A GUERRA DO PARAGUAI E A FORMAÇÃO FRONTEIRIÇA DE MATO GROSSO DO SUL NOS INSTRUMENTOS DIDÁTICOS UTILIZADOS NO ENSINO MÉDIO

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1 1 A GUERRA DO PARAGUAI E A FORMAÇÃO FRONTEIRIÇA DE MATO GROSSO DO SUL NOS INSTRUMENTOS DIDÁTICOS UTILIZADOS NO ENSINO MÉDIO Larissa Rodrigues dos Santos Ruivo 1 Carla Villamaina Centeno 2 1 Estudante do curso de Geografia da UEMS, Unidade Universitária de Jardim; larissa13ruivo@hotmail.com. 2 Professora do curso de Geografia da UEMS, Unidade Universitária de Campo Grande; carla.centeno@uol.com.br. Resumo Com a finalidade de investigar o ensino na fronteira, este trabalho propõe a análise dos manuais didáticos de Geografia utilizados nas escolas que oferecem o Ensino Médio, em Bela Vista, Jardim, Guia Lopes da Laguna e Nioaque, cidades inseridas na faixa de fronteira entre Brasil e Paraguai. O principal objetivo do trabalho é analisar a Guerra do Paraguai e a formação da fronteira sudoeste de Mato Grosso do Sul nos instrumentos didáticos utilizados nas escolas públicas, através de uma metodologia pautada em análise bibliográfica de fontes primárias. Além disso, pretende-se discutir as principais fontes que enfocam a Guerra com o Paraguai, analisar a organização do trabalho didático na escola contemporânea e verificar as propostas curriculares para o ensino médio em Mato Grosso do Sul. A abordagem da Guerra do Paraguai ( ) justifica-se devido a sua importância para a definição da atual fronteira sudoeste do Estado de Mato Grosso do Sul. Podemos constatar que não há uma discussão especifica sobre a fronteira, nos seus aspectos históricos, nos manuais didáticos justamente por se tratarem de produtos padronizados feitos para atender às massas. Palavras- chave: Fronteira. Mato Grosso. Organização do Trabalho Didático. Propostas Curriculares. Introdução Com a intenção de investigar o ensino na fronteira, e perfazendo a necessidade de aumentar as referências sobre a temática, propusemos a análise da Guerra do Paraguai e sua influência na formação da fronteira sudoeste do Estado de Mato Grosso do Sul, observando

2 2 de que maneira o tema tem sido retratado nos manuais didáticos utilizados nas escolas estaduais situadas na fronteira sudoeste que oferecem Ensino Médio. A pesquisa desenvolveu-se em quatro estágios: 1) levantamento de obras que abordam o processo do trabalho didático e os manuais; 2) estudo de obras que tratam da Guerra do Paraguai ( ); 3) averiguar os referenciais curriculares para o ensino médio e suas propostas, e 4) descrição e análise do manual didático que teve maior adesão nas escolas públicas da fronteira sudoeste. Baseando-se nos estudos de Gilberto Alves, em sua obra O trabalho didático na escola moderna: formas históricas (2005), verificou-se o processo de organização do trabalho didático. Os estudos de Alves & Centeno (2008) foram importantes para realizarmos uma síntese sobre as vertentes interpretativas da Guerra. Foram revisadas as obras de Visconde de Taunay (2006), Júlio José Chiavenatto (1983?) e Francisco Doratiotto (2002). Para os estudos da fronteira de Mato Grosso do Sul utilizamos Corrêa (1999), Centeno (2000; 2007); e Paixão (2006). Analisamos, também, os Referenciais Curriculares para o ensino médio em Mato Grosso do Sul de 2004 e 2008 e verificamos, finalmente, o manual didático adotado por seis, das dez escolas pesquisadas, Geografia Geral e do Brasil: espaço geográfico e globalização (2007), de autoria de João Carlos Moreira e Eustáquio de Sene, edtado pela Scipione. Dessa forma, procuramos analisar a Guerra do Paraguai e a formação da fronteira sudoeste de Mato Grosso do Sul nos instrumentos didáticos utilizados nas escolas públicas, contribuindo para a reflexão sobre o ensino de Geografia na fronteira sudoeste. Material e Métodos Os materiais utilizados durante a realização deste projeto constituem-se de: 1)Referencias bibliográficas científicas- livros, artigos, revistas; 2)Referências bibliográficas de caráter empírico - manuais didáticos. A metodologia pautou-se em A-Revisão bibliográfica acerca de: 1)estudos produzidos sobre a Guerra do Paraguai; 2) estudos produzidos sobre a questão da fronteira; 3) estudos que tratam dos instrumentos didáticos. B-Pesquisa de campo: 1) levantamento dos instrumentos didáticos utilizados no ensino médio;2) levantamento dos Referenciais Curriculares; 3) entrevistas com professores e alunos. Resultados e Discussão Com a finalidade de investigar o ensino na fronteira, este trabalho propõe a análise dos manuais didáticos de Geografia utilizados nas escolas que oferecem o Ensino Médio, em Bela

