RUMO Á UMA GERAÇÃO LIVRE DO SIDA
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- Marcelo Anjos Cavalheiro
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1 RUMO Á UMA GERAÇÃO LIVRE DO SIDA Crianças e o SIDA Sexto Relatório de Balanço, 2013
2 Unidos pelas crianças Unidos contra o SIDA Os relatórios de balanço sobre as Crianças e o SIDA são as principais publicações da campanha, Unidos pelas Crianças, Unidos contra o SIDA. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) lidera o desenvolvimento destas publicações, como parte do seu compromisso para com o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o HIV/SIDA (ONUSIDA), em colaboração com os outros 10 co-patrocinadores. A ONUSIDA reúne os recursos do seu Secretariado e de 11 organizações do sistema das Nações Unidas, na coordenação e responsabilização dos esforços no sentido de unir o mundo contra o SIDA. A divisão do trabalho é a seguinte: Agências Convocadas e os Parceiros OMS, UNICEF, OIT, PNUD, UNESCO, FNUAP, ACNUR, PMA e Banco Mundial OMS, OIT, PNUD, ACNUR, UNICEF, PMA. OMS, OIT, UNICEF, PMA. UNODC, PNUD, UNESCO, FNUAP, UNICEF, OMS, Banco Mundial. PNUD, FNUAP, UNESCO, OMS, Banco Mundial. PNUD, FNUAP, ONU/Mulheres, ACNUR, UNICEF, UNODC, OIT, UNESCO, e a OMS. PNUD, FNUAP, ONU/Mulheres, OIT, UNESCO, ACNUR, UNICEF, UNODC, PMA, OMS. UNICEF, FNUAP, OIT, UNESCO, ACNUR, PMA, OMS. UNICEF, Banco Mundial, OIT, PNUD, ACNUR, PMA. ACNUR, PMA, PNUD, FNUAP, UNICEF, UNODC, OMS. PMA, ACNUR, UNICEF, OMS. UNESCO, OIT, FNUAP, UNICEF, OMS. Banco Mundial, OIT, PNUD, UNESCO, FNUAP, ACNUR, UNICEF, UNODC, OMS, PMA. A divisão de tarefas Previnem a mortalidade materna e impedem a infecção pelo HIV em bebés. Asseguram que as pessoas vivendo com o HIV recebem o tratamento. Impedem que as pessoas vivendo com o HIV morram de tuberculose. Protegem os utilizadores de drogas da infecção pelo HIV e asseguram o acesso aos serviços abrangentes de HIV nas prisões e em outras configurações de reclusão. Capacitam os homens que fazem sexo com homens, profissionais do sexo e transexuais na protecção do HIV e no acesso total à terapia anti-retroviral. Removem as leis, políticas, práticas punitivas, estigma e a discriminação que impedem respostas eficazes contra o SIDA. Atendem às necessidades das mulheres e raparigas relativamente ao HIV e impedem a violência sexual e baseada no género. Capacitam os jovens a protegerem-se do HIV. Abordam sobre o HIV em situação de emergências humanitárias. Integram a alimentação e a nutrição no âmbito da resposta ao HIV. Asseguram a educação de alta qualidade para uma resposta mais eficaz ao HIV. Assegurar a educação de qualidade para uma resposta mais efectiva contra o HIV. Providenciam apoio estratégico, priorizam planos multissectoriais da resposta ao SIDA e os respectivos custos. Os resultados, interpretações, citações, conclusões e opiniões expressas no presente relatório e/ou no site da não podem necessariamente ser atribuídas de forma individual a qualquer das organizações envolvidas na produção deste relatório. Porque ainda persiste o estigma relacionado ao HIV e, de acordo com os padrões globais dos direitos da criança, e também em concordância com a vontade explícita, o UNICEF tomou medidas para a protecção da identidade das crianças e das suas mães. O UNICEF obtém o consentimento por escrito das pessoas vivendo com o vírus antes de identificá-las nas fotos ou em outros fóruns de mídia. Salvo disposição em contrário, as pessoas representadas nesta publicação e nos materiais adicionais em versão electrónica, não devem ser consideradas como estando a viver com o HIV. Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), 2013 A autorização para a reprodução de qualquer parte desta publicação será concedida gratuitamente às organizações educacionais e sem fins lucrativos. Citação sugerida: Fundo das Nações Unidas para a Infância, Rumo á uma Geração Livre do SIDA - Crianças e o SIDA: Sexto Relatório de Balanço, 2013, UNICEF, Nova Iorque, Dados e materiais de apoio encontram-se disponíveis em: < Para qualquer rectificação e posterior impressão, visite o site do UNICEF em < Foto da capa: No norte do Ruanda, crianças correm em direcção á casa depois da escola. Os alunos participaram de uma discussão em grupo organizada para aumentar a consciencialização sobre questões sociais importantes, como a saúde, higiene, saneamento e o HIV. UNICEF/RWAA /Noorani
3 RUMO Á UMA GERAÇÃO LIVRE DO SIDA Crianças e o SIDA: Sexto Relatório de Balanço, 2013 INDÍCE ii Sobre este relatório 1 4 Sumário executivo: Rumo á uma geração livre do SIDA Capítulo 1 A resposta ao HIV na primeira década de vida 6 A primeira década: Progressos e desafios 15 Novos paradigmas, oportunidades e inovações 17 Estratégias para acelerar o progresso na primeira década de vida 24 Capítulo 2 26 A segunda década: Transição e vulnerabilidade A resposta ao HIV na segunda década de vida 40 Capítulo 3 42 Duas décadas, muitos sectores Parcerias para uma geração livre do SIDA 29 Desigualdades e barreiras de acesso aos serviços 32 Estratégias para acelerar o progresso na segunda década de vida 39 Manter os ganhos obtidos na primeira década de vida 44 Enfrentar o HIV entre as crianças em situações de emergência: Um caso para parcerias reforçadas Referências Anexo: Quadros estatísticos Fotos Legendas e créditos Acrónimos 45 Rumo á uma geração sem o SIDA: Colmatar lacunas e manter os ganhos 53 Notas sobre os dados 54 Tabela estatística 1: Eliminação de novas infecções pelo HIV em crianças até 2015 e manter as suas mães vivas 58 Tabela estatística 2: Prestação de cuidados e tratamento pediátrico do HIV 66 Tabela estatística 3: Demografia e epidemiologia do HIV entre os adolescentes 70 Tabela estatística 4: Conhecimentos, testagem de HIV e comportamento sexual entre os adolescentes 74 Tabela estatística 5: Epidemiologia, conhecimentos, testagem do HIV e comportamento sexual entre populações chave afectadas e menores de 25 anos 78 Tabela estatística 6: Protecção, cuidados e apoio ás crianças afectadas pelo HIV e o SIDA
