VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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1 VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA APELAÇÃO CÍVEL n.º E Obrigação de Fazer cumulada com Indenizatória 13ª. Vara Cível da Comarca da Capital APELANTE :COSME DE SANTANA APELADO: UNIMED SÃO GONÇALO NITERÓI SOCIEDADE COOPERATIVA DE SERVIÇOS MÉDICOS E HOSPITALARES LTDA UNIMED NORTE FLUMINENSE) RELATORA: DES.ª LETÍCIA SARDAS ACÓRDÃO APELAÇÃO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER CUMULADA COM REPARAÇÃO DE DANOS. PLANO DE SAÚDE COLETIVO. RESCISÃO UNILATERAL DO CONTRATO COLETIVO SEM NOTIFICAÇÃO PRÉVIA. FALHA NO DEVER DE INFORMAÇÃO DA OPERADORA. ALEGAÇÃO DE QUE O PLANO FOI CELEBRADO APENAS COM O ESTIPULANTE E QUE ESTE SOLICITOU O CANCELAMENTO. PRECEDENTES DO STJ. EM REGRA, O ESTIPULANTE NÃO RESPONDE PERANTE OS SEGURADOS PELAS FALHAS DO SERVIÇO PRESTADO PELA OPERADORA. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. REFORMA DA SENTENÇA. PROVIMENTO DO RECURSO. Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAÇÃO CÍVEL n.º em que é APELANTE: COSME DE SANTANA e APELADO: UNIMED SÃO GONÇALO NITERÓI SOCIEDADE Página 1 de 7

2 COOPERATIVA DE SERVIÇOS MÉDICOS E HOSPITALARES LTDA UNIMED NORTE FLUMINENSE ACORDAM os Desembargadores que integram a Vigésima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso. Trata-se de Ação de Obrigação de Fornecimento de Serviço cumulada com Responsabilidade Civil e com Pedido de Tutela Antecipada, demanda proposta por COSME DE SANTANA em face de UNIMED SÃO GONÇALO - NITERÓI SOCIEDADE COOPERATIVA DE SERVIÇOS MÉDICOS E HOSPITALARES LTDA (UNIMED LESTE FLUMINENSE), alegando, em resumo, que era titular, desde 2001, em contrato de plano coletivo promovido pela ré, tendo sua esposa como dependente; que em , sem qualquer notificação prévia, a ré rescindiu o contrato, sob o argumento de que a cooperativa Copenavem requereu a sua exclusão do plano de saúde; que a ré não notificou previamente, nem ofereceu possibilidade de permanecer como beneficiário de um plano na modalidade individual; que tal situação vem lhe causando danos de ordem moral. A sentença proferida às fls. 225/229, julgou improcedentes os pedidos, condenando a parte autora ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios que fixou em R$500,00, na forma do 4 do artigo 20 do CPC. O autor interpôs apelação às fls. 230/248, requerendo a reforma da sentença para determinar à Apelada o imediato restabelecimento do plano de saúde, mediante transferência para plano de modalidade individual, nas mesmas condições em que era o plano coletivo, com base na Resolução Normativa n 19 do CONSU, bem como a condenação da Ré a indenizar o Autor pelos danos morais sofridos no valor de R$15.000,00 (quinze mil reais). Sustenta, em resumo, que em momento algum foi notificado pela operadora ré da exclusão, nem tampouco do cancelamento do Página 2 de 7

3 beneficio, bem como, em momento algum, foi oferecido a possibilidade de permanência do autor como beneficiário na modalidade de plano individual. Contrarrazões da parte ré às fls. 250/262. É O RELATÓRIO. Com efeito, restou incontroverso nos autos ter o Autor aderido ao contrato de seguro de saúde coletivo empresarial, contribuindo para o custeio do plano nos moldes previstos no contrato. Cuida-se, portanto, de relação de natureza consumerista, eis que, de um lado da relação processual, encontra-se a consumidora, nos termos previstos no art. 2º da Lei 8.078/90 (CDC), sendo certo que, do lado oposto, se posiciona o fornecedor dos serviços, consoante definição contida no art. 3ºdo mesmo diploma legal, não restando dúvida que o Autor é o destinatário final dos serviços médicos contratados com a Unimed Norte Fluminense, com a intervenção da estipulante Copenavem. Neste sentido, não pode a Unimed eximir-se de sua responsabilidade a pretexto de que não tem nenhuma relação direta com a parte Autora, sob a alegação de que o plano foi celebrado apenas com a estipulante. A relação contratual que se forma do acordo de vontades entre o empregador e a operadora do plano com o intuito de criar um vínculo jurídico, tem a finalidade de estabelecer o dever de prestar um benefício (assistência à saúde) a terceiros inicialmente estranhos ao contrato, mas que posteriormente, quando manifestam sua concordância com o negócio entabulado pelas outras duas partes, passam a ser credores concorrentes de uma delas (a operadora). Página 3 de 7

