PJe HC n Impetrante Paciente Autoridade coatora liberdade conferida

Transcrição

1 PJe HC n Impetrante: Fernando Augusto Vieira de Figueiredo e outro (Advogados) Paciente: Haran Perpétuo Quintiliano Autoridade coatora: Juíza da 2ª Vara da Comarca de Campo Novo do Parecis-MT EMENTA HABEAS CORPUS FURTO MEDIANTE FRAUDE LAVAGEM DE CAPITAIS E ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA OPERAÇÃO ETANOL PLEITO DE EXTENSÃO DE BENEFÍCIO CONCEDIDO AO CORRÉU NÃO ACOLHIMENTO SITUAÇÕES DIVERSAS EXCESSO DE PRAZO PARA O DESLINDE DO PROCESSO SUCESSIVOS DECLÍNIOS DE COMPETÊNCIA SUSCITAÇÃO DE CONFLITO NEGATIVO EM TRÂMITE NESTE EGRÉGIO TRIBUNAL DEMORA JUSTIFICADA QUE NÃO OFENDE O PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE DESIGNAÇÃO DE JUIZ PARA DECIDIR AS MEDIDAS URGENTES PROVIDÊNCIA ADOTADA PRISÃO PREVENTIVA REQUISITOS DO ART. 312 DO CPP MATÉRIA JÁ ANALISADA EM OUTRO HABEAS CORPUS DECISÃO DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA NA NECESSIDADE DE GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA E CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO PROCESSUAL POSSIBILIDADE DE REITERAÇÃO DELITIVA E DE RISCO À COLHEITA DE PROVAS QUE IMPEDEM A SUBSTITUIÇÃO DA PRISÃO POR MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DO ART. 319 DO CPP CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO ORDEM DENEGADA. A liberdade conferida ao corréu não autoriza, automaticamente, a extensão do benefício, porquanto situações pessoais diferentes implicam resultados jurídicos distintos. Caso paradigma em que foi concedida parcialmente a ordem para colocar o corréu em prisão domiciliar, especificamente porque é advogado e mesmo assim está recolhido em presídio de segurança máxima, com evidente prejuízo das garantias que lhe são outorgadas pela legislação de regência da carreira, tais como ser recolhido em sala de estado maior. É assente no STJ o entendimento segundo o qual, o excesso de prazo revelador da prisão provisória ilegal deve ser observado à luz dos

2 princípios da razoabilidade e proporcionalidade, de forma que a mera soma aritmética dos prazos processuais, por si só, não acarretam o relaxamento da custódia, mormente quando as peculiaridades do caso justificam eventual elastecimento da marcha processual. Se a prisão preventiva encontra-se justificada na necessidade de garantia da ordem pública por risco concreto de reiteração delitiva, e ainda por conveniência da instrução processual, inviável a sua substituição por medidas cautelares alternativas do art. 319 do CPP, por se revelarem insuficientes no caso concreto. RELATÓRIO Trata-se de habeas corpus, com pedido de liminar, impetrado em favor de Haran Perpétuo Quintiliano, apontando como autoridade coatora a juíza da 2ª Vara da Comarca de Campo Novo do Parecis-MT. Conforme consignado na decisão preambular: Os impetrantes relatam que o paciente está preso preventivamente, em decorrência da Operação Etanol, deflagrada com o objetivo de apurar a suposta prática dos crimes de lavagem de dinheiro, organização criminosa e furto mediante fraude, em detrimento da Cooperativa Agrícola de Produtores de Cana de Açúcar de Campo Novo do Parecis/MT (COPRODIA). Sustentam que há um fato novo que ampara o presente writ, qual seja, a ordem concedida em benefício do corréu Júnio José Graciano por ocasião do julgamento do HC n , que substituiu sua segregação em cárcere por prisão domiciliar. Argumentam que o paciente encontra-se custodiado desde , ou seja, há mais de 160 dias, sem qualquer alteração do quadro processual, comprovando-se a total desnecessidade da manutenção da prisão preventiva. Além disso, registram que após o declínio da competência ao Juízo da 7ª Vara Criminal, este também se declarou incompetente para a tramitação do feito, e suscitou o conflito negativo, determinando a remessa dos autos ao egrégio Tribunal de Justiça, sem analisar o pedido de revogação da prisão preventiva do paciente formulado na origem. Concluem que, se ambos os Juízos a 2ª Vara da Comarca de Campo Novo do Parecis-MT e da 7ª Vara Criminal da Capital se negam