4 SOBRE ESTE RELATÓRIO RUMO Á UMA GERAÇÃO LIVRE DO SIDA Crianças e o SIDA: Sexto Relatório de Balanço, O Sexto Relatório de Balanço centra-se na resposta do HIV e o SIDA entre crianças em países de baixa e média 1. O relatório está estruturado em torno da primeira e segundas décadas de vida da criança, e tem os seguintes objectivos: rever o peso do HIV em crianças e adolescentes, assim como, os progressos alcançados e identificar as principais estratégias para acelerar o acesso à prevenção, tratamento, protecção, cuidados e apoio às crianças e adolescentes resumir as oportunidades decorrentes dos avanços científicos recentes, novas tecnologias, inovações e práticas emergentes mobilizar os esforços nacionais e internacionais para manter as crianças livres do HIV e garantir que, aquelas que vivem com o HIV, permaneçam sem o SIDA. Principais compromissos e estratégias globais relacionadas às crianças e o SIDA Declaração do Milénio das Nações Unidas 2001 Objectivos do Desenvolvimento do Milénio Declaração de Compromisso sobre o HIV/SIDA 2006 Enquanto os governos nacionais são, em última instância, os responsáveis primários pelos seus compromissos internacionais e domésticos, este relatório tem por objectivo informar sobre os esforços coordenados de todos as partes interessadas, que se empenham para alcançar o objectivo de uma geração livre do SIDA. As partes interessadas incluem os doadores, especialistas, agências das Nações Unidas, parceiros de implementação, sociedade civil e as comunidades em diversas partes do mundo. Para o sucesso das estratégias descritas neste relatório é essencial o envolvimento dos adultos e adolescentes vivendo como o HIV. Responder aos desafios do HIV é uma responsabilidade conjunta e, alcançar uma geração livre do SIDA será igualmente um triunfo a ser partilhado. Ao longo deste relatório, o termo crianças aplica-se a todos os indivíduos com idade inferior a 18 anos, incluindo adolescentes, conforme definido na Convenção sobre os Direitos da Criança. As Nações Unidas definem os adolescentes como pessoas com idade entre anos, e os jovens como pessoas com idades compreendidas entre os anos. Declaração Política sobre o HIV/SIDA 2010 Contagem para Zero: Estratégia Expandir a Nutrição (EAN): Um Quadro de Acção Estratégia Global do Secretario Geral das Nações Unidas para a Saúde das Mulheres Comissão Global sobre o HIV e a Lei ii
5 SUMÁRIO EXECUTIVO RUMO Á UMA GERAÇÃO LIVRE DO SIDA Uma geração livre do SIDA significa uma geração em que, todas as crianças nascem livres do HIV e, permanecem nesse estado durante as duas primeiras décadas de vida isto é, do nascimento até a adolescência. Isso também significa que, as crianças vivendo com o HIV ou afectadas pelo vírus têm acesso ao tratamento, cuidados e o apoio que necessitam para permanecerem vivas e saudáveis. Pela primeira vez na história da epidemia do HIV a comunidade global acumulou conhecimentos, experiências e as ferramentas necessárias para alcançar uma geração livre do SIDA. As crianças devem ser as primeiras a beneficiarem-se dos nossos sucessos na derrota do HIV, e as últimas a sofrerem as consequências dos nossos fracassos. Uma geração livre do SIDA começa na primeira década de vida Anthony Lake, Director Executivo, UNICEF As principais componentes da resposta ao HIV em crianças estão bem estabelecidas a eliminação da transmissão vertical (PTV), o tratamento de crianças vivendo com o HIV e a mitigação do impacto económico e social. O desafio hoje, é o de aplicar os conhecimentos existentes buscando novas oportunidades e inovações enquanto se usam os recursos disponíveis de forma mais eficiente e eficaz possível, para garantir que, as crianças sobrevivam e cresçam na sua primeira década de vida. Declaração Política sobre o HIV e SIDA. Intensificar os esforços para eliminar o HIV e o SIDA Plano Global para a Eliminação de Novas Infecções pelo HIV entre as Crianças até 2015 e manter as suas Mães Vivas Abordagem de Investimentos para uma resposta Eficaz ao HIV/SIDA O compromisso para a sobrevivência da criança: Uma Promessa Renovada Planeamento Familiar 2020 Plano Global Ano alvo Prazo dos ODMs
6 UNICEF Malawi/2013/Marinovich UNICEF/NYHQ /Jayasuriya UNICEF/ZIMA /Pirozzi RUMO Á UMA GERAÇÃO LIVRE DO SIDA Crianças e o SIDA: Sexto Relatório de Balanço, 2013 Entre 2009 e 2012, registou-se um progresso mais significativo comparativamente ao que foi alcançado na década anterior. De acordo com os dados de 2012, estes mostram um declínio de 35% de novas infecções pelo HIV entre as crianças menores de 15 anos quando comparados a Em 2012, a cobertura dos medicamentos antiretrovirais (ARVs) para as mulheres grávidas vivendo com o HIV alcançou os 62%, nos 22 países prioritários do Plano Global Para a Eliminação de Novas Infecções pelo HIV entre crianças até 2015 e manter suas mães vivas (o Plano Global ) 3. No entanto, durante 2012, nesses países 4, aproximadamente crianças (180, ,000) foram infectadas pelo HIV, com uma média diária de 630 ( ) infecções. Embora actualmente no mundo se reduza a infecção pelo HIV entre as crianças, mais rapidamente do que em qualquer outro momento na história, o ritmo terá de ser acelerado ainda mais, para se poder alcançar o objectivo Plano Global em Assegurar a saúde das mulheres grávidas e lactantes vivendo com o HIV é fundamental para se alcançar uma geração livre do SIDA Nos últimos três anos, os países começaram a avançar para o início precoce do regime da droga tripla e a programação simplificada para eliminar a transmissão vertical. Esta abordagem enfatiza a saúde a longo prazo, das mulheres grávidas e lactantes vivendo com o HIV, assim como, a prevenção da infecção pelo HIV em crianças. As Directrizes Consolidadas da Organização Mundial de Saúde de 2013, sobre o Uso de Medicamentos Anti-retrovirais, no Tratamento e Prevenção da Infecção pelo HIV, recomendam o início da terapia anti-retroviral (TARV), ou ao longo da vida ou durante o período de risco de transmissão vertical, para todas as mulheres grávidas e lactantes vivendo com o HIV. Independentemente da contagem do CD4, os ARVs devem ser providenciados ao longo da vida a todas as crianças menores de 5 anos de idade e com o diagnóstico de HIV 5. O passo dado, relativo à provisão do TARV a todas as mulheres grávidas e lactantes, representa uma mudança importante de paradigma que coloca a saúde e o bem-estar da mulher no centro de prevenção do HIV em crianças. Manter as mães vivas e saudáveis é um dos factores mais importantes para a sobrevivência da criança nos primeiros estágios de vida. Na prevenção de infecções pelo HIV em crianças, constitui uma prioridade, impedir a infecção pelo HIV entre as mulheres e raparigas em idade fértil e ajudar as mulheres e raparigas que vivendo com o HIV a evitar uma gravidez indesejada. Mais crianças têm acesso ao TARV, mas este progresso é de longe menor do que o progresso em adultos No geral, a cobertura do TARV para crianças menores de 15 anos vivendo com HIV em países de baixa e média renda é consistentemente cerca da metade dos adultos 34% das crianças em 2012, comparativamente aos 64% de adultos no mesmo ano 6. As crianças menores de 15 anos idade que precisam do TARV para sobreviver, são significativamente menos propensas a receberem se comparado com os adultos. Na ausência de testes de HIV e a iniciação oportuna do TARV, um terço das crianças vivendo com o HIV morrem antes do primeiro ano de vida e mais de metade morre 2
