ESTADO DA PARAÍBA TRIBUNAL DE CONTAS MINISTÉRIO PÚBLICO ESPECIAL

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1 ESTADO DA PARAÍBA TRIBUNAL DE CONTAS MINISTÉRIO PÚBLICO ESPECIAL Processo TC n.º: 04069/05 Parecer n.º: 00063/13 Natureza: RECURSO DE APELAÇÃO INTERPOSTO NOS AUTOS DE ANÁLISE DE INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO Origem: SECRETARIA DA SÁUDE DO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA Recorrentes: DRA. ISABELLA BARBOSA MARINHO FALCÃO (PROCURADORA-GERAL DO MPJTC) E DR. MARCÍLIO TOSCANO FRANCA FILHO (SUBPROCURADOR-GERAL DO MPJTC) EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL. SECRETARIA DA SAÚDE DO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA. INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO. JULGAMENTO. APELAÇÃO INTERPOSTA POR REPRESENTANTES DO MPJTC. TERMO DE PARCERIA FIRMADO COM OSCIP DECORRENTE DE INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO. INSTALAÇÃO DE USINAS DE OXIGÊNIO EM UNIDADES HOSPITALARES E TREINAMENTO DOS FUNCIONÁRIOS PARA MANUTENÇÃO/OPERACIONALIZAÇÃO DOS EQUIPAMENTOS. SERVIÇO INEFICIENTE REALIZADO. CONTRATAÇÃO DE EMPRESA PARA REALIZAR MANUTENÇÃO E OPERACIONALIZAR AS USINAS DE OXIGÊNIO E AR MEDICINAL. AUSÊNCIA DE IMPUTAÇÃO DE DÉBITO NO ACÓRDÃO GUERREADO, QUE ANALISOU AS DESPESAS CONTESTADAS. REQUERIMENTO PELOS RECORRENTES DE IMPUTAÇÃO DO VALOR TOTAL PAGO À OSCIP, ALÉM DAS DESPESAS PAGAS A TERCEIROS PARA OPERACIONALIZAÇÃO DAS USINAS. MP DE CONTAS NA FUNÇÃO DE CUSTOS LEGIS. PELO CONHECIMENTO DO APELO. MÉRITO. DISCORDÂNCIA QUANTO AO VALOR A SER IMPUTADO AOS ORDENADORES DE DESPESA, HAJA VISTA TER SIDO REALIZADO PARTE DO SERVIÇO PELA OSCIP. PROVIMENTO EM PARTE DO RECURSO, DEVENDO SER REFORMADO O ACÓRDÃO OBJURGADO. P A R E C E R

2 2 I DO RELATÓRIO Cuida-se de recurso de apelação interposto pela então Subprocuradora-Geral do MPjTC, Dr.ª Isabella Barbosa Marinho Falcão e pelo então Procurador-Geral do MPjTC, Dr. Marcílio Toscana Franca Filho, vindicando reformar o Acórdão AC1 - TC 00807/2011, fls. 8230/8231, lavrado em sede deste autos de análise da Inexigibilidade de Licitação n.º 04/2005 e do Termo de Parceria dela decorrente, firmado entre Secretaria da Saúde do Município de João Pessoa, representada pela Sr.ª Roseana Maria Barbosa Meira, e o Instituto Brasileiro de Ações Integradas IBRAI, para a instalação de usinas geradoras de gás oxigênio e ar medicinal para unidades hospitalares da rede municipal, sob o valor global de R$ ,00. O Aresto ora atacado está vazado, em suma, nos seguintes termos: 1. Por maioria, vencido o voto do Conselheiro Arthur Paredes Cunha Lima, julgar irregulares a inexigibilidade de licitação nº 04/2005 e o conseqüente termo de parceria celebrado com a OSCIP IBRAI Instituto Brasileiro de Ações Integradas e seu respectivo termo aditivo, em conformidade com a proposta de decisão do Relator, auditor, substituto de conselheiro, Antônio Gomes Vieira Filho; 2. por unanimidade, acompanhar a proposta de decisão do Relator, no sentido de aplicar multa pessoal à Sra. Roseana Maria Barbosa Meira, com fulcro no art. 56, II da LOTCE, no valor de R$ 2.805,10, concedendo-lhe o prazo de 60 (sessenta) dias para efetuar o recolhimento desta importância ao erário estadual, em favor do Fundo de Fiscalização Orçamentária e Financeira Municipal; 3. por maioria, vencidos o Relator e o Conselheiro Umberto Silveira Porto, julgar regulares com ressalvas as despesas efetuadas para instalação das usinas de oxigênio e gás medicinal na rede hospitalar municipal (Hospital Geral Santa Izabel, Complexo Hospitalar Humberto Nóbrega e Instituto Cândida Vargas), decorrentes do termo de parceria firmado com a OSCIP IBRAI, pagas no decorrer dos exercícios de 2005 a 2008; 4. por unanimidade, acompanhar a proposta de decisão do Relator fazendo recomendações à Secretaria de Saúde de João Pessoa [...]