A IMAGEM JUVENIL NA PERSPECTIVA DA PRÁTICA DOCENTE: AÇÃO DIDÁTICA NA ESCOLA COMO ESPAÇO DE DIVERSIDADE
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1 00444 A IMAGEM JUVENIL NA PERSPECTIVA DA PRÁTICA DOCENTE: AÇÃO DIDÁTICA NA ESCOLA COMO ESPAÇO DE DIVERSIDADE Mara Regina Zluhan Tânia Regina Raitz Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI RESUMO O presente artigo pretende discutir sobre a representação docente da juventude e o contexto escolar, no qual se denota um distanciamento entre o aluno ideal e aquele que está diante do professor. Esse descompasso necessita ser analisado pedagogicamente, pois a partir do momento em que as expectativas docentes e a gestão escolar não consideram o perfil dos jovens, suas necessidades e anseios, muitos conflitos são gerados, constituindo-se em elementos que mantém a crise no Ensino Médio e que é responsável por afastar milhares de jovens da escola, tirando-lhes a única possibilidade de assumiremse dignamente como cidadãos, numa sociedade marcada pela exclusão e pela violência. Passamos a ter um descompasso entre a representação que o professor estabelece da juventude, sua correlata ação educativa e o coletivo juvenil da atualidade, que mantém outras formas de expressão, de relações e de viver o mundo escolar. As tensões provocadas por esses extremos mostra-nos que a escola necessita estabelecer um exercício diário de reflexão e estudos para entender essas juventudes em suas multiplicidades. Nesta perspectiva, a didática não pode eximir-se dessa questão, pois a forma de pensar-se a prática docente precisa considerar esse novo aluno, assim como essa discussão não pode encerrar-se nos princípios da Pedagogia. Portanto, faz-se necessário um olhar sobre as questões sociais, antropológicas, psicológicas, entre outras, para podermos entender a complexidade da questão e propor uma ação didática que possa contribuir com a escolarização dos milhares de jovens que anualmente se evadem da escola, pois lá, como na sociedade, não encontram um espaço de direitos, de socialização e de valorização. Palavras-chave: Juventude. Didática. Ensino Médio. INTRODUÇÃO Existe atualmente um vácuo no cotidiano escolar das escolas de Ensino Médio no Brasil. Entre os inúmeros problemas e dificuldades vivenciados neste nível de ensino, é comum nas formações pedagógicas os professores afirmarem: os alunos não são mais os mesmos. Eles não querem estudar, eles não se comprometem com as exigências escolares. Só querem estar aqui para encontrar os amigos. Antigamente era tudo diferente!. Os alunos (as) mudaram, a vida mudou, o mundo se transformou e neste discurso saudosista dos professores podemos encontrar fragmentos de uma representação
2 00445 cristalizada que se formou em relação aos alunos, fundamentando-se nos preceitos de paradigmas tradicionais da educação. Neste sentido, evidencia-se uma série de dificuldades para a implementação de propostas didáticas críticas e inovadoras que venham a contribuir para o desenvolvimento do processo de ensino aprendizagem, ao mesmo tempo favoreçam a aderência do jovem ao projeto educativo escolar, beneficiando, assim, a vivência e o respeito aos princípios básicos dos direitos humanos. A JUVENTUDE NOS DIAS ATUAIS E OS DIREITOS HUMANOS A juventude atual causa perplexidade e estranheza a muitos professores, gerando conflitos indissolúveis no cotidiano escolar, que acabam sendo responsáveis pelos índices elevados de reprovações, evasões, bem como pela formação de uma autoimagem fracassada e inapta por parte do jovem às exigências da escola. O ponto inicial deste gargalo educacional pode estar na forma como representamos a juventude, ou seja, aquele ser dócil, submisso, atento e sem reação, conforme os ideais dos cursos de formação do passado, que defendiam uma prática pedagógica destinada a alunos ideais. Neste momento, a ampliação do olhar para fora dos muros escolares, pode nos auxiliar a encontrar respostas para essa crise, já que os conflitos e problemas são muito maiores e exigem que façamos uma leitura das questões sociais, políticas, econômicas e culturais que colocam professores e alunos à frente de situações