7 antes de completar dois anos de idade 7. É portanto, necessário um esforço enorme para alcançar a meta global de provisão do TARV para todas as crianças elegíveis até É necessário dar mais atenção, para prevenir e tratar o HIV durante a adolescência, para que, as crianças permaneçam livres do SIDA na segunda década de vida Enquanto a comunidade internacional reflecte sobre os ganhos obtidos na primeira década de vida de uma criança, não pode continuar a negligenciar a segunda década crucial da infância. Até finais de , cerca de 2,1milhões de adolescentes ( milhões), viviam com o HIV no mundo e, aproximadamente dois terços das novas infecções pelo HIV entre os adolescentes com idade entre anos ocorreram em raparigas 9. Os adolescentes experimentam uma segunda onda de vulnerabilidade à infecção pelo HIV que é impulsionada por vários factores, e ao mesmo tempo, deparam-se com inúmeras barreiras no acesso aos serviços. Tratando-se de crianças vivendo com o HIV, à medida que crescem mudam também, o seu tratamento, cuidados, o tipo de apoio e as necessidades.os adolescentes enfrentam novos desafios para a adesão aos medicamentos porque aumentam as responsabilidades em relação a sua própria saúde, no acesso aos serviços e informações que necessitam para levar uma vida saudável e produtiva. Em todo o mundo, a prevalência do HIV é desproporcionalmente alta entre as populações chaves de adolescentes homens que fazem sexo com homens, adolescentes que usam drogas injectáveis, adolescentes exploradas sexualmente 10. É necessária uma estratégia abrangente para lidar com as diversas necessidades. A protecção social e a protecção à criança, a assistência e o apoio devem ajudar nos esforços para intensificar as intervenções de alto impacto durante as duas primeiras décadas de vida Criar uma geração livre do SIDA é mais do que um esforço biomédico. É necessário abordar os factores económicos e sociais do HIV como a pobreza, a insegurança alimentar, uso de drogas e do álcool, marginalização social, desigualdade de género, violência e exploração sexual, e a falta do acesso à educação, incluindo a educação sexual abrangente. Estes factores devem ser encarados simultaneamente, como parte de uma abordagem multissectorial do HIV entre as crianças. Os esforços para atender às necessidades das crianças que vivem com o HIV, ou em famílias afectadas através de intervenções abrangentes de protecção, cuidados e de apoio ainda não alcançaram uma ampla cobertura 11. Requer-se portanto, mais colaboração entre os sectores. O apoio económico e psicossocial é particularmente importante para os cerca de 17,8 milhões de crianças (16.1 milhões 21.6 milhões) que perderam um ou ambos os pais devido ao SIDA 12. Estas medidas não só aliviam as dificuldades, mas podem ajudar a reduzir o risco de infecção pelo HIV e apoiar na adesão à medicação a longo prazo e a continuidade dos cuidados para as crianças e suas famílias 13. Duas décadas, muitos sectores Este relatório destaca os sucessos e as lacunas na resposta ao HIV entre crianças na primeira e segunda décadas de vida e sublinha a urgência de se alcançarem resultados mais rapidamente e com os recursos disponíveis. Embora o relatório enfatize os locais de alta prevalência, a preocupação é similar para os locais com baixa prevalência e o desafio principal é manter e expandir os progressos alcançados. Para alcançar este objectivo são apresentadas inovações e novos paradigmas juntamente com as principais estratégias para acelerar o ritmo do progresso. Uma geração livre do SIDA só será alcançada através de uma liderança forte por parte dos governos e com os parceiros a alinharem o seu apoio para os objectivos comuns. A participação incondicional da sociedade civil e das comunidades afectadas também é necessária, não só como parceiras de implementação, mas também nos processos de planeamento, tomada de decisão, sensibilização, promoção e fortalecimento da responsabilização e prestação de contas. O caminho para uma geração livre do SIDA é claro. O mundo precisa agora de se empenhar fortemente para manter os ganhos duramente conquistados e para enfrentar as restantes desigualdades e lacunas na resposta ao HIV entre as crianças. 3
8 CAPÍTULO 1 A RESPOSTA AO HIV NA PRIMEIRA DÉCADA DE VIDA RUMO Á UMA GERAÇÃO LIVRE DO SIDA Crianças e o SIDA: Sexto Relatório de Balanço, 2013 A eliminação de novas infecções pelo HIV entre as crianças é uma meta ambiciosa, mas alcançável. Com o apoio da Iniciativa Toda mulher e Toda a Criança, uma geração livre do SIDA pode ser nossa. Não há melhor investimento do que a saúde de mulheres e das crianças. Ban Ki-moon, Secretário-Geral das Nações Unidas UNICEF Malawi/2013/Marinovich 4
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10 A PRIMEIRA DÉCADA: PROGRESSOS E DESAFIOS Desde a introdução do primeiro regime eficaz de TARV para a prevenção da transmissão vertical (PTV) em 1994, as perspectivas para as crianças nascidas de mães vivendo com o HIV melhorou dramaticamente. Nos países de alta renda, a transmissão vertical do HIV foi praticamente eliminada. Hoje, com a constante expansão da cobertura de ARVs mais eficazes e com novas abordagens na sua provisão, existe a esperança que, a transmissão vertical do HIV, também pode ser praticamente eliminada em países de baixa e média renda. O Plano Global Para a Eliminação de Nova Infecções pelo HIV entre crianças até 2015 e manter as suas mães vivas (o Plano Global ), identifica 22 países prioritários onde ocorrem cerca de 90% de todas as novas infecções pelo HIV entre as crianças. Destes países, 21 estão na África subsaariana, sendo o outro país a Índia 15. É um objectivo importante do Plano Global 16 a redução para menos de 5% da transmissão vertical, em crianças que estão sendo amamentadas e para menos de 2% em crianças que não se alimentam do leite materno. Com base em estimativas de 2012 (veja a Figura 1.1) 17, isto significa ter que alcançar anualmente, um número estimado de 1,5 milhões ( milhões) de mulheres grávidas vivendo com o HIV. Sem qualquer tipo de intervenção, cerca de 15 a 45% das crianças nascidas de mães infectadas irá contrair o HIV, dos quais 5 10% durante a gravidez, 10 20% durante o trabalho de parto, e 5 20% através de aleitamento materno 18. Regista-se um progresso significativo na expansão do acesso aos anti-retrovirais para a PTV Foram realizados progressos encorajadores na expansão e melhoria da qualidade dos programas. Em 2012, cerca de mulheres grávidas vivendo com o HIV em países de baixa e média renda, recebeu ARVs para prevenir a transmissão vertical, o TARV ou uma profilaxia eficaz para a sua própria saúde. Este número representa um aumento de um terço das mulheres que recebeu a terapia em Enquanto o mundo actualmente reduz as novas infecções pelo HIV entre as crianças, mais rapidamente do que em qualquer outro momento na história, o ritmo terá de ser acelerado ainda mais, para atingir a meta de 2015, que é a redução em 90% (ver Figura 1.2). Apesar da cobertura global dos medicamentos RUMO Á UMA GERAÇÃO LIVRE DO SIDA Crianças e o SIDA: Sexto Relatório de Balanço, 2013 figura 1.1 Estimativa do número de mulheres grávidas vivendo com o HIV em países de baixa e média renda entre ,000,000 1,500,000 1,000, , ,5 milhões de mulheres grávidas vivendo com o HIV (2012) Nota: A área em azul indica a dúvida em torno das estimativas Fonte: Estimativas do HIV e SIDA da ONUSIDA de
