ESTADO DO RIO DE JANEIRO PODER JUDICIÁRIO DÉCIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

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1 AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº AGRAVANTE: SKY BRASIL SERVIÇOS LTDA. AGRAVADO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO RELATOR: DES. PLINIO PINTO COELHO FILHO AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONSUMIDOR. SERVIÇOS DE TELEVISÃO POR ASSINATURA. ATIVAÇÃO. DIREITO DO ASSINANTE. COBRANÇA POR PONTOS EXTRA E DE EXTENÇÃO. INDEVIDA. DISPONIBILIDADE SEM ÔNUS PARA O CONSUMIDOR. INSTALAÇÃO. CIENTIFICAÇÃO DOS TERMOS CONTRATUAIS À SUA EXECUÇÃO. COBRANÇA DEVIDA. RESOLUÇÃO Nº. 488/2007, ALTERADA PELA RESOLUÇÃO Nº. 528/2009 E SÚMULA 09/2010 DA ANATEL. PROVIMENTO PARCIAL. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº em que figuram como Agravante e empresa SKY BRASIL SERVIÇOS LTDA. e Agravado o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, ACORDAM os Desembargadores que compõem a Décima Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade de votos, em dar parcial provimento ao Recurso, nos termos do voto do Desembargador Relator.

2 RELATÓRIO E VOTO Cuida-se de recurso de Agravo de Instrumento interposto pela empresa SKY BRASIL SERVIÇOS LTDA. contra a decisão prolatada pela douta Juíza de Direito da 6ª. Vara Empresarial da Comarca da Capital-RJ, nos autos da AÇÃO CIVIL PÚBLICA CONSUMERISTA ajuizada pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO que, liminarmente, determinou a Agravante e suas subsidiárias a se absterem na cobrança de valores que tenham como fato gerador a instalação e a utilização de pontos extras/adicionais, sob pena de pagamento de astreinte diária. nos seguintes termos: A decisão ora guerreada encontra-se sintetizada Ante ao acima exposto, DEFIRO EM PARTE A LIMINAR POSTULADA para determinar que a ré, SKY BRASIL SERVIÇOS LTDA., por si e suas subsidiárias, se abstenha de realizar a cobrança de valores que tenham como fato gerador a instalação e a utilização de pontos extras/adicionais, sob pena de multa diária de R$ ,00 (dez mil reais), por ocorrência, em caso de descumprimento desta decisão. O pleito recursal da Agravante sintetiza-se, exordialmente, à concessão de efeito suspensivo ativo ou antecipação da tutela recursal para a revogação integral da ordem liminar concedida pelo douto Juízo a quo nos autos principais. Em despacho inaugural deste Relator, primeiramente, fora determinado a expedição de ofício ao douto Juízo prolator da decisão recorrida para prestar as informações necessárias e sobre o cumprimento ao estatuído pelo art. 526 do CPC, advindo as mesmas às fls. 412/413, noticiando pela sua manutenção na forma em que fora prolatada.

3 Contra-razões do Agravado ofertados às fls. 415/430, pugnando pelo não conhecimento do presente recurso, ou, pela negativa de seu provimento, mantendo-se integralmente a r. decisão agravada. Dado vista a ilustre Procuradoria da Justiça (fls. 432/436), manifestou-se pelo não conhecimento do agravo de instrumento, e, meritoriamente, pelo seu desprovimento, mantendo-se integralmente a r. decisão guerreada. É o sucinto Relatório. Decido. Primeiramente, necessário se faz à melhor compreensão dos termos técnicos avocados aos autos, das definições definidas pela Resolução nº. 488/2007, alterada pela Resolução nº. 528/2009, da ANATEL, assim expressa nos incisos IV, IX, X, XI e XIII do artigo 2º, verbis: Art. 2º. Para fins deste Regulamento são adotadas as seguintes definições:. IV Ativação: procedimento realizado pela prestadora que habilita o conversor/decodificador de sinal ou equipamento similar associado a Ponto-Principal ou a Ponto-Extra a operar na rede da Prestadora;. IX Ponto-Principal: primeiro ponto de acesso à programação contratada com a Prestadora instalado no endereço do Assinante; X Ponto-Extra: ponto adicional ao ponto principal, de acesso à programação contratada, ativado no mesmo endereço do ponto principal do Assinante; XI Ponto-Extensão: ponto adicional ao ponto principal, de acesso à programação contratada, ativado no mesmo endereço do Ponto-Principal do Assinante, que reproduz, integralmente e simultaneamente, sem qualquer alteração, o canal sintonizado no Ponto-Principal ou no Ponto-Extra;.

