão de classe de sua categoria, e, tampouco, nas normas legais definidas como tal. Na hipótese, sendo a atividade preponderante o serviço postal, os seus empregados que prestam serviços em agência dos correios, que acessoriamente exercem a função de Banco Postal, não se enquadram na categoria profissional dos bancários, não podendo ser beneficiários das normas trabalhistas e coletivas e dos consectários daí decorrentes. Precedentes. Agravo de instrumento a

13 que se nega provimento. Processo: AIRR Data de Julgamento: 26/06/2013, Relator Ministro: Alexandre de Souza Agra Belmonte, 3ª Turma, Publicação: DEJT 01/07/2013. Data de Diante das elucidações supra, nego provimento ao recurso, para manter a decisão de primeiro grau que não reconheceu a atividade exercida pelo demandante inerente às do bancários, indeferindo-lhe os parcelas postuladas. IV DISPOSITIVO A C O R D A M os DESEMBARGADORES DA 1ª TURMA DO por unanimidade, conhecer do recurso e, no mérito, NEGAR-LHE PROVIMENTO, para manter a sentença de primeiro grau, nos termos do voto do Desembargador Relator, que deferiu, ainda, o requerimento da ECT, no sentido de declarar a sua equiparação à Fazenda Pública. Rio de Janeiro, 19 de Agosto de Desembargador do Trabalho Mário Sérgio M. Pinheiro Relator