4 O segurado (beneficiário) é consumidor, pois utiliza os serviços na condição de destinatário final (art. 2º), enquanto que a operadora do plano se enquadra na definição de fornecedor, uma vez que presta serviços (art. 3º) de assistência à saúde (ao segurado), sendo esses serviços prestados mediante remuneração (par. 2º. do art. 3º.). Não há dúvida, assim, de que o plano de saúde coletivo reveste-se de todas as características de um típico contrato de consumo e, como tal, deve ser regido pelas normas do CDC. Ora, é do entendimento remansoso dos tribunais que O art. 13, II, b, da Lei 9.656/98, proíbe expressamente às empresas seguradoras de rescindirem unilateralmente os contratos, salvo os casos de fraude, não pagamento da mensalidade do período superior a 60 dias, por ano de contrato. A migração para novo plano é faculdade do consumidor, ex vi do art. 3º da Lei nº /04 (ApCv , 2ª C. Cv., rel. Des. Leila Mariano) Ademais, a suspensão ou rescisão unilateral do contrato de plano de saúde só pode ocorrer em caso de não pagamento das mensalidades pelo usuário por período superior a sessenta dias consecutivos ou não, nos seus últimos doze meses de vigência, desde que o consumidor seja comprovadamente notificado até o quinquagésimo dia de inadimplência, consoante previsto no artigo 13, II, da Lei nº 9.565/1980, o que não ocorreu na hipótese dos autos, pelo que caracterizado está o dano moral ante a ausência da cobertura quando ainda era devida. No caso dos autos, deixou, ainda, a ré de proceder à notificação prévia do titular do plano, suspendendo o serviço, evidenciando grave falha no dever de informação, que se mostra contrária aos princípios da boa-fé objetiva e da função social do contrato, postulados de observância obrigatória sob a ordem jurídica moderna. A sentença apelada concluiu pela improcedência do pedido autoral, alegando que não foi a operadora que cancelou o contrato do autor, mas sim a estipulante. Página 4 de 7

5 Todavia, ainda que tenha sido a estipulante que tenha solicitado a rescisão do contrato ou a exclusão do autor, incumbia à operadora ré a prévia notificação do autor, o que configurou evidente falha no dever de informação da qual não pode se eximir. Desta feita, a UNIMED tem responsabilidade pelos fatos narrados na inicial, na medida em que possui o dever de informar ao consumidor que ele foi excluído da cobertura dos serviços de saúde por ela prestados, não tendo cumprido, pois, com o dever de informação, previsto no artigo 6º, III, do Código de Defesa do Consumidor, gerando sua responsabilização por eventuais danos daí decorrentes, já que não comprovou nos autos que procedeu à prévia informação de exclusão do autor do seu cadastro. Logo, merece acolhimento a pretensão do apelante para obter a reparação moral. Neste diapasão, no que tange à fixação do quantum debeatur, entendo que o valor de R$ 6.000,00 se mostra adequado para compensar os danos sofridos pelo autor em decorrência da rescisão do contrato e da exclusão do plano de saúde sem prévia comunicação por parte da ré. Outrossim, deverá a operadora ré proceder ao imediato restabelecimento do plano de saúde do autor/apelante, mediante transferência para o plano individual nos termos do contrato coletivo vigente com a empresa COPENAVEM. Este tem sido o entendimento na jurisprudência do TJRJ: APELAÇÃO CÍVEL. Ação de obrigação de fazer com pedido de tutela antecipada. Plano de Saúde. Contrato Coletivo. Cancelamento unilateral. Possibilidade de migração dos segurados para modalidade de plano de saúde individual, sem carência adicional, com mensalidade compatível com a cobrada no contrato coletivo. Artigo 1º da Resolução CONSU nº 19/99 e artigos 13 e 15 da Resolução Normativa nº 254 da ANS. Manutenção da sentença. NEGO SEGUIMENTO AO RECURSO, NA FORMA DO ARTIGO 557, CAPUT, DO Página 5 de 7

