PROCESSO nº (RO) RECORRENTE: NITRIFLEX S/A INDÚSTRIA E COMÉRCIO

Transcrição

1 PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO 4ª Turma PROCESSO nº (RO) RECORRENTE: NITRIFLEX S/A INDÚSTRIA E COMÉRCIO RECORRIDO: SINDICATO DOS TRABALHADORES NAS INDÚSTRIAS PETROQUÍMICAS DE DUQUE CAXIAS RELATORA: DES. TANIA DA SILVA GARCIA EMENTA ACORDO COLETIVO. OBRIGATÓRIA A PARTICIPAÇÃO DO SINDICATO. Expirado o prazo de 8 (oito) dias sem que o Sindicato tenha se desincumbido do encargo recebido, poderão os interessados dar conhecimento do fato à Federação a que estiver vinculado o Sindicato e, em falta dessa, à correspondente Confederação, para que, no mesmo prazo, assuma a direção dos entendimentos. Esgotado esse prazo, poderão os interessados prosseguir diretamente na negociação coletiva até final, nos termos do 1º do art. 617 da CLT. RELATÓRIO Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso ordinário, em que são partes: NITRIFLEX S/A INDÚSTRIA E COMÉRCIO, como recorrente, e SINDICATO DOS TRABALHADORES NAS INDÚSTRIAS PETROQUÍMICAS DE DUQUE CAXIAS, como recorrida, atuando o MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO como custos legis. Inconformado com a sentença Id b85a2e4, complementada pela decisão de embargos de declaração Id , proferida pela Drª. MAUREN XAVIER SEELING, Juíza da 4ª Vara do Trabalho de Duque de Caxias, que julgou procedente em parte o pedido contido na ação, recorre ordinariamente a reclamada, consoante razões Id 1bc0321. Alega, preliminarmente, que deve ser limitado o número de substituídos, com base no art. 46 do CPC, requerendo, consequentemente, a extinção do feito em relação aos excedentes. Aduz preliminar de ilegitimidade ativa, eis que a presente ação visa à garantia de supostos direitos individuais não homogêneos, uma vez que há peculiaridades no

2 horário de trabalho de cada empregado, na jornada de cada cargo, função e atividade desenvolvida pelos substituídos. Aduz, ainda, ausência de assembleia com quorum qualificado dos substituídos aprovando o ajuizamento desta ação, requerendo a extinção do feito sem resolução do mérito, nos termos do Art. 267, IV, do CPC. Salienta que o Sindicato-recorrido não acosta à inicial o comprovante de que todos os que constam da listagem de substituídos sejam seus associados. Sendo assim, não se deve admitir a legitimidade extraordinária para substituir os trabalhadores que não sejam associados da entidade sindical. Acrescenta que Sindicato-recorrente não possui legitimidade para substituir processualmente os ex-empregados que tenham se desligado da recorrente antes da propositura da ação. Sustenta que a presente ação também configura litispendência em relação a eventuais ações individuais de empregados da Ré que tenham ingressado pleiteando objeto idêntico ou correlato. Afirma que não houve qualquer manifestação do Sindicatorecorrente acerca dos termos da contestação e documentos anexados aos autos, requerendo a aplicação dos artigos 326 e 372 do CPC No mérito, alega que o Sindicato foi notificado e convocado a comparecer em todas as reuniões agendadas para negociação sobre os termos do Acordo celebrado entre a empresa ré e a Comissão de Empregados. Todavia, o recorrido recusou-se a negociar com a recorrente. Argumenta que a exceção do artigo 617, 1º da CLT é compatível com a ordem constitucional, já que o artigo 8º, inciso VI, da Constituição Federal permite exceções à participação obrigatória dos sindicatos nas negociações coletivas sempre que estes, ao descumprirem o mandato que lhes foi concedido, negarem-se a negociar com as empresas, justamente a hipótese da presente ação. Destaca que a celebração e adoção do Acordo de Turno não trouxe prejuízo aos empregados, haja vista que o mesmo manteve a remuneração global dos adicionais os quais sempre foram corretamente pagos e integrados nas parcelas contratuais dos empregados, nos mesmos patamares já praticados pela empresa reclamada. Assevera que a recorrente cumpre turnos ininterruptos de revezamento, assim, se a norma coletiva amparar a jornada superior às 6 (seis) horas originariamente previstas, há possibilidade de elastecer a jornada sem pagamento de horas extraordinárias, até o limite de 8 (oito) horas diárias ou 44 (quarenta e quatro) semanais, conforme entendimento da Súmula 423 do TST. Insurge-se contra a condenação ao pagamento de honorários de advogado, visto que quando a ação é proposta por entidade sindical, em nome próprio, ainda que na condição de substituto processual dos integrantes da categoria que representa, os honorários de advogado são indevidos, de acordo com a Súmula 310, VIII, do TST. Custas processuais e depósito recursal recolhidos e comprovados conforme Id 4dc456b e c92e4f0. O autor apresentou contrarrazões Id