3 a decidir no feito, não há falar em manutenção da prisão preventiva, devendo a medida ser imediatamente revogada, mesmo porque, também não se fazem presentes os requisitos do art. 312 do CPP. Com essas considerações, pleiteiam, liminarmente e no mérito, a concessão da ordem de habeas corpus, para suspender/relaxar os efeitos do decreto de prisão expedido ilegalmente no bojo da Ação Penal n código , uma vez que ausentes os requisitos exigidos pelo artigo 312 do CPP, concedendo ao paciente HARAN PERPÉTUO QUINTILIANO a liberdade provisória sem quaisquer condicionantes. Alternativamente, a concessão da medida liminar para deferir a LIBERDADE CONDICIONAL AO PACIENTE, ainda que sob as restrições do artigo 319 do CPP, ou ainda, a PRISÃO DOMICILIAR DO PACIENTE, conforme já decidido no âmbito do HC (Id ). Com a inicial foram juntados documentos relativos ao feito. A liminar foi por mim indeferida (Id ). A autoridade apontada como coatora prestou as informações pertinentes ao caso (Id ). A Procuradoria-Geral de Justiça opinou pela denegação da ordem, nos termos da manifestação lançada no Id É o relatório. VOTO Presentes os requisitos de admissibilidade, admito o processamento da ação constitucional. Infere-se dos autos que o paciente foi preso preventivamente na data de , na terceira fase da Operação Etanol, deflagrada com o objetivo de apurar o suposto desvio de R$ 23 milhões de reais, em detrimento da Cooperativa Agrícola de Produtores de Cana de Açúcar de Campo Novo do Parecis MT (COPRODIA). Neste writ, os impetrantes buscam, em síntese, a extensão do benefício que substituiu a prisão preventiva do corréu Júnio José Graciano por domiciliar, por ocasião do julgamento do HC , de minha relatoria, ou o relaxamento por excesso de prazo para o deslinde do processo, e ainda por estarem ausentes os requisitos do art. 312 do CPP, dada a suficiência das medidas cautelares alternativas, nos termos do art. 319 do mesmo diploma legal. Sem razão, contudo.

4 Sabe-se que o pedido de extensão envolve aferição de que o corréu se encontra na mesma situação fático-processual daquele já beneficiado com o habeas corpus, o que não se verifica na espécie. Com efeito, quando da concessão parcial do HC foi explicitado que o paciente Júnio José Graciano só faria jus à prisão domiciliar porque é advogado e mesmo assim está recolhido em presídio de segurança máxima, com evidente prejuízo das garantias que lhe são outorgadas pela legislação de regência da carreira, tais como ser recolhido em sala de estado maior, o que, por óbvio, difere da situação do paciente, que é empresário (vide qualificação, ID ). Destarte, nos termos da jurisprudência sedimentada pelo STJ: A liberdade conferida ao corréu não autoriza, automaticamente, a extensão do benefício, porquanto situações pessoais diferentes implicam resultados jurídicos distintos (RHC / PR, relator Ministro Ribeiro Dantas, 5ª Turma, DJe ). Desse modo, inviável a incidência do teor do art. 580 do CPP no caso concreto. Por outro lado, com relação ao alegado excesso de prazo para o deslinde do processo, verifico que, inicialmente, o feito tramitava na 2ª Vara da Comarca de Campo Novo do Parecis/MT, entretanto aquele juízo declinou da competência para a 7ª Vara Criminal da Capital, que, por sua vez, suscitou o conflito negativo de competência e determinou a remessa dos autos a este Tribunal, em decisão proferida em , o que, aparentemente estava sendo impedido diante de inúmeras cargas dos autos e providências oriundas de vários habeas corpus reiteradamente impetrados pelas defesas dos acusados (vide andamento processual, cód ). Não obstante, em consulta ao sistema processual desta Corte (Primus), verifiquei que os autos aportaram nesta instância em 1º , cujo conflito autuado sob o n. 6245/2019 foi distribuído sob a relatoria do Desembargador Marcos Machado, o qual, na decisão lançada no dia , designou o Juízo da 7ª Vara Criminal de Cuiabá [Especializada contra o Crime Organizado, os Crimes contra a Ordem Tributária e Econômica e os Crimes contra a Administração Pública] para resolver, em caráter provisório, toda e qualquer medida urgente (RITJMT, art. 205). Após a referida deliberação, por óbvio, tem-se a retomada da marcha processual e, por conseguinte, a apreciação das medidas urgentes formuladas pelo impetrante, ficando superada a alegação de constrangimento ilegal por esse motivo.

