PODER JUDICIÁRIO ACÓRDÃO

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1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRÁTICA REGISTRADO(A) SOB N * PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação n , da Comarca de São Paulo, em que são apelantes NET SÃO PAULO LTDA, FAZENDA DO ESTADO e FUNDAÇÃO DE PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR PROCON sendo apelado OS MESMOS. ACORDAM, em 17 a Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "NEGARAM PROVIMENTO À APELAÇÃO E DERAM PROVIMENTO AO RECURSO ADESIVO. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores CARLOS LUIZ BIANCO (Presidente) e TERSIO NEGRATO. São Paulo, 10 de feiro de 2010, ERSO: LIVEIRA TOR

2 VOTO N : 3470 APEL.N 0 : COMARCA: SÃO PAULO APTE. : NET SÃO PAULO LTDA E FAZENDA DO ESTADO E OUTRO (REC. ADESIVO) APDO. : OS MESMOS *AÇAO CIVIL PUBLICA. TV por assinatura. Reajuste das prestações antes do termo anual contratado e reajuste conforme a variação do dólar americano. Sentença que julga parcialmente procedente a ação. Pretensão à reforma. Descabimento. Reajuste das prestações antes do termo anual. Impossibilidade. Aplicação dos artigos 6 o, da Lei 8.880/94 e 28, da Lei 9.069/95. Reajuste conforme a variação do dólar americano. Prática abusiva e onerosidade excessiva reconhecida. Revisão bem decidida pela r. sentença, por aplicação do art. 6 o, do CDC. Sentença mantida. Recurso improvido. - Recurso adesivo. Honorários fixados em R$5.000,00. Pleito de majoração da verba em observância ao art. 20, 3 o, do CPC. Cabimento. Fixação em 10% do valor da causa, correspondente a R$10.000,00. Recurso adesivo provido* Trata-se de recurso tirado contra a r. sentença que julgou parcialmente procedente ação civil pública proposta pelo Estado de São Paulo e Fundação Procon. Na inicial, alegaram os autores que a requerida celebrou contratos padronizados de prestação de serviços com cláusulas abusivas no tocante aos reajustes de mensalidades. Também, que logo após reajuste realizado em janeiro de 1999 decorrente da inflação, realizou ilegalmente novo aumento das mensalidades de seus pacotes de programação em abril do mesmo ano, justificadas pela alta do dólar, com percentuais que superaram a inflação verificada no período, na ordem de 13% a 15%, não respeitada a periodicidade ARTES GRÁFICAS - TJ

3 mínima de um ano, configurando nítida onerosidade e desvantagem ao consumidor. Pleitearam a exclusão dos valores cobrados decorrentes de repasse de custos, com estipulação de multa diária em caso de descumprimento e a declaração da nulidade das cláusulas 6.2 ("reajustes das mensalidades") e 15.0 ("elevação dos custos") do contrato em questão, e dos aumentos ocorridos em prazo inferior a um ano, contado do último reajuste. Requereram ainda, antecipação de tutela para determinar-se a exclusão do valor do reajuste realizado nas prestações até decisão final, a qual foi concedida (fls. 179) e, logo após pedido de reconsideração, revogada (fls. 230). A r. sentença julgou parcialmente procedente a ação, excluindo a variação de repasse de custos nas mensalidades, ressalvado o direito da requerida, mediante prévio aviso, de resolver o contrato, ou por mútuo consentimento, repactuar a avença. Declarou a nulidade da cláusula 15.0 e dos aumentos de mensalidade ocorridos com periodicidade inferior a um ano, bem como condenou a requerida a devolver os valores pagos relativos aos aumentos abusivos. Por fim, condenou a operadora de tv a cabo no pagamento de custas processuais e honorários advocatícios no valor de R$5.000,00. Inconformada, recorreu a requerida, alegando a licitude da cláusula 15.0, pois os custos repassados deveram-se à variação do dólar ocorrida em 1999, pois os serviços e produtos utilizados pela operadora de tv a cabo tinham grande composição em insumos importados que sofreram com o aumento das cotações da moeda americana. Afirmou que o contrato atende ao princípio da autonomia da vontade, com liberdade na contratação e ao princípio da relatividade das convenções. Também que, ainda que se entenda nula a cláusula contratual, não há que se falar em nulidade dos reajustes praticados. Requereu a reforma da sentença, a fim de ser declarada a improcedência da ação.,.. ^ ^.^.o -r, APEL.N": SÃO PAULO - VOTO N : Daniela/Mônica/Patricia/Fernanda O ARTES GRÁFICAS - TJ Tft.0035

4 Os autores apelaram adesivamente, requerendo a majoração dos honorários estipulados na sentença, vez que o valor da causa é de R$ ,00 e a verba honorária determinada na r. sentença corresponde à apenas 5% desse valor. Os recorridos apresentaram contra-razões. É o relatório. De fato, em que pese o inconformismo esposado pela requerida, razão não lhe assiste. Senão vejamos: Alega a operadora de serviços de televisão a cabo, que em razão da excessiva onerosidade dos contratos que mantinha com fornecedores internacionais de sua programação, ocorrida em decorrência da alta do dólar no período, viu-se obrigada a aumentar as mensalidades dos contratos firmados com seus usuários. Defende ainda, a legalidade do reajuste praticado, e da cláusula 15.0 (fls. 33), que trata da elevação dos custos dos serviços prestados pela operadora, em decorrência de aumento dos mesmos, que torne inviável a prestação de seus serviços. No entanto, o preconizado princípio da autonomia da vontade dos contratantes, ou pacta sunt servanda, que obriga ao estrito cumprimento dos termos contratados, deve ser visto à luz dos dispositivos do Código de Defesa do Consumidor, em especial em seu artigo 6 o, V, que autoriza a revisão de cláusulas por fato imprevisível que torne excessivamente onerosas as obrigações assumidas, procurando manter a igualdade nas relações de consumo: "São direitos básicos do consumidor: a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas". // APEL N SÃO PAULO - VOTO N : Daniela/Mônica/Patricia/Fernanda 7. ARTES GRÁFICAS - TJ ^ OQ35

