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1 G> TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRÁTICA REGISTRADO(A) SOB N I miii mil mil mil um mi um mi mi m * * Vistos, relatados e discutidos estes autos de Habeas Corpus n , da Comarca de Foro Distrital de Hortolandia, era que é paciente PATRÍCIA LOPES DA SILVA e Impetrante IUL BRINER CÉSAR DOS SANTOS. ACORDAM, em do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "CONCEDERAM A ORDEM PARA TRANCAR A AÇÃO PENAL MOVIDA CONTRA A PACIENTE. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores ALMEIDA TOLEDO (Presidente sem voto), ALBERTO MARIZ DE OLIVEIRA E BORGES PEREIRA. São Paulo, 24 de agosto de SOUZA NÜCCI RELATOR

2 Habeas Corpus n Comarca: Sumaré - Fórum Distrital de Hortolândia Impetrante: IUL BRINER CÉSAR DOS SANTOS Paciente: Patrícia Lopes da Silva VOTO N. 86 Habeas Corpus - Furto a supermercado - Res furtiva avaliada em R$ 114,29 - Princípio da insignificância - Análise das condições da vítima e da paciente - Trancamento da ação penal - Possibilidade - Concessão da ordem lul Briner César dos Santos impetra o presente habeas corpus, com pedido liminar, em favor de Patrícia Lopes da Silva, alegando constrangimento ilegal por parte do MM. Juiz de Direito da 2 a Vara Criminal de Foro Distrital de Hortolândia, que recebeu denúncia por fato supostamente atípico. Habeas Corpus n Sumaré

3 A paciente está sendo processada como incursa no art. 155, 2 o, inciso IV, c.c. art. 14, inciso II, ambos do Código Penal. Segundo consta, a paciente, juntamente com outra indiciada, tentou subtrair objetos avaliados em R$ 114,29, pertencentes ao Supermercado Goodbom, sendo detida pela testemunha Cleber, que impediu a consumação do delito. Sustenta o impetrante, em síntese, cuidar-se de hipótese abarcada pelo princípio da insignificância, requerendo a concessão da ordem para trancamento da ação penal. A liminar foi indeferida, as informações de estilo foram prestadas, a fls. 22/23, e a d. Procuradoria Geral de Justiça opinou pela denegação da ordem. É o relatório do essencial. A doutrina é unânime ao elencar entre os princípios constitucionais implícitos o princípio da intervenção mínima (ou da subsidiariedade). O direito penal não deve interferir em demasia na vida do corpo social, guardando-se exclusivamente para as situações que atentam de forma mais grave aos bens jurídicos protegidos; mister a intervenção penal quando indispensável ao caso concreto a aplicação de reprimenda não prevista em outros ramos do direito. Tenho defendido que "caso o bem jurídico possa ser protegido de outro modo, deve-se abrir mão da opção legislativa penal, justamente para não banalizar a punição, tornando-a, por vezes, ineficaz, porque não cumprida pelos destinatários da norma e não aplicada pelos órgãos estatais encarregados da segurança pública. Podemos anotar que a vulgarização do direito penal, como norma

4 solucionadora de qualquer conflito, pode levar ao seu descrédito e, conseqüentemente, à ineficiência de seus dispositivos" (Manual de Direto Penal, RT, 6 a edição, p. 81). Também dentre os princípios constitucionais, vêse o da fragmentariedade, segundo o qual nem todas as lesões a bens jurídicos protegidos devem ser tuteladas e punidas pelo direito penal, que deve ocupar-se das condutas verdadeiramente lesivas à vida em sociedade. Importa ainda destacar o princípio da ofensividade, não havendo delito sem que haja efetiva e significativa lesão ao bem jurídico tutelado. Da conjugação dos institutos acima referidos, exsurge o necessário princípio da insignificância (ou bagatela), o qual tem sido hodiernamente aplicado pelos Tribunais Superiores: HABEAS CORPUS. PENAL. PROCESSUAL PENAL. TENTATIVA DE FURTO. INEXISTÊNCIA DE LESÃO A BEM JURIDICAMENTE PROTEGIDO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA: INCIDÊNCIA. ANÁLISE RESERVADA AOS ASPECTOS OBJETIVOS DO FATO. PRECEDENTES. ORDEM CONCEDIDA. 1. A tentativa de furto praticada pela Paciente não resultou em dano ou perigo concreto relevante, de modo a lesionar ou colocar em perigo o bem jurídico reclamado pelo princípio da ofensividade. A conduta tem contornos que demonstram pouca importância de relevância na seara penal, pois, apesar de haver lesão a bem juridicamente tutelado pela norma, incide, na espécie, o princípio da insignificância, que reduz, o âmbito de proibição aparente da tipicidade-tégal Habeas Corpus n Sumaré,

5 e, por conseqüência, torna atípico o fato denunciado. 2. A jurisprudência deste Supremo Tribunal admite, em casos específicos, a incidência do princípio da insignificância, em face de aspectos objetivos do fato. Tais aspectos apresentam-se no caso, a autorizar a concessão da ordem pleiteada. 3. Ordem concedida. (STF, 1 a T., HC 96822, Rei. Min. CÁRMEN LÚCIA, j. em 16/06/2009) AÇÃO PENAL. Justa causa. Inexistência. Delito de furto. Subtração de roda sobressalente com pneu de automóvel estimados em R$ 160,00 (cento e sessenta reais). Res furtiva de valor insignificante. Crime de bagatela. Aplicação do princípio da insignificância. Irrelevância de considerações de ordem subjetiva. Atipicidade reconhecida. Absolvição. HC concedido para esse fim. Precedentes. Verificada a objetiva insignificância jurídica do ato tido por delituoso, é de ser afastada a condenação do agente, por atipicidade do comportamento (STF, 2 a T., HC 93393, Rei. Min. CEZAR PELUSO, j. em 14/04/2009). A aplicação de dito princípio em relação aos delitos patrimoniais deve ser precedida de duas análises: /'. consideração do valor do bem jurídico em termos concretos; e /'/. consideração da lesão ao bem jurídico em visão global. Em relação ao primeiro critério, tem-se que o bem jurídico tutelado há de ser considerado sob o ponto de vista da vítima e não somente do agressor, isto para que não haja uma indevida elitização da tutela penal. Habeas Corpus n

6 No caso em apreço, a vítima é pessoa jurídica de atividade varejista, a indicar que o valor da res furtiva não lhe causaria prejuízo capaz de lhe afetar o patrimônio. Ademais, trata-se de delito tentado, não tendo a vítima experimentando qualquer dano efetivo. O segundo critério diz com a impossibilidade de se considerar, para a aplicação da bagatela, tão somente a unidade delitiva. Há de se levar em conta, portanto, a pessoa do autor e o modo como desenvolveu sua conduta. In casu, a paciente é primária e não apresenta maus antecedentes, não sendo o caso de crime perpetrado com violência ou grave ameaça. Verifico, destarte, hipótese de aplicação do princípio da insignificância, razão pela qual, pelo meu voto, concedo a ordem impetrada para trancar a ação penal movida contra-a paciente. Relator Habeas Corpus n Sumaré