A cartografia na proposta curricular oficial do Estado do Rio de Janeiro
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- Airton Malheiro de Sousa
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1 A cartografia na proposta curricular oficial do Estado do Rio de Janeiro Miguel Filipe da Costa Silva Universidade Federal do Rio de Janeiro Bolsista PIBID/CAPES INTRODUÇÃO A Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEDUC/RJ) tem apresentado o currículo mínimo como o documento oficial responsável por transmitir aos colégios e aos professores da rede básica de educação os principais conteúdos que devem ser abordados em sala de aula durante o ano letivo. Estruturado por habilidades e competências que devem ser desenvolvidas junto aos alunos, gostaria de destacar nesta introdução que tais políticas curriculares podem estar vinculadas à preparação do aluno para sua inserção no mercado de trabalho, sem o questionamento e preocupação da escola criar um senso crítico no aluno para reflexão de como esse mundo é construído (LOPES, 2002). OBJETIVOS O objetivo desse trabalho é refletir sobre como tal currículo é praticado, como se dá sua inserção em uma escola estadual do Rio de Janeiro e associá-las com o ensino de geografia, em particular o de cartografia; e também apresentar o trabalho que é desenvolvido pelo grupo PIBID da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Para atender o que foi proposto o trabalho foi estruturado da seguinte forma: primeiro farei apresentação do grupo PIBID e de sua proposta de trabalho, em seguida uma breve análise da prática curricular que vigora no Estado do Rio de Janeiro e analisar como o ensino cartográfico se insere nela, e irei concluir refletindo acerca do papel da cartografia no conteúdo curricular do ensino médio, da aprendizagem cartográfica de
2 alunos no ensino médio e da eficácia da proposta curricular pautada no currículo mínimo. METODOLOGIA O currículo mínimo 2012 de geografia é um documento da Secretaria de Estado de Educação (SEDUC/RJ) elaborado por um corpo de docentes, dentre os quais estão professores universitários e da rede básica de ensino. O documento, que contempla as séries do 6º ao 9º ano do ensino fundamental e todo o ensino médio, reúne temáticas bimestrais que estão localizadas no item Foco do Bimestre e habilidades e competências em forma de conteúdos que devem constar nas aulas. Antes da descrição e análise do currículo mínimo, parece-me importante falar sobre políticas curriculares, já que as mesmas influenciam diretamente a elaboração de um documento curricular. Sobre políticas curriculares, Apple (1994, p.59 grifo do autor) diz: Ele é sempre parte de uma tradição seletiva, resultado da seleção de alguém, da visão de algum grupo acerca do que seja conhecimento legítimo. Apple afirma que uma proposta curricular á pautada em interesses de algum grupo, portanto seria sensato sugerir que a política curricular que o Estado do Rio de Janeiro vem adotando, pautada em habilidades e competências, tenha a intenção de fazer com que os alunos, ao finalizar e ciclo escolar, desenvolvam determinadas habilidades e competências em consonância com os interesses e concepções de algum grupo. Uma proposta curricular também pode ser vista como um instrumento de avaliação e controle. Um documento curricular oficial pode eleger os objetivos a serem atingidos por cada escola de uma determinada nação ou parte dela. Uma determinada avaliação poderá ocorrer se baseando em resultados do desempenho de alunos em provas e pode-se ainda criar sistemas de avaliações, que atendam a estrutura organizativa de um país, no caso do Brasil podem ter avaliações municipais, estaduais e federais. Esse tipo de avaliação pode corroborar com a idéia de que cada escola tenha que assumir sua responsabilidade, pois elas seriam avaliadas pelo seu desempenho e mérito, dentro de um sistema curricular unificado. Entretanto, deve-se analisar essa
3 política curricular em seu âmbito geral. Um sistema de currículo unificado, garantido pelo discurso da objetividade e neutralidade, pode impedir um processo democrático quando ele abrange escolas que estão situadas em diferentes localidades, onde cada uma delas tem a sua particularidade, pois a cultura local e a composição dos alunos podem influenciar diretamente no ambiente escolar. Por isso não faz sentido adotar uma única metodologia de ensino e avaliação em todos os locais. Logo, essa argumentação potencializa o debate sobre a eleição de conteúdo geográfico no currículo mínimo (APPLE, 1994). Portanto, cabe discutir se é importante ou não que uma política curricular seja flexível, para que professores tenham autonomia e liberdade de recontextualizar um currículo para a realidade da escola onde trabalham. Sobre isso Lopes (2005, p.111) diz: Toda política curricular é, assim, uma política de constituição do conhecimento escolar: um conhecimento construído simultaneamente para a escola (em ações externas a escola) e pela escola (com suas práticas institucionais cotidianas). O currículo mínimo é focado na linha de pensamento curricular pautada em habilidades e competências, o documento é divido por temas bimestrais que variam de acordo com a série a que se refere e dentro desses temas são expostas as habilidades e competências que os alunos devem alcançar em cada bimestre. Através desse documento o trabalho do professor é direcionado de forma objetiva a transmitir os elementos contidos no programa curricular no decorrer do ano letivo, de forma a garantir que o ensino esteja alinhado com as necessidades do ensino baseadas nos parâmetros curriculares nacionais e nas principais avaliações nacionais e estaduais. Em sua descrição na versão de 2012, a Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro expõe que o currículo é um documento norteador e não tem por finalidade resolver todos os problemas educacionais. Entretanto, com o auxílio de boas práticas educacionais, pretende-se que ele se torne um solo firme para a prática educacional (SEDUC RJ, 2012, p.2). Parece-me importante destacar que durante a análise da prática curricular no CIEP Ayrton Senna durante o início do ano letivo de 2012 os professores docentes destacaram que havia incompatibilidade do foco do