3 O Ministério Público do Trabalho, em parecer da lavra do Dr. Jose Antonio Vieira de Freitas Filho (Id 7fe1984), pronuncia-se pelo conhecimento do recurso, pela rejeição das preliminares e, no mérito, pelo seu não provimento. É o relatório. FUNDAMENTAÇÃO CONHECIMENTO DAS PRELIMINARES DA LIMITAÇÃO DO NÚMERO DE SUBSTITUÍDOS O art. 46 do CPC trata de litisconsórcio, nos seguintes termos: Art. 46. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente, quando: I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à lide; II - os direitos ou as obrigações derivarem do mesmo fundamento de fato ou de direito; III - entre as causas houver conexão pelo objeto ou pela causa de pedir; IV - ocorrer afinidade de questões por um ponto comum de fato ou de direito. Parágrafo único. O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número de litigantes, quando este comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a defesa. O pedido de limitação interrompe o prazo para resposta, que recomeça da intimação da decisão. Na presente ação, o Sindicato atua como substituto processual, ou seja, age em seu próprio nome para satisfazer interesse alheio, defendendo os direitos dos membros da categoria a qual representa. Sendo assim, não se aplica o disposto no art. 46 do CPC. DA ILEGITIMIDADE ATIVA I) Dos direitos individuais não homogêneos O art. 8º, III da CRFB/88, atribui ao sindicato a defesa dos direitos e

4 interesses coletivos ou individuais da categoria, ou seja, cabe ao sindicato a defesa de interesses comuns da categoria. Nestes autos, a discussão versa em torno de descumprimento de norma coletiva, sendo, portanto, o sindicato, parte legítima para figurar no polo ativo da presente ação. II) Da ausência de assembleia aprovando o ajuizamento desta ação A CLT, em seu artigo 872, parágrafo único, afirma que os sindicatos poderão, na busca do cumprimento de acordo coletivo, litigar em juízo, independente de outorga de poderes de seus associados. de ajuizamento de ação. Da mesma forma, desnecessária assembleia que vise a aprovação III) Dos empregados não associados ou ex-empregados Com o cancelando da Súmula 310, que restringia a substituição processual pelos sindicatos, o TST fixou o entendimento de que a substituição processual prevista no art. 8º, III, da Constituição Federal é ampla. Dessa forma, o sindicato tem legitimidade para postular, em Juízo, na condição de substituto processual, direitos individuais homogêneos, em nome de toda a categoria, que inclui os associados e os não associados. No mesmo sentido, não se pode excluir dos ex-empregados o direito de serem representados pelo sindicato, quando a prestação de serviços se deu no período da controvérsia. DA LITISPENDÊNCIA Quando atua em Juízo na condição de substituto processual em nome próprio, o sindicato defende direito material de toda a categoria. Com efeito, segundo as regras do Processo Civil, ocorre litispendência ou coisa julgada quando se reproduz idêntica ação a outra anteriormente ajuizada e que esteja em curso ou já tenha transitado em julgado. Além disso, há identidade entre ações quando ambas têm as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido (artigo 301, 1º a 3º, do CPC). Assim, o ajuizamento de ação pelo sindicato como substituto

