CONTAMINAÇÃO MICROBIOLÓGICA EM HORTALIÇAS PROVENIENTES DE FEIRAS ORGÂNICAS DA CIDADE DE BRASÍLIA - DF

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1 Lima, R.F.C de; Contaminação Junqueira, A.M.R; microbiológica Resende, em A hortaliças Contaminação provenientes microbiológica de feiras orgânicas em hortaliças da cidade de feiras de Brasília de produtos - DF orgânicas em Brasília-DF. Horticultura Brasileira 27: S3887-S3892. CONTAMINAÇÃO MICROBIOLÓGICA EM HORTALIÇAS PROVENIENTES DE FEIRAS ORGÂNICAS DA CIDADE DE BRASÍLIA - DF Roberta Ferreira C. de Lima¹; Ana Maria R. Junqueira¹; Anselmo Resende² ¹Universidade de Brasília, Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, C. Postal 4508, Brasília- DF; robertinhabebel@gmail.com, ²Faculdade JK, Laboratório de Higiene dos Alimentos. RESUMO O consumo de hortaliças orgânicas cruas apresenta alto risco de contaminação microbiológica quando consumidas sem a higienização recomendada. O objetivo do trabalho foi avaliar a presença de microrganismos patogênicos em hortaliças orgânicas vendidas nas feiras de produtos orgânicos em Brasília-DF. Foram coletadas 40 amostras de hortaliças (alface, tomate, morango e rúcula, dentre outras) em cinco feiras, nos meses de outubro a dezembro de Para a identificação de coliformes fecais, utilizou-se o método do Número Mais Provável (NMP). Para a detecção de enterobactérias, utilizou-se tubos com Ágar Lisina Ferro (LIA). Foi verificado que 75% das amostras estavam contaminadas por coliformes fecais e 85% estavam contaminadas com enterobactérias diversas. PALAVRAS-CHAVE: Hortaliças orgânicas, coliformes fecais, enterobactérias. ABSTRACT Microbiological contamination in vegetables from organic small markets in the city of Brasília-DF. The consumption of uncooked vegetables brings a high risk of microbiological contamination if eaten without the correct cleaning process. The aim of this research was to evaluate the presence of pathogenic microorganisms in organic vegetables sold in organic small markets in the city of Brasília DF. Forty samples of vegetables (lettuce, tomato, strawberry and rocket, among others) were collected for evaluation in five small markets from October to December For fecal coliforms analysis it was used the Most Probable Number (MPN). For enterobacteria identification, LIA method was used. It was observed that 75% of the samples were contaminated with fecal coliforms and 85% were contaminated with different species of enterobacteria. KEYWORDS: Organic vegetables, fecal coliforms, enterobacteria. INTRODUÇÃO A agricultura orgânica, para alcançar seus objetivos, dispensa o uso de adubos e defensivos químicos que podem causar desequilíbrios ecológicos ou que sejam agressivos ao organismo humano, se utilizados indiscriminadamente. É um sistema que adota normas para produzir um alimento com suas características originais e que atenda as expectativas do consumidor (Penteado, 2000). Hortic. bras., v. 27, n. 2 (Suplemento - CD Rom), agosto 2009 S 3887

2 Como uma alternativa aos produtos tradicionais in natura, as hortaliças orgânicas atingem cotações muito atraentes no Brasil, representando em alguns casos 30% a mais nos preços obtidos dos produtos convencionais (Vilela & Henz, 2000). De acordo com Santos (2008), a hortaliça é parte integrante da dieta humana. Ricas em vitaminas e sais minerais, nutrientes essenciais para o perfeito funcionamento do organismo e promotores da assimilação de outros nutrientes, auxiliam também na prevenção de doenças. Segundo Falavigna (2005), com a expansão do comércio internacional de gêneros alimentícios, as mudanças nos hábitos alimentares, o consumo de refeições rápidas e comidas pré-preparadas e o crescimento desordenado dos centros urbanos, vem ocorrendo um aumento de infecção alimentar por microrganismos veiculados pela ingestão de hortaliças consumidas cruas. Entre os patógenos que causam infecção alimentar pelo consumo de hortaliças contaminadas, destaca-se a Escherichia coli, principal indicadora de contaminação fecal (Santos, 2005). A pesquisa de parasitas de interesse humano em hortaliças é de grande importância na área de saúde pública, especialmente considerando etapas de produção, armazenagem, transporte, manuseio e comercialização desses produtos (Falavigna, 2005). Assim, o objetivo deste trabalho foi verificar a qualidade das hortaliças orgânicas disponíveis nas feiras de produtos orgânicos em Brasília-DF, considerando o aspecto de conformação microbiológica. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi desenvolvida com 40 amostras de hortaliças orgânicas coletadas em cinco feiras de produtos orgânicos localizadas em Brasília-DF. As análises foram realizadas no Laboratório de Higiene dos Alimentos na Faculdade JK Taguatinga - DF, no período de outubro a dezembro de Para detectar a presença de coliformes fecais, grupo de bactérias capaz de fermentar a lactose com produção de gás, quando incubadas em um período de 24-48h à temperatura de 45 C (Silva, 1997), foi utilizado o método do Número Mais Provável (NMP). Para cada amostra das hortaliças orgânicas foram feitas diluições seriadas utilizandose como diluente 225 ml de água peptonada 0,1 % (H Op), dois tubos com 9,0 ml de água 2 salina, identificados em 10-2 e 10-3 para a diluição, utilizando-se três pipetas de 1,0 ml por amostra. Como meio de cultura, foram utilizados nove tubos com 9,0 ml de Caldo E. coli (EC) em tubos de Durhan invertidos para a verificação da produção de gás. Os nove tubos de EC foram separados em trios de 10-1, 10-2 e 10-3 utilizados na diluição. Foram pesadas 25g de cada amostra e adicionadas em frascos contendo 225 ml de H Op, homogeneizando por cerca 2 de 3 minutos. A homogeneização é precedida de uma diluição inicial de 10-1 sendo que os tubos de 10-1 recebem diretamente 1,0 ml da amostra homogeneizada. Para as diluições nos tubos de 10-2 e de 10-3 são transferidos 1,0 ml da diluição anterior para 9,0 ml da água salina 10-2 e 10-3, respectivamente. Após estes procedimentos as amostras são incubadas a 45 C por 48 horas para a confirmação da presença do patógeno. Hortic. bras., v. 27, n. 2 (Suplemento - CD Rom), agosto 2009 S3888

