PARCIALMENTE ACOLHIDOS, TÃO SOMENTE PARA ACRESCENTAR QUE A CONDENAÇÃO IMPOSTA É PARA AMBOS OS RÉUS DE FORMA SOLIDÁRIA.

Transcrição

1 SEGUNDA CÂMARA CÍVEL EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA AP. CÍVEL N º EMBARGANTE: ORTHOS CLINICA DO APARELHO LOCOMOTOR LTDA 2º EMBARGANTE: MEIER MEDICAR CENTER LTDA EMBARGADO: FABIO BISPO DOS SANTOS DES. RELATORA: TEREZA CRISTINA SOBRAL BITTENCOURT SAMPAIO EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA APELAÇÃO CÍVEL. DECLARATÓRIOS ACOLHIDOS EM PARTE PARA SANAR A OMISSÃO QUANTO AO DISPOSITIVO FINAL, VISTO QUE A CONDENAÇÃO AO DANO MORAL IMPOSTA NO ACÓRDÃO ALCANÇA AMBOS OS RÉUS, ORA EMBARGANTES. NO MAIS, INEXISTE QUALQUER CONTRADITÓRIO OU OBSCURIDADE A SER SADADA NA ESPÉCIE. ACÓRDÃO QUE ABORDOU, DE FORMA EXAUSTIVA E DIDÁTICA, A QUESTÃO CONTROVERTIDA NESTES AUTOS. - Embargos acolhidos em parte para sanar a omissão quanto a condenação de ambos os réus no dano moral atribuído no acórdão. - No mais, ausência de contradição ou obscuridade. - Pretensão dos embargantes que foi devidamente analisada e refutada. - Os Réus pretendem, na verdade, obter novo julgamento do feito, o que não pode ocorrer em sede de embargos de declaração. EMBARGOS DECLARATÓRIOS PARCIALMENTE ACOLHIDOS, TÃO SOMENTE PARA ACRESCENTAR QUE A CONDENAÇÃO IMPOSTA É PARA AMBOS OS RÉUS DE FORMA SOLIDÁRIA. ECE 1

2 A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos do processo nº , de que são partes as acima mencionadas ACORDAM os Desembargadores da Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade de votos, em dar parcial provimento aos embargos de declaração, nos termos do voto da Desembargadora Relatora. R E L A T Ó R I O Trata-se de embargos de declaração opostos pelos Réus Orthos Clinica do Aparelho Locomotor Ltda e Méier Medical Center S/C Ltda (Hospital Pasteur) contra acórdão de fls.414/430, que deu parcial provimento ao Recurso de Apelação interpostos pelo Autor (Fábio Bispo dos Santos) reformando em parte a sentença do Juízo a quo, concedendo a indenização pelo dano moral no valor de R$10.000,00 (dez mil reais). Sustenta o 1º Embargante (indexador 432), em síntese, que a parte dispositiva do v. acórdão não menciona qual o montante cabível a cada réu, não elucidando se a condenação é solidária ou não; que os art. 131, 145 e 458, inciso II, todos do CPC, foram violados, em se tratando de prova técnica; que o embargante somente prestou serviços fisioterápicos, eis que quando o autor procurou a Clinica Embargante já possuía diagnóstico firmado; que ECE 2

3 o perito informa que a fratura e a luxação já poderiam ser identificadas da primeira cirurgia, sem, contudo constar em qualquer documento dos autos raio-x que assim comprove; que não era de sua obrigação diagnosticar a luxação e fratura sofrida em razão da natureza do serviço que o apelante buscou; razões por que pugna pelo conhecimento e integral provimento dos presentes declaratórios, para que possa ser modificada a decisão, com o desprovimento do Recurso de Apelação. Sustenta o 2º Embargante (indexador 442), em síntese, que, da simples leitura do acórdão embargado, percebe-se a existência de contradição; que apesar do órgão julgados afirmar, com base no laudo pericial, pela ausência de dano sofrido pelo autor, acabou por condenar os réus ao pagamento de indenização por supostos danos morais; que, no caso em exame, não houve qualquer dano causado ao autor pela conduta do Embargante; que o acórdão foi omisso na parte dispositiva, pois deixou de se pronunciar sobre a forma que se dará a responsabilidade entre os Réus pelo pagamento da condenação, se solidária ou individual; que houve violação direta e frontal ao art.14, 4º, do CDC, tendo em vista que inexiste defeito na prestação do serviço; que a indenização a títulos de danos morais foi fixada de forma exorbitante; requerendo, ao final, sejam conhecidos e providos os embargos. É o relatório. DECIDO. ECE 3

