PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Transcrição

1 fls. 70 HABEAS CORPUS Nº COMARCA: Carapicuíba VARA DE ORIGEM: 1ª Vara Criminal IMPETRANTES: Ivo Gobatto Júnior e Edu Eder de Carvalho PACIENTE: Orcival Crepaldi Vistos. Trata-se de habeas corpus, com pedido de liminar, impetrado pelos advogados Ivo Gobatto Júnior e Edu Eder de Carvalho em favor de Orcival Crepaldi, com o objetivo de obter a revogação da prisão preventiva decretada. Alegam, em breve síntese, a inidoneidade do decreto de prisão preventiva, a ausência dos requisitos autorizadores da prisão cautelar, bem como a ilegalidade de provas obtidas. Relatei. A antecipação do juízo de mérito, na esfera do habeas corpus, requer demonstração inequívoca da ilegalidade do ato impugnado, o que não se verifica no caso. Como se vê, o paciente foi preso preventivamente em

2 fls. 71 processo no qual foi denunciado por infração ao artigo 2º, 4º, inciso II, da Lei /13, ao artigo 319, por 9 vezes, c.c. o artigo 29, caput, e ao artigo 299, parágrafo único, por vezes, na forma do artigo 69, todos do Código Penal. É dos autos que o paciente, vereador do Município de Carapicuíba, integrava organização criminosa, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, que tinha por objetivo obter, direta ou indiretamente, vantagem de natureza eleitoral, através da prática de crimes de prevaricação e falsidade ideológica, relacionados a fraudes em processos seletivos para a contratação de pessoal pela Prefeitura de Carapicuíba. Insta consignar, desde já, que não se constata, nesta análise perfunctória, com o que há nos autos, a ocorrência de qualquer constrangimento ilegal apto a ensejar o deferimento da liminar. Em verdade, o que se vê é que a douta juíza a quo explanou, de maneira fundamentada, as razões de seu convencimento, no sentido da necessidade da prisão preventiva do paciente como garantia da ordem pública, por conveniência da instrução criminal e, ainda, para assegurar a aplicação da lei penal. douta juíza que: No que se refere à garantia da ordem pública, anotou a (...) o caso dos autos é de grande repercussão e gera abalo na sociedade a que se dirige. Os reflexos da prática dos delitos que trata os autos são graves e atingem um número indefinido de pessoas. No caso

3 fls. 72 concreto, é de se observar ainda, que em razão da suspensão das contratações nos autos de Ações Civis Públicas cujos objetos coincidem com os dos presentes autos, houve manifestação da população, cerca de 500 pessoas que, em tese, eram beneficiados das contratações ilegais e se revoltaram contra o Ministério Público, o que revela o grave abalo à tranquilidade social. Frise-se que são oito réus que, juntos, somam imputações de 63 crimes de prevaricações e mais de 5 mil crimes de falsificação! É de salientar também que a repercussão dos delitos não se exaure nos beneficiados pelo esquema montado, em tese, pelos réus, vindo a atingir toda a população do Município de Carapicuíba, já que por conta dos delitos perpetrados, pessoas eram contratadas de modo irregular para ingressar no serviço público em prejuízo das pessoas que efetivamente passaram em concurso público realizado, sem nunca terem sido chamadas. A denúncia da conta de que cerca de pessoas foram contratadas a partir de documentos falsos, boa parte delas ingressando em área sensível da Administração Pública, qual seja, área da saúde, causando prejuízo imensurável à carente população de Carapicuíba (...) Com relação à conveniência da instrução criminal, asseverou a douta juíza que a testemunha protegida, que deu ensejo ao início das investigações, através de sua denúncia, relatou estar sendo perseguida

4 fls. 73 e que sente medo, o que aponta possível intenção de coação de testemunha. Aduziu, também, a douta juíza, que, durante o cumprimento de Mandados de Busca e Apreensão nos gabinetes dos vereados denunciados, verificou-se que os computadores foram formatados, sendo que segundo relato de uma testemunha protegida a formatação não foi determinada pelo setor técnico especializado da Câmara, o que estaria a revelar tentativa de destruição de provas. Ainda referindo-se à conveniência da instrução criminal, mencionou a douta juíza que testemunha protegida afirmou que funcionários da Câmara trituraram documentos por cerca de 2 horas, o que gerou dois sacos de lixo de aproximadamente 100 litros, o que denota intenção de destruição de prova documental, bem como que o paciente, durante cumprimento do Mandado de Busca e Apreensão expedido em seu desfavor, tentou esconder pasta com documentos de alto valor probatório para os autos, sendo flagrado por um policial. No que tange a assegurar a aplicação da lei penal, argumentou a douta juíza que são oito réus, todos denunciados pela prática de diversos delitos graves por meio de organização criminosa, sendo eles ocupantes de cargos de poder possuem a máquina pública a seu dispor, podendo eles utilizarem desta, se soltos, para impedir a aplicação da lei penal, aliás é o que aparentemente já vem sendo feito (sic). E sobre a possibilidade de aplicação das medidas cautelares diversas da prisão, asseverou a douta juíza que são inadequadas e insuficientes para o caso concreto, eis que presentes os requisitos

5 fls. 74 autorizadores da prisão preventiva. Ante o exposto, seria prematuro reconhecer o direito invocado pelos impetrantes antes do processamento regular do writ, quando, então, será possível a ampla compreensão da questão submetida ao Tribunal. Consigne-se, por fim, não ser este o momento oportuno para avaliar a legalidade de prova produzida nos autos, salientando-se que os documentos juntados na impetração não são suficientes para atestar, de maneira plena, a ilegalidade alegada. Indefere-se a liminar. Requisitem-se informações à douta autoridade judiciária indicada como coatora, a respeito, com as cópias pertinentes. Justiça. Após, remetam-se os autos à Procuradoria Geral de Intime-se e cumpra-se. São Paulo, 25 de agosto de Mauricio Henrique Guimarães Pereira Filho Relator