3 Para a detecção das enterobactérias, as amostras de hortaliças orgânicas, que foram utilizadas para a verificação de coliformes fecais, foram guardadas em estufa a 35 C por 24 horas, no dia seguinte pipetou-se 1,0 ml de cada amostra nos meios rappaport e selenito cistina, ambos a 10 ml, deixando por mais 24 horas em estufa a 35 C. Passado esse período, foi introduzida uma alça nos meios rappaport e selenito cistina e estriou-se em placas de Petri contendo o meio Shigella/Salmonella, as placas ficaram incubadas por mais 24 horas a 35 C. Após este procedimento, as colônias que apareceram nas placas foram introduzidas no meio Ágar Lisina Ferro (LIA) e novamente incubadas por mais um dia a 35 C, para assim, confirmar a presença de enterobactérias. RESULTADOS E DISCUSSÃO Das amostras analisadas, 75% (30/40) apresentaram contaminação por coliformes fecais. Segundo a Resolução - RDC n 12, a tolerância de contaminação em hortaliças para o consumo direto é de 100 colônias por grama, portanto pelo índice de contaminação observase que a maioria das amostras ficou fora dos padrões permitidos pela ANVISA (Tabela 1). Das 40 amostras analisadas, 35 apresentaram contaminação por enterobactérias. Todas as enterobactérias presentes são de origem fecal, gram negativas e causam sintomas clínicos semelhantes como febre e diarréia. As mais constantes no experimento foram: Providencia sacarose -, Escherichia coli e Proteus vulgaris (Tabelas 2, 3 e 4). No Brasil, México e África do Sul, a EPEC (Enteropatogênico), tipo de E. coli, é responsável por cerca de 30% a 40% dos casos de diarréia aguda, com milhares de mortes de crianças com idade inferior a seis meses, enquanto que outro tipo de E. coli, a ETEC (Enterotoxigênico), é considerado um dos principais agentes etiológicos da chamada diarréia do viajante, em indivíduos que se locomovem de áreas desenvolvidas para regiões com problemas de saneamento básico (Bastos, 2008). Outro microrganismo relacionado com a diarréia do viajante é a Shigella spp (Jay, 1994). As bactérias: Klebisella pneumoniae, Enterobacter aerogenes, Proteus vulgaris e Providencia stuartii, são responsáveis por causar infecção do trato urinário (Cruz & Junior, 2001). Especial atenção deve ser dedicada à amostra que apresentou Salmonella typhi. Ela é responsável por causar a febre tifóide, que só acomete o homem (Bastos, 2008), e se não tratada, pode levar à morte do indivíduo (FIO CRUZ, 2006). A falta de cuidado na escolha e no manuseio do adubo utilizado no plantio, a contaminação da água de irrigação por agentes microbiológicos, a falta de higiene na colheita, no armazenamento, no transporte e no momento em que o alimento fica exposto para a comercialização, são questões que devem ser melhoradas para que a qualidade do alimento e a saúde do consumidor não sejam prejudicadas. É necessário conscientizar os produtores da importância da higienização em todas as etapas de produção, através da distribuição de cartilhas e palestras que exponham os problemas e apontem soluções. Deve-se divulgar junto à população métodos de higienização de hortaliças, como o uso de hipoclorito de sódio diluído em água. As feiras que tiveram produtos amostrados serão novamente visitadas para informação dos resultados e orientação aos produtores/feirantes. Também serão divulgados métodos de higienização das hortaliças junto aos consumidores de produtos oriundos dessas feiras in loco. Hortic. bras., v. 27, n. 2 (Suplemento - CD Rom), agosto 2009 S 3889