11 CAIXA O Plano Global Para a Eliminação de Nova Infecções pelo HIV entre crianças até 2015 e manter as suas mães vivas Desde o seu lançamento em 2011, o Plano Global apoiou a catalisação dos esforços para combater o HIV em crianças e suas mães, através dos Objectivos do Desenvolvimento do Milénio 4 (reduzir a mortalidade infantil), 5 (melhorar a saúde materna) e, 6 (combater o HIV, tuberculose e a malária). Embora estejam incluídos todos os países de baixa e média renda, o plano concentra-se em 22 países prioritários, que contam com quase 90% das mulheres grávidas vivendo com o HIV no mundo, bem como, com cerca de 90% das novas infecções entre as crianças. O Plano Global centra-se no alcance de dois objectivos globais nomeadamente: Objectivo 1: Reduzir em 90%, o número de novas infecções pelo HIV entre as crianças Objectivo 2: Reduzir em 50%, o número de mortes maternas devido ao SIDA. Em 2011, o custo para o cumprimento dos objectivos do Plano Global para 17 dos 22 países prioritários foi estimado em cerca de 1 bilhão de dólares anuais, para um período de cinco anos. Deste montante, 43% foi para a prestação de serviços de PTV para as mulheres grávidas vivendo com o HIV e para o tratamento da sua própria saúde, 37% foi alocado à prevenção da infecção primária do HIV, 12% para o TARV pediátrico e os restantes 8% para o planeamento familiar. 20 Vários países incluindo o Botsuana, Namíbia e a África do Sul estão a fazer investimentos internos substanciais, no sentido de alcançarem os objectivos do Plano Global. Os principais doadores internacionais deste esforço incluem-se o Fundo Global de Combate ao SIDA, Tuberculose e Malária e o Plano de Emergência do Presidente dos Estados Unidos para o Alívio do SIDA (PEPFAR). figura 1.2 Estimativa do número de novas infecções pelo HIV em crianças (com idade entre 0 14 anos): Tendência global e projecções, , ,000 Tendência estimada Tendência projectada 400, , ,000 Declínio de 26% em 8 anos (média de anual) Declínio de 35% em 3 anos (média de anual) Objectivo do Plano Global: Redução em 90% em ,000 0 Necessário declínio de 85% em 3 anos (média de anual), Fonte: Análise do UNICEF das estimativas do HIV e SIDA da ONUSIDA,
12 anti-retrovirais para prevenção da transmissão vertical em países de baixa e média renda tenha atingido os 62% em 2012, houve uma variação considerável entre as regiões (ver Figura 1.3). Na África Oriental e Austral, onde o peso do HIV é maior, três quartos das mulheres grávidas tiveram acesso (66 85%). Na Europa central e do leste e na Comunidade dos Estados Independentes (ECL/CEI), reporta-se uma cobertura muito alta (superior a 95%), assim como, na América Latina e no Caribe (88%; 58 95%). Em todas as outras regiões estima-se que a cobertura seja abaixo da metade 21. Um dos objectivos principais do Plano Global é providenciar os ARVs a 90% das mulheres grávidas vivendo com o HIV no mundo, até o final de Este objectivo está agora ao alcance pois, nos 22 países prioritários do Plano Global, 62% das mulheres grávidas vivendo com o HIV receberam em 2012, a profilaxia, comparativamente aos 57% em 2011 e 49% em Desde 2009, a maioria dos países mudou a política do uso de dose única de nevirapina para regimes mais eficazes para a PTV. Quatro dos países prioritários do Plano Global Botsuana, Gana, Namíbia e Zâmbia já atingiram a meta de 90%, estando Moçambique, África do Sul, Suazilândia e o Zimbabwe próximos do alvo. No entanto, cinco países Quénia, Lesoto, Nigéria, África do Sul e Suazilândia experimentaram no ano passado declínios na cobertura da PTV. Quatro dos países nomeadamente Angola, Chade, República Democrática do Congo e a Nigéria tiveram em uma cobertura nacional de menos de 20% de medicamentos ARVs para a PTV. As directrizes da Organização Mundial de Saúde (OMS) de 2013, sobre o TARV recomendam o teste de HIV universal para todas as mulheres grávidas, como parte do pacote básico dos serviços de atendimento pré-natal em todos os locais. Em alguns países com prevalência baixa ou concentrada da epidemia a oferta do teste de rotina do HIV para todas as mulheres grávidas pode ser considerado proibitivo, quando comparado com o número de casos detectados 24. No Vietname e em outros países com epidemias concentradas, o teste de HIV está sendo incorporado numa lista padrão de testes a serem feitos durante a gravidez 25. É fundamental que se estabeleça a referência, figura 1.3 RUMO Á UMA GERAÇÃO LIVRE DO SIDA Crianças e o SIDA: Sexto Relatório de Balanço, 2013 Estimativa da percentagem de mulheres grávidas vivendo com o HIV que recebem anti-retrovirais mais efectivos para a PTV nas regiões do UNICEF, em todos os países de baixa e média renda e nos 22 países prioritários do Plano Global, % 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 2005* África Oriental e Austral África Central e Ocidental Norte de África e Médio Oriente Ásia Oriental e Pacífico Sul da Ásia América ECL/CEI Todos os países 22 países Latina e de baixa e prioritários do Caribe média renda Plano Global Nota: As linhas verticais indicam a dúvida em torno das estimativas. Os números da cobertura entre não são comparáveis com os 2012, porque são baseados nas directrizes anteriores de tratamento da OMS que incluem a dose única de nevirapina. Fonte: ONUSIDA, UNICEF e OMS, Relatório de Progresso da Resposta Global do SIDA, 2013 e ONUSIDA e as estimativas do HIV e SIDA,