6 CÓDIGO DE PROCESSO. ( APELACAO - 1ª Ementa DES. SEBASTIAO BOLELLI - Julgamento: 24/06/2013 AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZATÓRIA. PLANO DE SAÚDE COLETIVO. RESCISÃO CONTRATUAL. REALIZAÇÃO DE NOVO PLANO DENTRO DO PRAZO DE TRINTA DIAS, SOB A PROMESSA DE NÃO EXIGÊNCIA DE CARÊNCIA. NEGATIVA DE AUTORIZAÇÃO DE PROCEDIMENTO CIRÚRGICO. INEXISTÊNCIA DE TROCA DE PLANOS, MAS APENAS DE MIGRAÇÃO ENTRE SOCIEDADES DO MESMO CONGLOMERADO ECONÔMICO. SOLIDARIEDADE EXISTENTE ENTRE TODOS OS QUE PARTICIPAM DA CADEIA ECONÔMICA DE PRODUÇÃO, CIRCULAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DOS PRODUTOS OU DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS, SENDO TODOS FORNECEDORES SOLIDÁRIOS. FALHA DA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. INEGÁVEL O ABALO MORAL SOFRIDO PELA AUTORA. VALOR DA CONDENAÇÃO ADEQUADAMENTE FIXADO, DE FORMA A GUARDAR PROPORCIONALIDADE COM O CONSTRANGIMENTO EXPERIMENTADO. NEGADO SEGUIMENTO AO RECURSO, NA FORMA DO ART. 557, CAPUT, DO CPC. ( APELACAO 1ª Ementa DES. ANTONIO SALDANHA PALHEIRO - Julgamento: 15/07/ QUINTA CAMARA CIVEL) APELACAO -3ª Ementa -DES. LUCIANO RINALDI - Julgamento: 31/07/ SETIMA CAMARA CIVEL -EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS - RELAÇÃO DE CONSUMO - SEGURO SAÚDE COLETIVO EMPRESARIAL - USUÁRIO ADIMPLENTE - RECUSA DE COBERTURA FUNDADA NO CANCELAMENTO DO PLANO POR INADIMPLÊNCIA DA EMPRESA ESTIPULANTE - QUESTÃO INOPONÍVEL AO CONSUMIDOR - AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO PRÉVIA DO USUÁRIO - INTERRUPÇÃO DO CUSTEIO DE TRATAMENTO PÓS-OPERATÓRIO - DANOS MORAIS CONFIGURADOS E CORRETAMENTE FIXADOS - PRTECEDENTES JURISPRUDENCIAIS - REITERAÇÃO DOS MNESMOS ARGUMENTOS EM SEDE DE AGRAVO INTERNO - INOCORRÊNCIA DE CONTRADIÇÃO, OBSCURIDADE OU OMISSÃO - PRETENDIDO REEXAME DA CAUSA - CARÁTER INFRINGENTE - EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS. Incabíveis embargos de declaração que, a pretexto de esclarecer suposta obscuridade, omissão ou contradição, são manejados com claro objetivo de atribuir efeito infringente ao julgado. A rediscussão da matéria não se harmoniza com a natureza e a função dos embargos declaratórios. Mero inconformismo. Precedentes jurisprudenciais. Embargos de declaração desprovidos. Página 6 de 7

7 POR TAIS FUNDAMENTOS, voto no sentido de dar provimento ao recurso, para reformar a sentença e condenar a ré ao restabelecimento do Plano de Saúde do Autor operado pela ré na modalidade individual, sem carência adicional, com mensalidade compatível com os termos do contrato coletivo vigente com a empresa COPENAVEM, bem como ao pagamento da quantia de R$ 6.000,00 (seis mil reais) a título de dano moral, com incidência de juros de mora desde a citação e correção monetária desde esta data, bem como ao pagamento de honorários advocatícios de 10% do valor da condenação, na forma do parágrafo único, do artigo 20, 3º do Código de Processo Civil. Rio de Janeiro, 9 de outubro de DES. LETÍCIA SARDAS RELATORA Página 7 de 7