. Publicação da Decisão em 13/05/2011, tendo os mencionados representantes do Ministério Público especial protocolado o recurso em tela em 30/05/2011, às fls. 8246/8254, requerendo, em apertada síntese, o provimento da presente Apelação, para reforma da decisão consubstanciada no Acórdão AC1 - TC 00807/2011, a fim de se imputar débito à Sr.ª Roseana Maria Barbosa Meira, e, solidariamente, ao IBRAI, no montante total de R$ ,31. Intimação para defesa direcionada ao Sr. Dalmo Santos de Oliveira, representante do IBRAI e à Sra. Roseana Maria Barbosa Meira, então Secretária da Saúde do Município de João Pessoa, fl. 8261, tendo somente esta interessada aviado contra-razões à Apelação, fls. 8262/8273. Análise pela DILIC, fls. 8291/8293, opinando pelo conhecimento do Recurso de Apelação e, quanto ao mérito, entendeu necessário o pronunciamento específico da DIAGM I. A DIAGM I, às fls. 8300/8304, concluiu pelo provimento do presente recurso, devendo ser imputado débito referente aos recursos públicos repassados ao IBRAI, para os quais não houve comprovação de despesas no montante de R$ ,00, solidariamente, à Sra. Roseana Maria Barbosa Meira, Secretária da Saúde do Município de João Pessoa e ordenadora da despesa, e ao Sr. Dalmo Santos de Oliveira, Presidente do Instituto Brasileiro de Ações Integradas IBRAI.

3 Em 28/06/2012 o caderno processual aportou nesta Procuradoria do MPjTC/PB, tendo-me sido efetivamente distribuído em 13/07/ legis. Frise-se o funcionamento desta representante ministerial na condição de custos II DA FUNDAMENTAÇÃO 1- Admissibilidade O Acórdão AC1-TC 00807/2011 aqui esgrimido teve publicação em meio oficial próprio aos 13 de maio de 2011, conforme cópia impressa do Diário Oficial Eletrônico do Tribunal, fl. 8243, e a Certidão da Secretaria da 1.ª Câmara, fl Sendo o prazo para interposição do recurso de apelação, nos termos do art. 32, parágrafo único, da Lei n.º 18/93, de quinze dias, contados a partir da publicação do acórdão (art. 30, inc. II) e tendo sido a peça protocolada em 30/05/2011, tempestivo se revela o recurso em debate. D outra banda, o Ministério Público de Contas goza de legitimidade ativa, de acordo com o art. 67, VI, do Regimento Interno desta Corte de Contas. Atendidos os pressupostos da tempestividade e legitimidade, além da instrumentalidade, pelo conhecimento da insurreição em epígrafe. 2. Mérito O petitório recursal centra-se na reforma do Acórdão AC1 - TC 00807/2011, com o objetivo de ser imputado débito no valor de R$ ,31, solidariamente, à Sr.ª Roseana Maria Barbosa Meira, então Secretária da Saúde do Município de João Pessoa, e ao Sr. Dalmo Santos de Oliveira, Presidente do Instituto Brasileiro de Ações Integradas IBRAI. Segundo os representantes do Ministério Público de Contas, ora recorrentes, o Decisum guerreado somente aplicou multa à gestora da Pasta da Saúde de João Pessoa e julgou regulares com ressalvas as despesas efetuadas para instalação de usinas de oxigênio e gás medicinal, se eximindo de imputar débito, apesar de evidentes as despesas não comprovadas e antieconômicas, a teor dos relatórios da Auditoria e do próprio Parecer ministerial. No plano de trabalho do IBRAI, decorrente de Termo de parceria firmado com a SESAU, estava prevista a instalação e manutenção de quatro usinas geradoras de oxigênio e ar medicinal em hospitais da Capital da Paraíba, com o treinamento dos