4 XIII Instalação: procedimento que compreende a instalação da rede interna e do conversor/decodificador de sinal ou equipamento similar associado a Ponto-Principal ou a Ponto- Extra, bem como a sua ativação; De tal premissa, pode-se afirmar de que, para a Ativação do Ponto-Principal e do Ponto-Extra, indispensáveis a instalação da rede interna e do aparelho conversor/decodificador de sinal para a devida operação na rede da Prestadora, ora Agravante. De igual premissa também se afirma de que, para o Ponto de Extensão, dito aparelho é dispensável, uma vez que reproduz integralmente e simultaneamente o mesmo canal sintonizado pelo Ponto-Principal ou do Ponto-Extra. O citado Regulamento de Proteção e Defesa dos Direitos dos Assinantes dos Serviços de Televisão por Assinatura, em seus artigos 29 e 30, incisos I e II, estipulam que a programação do Ponto-Principal, por todos os meios e forma de contratação, deve ser disponibilizada para a residência do Assinante, sem cobrança adicional, para Ponto-Extra e para Ponto-de-Extensão, independentemente do serviço contratado, arcando este, no entanto, pelo serviço de instalação, verbis: Art. 29. A programação do Ponto-Principal, inclusive programas pagos individualmente pelo Assinante, qualquer que seja o meio ou forma de contratação, deve ser disponibilizada, sem cobrança adicional, para Pontos-Extras e para Pontos-de-Extensão, instalados no mesmo endereço residencial, independentemente do Plano de Serviço contratado. Art. 30. Quando solicitados pelo Assinante, a Prestadora pode cobrar apenas os seguintes serviços que envolvam a oferta de Pontos-Extras e de Pontos-Extensão: I instalação; e, II reparo da rede interna e dos conversores/decodificadores de sinal ou equipamentos similares. 1º. A cobrança dos serviços mencionados neste artigo fica condicionada à sua discriminação no

5 documento de cobrança, conforme definido nos arts. 16 e 17 deste Regulamento. 2º. A cobrança dos serviços mencionados neste artigo deve ocorrer por evento, sendo que os seus valores não podem ser superiores àqueles cobrados pelos mesmos serviços referentes ao Ponto-Principal. Desta forma, permissível a Prestadora a cobrança pelos serviços de instalação que compreende a instalação da rede interna para a ativação do Ponto-Extra e do Ponto-Extensão (art.30, I). Assim como o Regulamento de Proteção e Defesa dos Direitos dos Assinantes dos Serviços de Televisão por Assinatura estabelece que o contrato entre a Prestadora e o Assinante deve ser redigido em termos claros de forma a facilitar a compreensão pelo consumidor e que deverão constar desse contrato as condições de contratação, prestação e suspensão dos serviços, os preços cobrados, bem como a periodicidade e o índice aplicável, em caso de reajuste (art. 33, 1º e 2º), estabelecendo, mais, que todo e qualquer valor, além do contratado, instituído pela Prestadora, deve ser previamente informado ao Assinante e previamente anuído por este em data anterior à sua cobrança (art. 17), também o Código de Defesa do Consumidor garante ao consumidor o conhecimento e a concordância prévios à alteração do conteúdo ou da qualidade do contrato (arts. 46 e 51, inc. XIII). REGULAMENTO Art. 17. Todo e qualquer valor, além do contratado, instituído pela Prestadora, deve ser previamente informado ao Assinante e expressamente anuído por este em data anterior à sua cobrança. Parágrafo único. Em qualquer caso, a comunicação enviada ao Assinante deve conter discriminação clara do motivo da nova cobrança e seus valores. Art. 33. O contrato celebrado entre a partes deve estar na forma escrita e ser entregue ao Assinante até a instalação do serviço.

6 1º. O contrato deve ser redigido em termos claros com caracteres ostensivos e de fácil compreensão. 2º. O Assinante responsabiliza-se pelos danos causados à integridade dos equipamentos da Prestadora, quando não contratar com ela a instalação. C D C Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance. Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: XIII autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do contrato, após sua celebração;... Nessa parte, bem examinou a ilustre magistrada quanto ao descumprimento da Prestadora às normas vigentes e relacionadas a sua atuação no mercado consumerista, verbis : Na medida em que a ré não pactuou com os clientes novos e tampouco com os antigos a cobrança pela utilização do equipamento, conforme demonstrado no Inquérito Civil, certo que tem-se caracterizado o descumprimento das normas inerentes à sua atuação no mercado de consumo. Assim é que a ANATEL, usando de suas prerrogativas de deliberação na esfera administrativa quanto à interpretação da legislação de telecomunicações (art. 19, inc. XVI, da Lei Geral de Telecomunicações), editou a SÚMULA 9/2010, nos seguintes termos, verbis :