13 UNICEF/NYHQ /Asselin ligação e acompanhamento adequado dos serviços. Na Índia, onde os números globais são elevados, e a população de mulheres vivendo com o HIV está dispersa por todo o país, recomenda-se o início e a manutenção dos ARVs para mulheres e crianças, como parte do pacote de cuidados pré natais nos contextos de saúde materna e infantil 26. No Camboja também demonstrou-se que, esta abordagem pode aumentar não só, o acesso ao tratamento no nível de cuidados primários, mas também, pode resultar na redução da perda de acompanhamento das mulheres e das crianças diagnosticadas com o HIV. O acesso ao TARV para as mulheres grávidas com vista a equilibrar a sua própria saúde está a aumentar, mas ainda é reduzida comparativamente a de outros adultos Nos países de baixa e média renda, a percentagem de mulheres grávidas vivendo com o HIV (com níveis de CD4 inferiores a 350 células por milímetro cúbico) e que receberam o TARV para equilibrar a sua própria saúde, foi de apenas 58% em As estimativas do mesmo ano indicam que, 64% de todos os outros adultos (com níveis de CD4 inferior a 350 células/mm3) receberam o TARV 27. Em 2012, vários países prioritários do Plano Global incluindo Botsuana, Gana, Malawi, Namíbia, África do Sul, Suazilândia e Zâmbia informaram que, sob os critérios da OMS de 2010, mais de 75% das mulheres grávidas elegíveis para o TARV recebeu o tratamento, enquanto que, em países como Quénia, Lesoto, República Unida da Tanzânia e Zimbabwe, mais de 50% de mulheres receberam o TARV 28. Em consonância com as directrizes de 2013 da OMS sobre os ARVs 29, espera-se que, esta tendência continue à medida que mais países adoptam o uso do TARV para todas as mulheres grávidas e lactantes que vivendo com o HIV. Aumentar o impacto: Estão a reduzir-se as novas infecções entre crianças Como resultado do recente progresso na EMTCT (Eliminação da transmissão de mãe para filho), menos crianças estão a contrair o HIV. Nos países de baixa e média renda, ocorreram em cerca de novos casos de infecção entre as crianças e entre 2005 e 2012, foram impedidas nesses países 31, mais de infecções pelo HIV. Em a vasta maioria das novas infecções pelo HIV entre crianças dos 0 14 anos ocorreu na África Oriental e Austral ( ), na África Ocidental e Central (98.000), seguida pelo sul da Ásia (15.000), a Ásia Oriental e Pacífico (7.900), e por todas as outras regiões, que registaram cada uma menos de novas infecções. Nos 22 países prioritários do Plano Global, registou-se um declínio das taxas globais de transmissão vertical, de uma estimativa de 26% em 2009 para 17% em O número de crianças menores de 15 anos infectadas nesses países, também registou um declínio de 36%, com uma estimativa de em 2009 para em Nesse período, sete países reduziram para a metade as novas infecções pelo HIV entre as crianças (ver Figura 1.4) 33. 9
14 figura 1.4 Progresso dos países na redução de novas infecções pelo HIV entre crianças dos 0 14 anos nos 21 países africanos prioritários no Plano Global, DECLÍNIO RÁPIDO (50% OU MAIS) DECLÍNIO MODERADO (30 49%) DECLÍNIO LENTO (MENOS DE 30%) Gana (76%) República Unida da Tanzânia (49%) Camarões (29%) Namíbia (58%) África do Sul (46%) Costa do Marfim (27%) Zimbabwe (55%) Moçambique (45%) Lesoto (17%) Malawi (52%) Uganda (45%) República Democrática do Congo (15%) Botsuana (52%) Quénia (44%) Nigéria (10%) Zâmbia (50%) Suazilândia (38%) Chade (9%) Etiópia (50%) Burundi (31%) Angola (9% increase) Fonte: Actualização do UNICEF para uma tabela publicada no Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/SIDA, Relatório Global: Relatório da ONUSIDA sobre a epidemia global do SIDA, 2013, ONUSIDA, Genebra, 2013, p.9. RUMO Á UMA GERAÇÃO LIVRE DO SIDA Crianças e o SIDA: Sexto Relatório de Balanço, 2013 Na maioria das regiões, tem-se registado melhorias na redução da taxa de transmissão vertical do HIV. No entanto, ainda há muito a ser feito. A região ECL/CEI reporta a taxa mais favorável na redução da transmissão, que ronda os 6%, seguida da América Latina e o Caribe com 10%, com a África Oriental e Austral a registar uma redução de 13%. Em todas as outras regiões os relatórios indicam taxas de transmissão mais altas e preocupantes e acima dos 20%, sendo o leste da Ásia e Pacífico, 22%; África Ocidental e Central, 28%; Médio Oriente e Norte da África, 34%; Sul da Ásia, 38% 34. CAIXA Mais crianças têm acesso ao TARV, mas o progresso em crianças é menor, comparado com o progresso em adultos Validação dos países que alcançaram a eliminação da transmissão vertical A ausência de testes de HIV e a iniciação oportuna do TARV, faz com que um terço das crianças vivendo com o HIV morram antes do seu primeiro ano de vida, e a metade morre antes de atingir os dois anos de idade 41. Globalmente, o ritmo da expansão do TARV para crianças menores de 15 anos é apenas a metade comparado com o progresso da expansão do tratamento em adultos. Em foi registado um aumento do acesso das Para além do âmbito do Plano Global, há países que também estão a fazer progressos para a EMTCT. Por exemplo, Cuba e o Panamá, 35 Tailândia 36 e alguns países da Europa do leste, como a Arménia, Bielorrússia, Geórgia, Cazaquistão e a República da Moldávia 37, reportam uma aproximação de 2% das taxas de transmissão. As iniciativas regionais estão a impulsionar o momentum por exemplo, foi elaborado em , o Plano de Acção Europeu para o HIV/SIDA e existem também, iniciativas para a eliminação de infecções pediátricas pelo HIV e sífilis congénita na Ásia Oriental e Pacífico e na América Latina e Caribe 39. Em reconhecimento desta tendência, a OMS estabeleceu critérios e processos de validação dos relatórios desses países sobre a eliminação de novas infecções pelo HIV entre as crianças. Os países submetem os relatórios à OMS, e o processo da sua validação é apoiada por entidades regionais e nacionais criadas para o efeito. Foram estabelecidos critérios e processos para validar os relatórios sobre a eliminação do HIV e da sífilis congénita