funcionários para operacionalização/manutenção das máquinas. No entanto, em sede de inspeção in loco, a Unidade Técnica de Instrução constatou a não instalação de uma das usinas e, ainda, a produção de apenas oxigênio por aquelas efetivamente instaladas, com deficiências, além da ausência de treinamento dos servidores para operacionalizá-las. Foram pagos R$ ,00 ao IBRAI, do montante de R$ ,00 contratado, além de gasta a quantia de R$ ,49 com a aquisição de peças para adequação das usinas, serviços de operacionalização/manutenção e fornecimento de gases

4 medicinais, tentando suprir as falhas de execução do Termo de parceria firmado com o IBRAI. Ora, toda despesa deve ser devidamente comprovada para que seja legítima, sendo que a prestação de contas deve ser completa, caso contrário será o mesmo que não tê-la realizado. Desta forma, a despesa é ilegítima se não houver a comprovação de que gasto real (sem apresentação de nota fiscal, celebração de convênio, plano de trabalho, entre outras formalidades) ou sem comprovação de que houve o efetivo cumprimento da contraprestação devida (ausência de apresentação de documento hábil para comprovar o gasto em favor do Poder Público). Esta apresentação faz prova juris tantum. Esse duplo aspecto da prestação de contas - formal e material, respectivamente - está constitucionalmente previsto: 4 Art. 74. Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão, de forma integrada, sistema de controle interno com a finalidade de: [...] II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades da administração federal, bem como da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado; Como se extrai desta Lei, a despesa a cargo do erário deve ser atestada com os comprovantes da entrega do material ou da prestação do serviço, incluindo-se a realização de obra pública. A não comprovação da despesa enseja a repetição da quantia indevidamente gasta aos cofres públicos municipais, a aplicação da devida punição de natureza pecuniária ao gestor, além de implicar ato de improbidade, a ser oportunamente comunicado ao Ministério Público Comum, por ser dever de ofício de todo aquele que tenha notícia ou informação de tal acontecimento. É inegável que deve haver imputação de débito solidário à ex-gestora e ao representante da OSCIP, porquanto o IBRAI não cumpriu o contrato integralmente, já que foi necessário contratar uma empresa como a SERMANTEC para aquisição de equipamentos para manter as usinas mal instaladas pela mencionada OSCIP, assim como para realizar a manutenção corretiva desses mesmos equipamentos. Apesar de ser indeclinável, inarredável, por força dos prejuízos e danos sofridos pelos cofres públicos municipais. a devolução ao Erário pessoense do valor pago por bem não ingressado no patrimônio público da SESAU e serviço não executado, não se concorda com os recorrentes quanto ao valor a ser imputado, R$ ,31, correspondente ao valor total pago ao IBRAI, mais o valor decorrente da diferença entre o valor pago a outras empresas para colocar em funcionamento as usinas. É inconteste nos relatórios da Auditoria que o IBRAI instalou três usinas em unidades hospitalares da Capital, apesar de deficientes, sendo-lhe devida a parte referente a esse serviço. Seria caracterizado enriquecimento ilícito o não pagamento pela SESAU pela prestação de serviço de instalação das usinas. Apoiada nesse raciocínio, esta representante do MPjTC entende que o valor realmente devido à OSCIP contratada é o montante devido pela instalação de três usinas, com o serviço conforme avençado, R$ ,00 [(R$ ,00/4)x3], diminuído pelos valores gastos com manutenção, correção e compra de equipamentos para o funcionamento adequado da usinas de fornecimento de oxigênio e gás medicinal, de acordo com os objetivos acordados, isto é, R$ ,97, conforme se extrai do Quadro elaborado pela diligente Divisão de Auditoria, às fls. 8116/8117:

5 5 DESPESAS PAGAS DE JAN/07 A AGO/09 Peças para adequação das usinas R$ ,98 instaladas (item 1.8) Serviços de R$ ,00 operacionalização/manutenção (item 1.10) DESPESAS A SEREM PAGAS Serviços de R$ ,00 operacionalização/manutenção (item 1.10) LICITAÇÃO EM CURSO Peças para adequação das usinas R$ ,99 instaladas (item 1.13) TOTAL R$ ,97 Esclareça-se que os serviços de manutenção e operacionalização também devem ser incluídos no cômputo das despesas devidas pela IBRAI, porque restou inconsteste nos documentos apresentados, especificamente no Edital do Pregão n.º 143/2008, fls. 8001/8004, na parte remissiva à manutenção preventiva e corretiva das usinas geradoras de oxigênio, que estava incluído o fornecimento de diversas peças necessárias para o adequado funcionamento dos equipamentos, além do treinamento dos funcionários/servidores do setor para manutenção dos equipamentos, também a cargo do IBRAI, e tampouco realizado. O valor a ser pago na licitação em curso, o Pregão n.º 90/2009, também deve ser levado em conta, pois demonstra que a SESAU preciou realizar a referida despesa com o objetivo de adequar as usinas instaladas pelo IBRAI, já que esta OSCIP não realizou o serviço contratado em sua completude. Já o pagamento pelo fornecimento de oxigênio à Empresa Linde Gases, incluído pela Auditoria no cálculo do valor em excesso, não foi considerado na Tabela acima, pois seria necessária a compra de oxigênio e ar medicinal, não podendo ser considerado despesa em excesso. Ademais, o fornecimento desses gases não estava incluído no Termo de parceria firmado com a OSCIP, mas, sim, a produção própria pela usinas, acaso instaladas adequadamente. Não deve ser olvidado que, pela instalação das três usinas e pelos serviços de manutenção/operacionalização, foi adimplido o valor de R$ ,00, quando, de acordo com o ajustado, deveria ter resultado num montante de R$ ,00. Destarte, a quantia de R$ ,00 também deve ser considerada como sobrepreço. Conclui-se, assim, que a quantia a ser imputada solidariamente ao IBRAI e à gestora da SESAU, Sr.ª Roseana Maria Barbosa Meira, é de R$ ,97 (R$ ,97 + R$ ,00), devendo o recurso em tela ser, neste item, provido em parte, o que implica a reforma do Aresto esgrimido, inclusive no respeitante à representação de ofício ao Ministério Público Comum, na pessoa do Procurador-Geral de Justiça. III DA CONCLUSÃO EX POSITIS, alvitra esta representante do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas o conhecimento do recurso de apelação interposto pela então Subprocuradora- Geral do MPjTC Dr.ª Isabella Barbosa Marinho Falcão, e pelo Procurador-Geral do MPjTC à

6 época, Dr. Marcílio Toscano Franca Filho, e, no mérito, pelo seu provimento em parte, reformando-se a decisão consubstanciada no Acórdão AC1-TC 00807/2011, passando a ser imputado débito, solidariamente, ao IBRAI, por meio de seu representante, Sr. Dalmo Santos de Oliveira, e à gestora da Secretaria da Saúde do Município de João Pessoa, Srª. Roseana Maria Barbosa Meira, no montante total de R$ ,97, além de fazer constar no Decisum a remessa dos autos ao Ministério Público Comum para as providências cabíveis quanto aos indícios de atos contrários à legislação penal e à probidade administrativa. 6 João Pessoa (PB), 18 de janeiro de SHEYLA BARRETO BRAGA DE QUEIROZ Procuradora do Ministério Público junto ao TC-PB mce