4 Nos termos do artigo 535, do Código de Processo Civil, cabem embargos de declaração quando: I - houver, na sentença ou no acórdão, obscuridade ou contradição; II - for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se o juiz ou Tribunal. Analisando o acórdão embargado, verifica-se clareza e coerência na fundamentação do julgado, sendo evidente a pretensão dos embargantes de forçar o reexame de matéria já devidamente apreciada. Cumpre ressaltar que, conforme se vê no v. acórdão embargado, a questão controvertida foi devidamente abordada, não tendo havido qualquer obscuridade ou contradição no julgado. Neste sentido, convém transcrever pequeno trecho do julgado. Confira-se:...Com efeito, da análise acurada dos autos, mormente a prova técnica, verifica-se que houve falha na prestação do serviço médico-hospitalar quanto aos Réus (2º e 3º Apelados), visto que o diagnóstico inicialmente apresentado foi incorreto, pois não observaram as reais lesões sofridas pelo Autor- Apelante, que inclusive já estavam presentes nos primeiros exames radiográficos realizados, como afirma o perito do juízo a quo às fls.230, ao responder o 2º quesito do autor: a maioria das lesões foi identificada pelos raios X realizados no Hospital Municipal Souza Aguiar e no Hospital Pasteur. Assim, ao contrário do exposto pelos Apelados, que afirmam que as lesões existentes no Apelante são raras e de difícil diagnóstico inicial, somente sendo percebidas de 15 a 21 dias após o acidente, no presente caso, isso não ocorreu. Não só o perito do Juízo a quo identificou as reais lesões quando da análise dos Raios X datados de 01/09/2008 (dia do acidente), como os médicos que o atenderam no dia 19/09/2008 e 26/09/2008. Ou seja, a fratura intra-articular dos ossos do tarso estava presente nos mesmos Raios X analisados pelos prepostos dos Apelados no dia 01/09/2008 e 04/09/2008. ECE 4

5 Entretanto, no atendimento junto aos Réus (2º e 3º Apelados), o caso do autor somente foi diagnosticado como uma entorse no tornozelo direito. Além do mais, recomendaram ao Autor-Apelante a fisioterapia como tratamento inicial, o que não é indicado no caso de fratura, devendo se aguardar até que seja possível esse tratamento. Fato confirmado pelo perito do juízo a quo no laudo pericial ao responder o quesito 14 do Hospital Pasteur (fls.229): não havia indicação de fisioterapia....no presente caso, o conjunto probatório dos autos se mostrou favorável à pretensão do Autor quanto aos danos morais, diante do diagnostico falho obtido nas dependências dos Réus (2º e 3º Apelados), suportando com isso fortes dores, que persistiram, até que um diagnóstico correto fosse elaborado e realizada a cirurgia necessária. Da documentação acostada não se pode concluir que não tenha ocorrido falha. Ao revés, parece que se está diante de grosseiro equívoco, à medida que o diagnóstico inicialmente fornecido pelos Réus (2ª e 3ª Apelados) era de entorse de tornozelo direito, quando na verdade houve fratura óssea e sub-luxação talo-navicular....acrescenta, ainda, o perito nos seus esclarecimentos de fls.261/262, que apenas a luxação talo-navicular tinha indicação de tratamento cirúrgico, o que em geral é realizado o mais precocemente possível, por se tratar de uma lesão articular. Assim, a demora no diagnóstico correto, diante do descaso com que foi tratado, atrasou o tratamento adequado, causando ao Apelante intranquilidades, dores e aflições, justificando-se o cabimento da reparação por danos morais. Os Réus (2º e 3º Apelados) tornam-se inteiramente responsáveis pelos danos ocasionados ao paciente, quando intervém erroneamente no tratamento, diante do erro no diagnóstico, submetendo o paciente, muitas vezes, a procedimentos invasivos e desnecessários, e como no presente caso, quando foi encaminhado à fisioterapia ou deixado de realizar outros exames para o diagnóstico mais preciso da lesão do Autor-Apelante. Salienta-se que, a mera perturbação psíquica vivenciada pelo Apelante, por força de fatores negligentes e imperitos dos Réus, é apta a ensejar a indenização por danos morais. Assim, evidenciado o dano suportado pelo Autor- Apelante, a conduta dos Réus e o nexo de causalidade entre ambos, exsurge o dever de reparação. ECE 5