5 Ainda, o artigo 6 o da Lei n 8.880/94, dispõe sobre a aplicação de reajuste de negócios jurídicos, nos seguintes casos: "É nula de pleno direito a contratação de reajuste vinculado à variação cambial, exceto quando expressamente autorizado por lei federal e nos contratos de arrendamento mercantil celebrados entre pessoas residentes e domiciliadas no País, com base em captação de recursos provenientes do exterior". Neste sentido também orienta a jurisprudência: "CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE TELEVISÃO A CABO. AUMENTO DA MENSALIDADE. IMPOSSIBILIDADE DE REAJUSTE ANTE A AUSÊNCIA DE PREVISÃO CONTRATUAL. REAJUSTE DO VALOR DA MENSALIDADE PELA DESVALORIZAÇÃO CAMBIAL, COM ALEGAÇÃO DE FACTUM PRINCII. PREVISIBILIDADE DO AGIR GOVERNAMENTAL. ALÉM DISSO, O CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE TELEVISÃO A CABO FIRMADO ENTRE OS LITIGANTES É CLARO QUANTO À DEFINIÇÃO DO PREÇO A SER PAGO PELO ASSINATE, ASSIM, COMO QUANTO Á FORMA DE REAJUSTE DAS MENSALIDADES, SENDO EXPRESSA A DISPOSIÇÃO RELATIVA Á MODIFICAÇÃO DO VALOR DA ASSINATURA, CONDICIONANDO-A AO ACORDO ENTRE AS PARTES, COM MANUTENÇÃO DA TARIFA PELO PRAZO DE DOZE MESES E CORREÇÃO PELO ÍNDICE DO IGP-M/FGV, NÃO SE ENQUADRANDO, DESTA FORMA, O RAJUSTE A DESTEMPO PRETENDIDO. APELO IMPROVIDO" (TJRS, Apelação cível n , Pelotas, Rei. Des. Carlos Alberto Bencke, j )". Cumpre destacar também, que embora preveja a discutida cláusula contratual, o aumento das mensalidades pagas pelos assinantesyáêm APELN SÃO PAULO -VOTO N : Daniela/Mônica/Patrícia/Fernanda *"^ A ARTES GRÁFICAS! - TJ

6 prejuízo de reajuste previsto na cláusula 6.2 ("Do reajuste das mensalidades"), a Lei n 9.069, de , que aperfeiçoou o Plano Real, definiu em seu artigo 28: "Nos contratos celebrados ou convertidos em Real com cláusula de correção monetária por índices de preço ou por índice que reflita a variação ponderada dos custos dos insumos utilizados, a periodicidade de aplicação dessas cláusulas será anual. 1 É nula de pleno direito e não surtirá nenhum efeito cláusula de correção monetária cuja periodicidade seja inferior a um ano". A esse respeito, já se decidiu: "PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS - TELEVISÃO A CABO - CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO - REAJUSTE ABUSIVO DE MENSALIDADE - RECONHECIMENTO - RECURSO PROVIDO. Os reajustes nas mensalidades, nos termos contratados, somente poderiam ocorrer no mês de novembro de cada ano. Com referência ao ano de 1999, no qual inexistiu acréscimo, este fato decorreu de transação havida entre as partes em anterior ação, de tal sorte que, ao se manter a periodicidade anteriormente contratada, o ajustamento da mensalidade somente seria possível no mês de novembro de 2000, anão antes, como pretendido pela ré. O argumento desta de que o reajuste que pratica ocorre sempre, indistintamente, para todos os assinantes, independentemente da data de assinatura do contrato, não pode prevalecer porquanto fere o pactuado entre as partes. Há que se respeitar o princípio do pacta sunt servanda, mormente quando incidente na espécie as regras do Código de Defesa do Consumidor" (TJSP, Apelação Cível n /0, Rei. Des. Paulo Ayrosa, j ). APEL N : SÃO PAULO - VOTO N : Daniela/Mônica/Patricia/Fernanda 5 ARTES GRÁFICAS - TJ?1.0035

7 Portanto, de acordo com a legislação consumerista, proíbe-se a estipulação de cláusula que deixe ao alvitre do fornecedor, futuras alterações dos valores contratados, em detrimento do consumidor, configurando-se evidente desequilíbrio entre as partes. Assim, reconhecida a ilegalidade do reajuste nas mensalidades, decorrente de repasse de custos, deve a requerida restituir os valores relativos aos aumentos abusivos. Quanto ao pleito de majoração da verba honorária, objeto do recurso adesivo, o pedido comporta provimento. Com efeito, não há justificativa para a fixação dos honorários em percentual inferior ao mínimo previsto no art. 20, 3 o, do CPC. Assim sendo, considerando a natureza da ação, eleva-se a verba honorária para 10% do valor da causa. provimento ao recurso adesivo. Nesses termos, nega-se provimento ao recurso e dá-se APEL.N 0 : SÃO PAULO - VOTO N : Daniela/Mônica/Patrícia/Fernanda g ARTES GRÁFICAS - TJ Yl.0035