3 3 Vista, Jardim, Guia Lopes da Laguna e Nioaque, cidades inseridas na faixa de fronteira entre Brasil e Paraguai. Optou-se pela temática a Guerra do Paraguai e a formação da fronteira. Gilberto Alves (2005) historiciza o processo de organização do trabalho didático, passando pelos períodos históricos compreendendo a Antiguidade, Idade Média até chegar aos dias atuais. Identifica-se que, independente do período, a educação desenvolve-se a partir da relação entre educador e educando, mediante recursos didáticos e de um espaço físico para desenvolver estas atividades. Na escola contemporânea Alves (2005) constatou o anacronismo da mesma, pois ainda adota a organização manufatureira da escola comeniana, ao adotar o manual didático como única fonte de estudos. Segundo Alves & Centeno (2008), são três as vertentes acerca da guerra. A primeira, predominante até a década de 1960, caracteriza-se por obras produzidas por militares e memorialistas. Para estes a Guerra foi causada por disputas locais; os problemas econômicos de ordem universal não foram ressaltados. Os memorialistas relataram os episódios de batalha, de maneira memorável, sem enfatizar a questão política - ainda que alguns autores se preocupassem com esta característica. Como memorialista podemos citar o autor Visconde de Taunay, que esteve presente em campos de batalha e relata brilhantemente o episódio conhecido como a Retirada da Laguna. A segunda tendência de cunho revisionista, ressalta a forte presença do imperialismo inglês como um quarto aliado, sendo o responsável pelo desencadear da guerra. Podemos aqui citar o autor Júlio José Chiavenatto. E finalmente, na tentativa de renovar os estudos sobre o tema, a última tendência voltou a valorizar as querelas locais para explicar o conflito, circunscrevendo suas análises à instância política. Esta tendência acabou ressaltando os motivos para eclosão da guerra por motivos de crescimento regional. Surgiu entre 1980 e 1990 e o principal representante dessa corrente é Francisco Doratiotto. Não fazendo parte do cronograma original, mais de importante valia, foram as análises dos Referenciais Curriculares para o ensino médio em Mato Grosso do Sul, que apresentaram diferenças quanto a forma e conteúdo. O primeiro tem como título: Referencial Curricular para o Ensino Médio de Mato Grosso do Sul- Área de Ciências Humanas e suas Tecnologias (2004). Apresenta-se bem fundamentado a partir de obras teóricas 1, onde o professor pode (e deve) buscar auxílio para aperfeiçoar e complementar suas aulas a partir da linha cronológica da história (Antiguidade, Idade Média e Modernidade). Além disso, o Referencial em questão apresenta caminhos para pôr em prática os conteúdos sugeridos que 1 Entre nomes de peso podemos citar Milton Santos, Yves Lacoste, Ruy Moreira, Karl Marx, Friedrich Engels, Descartes, Platão, Lênin, entre outros.