15 crianças ao TARV de 14% comparado com os 20% para os adultos no mesmo período 42. Em países de baixa e média renda a cobertura global do TARV para as crianças menores de 15 anos tem sido consistentemente a metade da cobertura em adultos 34% contra 64% para adultos em 2012 (veja a Figura 1.5) 43. A região da ECL/CEI apresenta a maior cobertura de TARV para crianças menores de 15 anos: 85% (80 89%), seguida da América Latina e o Caribe com 67% (50 83%). A região da Ásia Oriental e Pacífico reportou a taxa de cobertura de 53% (41 72%), enquanto o Sul da Ásia registou uma cobertura de 39% (30 49%). A África Oriental e Austral, que é a região com maior necessidade, reportou uma cobertura de 40% (35 46%). As coberturas mais baixas foram registadas nas regiões da África Ocidental e Central, com 15% (13 18%), e do Médio Oriente e África do Norte, com 7% (4 10%) 44. A cobertura do TARV para crianças menores de 15 anos nos 22 países prioritários do plano global aumentou de 29% ( crianças) em 2011 para 34% ( crianças) em 2012, mas o ritmo da expansão nesses países de baixa e média renda é inferior a dos adultos 45. Quatro dos países prioritários do plano global tiveram uma cobertura do TARV superior a 50% em crianças elegíveis nomeadamente o Botsuana (> 95%), Namíbia figura 1.5 Percentagem de adultos (com mais de 15 anos) e crianças (0 14 anos) vivendo com HIV que receberam em 2012 a terapia anti-retroviral em países de baixa e média renda 64% Adultos (com + de 15 anos) 34% Crianças (dos 0 14 anos) Fonte: Programa Conjunto da Nações Unidas sobre o HIV/SIDA, Relatório Global: Relatório da ONUSIDA sobre a Epidemia Global do SIDA, ONUSIDA Genebra, 2013,pp. A87, A84 (88%), África do Sul (63%) e a Suazilândia (54%), tendo a cobertura duplicado nos últimos três anos em outros nove países 46. Outros países prioritários têm uma cobertura muito baixa e, em média, apenas uma em cada três crianças elegíveis tem acesso à terapia anti-retroviral (veja a Figura 1.6). É necessário portanto, um enorme esforço para atingir a meta global de provisão do TARV para todas as crianças elegíveis até Providenciar o TARV pediátrico apresenta uma série de desafios únicos e complexos. Entre os desafios está a limitada disponibilidade de combinações de dose fixa, o paladar pouco agradável das formulações pediátricas actualmente recomendadas para as crianças, e a necessidade de utilizar testes virológicos para determinar a infecção pelo HIV em crianças com idade inferior a 18 meses. No entanto, espera-se que, as novas drogas, como a polvilha granular e as novas tecnologias para a realização de testes virológicos nos locais onde são providenciados os cuidados, ajudem a superar os desafios e, facilitem uma melhor absorção e aderência. O diagnóstico oportuno do HIV em mulheres grávidas e crianças é fundamental, mas a cobertura do teste varia muito e as ligações com o tratamento e os cuidados ainda são inadequadas Uma parte significativa das mulheres grávidas e crianças vivendo com o HIV permanecem sem diagnóstico ou, se diagnosticadas, não são devidamente integradas nos cuidados de saúde necessários. Estima-se que em 2012, 40% das mulheres grávidas em países de baixa e média renda fizeram os testes e receberam aconselhamento sobre o HIV, o que constitui um aumento de 26%, comparado com o ano de No entanto, a cobertura varia consideravelmente entre os países e regiões. Quatro dos 22 países prioritários do Plano Global (Botsuana, Moçambique, África do Sul e Zâmbia) ultrapassaram em 2012, os 95% da cobertura na testagem de mulheres grávidas. Foi registada uma cobertura inferior a 25% em três países nomeadamente o Chade, República Democrática do Congo e Nigéria
16 figura 1.6 Percentagem da cobertura do TARV entre os adultos elegíveis (+ de 15 anos), crianças (0 14 anos) e de todas as idades nos 22 países prioritários do Plano global de 2012 Adultos (+ de 15 anos) Crianças (0 14 anos) Todas as idades Botsuana Namíbia Suazilândia Zâmbia Zimbabwe África do Sul Quénia < >95 O diagnóstico infantil precoce continua baixo A OMS recomenda que, os bebés expostos ao HIV devem ser testados nas primeiras 4 a 6 semanas de vida, com recurso ao teste virológico 49. O TARV deve iniciar-se assim que, a criança for diagnosticada com o HIV, independentemente do seu quadro clínico e imunológico. Alguns países estão a considerar fazer o teste antes, ou seja, no momento do nascimento, especialmente em crianças nascidas de mães que não receberam os cuidados de PTV. Apesar de se registar o aumento do diagnóstico infantil precoce (EID) em muitos países, as taxas gerais de testagem em crianças permanecem baixas. Estima-se que, em 2012, apenas 39% das crianças em países de baixa e média renda tiveram acesso ao teste de HIV recomendados, isto é, nos primeiros dois meses após o nacimento. (Ver Figura 1.7) 50. RUMO Á UMA GERAÇÃO LIVRE DO SIDA Crianças e o SIDA: Sexto Relatório de Balanço, 2013 Malawi Uganda República Unida da Tanzânia Etiópia Burundi Gana Lesoto Índia Costa do Marfim Camarões Moçambique Angola Chade República Democrática do Congo Nigéria 9 12 Total de Países Prioritários 0% Nota: Alguns números não somam devido ao arredondamento. A estimativa da cobertura é baseada no número não arredondado e da estimativa de crianças que recebem e elegíveis para o TARV. Fonte: ONUSIDA, UNICEF e OMS, Relatório de Progresso da Resposta Global contra o SIDA, % 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% De todas as regiões, a ECL/CEI foi a que apresentou maior cobertura do EID com 72% (embora a faixa de dúvida em torno das estimativas seja ampla: de 49% para mais de 95%), seguida pela África Oriental e Austral com 51% (45 57%), a América Latina e o Caribe com 42% (27 57%) e a Ásia Oriental e o Pacífico com 30% (20 45%). Estima-se que, na África Ocidental e Central, o EID seja de 9% (8 11%). No Sul da Ásia a cobertura é de apenas 2% (1 3%) 51. Entre os 22 países prioritários do plano global, apenas dois providenciaram em 2012 o EID em mais de 80% das crianças necessitadas nomeadamente a África do Sul (85%) e a Suazilândia (81%). A seguir a estes países encontram-se a Namíbia (74%), Lesoto (69%) 52 e a Zâmbia (61%). A cobertura do EID é inferior a 10% em cinco dos países prioritários: Angola, Chade, República Democrática do Congo, Malawi e Nigéria 53. Nos países de baixa e média renda a grande maioria das crianças diagnosticadas com o HIV em 2012, não iniciaram o TARV em tempo oportuno. Apenas 34% das crianças menores de 15 anos diagnosticadas com HIV receberam o tratamento. Como resultado estima-se que, nesse ano tenham morrido (190, ,000) crianças como resultado de doenças relacionadas com o SIDA 54. Os modelos actuais de prestação de serviços dependem muito da provisão do tratamento do HIV pediátrico em clínicas especializadas em HIV pediátrico ou em clínicas de HIV para adultos. Deve-se considerar o revezamento e 12
