PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

Transcrição

1 Acórdão 10a Turma RECURSO ORDINÁRIO. SINDICATO. CONTRIBUIÇÃO ASSISTENCIAL E CONFEDERATIVA. Os sindicatos não podem cobrar contribuição assistencial e/ou confederativa de quem não seja filiado ao sindicato. A Constituição da República de 1988 em seus artigos 5º, inciso XX, e 8º, inciso V, estabelece a liberdade de associação e filiação sindical. Assim, ninguém pode ser forçado a sindicalizar-se e, consequentemente, a contribuir para o sindicato ao qual não se filiou (Inteligência do Precedente Normativo nº 119 da SDC e Súmula nº 666 do STF). Vistos, relatados e discutidos os autos do Recurso Ordinário em que são partes: SINDICATO DE HOTÉIS, RESTAURANTES, BARES E SIMILARES DA BAIXADA E SUL FLUMINENSE, como recorrente, e J. SIRLEI CAMPOS ME., como recorrido. Inconformado com a r. sentença de fls. 82/83, proferida pela MM. Juíza Leila Costa de Vasconcelos, da 2 a Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, que julgou improcedente o pedido, recorre ordinariamente o autor às fls. 86/93. Em síntese, o recorrente alega que a contribuição sindical é devida por todos os integrantes das categorias econômica e profissional, conforme os artigos 578 e 579 da CLT. Pondera que a verba em questão não tem natureza tributária, de forma que as empresas inscritas no SIMPLES não estão isentas de recolhimento. Ressalta que não se trata de descontos, mas da contribuição convencionada em assembléia e estabelecida nas normas coletivas. Prossegue, afirmando que é também devida a contribuição assistencial estabelecida em Assembléia Geral. Pugna, também, pela contribuição confederativa estabelecida na Constituição da República em seu artigo 8, IV. Custas às fls Contrarrazões às fls. 113/122. fgo/fhmt

2 Manifestação do douto Ministério Público do Trabalho, da lavra da ilustre procuradora Inês Pedrosa de Andrade Figueira, não vislumbrando hipótese de intervenção. É o relatório. V O T O: CONHECIMENTO Conheço por presentes os pressupostos de admissibilidade. MÉRITO Das Contribuições Sindical, Assistencial e Confederativa NEGO PROVIMENTO. O recorrente alega que a contribuição sindical é devida por todos os integrantes das categorias econômica e profissional, conforme os artigos 578 e 579 da CLT. Pondera que a verba em questão não tem natureza tributária, de forma que as empresas inscritas no SIMPLES não estão isentas de recolhimento. Ressalta que não se trata de descontos, mas da contribuição convencionada em assembléia e estabelecida nas normas coletivas. Prossegue, afirmando que é também devida a contribuição assistencial estabelecida em Assembléia Geral. Pugna, também, pela contribuição confederativa estabelecida na Constituição da República em seu artigo 8, IV. Ora, é inviável cobrar contribuições de empresas que não são filiadas ao sindicato porque a Constituição da República, em seus artigos 5º, XX, e 8º, V, estabelece a liberdade de associação e filiação sindical. Assim, ninguém pode ser forçado a sindicalizar-se (e, consequentemente, a contribuir para sindicato ao qual não esteja filiado). Veja-se, nesse passo, o Precedente Normativo nº. 119 da SDC do Colendo TST: fgo/fhmt