4 4 variam entre leitura cartográfica, de textos, imagens e gráficos, exibição de filmes, produção de textos e pesquisa, interatividade dos alunos com a comunidade através de feiras ou mostras que proporcionem a exposição do conhecimento adquirido na escola. Outra proposta trata-se do Referencial Curricular da Educação Básica da Rede Estadual de Ensino de Mato Grosso do Sul (2008). Nesta proposta não identificamos uma abordagem teórica sobre os temas que devam ser estudados, e sim uma lista de conteúdos a serem transmitidos sem explicação de como aplicá-los, cabendo ao professor a melhor maneira de transmiti-los. Identificamos como linha teórica um ecletismo metodológico, por meio da adoção de um viés escolanovista e referências aos modismos pedagógicos, como as competências, soluções mágicas para resolver o problema da aprendizagem (Centeno, 2010, p. 21). O manual analisado, adotado por seis, das dez escolas pesquisadas, leva o título Geografia Geral e do Brasil: espaço geográfico e globalização (2007), de autoria de João Carlos Moreira e Eustáquio de Sene, editora Scipione. Composto por 560 páginas, divididas em oito unidades. De acordo com os objetivos do trabalho, buscamos informações a respeito da Guerra do Paraguai e da formação da fronteira. No conteúdo analisado, não encontramos referências, nem mesmo na unidade destinada a discorrer sobre a política brasileira, sendo tratado nesta unidade apenas o período pós Tampouco, encontramos informações sobre a segunda temática. No manual didático, o sentido da palavra fronteira se caracteriza ora como limite entre dois territórios, ora com sentido econômico, representando a mobilidade do capitalismo que hoje está presente tanto em países (ditos) ricos, como pobres, questões essas discutidas por geógrafos como Milton Santos, por exemplo. Como forma de suprir as carências de conhecimento regional o governo do Estado lançou um boxe com três obras: Pantanais Mato Grossenses, de Virgilio Corrêa Filho; Anais do descobrimento, povoação e conquista do Rio de La Plata, de Ruy Diaz Guzman, e Oeste- ensaio sobre a grande propriedade pastoril, de Nelson Werneck Sodré, utilizados como forma de complementar a carência desses temas nos manuais. Mas mesmo com o apoio do governo, as temáticas regionais seguem a parte, as obras que as abordam ficam na biblioteca, levando-nos a concluir o que previamente já identificamos, de que o manual didático é um produto elaborado pelas e paras as massas, confirmando a tese de Alves (2005) acerca da centralidade do manual didático na escola contemporânea. Agradecimentos À Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul pela concessão da bolsa.

5 5 Referências Artigos Alves, G. L. & Centeno, C. V. (2008). A produção de manuais didáticos de História do Brasil: remontando as origens ( ) Anais...Textos, autores y bibliotecas. Universidade Nacional de Córdoba. Biblioteca Mayor, Córdoba. Centeno, C. V O conhecimento histórico vulgarizado: a ditadura do manual didático. Revista Histedbr On line. n. 33 p ,. Disponível em < Acesso em 22 de março de Livros Alves, G. L O trabalho didático na escola moderna: formas históricas. Campinas- SP, Ed. Autores Associados,154 p Chiavenato, J. J. 1976(?) Genocídio Americano: a guerra do Paraguai. 16ª ed. São Paulo- SP, Ed. Brasiliense, 208 p. Correâ, V.B Fronteira Oeste. Campo Grande- MS, Ed. UFMS, 216 p. Doratiotto, F. F. M. O Maldita guerra: nova história da Guerra do Paraguai. São Paulo- SP, Ed. Companhia das Letras, 615 p Mato Grosso do Sul Referencial Curricular da Educação Básica da Rede Estadual de Ensino de Mato Grosso do Sul. 150 p. Mato Grosso do sul Referencial curricular para o Ensino Médio de Mato Grosso do sul- Área de Ciências Humanas e suas Tecnologias. 289 p. Moreira, J. C. & Sene, E. de Geografia geral e do Brasil: espaço geográfico e globalização. São Paulo- SP, Ed. Scipione. 560 p. Paixão, R. O Turismo na Fronteira: identidade e planejamento de uma região. Campo Grande- MS, Editora da UFMS, aprox. 160p.Taunay, A. d E, Visconde de Taunay A Retirada da Laguna: episodio da Guerra do Paraguai; traduzida da quinta edição francesa por Affonso de E. Taunay. - 16ª ed - Rio de Janeiro- RJ, Ed. Biblioteca do Exército. Apr.200 p.