7 O Regulamento de Proteção e Defesa dos Direitos dos Assinantes dos Serviços de Televisão por Assinatura, aprovado pela Resolução nº. 488, de 3 de dezembro de 2007, e alterado pela Resolução nº. 528, de 17 de abril de 2009, aplica-se desde o início de sua vigência em todos os contratos de prestação de serviços de televisão por assinatura em vigor, inclusive os contratos firmados anteriormente a sua vigência, sendo nulas de pleno direito todas as cláusulas contratuais que contrariem as disposições desse Regulamento. O Regulamento de Proteção dos Direitos dos Assinantes dos Serviços de Televisão por Assinatura não veda que a prestadora e o assinante disponham livremente sobre a forma de contratação do equipamento conversor/decodificador, sendo cabível, portanto, que o façam por meio de venda, aluguel, comodato, dentre outras, vedado o abuso do poder econômico. Esta Súmula entre em vigor na data de sua publicação produzindo seus efeitos a partir da vigência do Regulamento de Proteção e Defesa dos Direitos dos Assinantes dos Serviços de Televisão por Assinatura, aprovado pela Resolução nº. 488, de 3 de dezembro de 2007, e alterado pela Resolução nº. 528, de 17 de abril de Por este entendimento sumular, a ANATEL permitiu às prestadoras de serviço, também, a cobrança pela disponibilização dos aparelhos conversores/decodificadores aos consumidores, uma vez que, indubitavelmente, tal disponibilização vem gerar um custo extra para as mesmas, inerentes ao fornecimento dos aparelhos e presumidos custos adicionais envolvidos na sua instalação. Sobre a matéria em questão, assim se pronunciou o E. TFR-4ª Região, no feito nº , em suspensão de liminar, verbis :

8 Acrescento, ainda, que o serviço de televisão por assinatura tem um custo estimado e varia, em regra, conforme a gama de programação (canais) disponibilizada ao cliente. Por sua vez, a instalação do ponto-extra, mesmo considerando apenas acréscimo do valor do aparelho (que é essencial para o fornecimento da serviço em cada ponto) acarreta para a prestadora do serviço, por conseqüência lógica, um custo adicional. Assim, corroborando as razões esposadas pela ANATEL neste pedido de suspensão, penso que impedir alguma forma de contra-prestação do cliente pela utilização do ponto-extra e ponto-de-extensão, mesmo que por meio de aluguel de decodificadores adicionais, estaríamos gerando a possibilidade de tratamento desigual entre os clientes que não têm interesse na prestação do serviço em mais de um televisor. Em outras palavras, é inegável que a disponibilização do ponto-extra e ponto-de-extensão gera um custo adicional ao serviço (fornecimento de um equipamento decodificador em cada ponto) cujo valor, sob pena de se gerar um desequilíbrio econômico-financeiro no contrato, deverá ser diluído entre todos os assinantes ou suportado individualmente pelo consumidor contratante. Portanto, na forma do disposto pelos arts. 29 e 30, I, da citada Resolução, a programação do Ponto-Principal deve ser disponibilizada, sem cobrança de adicional, para Pontos-Extras e para Pontos-de-Extensão, desde que instalados no mesmo endereço residencial do Assinante. Todavia, tais serviços quando solicitados pelo Assinante, permite a Prestadora a cobrança pelo serviço de instalação, já que este gera um custo operacional à mesma com a sua execução. Face ao exposto, conheço do recurso e dou parcial provimento ao mesmo, para reformando, em parte, a douta decisão ora recorrida de fls.104/105, permitir a Agravante, SKY BRASIL SERVIÇOS LTDA., desde que contratada em obediência ao estatuído pela Resolução nº. 488/2007, alterada pela Resolução nº. 528/2009, e pelo Código de Defesa do Consumidor, caso queiram, a proceder a cobrança aos

9 Assinantes/Clientes por serviços executados que envolvam a instalação de Pontos-Extras e de Pontos-de-Extensão (art. 30, I), mantendo a decisão atacada, no tocante a vedação de cobrança pelos sinais dos mesmos, a título aluguel ou qualquer outra forma. Rio de Janeiro, 05 de dezembro de DES. PLINIO PINTO COELHO FILHO Relator