3 CONTRIBUIÇÕES SINDICAIS - INOBSERVÂNCIA DE PRECEITOS CONSTITUCIONAIS A Constituição da República, em seus arts. 5º, XX e 8º, V, assegura o direito de livre associação e sindicalização. É ofensiva a essa modalidade de liberdade cláusula constante de acordo, convenção coletiva ou sentença normativa estabelecendo contribuição em favor de entidade sindical a título de taxa para custeio do sistema confederativo, assistencial, revigoramento ou fortalecimento sindical e outras da mesma espécie, obrigando trabalhadores não sindicalizados. Sendo nulas as estipulações que inobservem tal restrição, tornam-se passíveis de devolução os valores irregularmente descontados. De fato, como não existe filiação compulsória, não há fundamento jurídico para cobrar contribuições de não-filiados, já que estes não são representados ou beneficiados pela entidade sindical e não participam da elaboração das normas coletivas. Com efeito, o Colendo TST já teve a oportunidade de se manifestar reiteradamente sobre o tema. Dentre inúmeras decisões similares, destacamos as seguintes, publicadas recentemente: RECURSO DE REVISTA. CONTRIBUIÇÃO ASSISTENCIAL. EMPRESA NÃO-FILIADA A SINDICATO. A Constituição da República, em seus arts. 5º, XX, e 8º, V, assegura o direito de livre associação e sindicalização. É ofensiva a essa modalidade de liberdade cláusula constante de acordo, convenção coletiva ou sentença normativa estabelecendo contribuição em favor de entidade sindical a título de taxa para custeio do sistema confederativo, assistencial, revigoramento ou fortalecimento sindical e outras da mesma espécie, obrigando trabalhadores ou empregadores não sindicalizados. Sendo nulas as estipulações que inobservem tal restrição, tornam-se passíveis de devolução os valores irregularmente descontados (Precedente Normativo nº 119 e O.J. 17, fgo/fhmt

4 ambos da SDC/TST e Súmula 666/STF). Precedentes. Recurso de revista conhecido e provido. (TST. 3ª T. RR-822/ Relator Ministro: Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, DEJT 18/09/2009). RECURSO DE REVISTA. CONTRIBUIÇÃO ASSISTENCIAL PATRONAL. EMPRESA NÃO FILIADA AO SINDICATO PATRONAL. APLICAÇÃO ANALÓGICA DO PRECEDENTE NORMATIVO N.º 119 DA SDC E DA ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL N.º 17 DA SDC DO TST. 1. O art. 8.º, IV, da Constituição Federal autoriza a instituição de contribuição confederativa por meio da Assembléia Geral, que tem caráter compulsório apenas para os filiados aos sindicatos, tanto em relação aos empregados quanto às empresas, uma vez que a mencionada contribuição não tem natureza tributária. 2. De outro lado, prevêem os arts. 5.º, XX, e 8.º, V, da Constituição Federal, a liberdade de associação. Ora, possuindo a empresa e os empregados a liberdade de associar-se ou não aos Sindicatos representativos da categoria, nenhum deles deve ser compelido a pagar contribuição estipulada meramente em instrumento normativo, que não possui natureza tributária, e, portanto, sem caráter compulsório. 3. Esta Corte já pacificou o entendimento quanto à impossibilidade de estipulação de contribuição assistencial aos empregados não sindicalizados, conforme se infere do Precedente Normativo n.º 119 da SDC do TST e da Orientação Jurisprudencial n.º 17 da SDC. 4. Ora, o entendimento de que não é exigível a contribuição para entidades sindicais de empregados não sindicalizados deve ser aplicado analogicamente às empresas não filiadas ao Sindicato representativo da categoria econômica. Recurso de Revista conhecido e provido. (TST. 4ª T. RR / Relatora Ministra: Maria de Assis Calsing, DEJT 11/09/2009). AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONTRIBUIÇÃO ASSISTENCIAL PATRONAL. EMPRESA NÃO ASSOCIADA. EXTENSÃO. APLICAÇÃO ANALÓGICA DO PRECEDENTE NORMATIVO Nº 19 E fgo/fhmt