4 bimestre do 1º bimestre da 1ª série do ensino médio, denominado Representações Gráficas e Cartográficas, com o material didático oferecido, pois o conteúdo explicativo sobre cartografia estaria espalhado entre os livros das três séries, contendo apenas uma pequena referência ao tema no livro utilizado na 1ª série. Neste ponto foi que inicialmente surgiu a curiosidade de entender o porquê do desencontro entre a Política Nacional do Livro Didático com a política curricular adotada pela Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro. Entretanto, diante dessa temática vi a necessidade de fazer um recorte no currículo mínimo para dar conta de realizar esta análise; o tema da cartografia foi escolhido pela sua relevância para o campo da geografia e por ser o tema bimestral dado para as turmas de 1º ano de ensino médio, no 1º bimestre anual. Pois durante o ano 2012 o meu trabalho no CIEP foi feito com o acompanhamento, junto ao docente do CIEP, da turma 1006, que cursava o 1º ano do ensino médio. Daí surgiram outras questões: 1 - saber como a cartografia se insere dentro do ensino médio; 2 - a utilização do aprendizado em outras temáticas; 3 verificar o aprendizado dos alunos nas séries seguintes. Para atender a estas finalidades, os procedimentos metodológicos empregados foram: em 2012 foram feitas análises das avaliações do 1º bimestre da turma 1006 do CIEP e aplicação de um exercício específico, no 3º bimestre, para as turmas de 1º ano, para verificar a compreensão dos conteúdos cartográficos pelos alunos. Em 2013 foram aplicados exercícios para turmas de 2º ano, objetivando saber do aprendizado cartográfico dos alunos. Também foi feito acompanhamento das aulas do professor do CIEP para verificar a forma como a cartografia se inseria em diversas temáticas. RESULTADOS PRELIMINARES Neste estudo exploratório sobre aprendizagens do conteúdo cartográfico, orientado pelo currículo mínimo, é possível levantar a discussão sobre a política curricular da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro, de modo que apresentarei algumas considerações a respeito do ensino de geografia em uma escola pública do Rio de Janeiro.
5 Uma das primeiras considerações trata da escolha do material didático para a adoção da proposta curricular oficial. O livro didático oferecido pelo Estado aos professores aborda muito pouco sobre o conteúdo cartográfico. O professor fica, assim, limitado quanto à utilização do principal material didático que é oferecido tanto a ele quanto aos alunos. No caso do CIEP Ayrton Senna, o professor pode contar com diversos tipos de materiais didáticos, pois os mesmos foram adquiridos devido a projetos em parceria com o setor privado. Entretanto me parece que nem todo professor da rede estadual de educação do Rio de Janeiro irá dispor desse tipo de material para o auxílio de suas aulas, tendo assim que focar no livro didático ou adquirir material por seus próprios meios. Também é possível considerar que os alunos da turma acompanhada conseguiram obter bons resultados nas avaliações no que se refere ao conhecimento cartográfico, porém apresentaram bastante dificuldade em fazer análises comparativas e críticas sobre a função dos mapas, e também na escrita, para transformar perguntas de pesquisa em um texto. Tais dificuldades não se restringem apenas à disciplina da geografia, mas também a outros campos do conhecimento, o que pode demonstrar a necessidade de se desenvolver um ensino com os saberes integrados para um melhor aprendizado. Uma reflexão sobre o impacto de se ter o conteúdo cartográfico do ensino médio concentrado em apenas um bimestre do 1º ano também está sendo feita com o acompanhamento de turmas do 2º ano durante todo o ano de 2013, com o desenvolvimento, junto aos alunos, de atividades que objetivam verificar se a aprendizagem cartográfica obteve êxito; e com o acompanhamento das aulas do docente do CIEP, com o objetivo de analisar se a cartografia é abordada em outros assuntos da grade curricular e como os alunos lidam com isso. Em suma, procurei abordar um pouco sobre a prática curricular no Rio de Janeiro, ciente de que muitas coisas ainda têm de ser analisadas. Porém, com os resultados aqui obtidos e com a vivência no ambiente escolar, concluo ressaltando a importância de uma participação de pesquisadores em educação e dos professores da rede de ensino básico na formulação das propostas curriculares; e que o recorte feito
6 com o ensino cartográfico serve para contribuir com o estudo sobre se é produtivo ou não para a aprendizagem e formação dos alunos, separar os saberes em temas concentrados. O trabalho continua em desenvolvimento e o próximo passo será o acompanhamento de turmas do 3º ano do ensino médio do CIEP Ayrton Senna em conjunto com o docente da escola. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APPLE, M. W. A política do conhecimento oficial: faz sentido a ideia de um currículo nacional? In: MOREIRA, A. F. e SILVA, T. (org.) Currículo, cultura e sociedade. São Paulo: Cortez, RIO DE JANEIRO. Currículo Mínimo Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. Disponível em: < Acesso em: 20 de maio de SILVA, Rodrigo Torquato da. O impacto das lutas dos povos negros. Via política: livre informação e cultura, 04 fev LOPES, Alice Casimiro. Políticas curriculares: continuidade ou mudança de rumos?. Revista Brasileira de Educação, São Paulo, v. 1, n.26, p , 2004.
7 LOPES, Alice Casimiro. Os parâmetros curriculares nacionais para o ensino médio e a submissão ao mundo produtivo: o caso do conceito de contextualização. Educação e Sociedade, São Paulo, v. 23, n.80, p , YOUNG, M. Para que servem as escolas? Escola e Sociedade. V. 28, n. 101, set./dez, 2007.
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