desafiadoras de ensinar e aprender o mundo que os cerca. Estudos demonstram que a violência está muito próxima do cotidiano da juventude, como um reflexo de toda a sociedade e que pode se manifestar como um relevante problema no cotidiano educacional, colocando à prova toda a organização escolar. À medida que os jovens são fruto de uma sociedade com abissais diferenças entre as classes, crescentemente insensível aos problemas que assolam o outro, incapaz de envolver-se com a solidariedade e o bem-estar alheio, a escola enquanto espaço de coletividade, passa a ser uma extensão da sociedade que a compõem e irá inevitavelmente, viver todos esses conflitos que estão postos, por meio das desordens que afligem, amedrontam e desmotivam professores e demais profissionais da educação. As diversas violências que se gestam na sociedade e, que por vezes, se legitimam na escola, através da sua hierarquia, seus ritos, do currículo, das avaliações, precisam ser conhecidas e discutidas, estabelecendo-se prioridades na atenção, educação, prevenção e
3 00446 atendimento no interior dos espaços escolares. É no dia-a-dia da escola que ocorrem atos de desrespeito, injustiças, desacatos, destruição, agressividade, bullying, entre outros tantos comportamentos que interferem diretamente no projeto pedagógico da unidade escolar, bem como na forma de ser professor. Sendo assim, a escola não pode se omitir dessa discussão, tornando-se responsável pela promoção de debates constantes que aprofundem essa temática, buscando em outras áreas do conhecimento subsídios que auxiliem a fundamentar essas tensões, e firmando parcerias com outros órgãos públicos que atuam junto a essa faixa etária. Voltando ao contexto escolar, o comportamento dos alunos frente à organização escolar, com seus horários, conteúdos, avaliações, regras e normas demonstram a sua insatisfação para com a forma como a escola está configurada. Há muito se discute que a mesma precisa ser modernizada, arejando-se seus métodos, suas práticas, alterando-se seus objetivos, enfim, equiparando-a com outras instituições sociais que se modificaram para manter-se atualizadas e em consonância com o desenvolvimento das mais diversas áreas do conhecimento. Os estereótipos amplamente discutidos nos cursos de Magistério, nas Licenciaturas e nas Pedagogias privilegiam uma escola romanceada, espaço de convivência, convívio e inclusão, sem problemas e isenta de conflitos. Não somos preparados para lidar com dilemas de ordem moral, pois, nos disseram que nossa responsabilidade era essencialmente pedagógica. E agora nos vemos diante de um novo desafio: as questões de ordem moral, comportamental, de relações, acabam tomando uma posição de destaque no cotidiano da escola, a ponto de interferir diretamente no planejamento e nas ações propostas para alcançar os objetivos de aprendizagem propostos. Esses novos professores e novos alunos que ocupam as escolas na atualidade estão, lentamente, se conhecendo. Por um lado, Arroyo (2012, p.54) afirma: Temos que reconhecer que cultivamos a imagem de aluno que melhor corresponde a nossa imagem de professor ou de professora. Desta forma, a reeducação desse olhar deve considerar as inúmeras variáveis que constituem esse ser, considerando seus itinerários humanos, suas trajetórias, seus projetos, pois não podemos perceber esse educando somente no seu papel de aluno, mas, sobretudo, de ser humano inconcluso e em movimento. Por outro lado, Raitz (2012, p.7) sugere romper com essa ótica linear e determinista sobre a juventude, propondo que a juventude seja estudada sob um enfoque sócio-histórico,