5 processual não obsta a propositura de ação trabalhista individual pelo trabalhador, titular do direito material discutido, nos termos do dispositivo legal supratranscrito, o qual se aplica subsidiariamente, por atender aos princípios que norteiam o Processo do Trabalho. Nesse sentido, a Súmula 23 deste Eg. Regional, verbis: SÚMULA Nº 23. Litispendência. Inexistência. Ação individual e ação coletiva. Coisa julgada da ação coletiva. Efeito ultrapartes. Requisitos. A demanda coletiva não induz litispendência em relação às ações individuais, com mesma causa de pedir e pedido, ajuizadas pelo próprio detentor do direito subjetivo material (CDC, art. 104, primeira parte). Os efeitos da coisa julgada na ação coletiva beneficiarão o demandante individual, salvo se, intimado para tomar ciência da ação coletiva, não requerer a suspensão, em 30 (trinta) dias, da demanda individual (CDC, art. 104, segunda parte). admissibilidade. Conheço do recurso ordinário, por preenchidos os pressupostos de MÉRITO DO ACORDO DE TURNO CELEBRADO ENTRE A RECORRENTE E COMISSÃO DE EMPREGADOS E DO ACORDO COLETIVO Alega que o Sindicato foi notificado e convocado a comparecer em todas as reuniões agendadas para negociação sobre os termos do Acordo celebrado entre a empresa ré e a Comissão de Empregados. Todavia, o recorrido recusou-se a negociar com a recorrente. A sentença recorrida considerou válido o acordo coletivo firmado entre o sindicato/recorrido e a empresa/recorrente, por ausência de vicio que o invalide. Sendo assim, deferiu as diferenças de horas extraordinárias no regime de turno de trabalho aos substituídos, observados os adicionais previstos em sua cláusula 10ª, aos trabalhadores constantes do rol de id. b52e9d2. Sem razão a recorrente. A recorrente cita o art. 617, 1º da CLT, para justificar a celebração de acordo de turno com uma comissão de empregados, sem a presença do sindicato. Ocorre que o referido artigo diz que, "expirado o prazo de 8 (oito) dias sem que o Sindicato tenha se desincumbido do encargo recebido, poderão os interessados dar conhecimento do fato à Federação a que estiver vinculado o Sindicato e, em falta dessa, à correspondente Confederação, para que, no mesmo prazo, assuma a direção dos entendimentos. Esgotado esse prazo, poderão os interessados prosseguir diretamente na negociação coletiva até final".

6 A recorrente juntou notificações enviadas à Federação dos Empregados da Indústria Química, onde foi solicitada a participação da federação nas negociações para a celebração do acordo de turnos. Entretanto, não há nos autos documentos que comprovem a tentativa de negociação junto a Confederação competente. Portanto, não foram esgotados todos os meios de negociação entre as entidades de classe. Registre-se, por solicitação da recorrente, que não houve impugnação dos documentos por ela juntados aos autos. Não tendo a recorrente, apontado nenhum vício capaz de invalidar o acordo coletivo ID 4904c9c, sendo este firmado com a participação do sindicato, correta a sentença que o considera válido. Freitas Filho, verbis: No mesmo sentido é o parecer o I. Procurador Jose Antonio Vieira de "Está claro que o empregador não pode entabular qualquer tipo de negociação diretamente com os seus empregados, para contrapor-se ao conteúdo normativo de um acordo coletivo por ele mesmo firmado com a entidade sindical. E, na vigência de acordo coletivo, nem mesmo possível resistência da entidade sindical à alteração de suas disposições justificaria conclusão diversa." Considerado válido o acordo coletivo firmado entre o sindicato/recorrido e a empresa/recorrente, devidas as diferenças de horas extraordinárias e seus reflexos, não sendo o caso de aplicação da súmula 423 do TST. Ressalte-se que a sentença declarou que "caso signatários dos acordos firmados com comissão de empregados e invocados pela ré e queiram permanecer sob o regime deles constantes, deverão manifestar renúncia expressa nestes autos." Nada a reformar. DOS HONORÁRIOS DE ADVOGADO Insurge-se a recorrente, contra a condenação ao pagamento de honorários de advogado, visto que quando a ação é proposta por entidade sindical, em nome próprio, ainda que na condição de substituto processual dos integrantes da categoria que representa, os honorários de advogado são indevidos, de acordo com a Súmula 310, VIII, do TST. Não assiste razão à recorrente. A Súmula invocada pela recorrente foi cancelada em Os honorários de advogado são devidos nas causas em que o sindicato atuar como substituto processual, inteligência da Súmula 219, III do TST. Nego provimento.

7 Conclusão do recurso Pelo exposto, rejeito as preliminares arguidas pela recorrente, conheço do recurso ordinário e, no mérito, nego-lhe provimento, nos termos da fundamentação. ACÓRDÃO A C O R D A M os Desembargadores da Quarta Turma do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, por unanimidade, rejeitar as preliminares arguidas pela recorrente, conhecer do recurso ordinário e, no mérito, negar-lhe provimento, nos termos do voto da Desembargadora Relatora. Rio de Janeiro, 31 de maio de TANIA DA SILVA GARCIA Desembargadora do Trabalho Relatora