4 LITERATURA CITADA PENTEADO, S.R. Introdução à agricultura orgânica. Campinas: Editora Grafimagem, p. VILELA, N.J; HENZ, G.P. Situação atual da participação das hortaliças no agronegócio brasileiro e perspectivas futuras. (2000). Disponível: cc17n104.pdf. Acessado em 01 de abril de SANTOS, A.P.R dos. Conformação da qualidade microbiológica em couve minimamente processada no Distrito Federal: O caso da Agroindústria Machadinho. Universidade de Brasília, 2008, 120p. Dissertação de Mestrado. FALAVIGNA, L.M. Qualidade de horataliças comercializadas no Noroeste do Paraná, Brasil. (2005). Disponível: Acessado em 01 de abril de SANTOS, A.P.R. dos. Análise microbiológica em hortaliças minimamente processadas comercializadas no Distrito Federal. Dissertação (monografia em produção vegetal), Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade de Brasília, Brasília-DF, SILVA, N; JUNQUEIRA, V.C.A; SILVEIRA, N.F.A. Manual de Métodos de Análise Microbiológica de Alimentos. São Paulo: Livraria Varela, p. RESOLUÇÃO RDC N 12. Disponível: Acessado em 03 de abril de BASTOS, M.S.R. Ferramentas da Ciência e Tecnologia para a Segurança de Alimentos. Fortaleza: Embrapa Agroindústria Tropical: Banco do Nordeste do Brasil, FIO CRUZ. Disponível: Acessado em 06 de abril de JAY, J.M. Microbiolgía Moderna de los Alimentos. 3ed. Zaragoza: Acribia, p. CRUZ, J; JUNIOR, J.E.R. (2001). Diretrizes de Infecções do Trato Urinário. Disponível: Acessado em 06 de abril de Hortic. bras., v. 27, n. 2 (Suplemento - CD Rom), agosto 2009 S3890

5 Tabela 1. Contaminação de hortaliças orgânicas por coliformes fecais. Brasília, Hortaliças Número de amostras Coliformes fecais (%) (1) NMP/g (2) Espinafre 3 66,6 (2/3) = 2400 Rúcula 5 80 (4/5) = 2400 Agrião 2 50 (1/2) = 2400 Alface roxa 3 66,6 (2/3) = 2400 Alface lisa 4 75 (3/4) = 2400 Alface americana 4 75 (3/4) = 2400 Alface crespa 4 75 (3/4) = 2400 Couve 4 75 (3/4) 210; = 2400 (3) Brócolis (2/2) = 2400 Tomate (1/1) 460 Morango 3 33,3 (1/3) = 2400 Cebolinha (1/1) = 2400 Coentro (3/3) = 2400 Cenoura (1/1) = 2400 Total (1) amostras contaminadas sobre amostras totais. (2) valores para as amostras que apresentaram contaminação por coliformes fecais. (3) uma amostra apresentou NMP/g = 210 e duas amostras apresentaram NMP/g = Tabela 2. Contaminação de hortaliças orgânicas por enterobactérias. Brasília, Hortaliças Número de amostras Klebisiella sac. - Klebisiella sac. + Providencia sac. - Espinafre 3 (+) - - Rúcula 5 (+) - - Agrião (+) Alface roxa 3 - (+) (+) Alface lisa Alface americana 4 (+) (+) (+) Alface crespa (+) Couve 4 - (+) - Brócolis (+) Tomate (+) Morango Cebolinha (+) Coentro 3 (+) - (+) Cenoura Total (+) uma amostra contaminada pela enterobactéria; sac.: sacarose. Hortic. bras., v. 27, n. 2 (Suplemento - CD Rom), agosto 2009 S 3891

6 Tabela 3. Contaminação de hortaliças orgânicas por enterobactérias. Brasília, Hortaliças Número Providencia Enterobacter Salmonella Escherichia de amostras sac. + sac.- typhi coli Espinafre (++) Rúcula 5 (+) (++) - - Agrião Alface roxa (+) Alface lisa 4 - (+) - (+) Alface americana Alface crespa (+) (+) Couve Brócolis (+) Tomate Morango Cebolinha Coentro Cenoura (+) Total (+) uma amostra contaminada pela enterobactéria; (++) duas amostras contaminadas pela enterobactéria; sac.: sacarose. Tabela 4. Contaminação de hortaliças orgânicas por enterobactérias. Brasília, Hortaliças Número de amostras Citrobacter sac. - Proteus vulgaris Shigella indol + Espinafre Rúcula 5 - (+) - Agrião 2 - (+) - Alface roxa Alface lisa 4 (+) (+) - Alface americana (+) Alface crespa 4 - (+) - Couve 4 - (+) - Brócolis Tomate Morango Cebolinha Coentro 3 - (+) - Cenoura Total (+) uma amostra contaminada pela enterobactéria; sac.: sacarose. Hortic. bras., v. 27, n. 2 (Suplemento - CD Rom), agosto 2009 S3892