4 00447 Os jovens são vistos como sujeitos histórico-sociais, neste sentido, a juventude não é apenas um elemento da diversidade, mas contém unidade e diversidade, uma vez que os jovens vivem realidades sociais bastante diversas e constroem identidades também individuais e coletivas distintas, estes assumem características tão diversificadas quanto os universos de relações sociais possíveis. Para muitos educadores essa perspectiva é muito atual, pois consideram a juventude em seus aspectos de conflito, dúvidas, desencontros, violência e graves desvios de ordem comportamental. Diante das múltiplas características dos grupos juvenis que hoje estão presentes nas salas de aula, o cotidiano escolar passa a se configurar pela tensão, pela ansiedade e pelo medo. Esse temor se prolifera para outros aspectos da vida social, transformando os hábitos e rotinas dos estudantes e seus familiares: [...] A violência e a insegurança pública, a impossibilidade de abranger a cidade (quem conhece todos os bairros de uma capital?) levam a procurar na intimidade doméstica, em encontros confiáveis, formas seletivas de sociabilidade. [...] Para todos o rádio e a televisão, para alguns o computador conectado para serviços básicos, transmitem-lhes a informação e o entretenimento a domicílio. (CANCLINI, 2011, p.286) Para Bauman (2001) há muitos espaços sociais que estão desprovidos de significados e que se transformaram em conglomerados sociais, nos quais as pessoas transitam, se olham, se percebem, mantém o sentimento reconfortante de pertencimento a um grupo, porém, não desenvolvem relações de afetividade e solidariedade com os demais, mantendo-se o isolamento e o distanciamento com as questões da coletividade, Para jovens e adolescentes a escola constitui-se em um importante local de encontro com seus pares. É um lugar onde podem conversar, trocar ideias, projetar, sonhar, enfim, um espaço para viver sua vida juvenil. Utilizar positivamente as relações interpessoais desenvolvidas no cotidiano escolar, rompendo com os tempos rígidos, com o currículo engessado, com as práticas desarticuladas, buscando novas formas de organização do processo de ensino e de aprendizagem, podem favorecer a aderência do jovem ao processo escolar, auxiliando-o nos seus percursos de formação. Para que a escola possa se efetivar como um espaço de aprendizagem e convivência se faz necessário ouvir as vozes juvenis, pois, historicamente elas foram caladas. Conforme Oliveira (2012, p.57), [...] a necessidade das escolas escutarem as diferentes culturas que a ela
5 00448 chegam, principalmente as escolas públicas, de modo que as construções de sentido juvenis possam ser também parâmetro para a construção dos processos de ensino e aprendizagem. Para se pensar mudanças nas práticas de ensino voltadas aos jovens alunos do Ensino Médio há que partir-se do conhecimento da cultura juvenil e de suas representações, a fim de que as propostas pedagógicas, as matrizes curriculares, o planejamento, a forma de gestão, sobretudo, a didática, possam considerar o perfil, as necessidades e a identidade dos jovens. Portanto, estabelecendo uma aderência entre o projeto escolar e o projeto de vida, pautando-se nos princípios fundamentais dos direitos humanos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao pensarmos os Projetos Pedagógicos das instituições escolares há que incluir uma pauta de estudos, formações e discussões acerca de quem é esse jovem, na maioria das vezes, trabalhador, que chega diariamente à escola. Como ele vive? Quais suas necessidades? Como ele percebe o contexto escolar? Quais os seus projetos para o futuro? A partir do momento que essas questões permearem o cotidiano da escola, teremos jovens mais responsáveis com sua aprendizagem, envolvendo-se seriamente com as questões escolares, minimizando os índices de evasão e repetência, e sobretudo, sendo capazes de prosseguir sua vida após a conclusão do Ensino Médio com responsabilidade e com cidadania. REFERÊNCIAS ARROYO, M. Imagens quebradas: trajetórias e tempos de alunos e mestres. 7.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, BAUMAN, S. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001 CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas híbridas. 4.ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2011 OLIVEIRA, A. M. Entre consumidores e internautas: a outra face da crise do Ensino Médio no Brasil. Tese (Doutorado em Educação). Universidade Federal de Santa Maria, RAITZ, T.R. Entre o hoje e o amanhã: estudo sobre os fatores e os novos rumos da transição universitária ao mundo do trabalho. Relatório de Pós-Doutorado. Barcelona, 2012.
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