17 figura 1.7 Percentagem estimada de crianças nascidas de mulheres que vivendo com o HIV, que fizeram o teste virológico aos 2 meses de idade, por região do UNICEF. Todos os países de baixa e média renda e os 22 países prioritários do Plano Global, % 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% África Oriental e Austral África Central e Ocidental Norte de África e Médio Oriente Ásia Oriental e Pacífico Sul da Ásia América ECL/CEI Todos os países 22 países Latina e de baixa e prioritários do Caribe média renda Plano Global Nota: As linhas verticais indicam a dúvida em torno das estimativas. Fonte: ONUSIDA, UNICEF, OMS, Relatório de Progresso da Resposta contra a SIDA, 2013 e estimativas de HIV e SIDA da ONUSIDA, INICIATIVAS O diagnóstico presuntivo no Lesoto Em locais onde o diagnóstico infantil precoce é fraco, as doenças graves podem progredir rapidamente em crianças vivendo com o HIV. O diagnóstico presuntivo permite que, os profissionais de saúde ofereçam imediatamente o TARV às crianças que apresentem sinais de doenças relacionadas com o HIV. Em algumas áreas no Lesoto, por exemplo, com um terreno de difícil acesso, a obtenção dos resultados dos testes de HIV leva muito tempo, com a agravante de, não ser fácil manter as reservas dos kits de teste. A entrega dos resultados dos testes de HIV das crianças, pode levar entre 6 a 12 semanas, retardando assim, o início do tratamento e consequentemente o início tardio do tratamento para salvar a vida das crianças que necessitam. O diagnóstico presuntivo elimina esse constrangimento por depender de uma avaliação imediata, ao invés da dependência dos resultados dos testes de laboratório, como base para o início do TARV. Em 2010, a Fundação Elizabeth Glaser para o SIDA Pediátrico (EGPAF) apoiou o Ministério da Saúde do Lesoto no treinamento em diagnóstico presuntivo de enfermeiras dos serviços de saúde materno infantil em três hospitais. Entre Janeiro de 2010 a Dezembro de 2011, as enfermeiras especialmente treinadas nesta área diagnosticaram 48 crianças com doenças severas devido ao HIV e iniciaram prontamente o TARV. Destas 48 crianças, 43 fizeram o teste de HIV, das quais 42 obtiveram resultado positivo e apenas uma obteve o resultado negativo. A EGPAF pretende treinar mais profissionais de saúde nos critérios da OMS sobre o diagnóstico presuntivo. Foi feita uma recomendação para a expansão desta iniciativa no Lesoto, enquanto se intensificam os esforços para melhorar os sistemas de rotina para a EID. 13
18 RUMO Á UMA GERAÇÃO LIVRE DO SIDA Crianças e o SIDA: Sexto Relatório de Balanço, 2013 a partilha de tarefas com outros profissionais de saúde ao invés de se depender apenas dos médicos para facilitar o atendimento em níveis descentralizados, inclusive através de serviços baseados na comunidade, deve ser priorizada a melhoria do acesso 55. É necessária uma atenção especial para assegurar que, as mulheres tenham acesso aos anti-retrovirais e se mantenham nos cuidados de saúde durante o período de amamentação A amamentação é fundamental para a sobrevivência e o crescimento da criança. A OMS recomenda que, as mães vivendo com o HIV e que tomam os anti-retrovirais amamentem exclusivamente os seus bebés durante os primeiros seis meses de vida. Depois deste período, podem proceder à introdução de alimentos complementares em simultâneo com a amamentação até que, a criança atinja os 12 meses de idade. A amamentação deve então parar apenas quando estiver garantida uma dieta segura e nutricionalmente adequada, sem o leite materno. Os filhos de mães que estão sob o tratamento anti-retroviral devem receber a profilaxia infantil com uma dose diária nevirapina durante 6 a 12 semanas. Existem alternativas para as mulheres vivendo com HIV e que não amamentam 56. Embora os dados sobre a cobertura de ARV durante o período de amamentação sejam limitados a nível mundial estima-se que, em 2012, quase a metade das mães nos 21 países prioritários do Plano Global em África não receberam ARVs durante o período de amamentação. Estima-se que, cerca da metade de todas as novas infecções ocorridas em crianças na África subsaariana resultaram CAIXA 850 mil novas infecções pelo HIV entre crianças (0 14 anos), foram prevenidas entre 2005 e 2012, em países de baixa e média renda. da falta de provisão de ARVs 57. É necessária uma atenção especial em todos os países para garantir o acesso e a manutenção do TARV para as mães durante o período de amamentação. A prevenção primária e o planeamento familiar necessários para as mulheres vivendo com o HIV continuam inadequados A provisão de ARVs tem sido substancial para as mulheres e mães vivendo com o HIV tanto para prevenir a transmissão vertical (identificado no Plano Global como vertente 3 da PTV) como, para o tratamento das mães e crianças que vivendo com o HIV com o propósito de melhorar a própria saúde (vertente 4). Entretanto, o progresso na prevenção primária entre as mulheres e raparigas em idade fértil (vertente 1) não foi imponente, como também não foi na redução da necessidade não atendida de planeamento familiar (vertente 2). Nos países prioritários do Plano Global em África, o número de mulheres que se infectaram decresceu 10% entre 2009 e O Gana reportou o maior declínio, com 44% nesse período, tendo a África do Sul reportado um declínio de 21% 58. Esta tendência evidencia a necessidade de inovação no acompanhamento das mulheres grávidas que testam negativo em HIV na sua primeira consulta pré-natal e evidencia também, a importância de uma prevenção primária mais ampla (fora do cuidados pré-natais), para as mulheres e raparigas de modo a permitir alcançar o objectivo de uma geração livre do SIDA. A necessidade não atendida dos serviços de planeamento familiar entre as mulheres vivendo com o HIV, continua a minar os esforços para eliminar novas infecções entre as O progresso na redução de novas infecções pelo HIV entre as crianças tem sido mais rápido do que nunca. Mas para se atingir a meta de 2015, tem que se acelerar ainda mais o ritmo do progresso. 39% é o número estimado de crianças (0 14 anos) que tiveram acesso ao teste de HIV dentro do recomendado, ou seja, nos primeiros 2 meses após o nascimento, nos países de baixa e média renda e apenas em
19 crianças 59. Para as mulheres em países de baixa e média renda, a necessidade não atendida do planeamento familiar diminuiu ligeiramente, passando de 15% em 1990, para apenas 12% em A ONUSIDA reporta que, na África Ocidental e Oriental, a necessidade não atendida de serviços de planeamento familiar para mais de 20% das mulheres não se alterou entre 1990 e Isto significa que, mais de uma em cada cinco mulheres que se encontram em relacionamentos estáveis e que expressam a vontade de atrasar uma gravidez ou parar de ter filhos não usa nenhum anticonceptivo. O compromisso renovado e os recursos para o planeamento familiar por parte da comunidade global, nomeadamente através da Iniciativa de Planeamento Familiar 2020 são bem-vindos 62. O planeamento familiar para as mulheres vivendo com o HIV deve ser voluntário e não coercivo. Os rumores de esterilização forçada e outras tentativas de coerção para evitar que, as mulheres que vivendo com o HIV tenham filhos ressaltam a importância de uma abordagem baseada nos direitos humanos, inclusive para os serviços