6 ...Diante da situação posta em exame, tenho por bem fixar a indenização pelo dano moral no valor de R$ ,00 (dez mil), diante da angústia, intranquilidade e dores por que passou o Autor-Apelante no atraso do diagnóstico correto da lesão, além do papel-punitivo pedagógico que deve a condenação cumprir. Salienta-se que, o desespero e angústia causados ao Autor extrapolam os limites de um mero aborrecimento, o que impõe a concessão da verba a título indenizatório por danos morais, atendidos os princípios da razoabilidade e proporcionalidade. Assim, apesar das ações realizadas pelos Apelados não terem causado sequelas maiores ao Autor-Apelante, visto que as sequelas alegadas pelo mesmo não foram comprovadas, existindo apenas as sequelas resultantes do acidente ocorrido em 01/09/2008, como exposto na complementação do laudo pericial, deve-se observar que a demora no diagnóstico correto causou angústia e dor ao Autor-Apelante, que caracterizam a indenização por dano moral arbitrada. Observa-se, assim, que inexiste a alega contrariedade apontada pelos Embargantes, uma vez que o acórdão indicou os danos morais sofridos pelo Autor diante do diagnóstico falho e tardio dos Réus, ora Embargantes. Cumpre ressaltar, ademais, que o julgador não está obrigado a mencionar todos os dispositivos legais suscitados pelas partes, quando a apreciação de um, ou de alguns deles, por si só, já seja suficiente ao adequado deslinde da questão controvertida. Neste sentido, o Superior Tribunal de Justiça. Confira-se: PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO, OBSCURIDADE, CONTRADIÇÃO OU FALTA DE MOTIVAÇÃO NO ACÓRDÃO A QUO. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. MATÉRIA CONSTITUCIONAL ANALISADA NA CORTE A QUO. FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. MATÉRIA DE PROVA. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 07/STJ. IMPOSSIBILIDADE.3. Fundamentos da decisão a quo que são claros e nítidos, sem haver omissões, obscuridades, dúvidas ou contradições. O não acatamento das teses ECE 6

7 contidas no recurso não implica cerceamento de defesa. Ao magistrado cabe apreciar a questão de acordo com o que entender atinente à lide. Não está obrigado a julgá-la conforme o pleiteado pelas partes, mas sim com o seu livre convencimento (art. 131 do CPC), utilizando-se dos fatos, provas, jurisprudência, aspectos pertinentes ao tema e da legislação que entender aplicável ao caso. Não obstante a oposição de embargos declaratórios, não são eles mero expediente para forçar o ingresso na instância extraordinária, se não há omissão do acórdão a ser suprida. Não há necessidade de se abordar, como suporte da decisão, dispositivos legais e/ou constitucionais. Inexiste ofensa ao art. 535, II, do CPC quando a matéria enfocada é devidamente abordada no voto a quo. (Data de Julgamento: 02/10/ Ministro JOSÉ DELGADO( (Grifos apostos) Em suma, o órgão judicial, para expressar a sua convicção, não precisa aduzir comentários sobre todos os argumentos levantados pelas partes. Sua fundamentação pode ser sucinta, pronunciando-se acerca do motivo que, por si só, achou suficiente para a composição do litígio. (AI SP-AGRG.Ministro José Delgado) (Grifos apostos) Não viola o art. 535 do CPC, nem importa negativa de prestação jurisdicional, o acórdão que, mesmo sem ter examinado individualmente cada um dos argumentos trazidos pelo vencido, adotou, entretanto, fundamentação suficiente para decidir de modo integral a controvérsia posta. (REsp /SP Rel. Teori Albino Zavascki) (Grifos apostos) Desse modo, o inconformismo dos Embargantes com o resultado do julgamento deverá ser manifestado por meio do recurso cabível, não sendo esta a finalidade dos embargos de declaração. Salienta-se somente que assiste razão aos embargantes com relação a omissão na parte dispositiva do v. acórdão embargado, uma vez que deixou de indicar que a ECE 7

8 condenação imposta pelos danos morais é de responsabilidade de ambos os Réus Assim, a responsabilidade é solidária dos réus no pagamento da condenação imposta. Dessa forma, tendo em vista a omissão existente no dispositivo final do v. acórdão, acolho os presentes declaratórios, tão somente para acrescentar a responsabilidade solidária dos réus no pagamento da indenização concedida, fazendo constar da decisão recorrida o seguinte: Às fls., onde se lê: Pelo exposto, VOTO no sentido de DAR PARCIAL PROVIMENTO ao recurso para, acolhendo em parte a pretensão ao Autor-Apelante, conceder a indenização pelo dano moral no valor de R$ ,00 (dez mil reais), quantia corrigida monetariamente a partir da intimação desta decisão, e acrescida de juros legais, a contar da citação, assim como para fixar os honorários advocatícios em 10% sobre a condenação, na forma do 3º do artigo 20, do Código de Processo Civil. Leia-se: Pelo exposto, VOTO no sentido de DAR PARCIAL PROVIMENTO ao recurso para, acolhendo em parte a pretensão ao Autor- Apelante, condenar os Réus, solidariamente, ao pagamento da indenização pelo dano moral no valor de R$ ,00 (dez mil reais), quantia corrigida monetariamente a partir da intimação desta decisão, e acrescida de juros legais, a contar da citação, assim como para fixar os honorários advocatícios em 10% sobre a ECE 8

9 condenação, na forma do 3º do artigo 20, do Código de Processo Civil. Ante o exposto, ACOLHO EM PARTE O PRESENTE RECURSO de Embargos de Declaração, apenas para sanar a omissão no dispositivo final quanto a condenação solidária dos réus no pagamento da indenização imposta no v. acórdão. Rio de Janeiro, de de TEREZA CRISTINA SOBRAL BITTENCOURT SAMPAIO Desembargadora Relatora ECE 9