5 Noutro giro, verifico que estão presentes os requisitos da prisão preventiva, cuja decisão foi proferida em conformidade com o disposto no art. 312 do CPP, diante da prova da materialidade e fortes indícios de autoria da prática dos crimes de furto mediante fraude, lavagem de capitais e organização criminosa, tendo apontado o juízo singular que: [...] quanto ao representado Haran Perpetuo Quintiliano causa estranheza a baixa de suas empresas (docs. anexos) mesmo tendo alcançado alta rentabilidade com a empresa vítima; não há um único imóvel em seu nome após pesquisas efetuadas pelo Ministério Público, do que se conclui haver indicativo de que solto, causará dificuldades na investigação criminal levada a efeito. Repise-se que pelos elementos fáticos trazidos à baila, o representado Haran, segundo o Ministério Público, tinha papel fundamental na organização criminosa, pois era o responsável por cooptar e apresentar empresas parceiras para o cometimento, em tese, das transações fraudulentas contra a empresa vítima. Segundo a ilustre representante do Ministério Público, Haran era vulgarmente conhecido como Papeleiro. A ausência de patrimônio mínimo significativo, mesmo com a quebra de sigilo bancário evidenciando que ele movimentou milhões de reais durante o período do cometimento dos crimes, denota que sua liberdade pode causar prejuízo à instrução criminal, pois não se tem a mínima noção acerca da destinação dos recursos ilícitos obtidos [...] (Id ). Aliás, tal matéria já foi inclusive apreciada em HC anterior [ ], registrado sob o n , que tramitou sob a relatoria do doutor Francisco Alexandre Ferreira Mendes Neto, em substituição legal a este magistrado, oportunidade em que foi sintetizado que: [...] Não há falar em constrangimento ilegal quando a medida constritiva encontra-se fundamentada e admissível sob o enfoque de garantir a ordem pública e resguardar a instrução criminal, sobretudo diante da gravidade concreta do delito, que causou exorbitante prejuízo à empresa vitimada, e pelo aspecto de que o paciente exercia posição privilegiada e elevado conhecimento técnico contábil que dificultou o rastreamento dos capitais desviados da empresa assim como a sua participação no suposto evento criminoso [...].

6 Portanto, se devidamente justificada a prisão preventiva do paciente pela necessidade de garantia da ordem pública e conveniência da instrução processual, diante da possibilidade de reiteração delitiva e de colocar em risco a colheita das provas, inviável a substituição do decreto prisional pelas medidas cautelares alternativas do art. 319 do CPP. Pelo exposto, conheço do presente habeas corpus e, no mérito, denego a ordem impetrada, em consonância com o parecer da Procuradoria-Geral de Justiça. É como voto.