de planeamento familiar 63. NOVOS PARADIGMAS, OPORTUNIDADES E INOVAÇÕES As directrizes da OMS de sobre os ARVs oferecem oportunidades importantes para simplificar e intensificar as intervenções para as crianças e as suas mães. Estas directrizes incluem recomendações em seis áreas que são as seguintes: Oferecer o TARV para todas as mulheres grávidas e lactantes vivendo com o HIV, independentemente da contagem de CD4, para proteger a sua própria saúde, proteger os seus bebés e a saúde dos parceiros sexuais do HIV. Esta abordagem enfatiza a importância de as mulheres grávidas e lactantes vivendo com o HIV, iniciarem o tratamento o mais rapidamente possível. A abordagem também reduz o risco de transmissão do HIV durante o período de amamentação, desde que, as mães continuem a tomar os anti-retrovirais. Simplificar o TARV para mulheres grávidas e lactantes, através de uma combinação padronizada de um comprimido diário da dose fixa de três ARVs, deve também facilitar uma maior descentralização e a inte-gração dos serviços de HIV ao nível de cuidados primários, incluindo nos serviços de saúde materna e infantil. Harmonizar os regimes de medicamentos ARVs para as mulheres grávidas e lactantes, adultos e adolescentes vivendo com o HIV: As directrizes anteriores da OMS recomendavam regimes diferentes de ARVs para os adultos, PTV e tratamento. As directrizes da OMS de 2013 sobre os ARVs recomendam como terapia de primeira linha, o mesmo para todos os adultos e adolescentes ou seja, uma dose fixa, de um único comprimido da terapia tripla de drogas. Esta abordagem irá simplificar a provisão do TARV, tanto para o tratamento como para a prevenção, e vai permitir que, as mulheres grávidas vivendo com o HIV continuem o mesmo regime aquando do tratamento para melhorar a sua própria saúde. A experiência do Malawi sugere que, o regime simplificado é mais fácil de ser aceite e melhora a aderência para além de alinhar com os serviços de PTV, promo-vendo o acesso desses serviços nas instalações 260,000 novas infecções pelo HIV entre crianças (0 14 anos), ocorreram em países de baixa e média renda em Em 2012, 62% das mulheres grávidas vivendo com o HIV nos 22 países prioritários do plano global recebeu ARVs para prevenir a transmissão vertical. Sem o tratamento, um terço das crianças que vivendo com o HIV morrerá antes do seu primeiro ano de vida e a metade morrerá antes do segundo ano. Apenas 34% das crianças (0 14 anos) recebeu o TARV necessário para salvar a vida contra os 64% entre os adultos. 15
20 INICIATIVAS O TARV ao longo da vida para as mulheres grávidas: Malawi encandeia o trilho Em 2011, o Governo do Malawi foi pioneiro na provisão do tratamento simplificado ao longo da vida para todas as mulheres grávidas e lactantes (anteriormente conhecido como Opção B +). Esta iniciativa foi iniciada pelo provedor (não obrigatório) e usou uma abordagem de teste e ameaça independentemente da contagem de CD4 ou quaisquer outros pré-requisitos. As crianças menores de 5 anos de idade também são priorizadas, e sem condições prévias. Esta iniciativa foi amplamente divulgada, até aos níveis mais inferiores dos centros de saúde. O tratamento simplificado consiste no regime de numa dose fixa diária, de um único comprimido da terapia tripla de drogas para as mulheres grávidas vivendo com o HIV. O número de mulheres grávidas e lactantes vivendo com o HIV que iniciaram o TARV aumentou de no segundo trimestre de 2011, para no terceiro trimestre de Em Junho de 2013, 13 dos 22 países prioritários do plano global adoptaram a mesma política oferecendo o TARV ao longo da vida, para todas as mulheres grávidas e lactantes vivendo com o HIV. O Lesoto e o Uganda (além do Malawi) já tinham dado início à implementação desta abordagem. Detalhes do progresso por país estão disponíveis no site da Equipa de Trabalho Interagências para a Prevenção e Tratamento da Infecção pelo HIV em mulheres grávidas, mães e filhos: RUMO Á UMA GERAÇÃO LIVRE DO SIDA Crianças e o SIDA: Sexto Relatório de Balanço, 2013 dos cuidados de saúde primários 66. Expansão da provisão do TARV nos serviços de cuidados pré-natais e de saúde materno-infantil: As directrizes da OMS de 2013 sobre os ARVs 67 incluem uma recomendação específica que, em situações de epidemia generalizada e para as todas as mulheres elegíveis (grávidas ou parturientes) e as suas crianças, o TARV deverá ter início e deve ser mantido nos serviços dos cuidados saúde materna e infantil. Estes serviços posteriormente, deverão ter ligações e sistemas de referência com os serviços apropriados de cuidados contínuos de HIV e TARV. Os governos estão a responder à directriz, através da implementação de medidas de revezamento de tarefas para permitir que, as parteiras e outros quadros da saúde dêm início e façam o acompanhamento do TARV 68. Fazer uso das novas tecnologias para a testagem de crianças: as tecnologias de diagnóstico estão a registar avanços rápidos. Nos próximos anos, estarão disponíveis testes para o diagnóstico infantil no local onde se prestam os cuidados. Isto permitirá que, os enfermeiros e outros profissionais de saúde (e não apenas os médicos) possam testar as crianças nas unidades de saúde de nível inferior, sem a necessidade de enviar amostras para processamento em laboratórios centrais. Este avanço importante deverá permitir a identificação rápida de crianças infectadas pelo HIV e promover também uma ligação célere com os cuidados e tratamento. Recomendar o TARV ao longo da vida para todas as crianças menores de 5 anos de idade, independentemente dos níveis de CD4: Os bebés e as crianças são vulneráveis à rápida progressão de doenças relacionadas com o HIV. Se não forem tratadas, a metade das crianças nascidas com o HIV poderá morrer antes do seu segundo ano de vida. De modo a facilitar o rápido acesso ao tratamento das crianças até cinco anos de idade 69 e com diagnóstico de infecção pelo HIV, as directrizes da OMS de 2013 sobre os ARVs recomendam o início imediato do tratamento sem a necessidade dos resultados dos testes de CD4. Responder às necessidades das crianças expostas ao HIV, mas que não estão infectadas: Evidências crescentes sugerem que, todas as crianças nascidas de mulheres vivendo com o HIV quer estejam infectadas ou não têm resultados de saúde mais pobres comparativamente às crianças nascidas de mães não infectadas pelo HIV 70. Esta evidência ressalta a importância da identificação precoce e a ligação imediata dos cuidados e tratamento para as mulheres grávidas vivendo com o HIV e destaca também, a necessidade de dar maior ênfase à identificação 16
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