ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores VICO MAÑAS (Presidente) e JOÃO MORENGHI. São Paulo, 12 de setembro de 2018.

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Habeas Corpus nº , da Comarca de São Simão, em que é paciente ELENALDO DIOGO DE SOUZA CARDOSO e Impetrante ESROM MATEUS DOS SANTOS. ACORDAM, em 12ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "DENEGARAM a ordem. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores VICO MAÑAS (Presidente) e JOÃO MORENGHI. São Paulo, 12 de setembro de Amable Lopez Soto RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Habeas Corpus: Autos n Comarca: São Simão - Vara Única Impetrante: Esrom Mateus dos Santos Paciente: Elenaldo Diogo de Souza Cardoso Voto n Trata-se de habeas corpus, com pedido liminar impetrado por Esrom Mateus dos Santos em favor de ELENALDO DIOGO DE SOUZA CARDOSO apontando como autoridade coatora o MM. Juiz de Direito da Vara Única da Comarca de São Simão. Relata que o paciente foi condenado à pena de 04 anos e 25 dias de reclusão, como incurso no art. 155, 4º, incisos I e IV do Código Penal. Aduz sofrer constrangimento ilegal em razão do indeferimento do direito de apelar em liberdade, sem qualquer fundamento idôneo. Afirma ainda que foi fixado o regime inicial fechado sem fundamentação, em afronta a Súmula 719 do Supremo Tribunal Federal. Por fim, sustenta ainda que o paciente é primário, portador de bons antecedentes. Postulou, em sede de liminar, o imediato relaxamento de sua prisão, com a concessão do apelo em liberdade. Ainda, busca a aplicação da detração penal, eis que já cumprido 10 meses de pena. No mérito, pleiteou a confirmação da medida. A liminar foi indeferida (fl. 31) e a autoridade judicial impetrada prestou informações (fls. 34/38). Após, a Procuradoria de Justiça opinou pela denegação da ordem (fls. 40/45). É o relatório.

3 O paciente está sendo processado como incurso no art. 155, 4º, incisos I e IV do Código Penal porque, no dia 07 de setembro de 2017, por volta das 00h30, no duto da Transpetro, Km 153, nas proximidades da Rodovia Chaffy Jorge, Km 4, São Simão/SP, em concurso com outros quatro indivíduos, mediante rompimento de obstáculo, subtraíram para eles litros de gasolina, avaliados em R$ ,00. O paciente permaneceu recluso cautelarmente desde o flagrante, aos 07 de setembro de Voto pela denegação da ordem. De início, consigno que a prisão preventiva já foi objeto de análise no habeas corpus nº Por votação unânime ocorrida em 28 de março último, foi denegada a ordem. Na ocasião, entendeu-se devidamente demonstrados os requisitos da segregação cautelar, diante da maior gravidade e repercussão do delito, ante a maior organização e o enorme dano patrimonial à empresa vítima, configurando concreto abalo à ordem pública. Portanto, tendo o acusado permanecido recluso durante toda a instrução penal, a sentença apenas manteve a aceitação das razões da prisão preventiva, que é espécie de medida cautelar e, uma vez mantidos os seus requisitos, não há porque se revogála agora, com o advento da sentença condenatória. Diante disso, não se pode dizer que o indeferimento do apelo em liberdade configure injusto constrangimento a ser sanado pela presente via. Quanto à fixação do regime, não há qualquer ilegalidade a ser sanada pela via do remédio heroico. Nesse sentido, cabe consignar que o juízo singular, ao sentenciar o feito, ao fixar a pena, considerou desfavoráveis as circunstâncias judiciais do delito nos seguintes termos: (...)

4 Na primeira etapa de dosimetria, analisadas as circunstâncias judiciais, verifico que a parte acusada agiu com culpabilidade exacerbada, pois cometeu o crime valendo-se de procedimentos arriscados (vide depoimento de Luiz) e de instrumentos especializados (fl. 84/87), o que denota maior intensidade do dolo e justifica um mais severo juízo de reprovação; os antecedentes não podem ser valorados de modo negativo, eis que não há notícia de condenação criminal transitada em julgado por crime praticado antes dos fatos sem apreço neste processo (STJ, HC e Súmula n.º 444); os motivos, ao que consta, foram os ínsitos à figura delitiva e já são punidos pela própria previsão legislativa do crime; as circunstâncias foram desfavoráveis, pois o crime foi praticado em concurso de pessoas e mediante rompimento, sendo que este será usado para qualificar o furto (art. 155, 4º, I, CP) e aquele (art. 155, 4º, IV, CP) o será para aumento de pena na primeira etapa de dosimetria, conforme entendimento pacificado no âmbito do STJ (HC /MG,Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 06/04/2010, DJe03/05/2010); as consequências foram desfavoráveis, pois do crime decorreu não apenas o prejuízo da subtração em si (R$ ,00, f. 16/17), mas também o de R$ ,57 (f. 80/82) que serão necessários para reparo do duto rompido para instalação da válvula de f. 84/87, o que enseja repreensão mais aguda; e, por fim, não vislumbro, quanto ao comportamento da vítima, nada a ser considerado negativamente nesta etapa de dosimetria (grifei). Portanto, verifica-se que o delito pelo qual o paciente foi condenado reveste-se de particularidades especiais, tratando-se de furto de litros de gasolina, sendo suportado pela vítima prejuízo na ordem de R$ apenas para o reparo do duto de combustível o que foi devidamente levado em consideração pelo d. Magistrado que, emitindo seu juízo de valor, aumentou a pena base, não cabendo reconhecer flagrante ilegalidade ou teratologia pela via do writ, Com efeito, a Súmula 719 do Supremo Tribunal Federal permite a imposição de regime mais severo do que o quantum da pena aplicada permitir, desde que o julgador o faça em decisão suficientemente fundamentada, conforme recente entendimento daquela Corte: "Na espécie, a sentença encontra-se devidamente fundamentada, expondo, de modo inequívoco, as razões de convencimento do magistrado que o conduziram à fixação do regime inicial fechado.

5 No presente caso, a fixação do regime fechado para o início do cumprimento da pena, ao que tudo indica, está em conformidade com a Súmula 719 desta Corte, que estabelece que a imposição de regime mais gravoso do que a pena permite deve vir acompanhada da devida fundamentação, tal como parece ter ocorrido. (...) verifico que a opção pela fixação do regime inicial fechado deu-se em razão da gravidade concreta das circunstâncias que envolveram o delito, bem como da periculosidade revelada por essa prática. Tais fundamentos, a meu juízo, autorizam a imposição do regime prisional mais gravoso." (RHC , Relator Ministro Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, julgamento em , DJe de ). Por fim, quando da sentença, de fato o paciente já havia cumprido 1/6 de pena. Contudo, anoto que já foram expedidas as guias de recolhimento, de forma que a detração penal deverá agora ser apreciada pelo Juiz das execuções. Nesses termos, o impetrante deixou de comprovar se houve pedido de detração junto àquele juízo, tampouco apresentou as razões de seu eventual indeferimento, o que impede a análise por esta C. Câmara, sob pena de supressão de instância. SE a ordem. Ante o exposto, pelo meu voto, DENEGA- Amable Lopez Soto relator