5 DA ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL Nº 17 DA SDC. Com o escopo de prevenir possível violação dos arts. 5º, XX, e 8º, V, da Constituição Federal, dá-se provimento ao agravo de instrumento para processamento do recurso de revista. Agravo de instrumento provido. RECURSO DE REVISTA. CONTRIBUIÇÃO ASSISTENCIAL PATRONAL. EMPRESA NÃO ASSOCIADA. EXTENSÃO. APLICAÇÃO ANALÓGICA DO PRECEDENTE NORMATIVO Nº 119 E DA ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL Nº 17 DA SDC/TST. Segundo a jurisprudência hoje dominante, a liberdade de associação constitucionalmente assegurada impede a imposição de contribuição assistencial a empregados e empregadores não associados em favor do respectivo sindicato profissional ou patronal, sob pena de afronta direta ao princípio da liberdade de associação, constitucionalmente assegurado nos arts. 5º, XX, e 8º, V, da CF. Desse modo, é vedada à instituição, por instrumento normativo, de contribuição assistencial a ser cobrada, indistintamente, de toda a categoria econômica. Aplicase, por analogia, o disposto no Precedente Normativo n 119 e na Orientação Jurisprudencial nº 17, ambos da SDC do TST. Recurso de revista provido. (TST. 6ª T. RR-917/ Relator Ministro: Mauricio Godinho Delgado, DEJT 15/05/2009). CONTRIBUIÇÃO ASSISTENCIAL E CONFEDERATIVA. EMPREGADOS OU EMPRESAS NÃO ASSOCIADOS AO SINDICATO. DESCONTOS INDEVIDOS. 1. Nos termos da jurisprudência iterativa, atual e notória da SBDI-I desta Corte superior, a imposição de contribuição assistencial em favor da agremiação sindical a empregados ou empresas a ela não associados ofende o princípio da liberdade de associação consagrado nos termos do artigo 8º, inciso V, da Constituição da República. Tal dispositivo dá efetividade, no plano normativo interno, ao princípio erigido no artigo 2º da Convenção n.º 87 da Organização Internacional do Trabalho - instrumento que, conquanto ainda não ratificado pelo Brasil, inclui-se entre as normas definidoras dos Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho, conforme fgo/fhmt

6 Declaração firmada em 1998, de observância obrigatória por todos os países-membros daquele organismo internacional. 2. Admitir a imposição de desconto visando ao custeio de ente sindical a que o trabalhador ou empresa não aderiu voluntariamente constitui desvio do princípio democrático que deve reger a vida associativa em todos os seus quadrantes. A contribuição sindical compulsória - seja ela decorrente da lei ou da norma coletiva - destitui os integrantes da categoria de um dos mais importantes instrumentos a lhes assegurar voz ativa na definição dos destinos da sua representação de classe, além de concorrer para a fragilização da legitimidade da representação sindical, na medida em que o seu custeio não mais estará vinculado à satisfação dos representados com a atuação dos seus representantes. 3. Deve ser considerada nula, portanto, a cláusula constante de acordo, convenção coletiva ou sentença normativa que estabeleça contribuição em favor de ente sindical a título de taxa para custeio do sistema confederativo, assistencial, revigoramento ou fortalecimento sindical e outras da mesma espécie a serem descontadas também dos integrantes da categoria não sindicalizados. Agravo não provido. (TST. AIRR - 54/ ª T. Relator Ministro: Lelio Bentes Corrêa, DEJT 06/03/2009). AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. CONTRIBUIÇÃO ASSISTENCIAL E CONFEDERATIVA. A contribuição assistencial e confederativa é devida apenas pelos associados e não por todos os integrantes da categoria. Decisão regional nestes termos guarda consonância com a atual jurisprudência da Seção Especializada em Dissídios Coletivos desta Corte (Precedente Normativo de nº 119 e OJ n.º 17). Daí porque o recurso de revista não se viabiliza, ante o disposto no art. 896, 4º, da CLT c/c Súmula n.º 333 do TST. Agravo de Instrumento a que se nega provimento. (TST. AIRR - 46/ ª T. Relator Ministro: Horácio Raymundo de Senna Pires, DEJT 13/02/2009). Especificamente quanto à contribuição confederativa, o tema já foi fgo/fhmt

7 pacificado pelo Egrégio STF em sua Súmula nº 666, verbis: A contribuição confederativa de que trata o art. 8º, IV, da Constituição, só é exigível dos filiados ao sindicato respectivo. Com efeito, salvo melhor entendimento, perfilho a tese de que a cobrança a empresas não filiadas implica violação à liberdade sindical prevista e resguardada pela Carta Política de Desse modo, razão não assiste ao recorrente. Do exposto, conheço do recurso e, no mérito, nego-lhe provimento. A C O R D A M os Desembargadores da Décima Turma do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, por unanimidade, conhecer do recurso e, no mérito, negar-lhe provimento, nos termos do voto do Excelentíssimo desembargador Relator.///. Rio de Janeiro, 21 de outubro de 2009 Desembargador Federal do Trabalho Flávio Ernesto Rodrigues Silva Relator fgo/fhmt